Transcript O USO DE ANALGÉSICOS, MEDICAMENTOS SEDATIVOS E RELAXANTES MUSCULARES NAS CRIANÇAS
O USO DE ANALGÉSICOS, MEDICAMENTOS SEDATIVOS E RELAXANTES MUSCULARES NAS CRIANÇAS Versão Original: CHERI LANDERS, M.D.
Universidade de Kentucky LYNNE W. COULE, M.D.
Medical College of Georgia Versão Portuguesa: Cláudia Monteiro, MD Dulce Oliveira, MD Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos e Neonatais – H G S António Porto - Portugal
Porquê sedar uma criança?
Melhorar a tolerância do doente para procedimentos, monitorização invasiva e ambientes não familiares Controlo da via aérea Diminuir o esforço respiratório Diminuir as necessidades de oxigénio Reduzir a ansiedade e a dor
Exemplos
– – – – Procedimentos Imagem radiológica Aspiração da medula óssea Procedimentos cirúrgicos minor Colocação de cateter da PIC/linhas invasivas Diminuir mecânica a agitação durante a ventilação Facilitar as trocas gasosas na asma grave Diminuir as necessidades de oxigénio no choque séptico
Analgesia/Sedação mitos e preocupações
As crianças não sentem a dor/ansiedade como os adultos Depressão respiratória Compromisso hemodinâmico “Adição”
Analgesia/ Sedação Mitos
– As crianças SENTEM dor/ansiedade Anatomia Fibras mielinizadas e não mielinizadas transmitem impulsos eléctricos Impulsos são transmitidos mais rapidamente nas fibras mielinizadas – Psicologia
Analgesia/ Sedação Preocupações
– – – Depressão respiratória Fenómeno baseado em receptores Necessidade de titular a dose No lactente com menos de 6 meses Opióides podem causar apneia antes de aliviarem a dor (mais sensíveis a depressão respiratória)
Analgesia/ Sedação Preocupações
“Adição” – Adição vs Tolerância vs Dependência
Adição
Um medo comum expresso pelos pais Menos comum nos doentes hospitalizados do que na população em geral Inclui uma “necessidade” ou desejo psicológico associado a sintomas de privação se a medicação é suspensa
Tolerância
A mesma dose de medicação deixa de ter o mesmo efeito que tinha quando foi iniciada (necessidade de doses progressivamente maiores para obter o mesmo efeito) Ocorre mais frequentemente em doentes com perfusões contínuas por longos períodos de sedativos ou analgésicos e não tanto com doses intermitentes
Dependência
Suspender a medicação resulta em síndrome de abstinência Para evitar o síndrome de abstinência pode ser necessário reduzir lentamente (“desmamar”) os sedativos ou analgésicos se os doentes estiveram a cumprir terapêutica mais de uma semana.
O que é a sedação?
Nível de consciência
Acordado , situação basal Sedação Consciente Adormecido Sedação Profunda Anestesia Geral
Nível de Sedação Necessária
Em geral, quanto menor a idade da criança e menor a capacidade cognitiva, necessitará de sedação mais profunda para ser efectuado o mesmo procedimento.
Sedação Consciente
“ Um estado medicamente controlado de depressão da consciência que permite a capacidade reflexa para manter patente as vias aéreas e permitir respostas neurológicas apropriadas a estímulos verbais”
Sedação Profunda
“
Um estado medicamente controlado de depressão de consciência ou inconsciência do qual um doente não é facilmente despertado. Pode ser acompanhado pela perda de reflexos protectores e inclui uma incapacidade para manter a via aérea patente e responder apropriadamente a estímulos.”
