Transcript FEB Celso Furtado Cap XVI a XX
Celso Furtado FEB Cap. XVI-XIX
Cap. XVI: O Maranhão e a falsa euforia do fim da época colonial
ECONOMIA BRASILEIRA (Final Séc. 18)
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Último quartel do século XVIII: queda das exportações
(de 5 milhões de libras em 1760 para 3 milhões de libras) O valor do açúcar é o mais baixo da história As exportações de ouro caem para ½ milhão de libras em média • Mas a população alcançava 3 milhões de habitantes (livres e escravos)
renda per capita mais baixa do período colonial
A economia brasileira no fim da época colonial (colonial tardio)
• • • Constelação de sistemas, alguns articulados, outros isolados Açúcar articulado à pecuária nordestina Ouro articulado à pecuária sulina (RS & SP) Açúcar e ouro ligados frouxamente pelo Rio São Francisco (pecuária) • • Pará: economia extrativa organizada pelos jesuítas Maranhão: pecuária + algodão + arroz
Maranhão no final do século XVIII
Pombal & Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão (1755) para financiar o desenvolvimento da região Guerra de Independência dos EUA + revolução industrial = aumento da demanda por algodão e arroz “A pequena colônia, em cujo porto entravam um ou dois navios por ano ... Recebia de cem a cento e cinquenta navios por ano e exportava um milhão de libras” [cerca de 1/3 das exportações brasileiras]
Política externa & economia colonial em c. 1800
Acontecimentos políticos:
• Guerra de independência dos EUA • Revolução Francesa (queda na produção de produtos tropicais nas suas colônias) • • Guerras napoleônicas & bloqueios
Desarticulação do império espanhol
• Colapso (revolta e destruição) do Haiti (1789) Nossos produtos se beneficiaram temporariamente com o aumento dos preços
Cap. XVII: Passivo colonial, crise financeira e instabilidade política
Tratado de 1810 limitou a autonomia do governo
brasileiro na 1ª metade do séc. 19 A redução das tarifas de importação limitava a capacidade de arrecadação de impostos (e dificultava a industrialização) Os privilégios concedidos à Inglaterra eram um passivo
colonial
Mas não podem ser responsabilizados pelo atraso econômico: a única classe com expressão era a dos grandes senhores agrícolas
Dificuldades financeiras & emissões de moeda-papel (I) O principal imposto era sobre as importações No início do séc. 19, houve forte queda nos preços do
açúcar e do algodão
Queda acentuada da Y per capita na BA, PE e MA
No sul e sudeste, dificuldades devido à decadência
da economia do ouro Redução da arrecadação + aumento das despesas
(rebeliões em todo Brasil + guerra na Banda Oriental)
déficits orçamentários
Dificuldades financeiras & emissões de moeda-papel (II) “O financiamento do déficit se faz principalmente com emissão de moeda-papel, mais que duplicando o meio circulante” [década de 1820]
moeda-papel emitido pelo Banco do Brasil
Pequena dimensão da economia monetária + elevado coeficiente de importação + impossibilidade de elevar tarifas aduaneiras = duplicação do valor em mil-réis da libra esterlina
Dificuldades financeiras & emissões de moeda-papel (III)
Desvalorização do mil-réis = inflação Os senhores agrícolas eram pouco afetados
Os efeitos se concentravam sobre as populações urbanas (funcionários públicos, empregados do comércio, militares...) O que explica o caráter urbano das revoltas da época e o acirramento do ódio contra os portugueses (comerciantes / importadores)
Cap. XVIII: Confronto com o desenvolvimento dos EUA (I) “Por que se industrializaram os EUA no século XIX ... enquanto que o Brasil evoluía no sentido de transformar-se no século XX numa vasta região subdesenvolvida?” Teriam sido os acordos com a Inglaterra que impuseram ao Brasil tarifas reduzidas para as importações?
MAS... nos EUA, o protecionismo só surgiu em etapa bem avançada do século XIX. Em 1789, os tecidos pagavam 5%. Em 1808, 17,5%, mas sua indústria de tecidos já estava consolidada
Cap. XVIII: Confronto com o desenvolvimento dos EUA (II)
À época da independência, a população dos EUA era = Brasil, mas as diferenças sociais eram profundas
Brasil: a classe dominante era o grupo de grandes
agricultores escravistas
(Cairu supersticiosamente crê na mão invisível) EUA: pequenos agricultores e grandes comerciantes urbanos dominavam o país (Hamilton promove ação estatal de estímulos diretos à indústria)
Cap. XVIII: Confronto com o desenvolvimento dos EUA (III) EUA: experiência técnica + lucidez dos dirigentes não teriam sido suficientes: “Foi como exportadores de algodão que os EUA tomaram posição de vanguarda na revolução industrial” No início o BP dos EUA era deficitário, mas isso não afetou a taxa de câmbio [bimetalismo]: os EUA (governos federal e estaduais) emitiam títulos em Londres Política financeira do Estado favoreceu a grande importação de capitais [e grandes calotes...]
Cap. XIX: Declínio a longo prazo do nível de renda: primeira metade do século XIX (I) “Condição básica para o desenvolvimento da economia
brasileira, na 1ª metade do séc. 19, teria sido a
expansão de suas exportações” Excluído o café, o valor das exportações de 1850 é inferior ao que foi no começo do século Fomentar a industrialização nessa época, sem o apoio de uma capacidade para importar em expansão, seria tentar o impossível em um país totalmente carente de base técnica” Nos EUA, as máquinas foram fabricadas no próprio país
Cap. XIX: Declínio a longo prazo do nível de renda: primeira metade do século XIX (II) “O pequeno consumo do país estava em declínio com a decadência da mineração...
A industrialização teria de começar por aqueles produtos que já dispunham de um mercado de certa magnitude, como era o caso dos tecidos...
A forte baixa dos preços dos tecidos ingleses tornou difícil a subsistência do pouco artesanato têxtil que já existia no país...”
Impor tarifas seria inútil, até porque os ingleses proibiam a exportação de máquinas
Cap. XIX: Declínio a longo prazo do nível de renda: primeira metade do século XIX (III)
Índice dos termos de intercâmbio (de troca)
1. O preço das exportações brasileiras caiu 40%, em média, entre 1821-1830 e 1841-50 2. O preço dos produtos importados manteve-se, em média, estável Logo, a queda do índice dos termos de intercâmbio foi de aproximadamente 40%, isto é, a renda real
gerada pelas exportações cresceu 40% menos do que o volume físico destas
Cap. XIX: Declínio a longo prazo do nível de renda: primeira metade do século XIX (IV)
A renda per capita declinou na 1ª metade do séc. XIX
Somente um desenvolvimento intenso do setor não ligado ao comércio exterior poderia ter contrabalançado o declínio relativo das exportações Mas o que houve foi o aumento relativo do setor de
subsistência
Como este tem menor produtividade, conclui-se que a Y per capita declinou