Benzodiazepinas
Ligam-se aos receptores GABA do SNC Relaxante músculo-esquelético Amnésia – Anterógrada e retrógrada Ansiolítico Depressão respiratória
Midazolam (Versed)
– Vantagens: Ansiolítico, sedação, controlo de movimentos – – – – Amnésia retrógrada Vias de administração: PO, EV, IM, IN, rectal Início de acção 2–6 minutos após administração EV, 45-60 minutos de duração de acção Antídoto disponível Flumazenil
Midazolam (Versed)
Desvantagens: – Sem efeito analgésico – Reacções paroxísticas – Maior probabilidade de depressão respiratória se associado a opiáceos – RN: hipotensão e convulsões quando administrado rapidamente – Pico dos níveis séricos aumenta com itraconazol, eritromicina e claritromicina
Barbitúricos
Depressão geral do SNC Indução de anestesia Hipnose Sedação Depressão respiratória
Pentobarbital (Nembutal)
– – – – – Vantagens Bastante seguro Sedação, controlo de movimentos, ansiolítico Início de acção curto (3-5 min administrado ev) e curta duração (15-45min) Alternativa ao hidrato de cloral nas crianças mais velhas Vias de administração: PO, EV, IM, Rectal Maior tempo de início e duração de acção quando administrado por outras vias que não a EV
Pentobarbital
Desvantagens – Aumenta a percepção da dor – Sem antídoto
Hidrato de Cloral
– – Vantagens PO, rectal Dose: Inicial 25-100mg/kg Repetir após 30 min, se necessário – 25-50mg/kg – Ansiolítico; Sedativo; Controle motor – Em dose única a toxicidade é baixa – Uso com sucesso em crianças jovens (2-3 anos) – Muitos Médicos familiarizados com este fármaco
Hidrato de Cloral
Desvantagens – Início da acção: 15-30min; Duração da acção: 1-2h – Menor sucesso em crianças mais velhas – Doses elevadas podem causar depressão respiratória e arritmias – Sem controlo da dor – Sem agente reversível disponível – Doses repetidas causam a acumulação de metabolitos com toxicidade desconhecida.
O que é a DOR?
Stress / Sofrimento físico ou mental
Os dois componentes da DOR
Estímulo físico Resposta afectiva
Analgesia
«Não consigo pensar em qualquer outra área na medicina na qual a preocupação extravagante dos efeitos laterais limite tão drasticamente o tratamento.» M. Angell. The quality of 1982;306.
mercy. NEJM,
O que é a Analgesia?
«Alívio da percepção da dor sem produção intencional de um estado sedativo. A alteração do estado mental pode ser um efeito secundário das medicações administradas para esse propósito.»
Procedimentos para Anestesia Local
EMLA creme – Aplicar em pele intacta sob a forma de penso oclusivo 30-60 min antes do procedimento. Lidocaína spray – (1ml bicarbonato / 9 ml lidocaína 1%) – Máximo de dose de Lidocaína: 4,5 mg/kg sem epinefrina 7 mg/kg com epinefrina
Analgésicos Narcóticos
Activam os feixes descendentes do SNC
Sedação
Analgesia
Depressão respiratória
Ansiólise moderada
Fentanil
Opióide Vantagens: – Analgesia – 100 vezes mais potente que a morfina – Duração mais curta que a morfina início em 2-3min; duração 30-60min - Menos libertador de histamina que a morfina - Agente reversível disponível naloxona
Fentanil
Desvantagens: – Sem amnésia – Fenómeno “rigidez torácica” Mais comum com doses elevadas em bólus Tratamento com o antagonista do Fentanil ou uso de paralizantes musculares
Morfina
Opióide Vantagens: – Analgesia – Menos dispendioso que o Fentanil. Desvantagens: – Sem amnésia ou ansiólise – Libertador da Histamina – pieira, hipotensão – Início mais tardio que os outros opióides.
Ketamina
Anestésico dissociativo Vantagens: – Permite analgesia e amnésia – Preserva os reflexos protectores de via aérea – Causa broncodilatação
Ketamina
Desvantagens: – Aumenta a pressão intracraniana – Laringospasmo – Resposta hipersecretora – Pais perturbados por “olhar branco” – Fenómeno emergente de agitação.
Ketamine
Contra-indicações relativas:
– Traumatismo crânio-encefálico – Anomalias das vias aéreas – Procedimentos onde a faringe posterior seja estimulada – Glaucoma, lesão aguda do globo ocular – Psicose – Doença tiróidea
Pre-sedação
História
Saúde em geral
Factores de Risco para a Sedação Hábitos medicamentosos actuais
Alergias Reacções anestésicas prévias
Doente / História familiar
Porquê é que a sedação é necessária?
Medicação a usar
Estado Físico – ASA
Classe I: Doente saudável Classe II: Doença sistémica Classe III: Doença sistémica grave Classe IV: Doença sistémica grave que ameaça a vida Classe V: Moribundo / Sem expectativa de sobrevivência sem cirurgia
Em geral, considerar anestesia ou cuidados intensivos nos doentes com classe III – ASA ou superior a esta, e que não estejam numa Unidade de Cuidados Intensivos.
Pre-sedação
Exame Objectivo
Exame neurológico Exame das vias aéreas Estado respiratório Exame Cardiovascular
Responsabilidade do pessoal médico
Avaliação Monitorização Conhecimento da medicação Antecipação dos efeitos laterais da medicação Reanimação
Monitorização - Considerações Gerais
Frequências cardíaca e respiratória Tensão arterial Oximetria de pulso contínua
ECG Perfusão Avaliação neurológica:
– –
Estado de consciência Respostas pupilares
Alta após sedação para um procedimento “minor”
Capacidade para se sentar sem ajuda ou flexão espontânea do pescoço Resposta verbal adequada à idade Reflexos protectores da via área intactos Estabilidade hemodinâmica Ventilação espontânea/ oxigenação adequada O doente retorna ao nível de função prévio à sedação
Bloqueio Neuromuscular
Promove uma paralisia/ relaxamento profundo do músculo estriado sem afectar a função do córtex cerebral, músculo liso ou miocárdio.
Bloqueio Neuromuscular
NUNCA proceder ao relaxamento muscular de um doente sem assegurar previamente uma adequada sedação/analgesia
Confirmar SEMPRE que o doente é facilmente ventilado manualmente com mascara facial antes do relaxamento muscular
Monitorização – Relaxantes musculares
Progressão do relaxamento:
–
Músculos pequenos, de movimentos rápidos,
–
dos dedos e olhos Músculos cervicais, dos membros e tronco
–
Músculos respiratórios
Recuperação ocorre de forma inversa; o diafragma é o primeiro músculo a recuperar.
Monitorização Relaxantes musculares
Estimuladores nervosos: Estimula o nervo causando a contracção do respectivo músculo Monitorização sequencial de 4: 1 de 4 contracções = bloqueio de 90% dos receptores Fadiga Ausência de resposta muscular
Monitorização Relaxantes musculares
Monitorização clínica : Força inspiratória negativa Flexão dos músculos cervicais Lactentes: Preensão palmar Alteração da mímica facial Flexão da articulação da anca
Relaxantes musculares
Causam fraqueza muscular seguida de paralisia flácida
Relaxantes musculares despolarizantes
–
Estimulam os terminais nervosos motores Relaxantes musculares não despolarizantes
–
Competem com o receptor na placa muscular Todos causam paralisia diafragmática
Relaxantes Musculares – Fármacos despolarizantes
Mimetizam o efeito da acetilcolina Provocam fasciculações seguidas de paralisia muscular Previnem a repolarização da membrana muscular Inicio de acção rápido A succinilcolina é o único relaxante muscular despolarizante usado na prática clínica
Succinilcolina – Efeitos laterais
Bradicardia grave Hipercaliémia Aumento da pressão intracraniana e ocular Reacções de hipersensibilidade
Dores musculares
Hipertermia maligna Rabdomiólise
Succinilcolina
Contra-indicações
– Doentes com paraplegia – Após AVC ou queimaduras – Distrofias musculares, miotonias – Doentes com história familiar de hipertermia maligna
Relaxantes Musculares – Fármacos não despolarizantes
Competem inibindo a ligação da acetilcolina na placa motora
A maioria têm um componente esteróide
Pancurónio
Não despolarizante Provoca taquicardia e hipertensão devido ao bloqueio colinérgico muscarínico Eliminação renal
Vecurónio
Não despolarizante Sem efeitos cardiovasculares Mais dispendioso que o pancurónio Eliminação hepática
Atracúrio e Cisatracúrio
Não despolarizante Curta duração de acção – melhores resultados com perfusões contínuas Eliminação Hofmann – fármaco de eleição na falência hepatorrenal
Resumo
O hospital e em particular as UCIP são locais temerosos para as crianças. Assim, o uso de ansiolíticos e analgésicos para facilitar determinados procedimentos e terapêuticas, são a pedra basilar para um correcto tratamento da criança.
Resumo
O manuseamento seguro de sedativos requer por um lado conhecer bem o fármaco utilizado e por outro lado monitorizar a criança durante todo o período de alteração do estado de consciência.
Resumo
Quando se induz farmacologicamente um relaxamento muscular, é fulcral confirmar previamente que a criança está adequadamente sedada e que é possível a ventilação manual com máscara facial de forma eficaz.