Caso Clínico Fernando Bisinoto Maluf Orientadora - Dra. Elisa de Carvalho Internato – 6º ano – Pediatria – HRAS Escola Superior de Ciências da.
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Caso Clínico Fernando Bisinoto Maluf Orientadora - Dra. Elisa de Carvalho Internato – 6º ano – Pediatria – HRAS Escola Superior de Ciências da Saúde www.paulomargotto.com.br Relato de Caso IDENTIFICAÇÃO: L.C.N., 4 anos e 7 meses, sexo masculino, natural de Redenção-PA, procedente da Estrutural-DF. Data da Internação: 22/11/2006 Data da História Clínica: 22/11/2006 Relato de Caso QUEIXA PRINCIPAL: “ Febre + dor abdominal há 20 dias ” Relato de Caso HDA (22/11/06): Mãe refere que a criança iniciou quadro febril (39ºC), intermitente, há aproximadamente 20 dias, responsivo ao uso de dipirona. Acompanhado a este quadro apresentou dor abdominal moderada, seguida por distensão abdominal progressiva. Nega vômitos ou diarréia. Mãe refere também aparecimento de gânglios em região cervical e submandibular há cerca de 10 dias. Relato de Caso HDA (22/11/06): Com esse quadro, levou a criança ao Hospital do Guará em dia 07/11/06 onde foi dado diagnóstico de pneumonia e introduzido ATB (mãe não sabe informar qual). Permaneceu internado assintomático por 8 dias no mesmo hospital (SIC), até que voltou a apresentar picos febris (39ºC), dor e distensão abdominal, sendo então transferido para o HRAS para esclarecimento diagnóstico em 15/11/06. Relato de Caso HDA (22/11/06): Em 15/11/06, deu entrada no PS do HRAS apresentando distensão abdominal, febre e parada de eliminação de fezes e flatos, sendo levantado o diagnóstico de abdome agudo. Realizado laparotomia exploradora em 17/11/06 por hipótese diagnóstica de apendicite aguda. Relato de Caso ANTECEDENTES PESSOAIS: Nascido de parto cesárea no Hospital São Vicente (Pará), a termo, chorou ao nascer, Encaminhado imediatamente à UTI Neonatal devido a gastrosquise (cirurgia para correção realizada com 15 dias de vida). Permaneceu internado na UTI durante 34 dias. Peso ao nascer = 2600g. Mãe G1 C1 A0, realizou 06 consultas de PN, sorologias negativas. ITU na gestação (tratada). Relato de Caso ANTECEDENTES PESSOAIS: Nega DCIs. Não trouxe cartão vacinal Internações: 1ª: aos 3 meses (por 24hs) devido a diarréia em Redenção-PA. 2ª: aos 4 anos e 4 meses (por 2 dias) devido a pneumonia, tendo reinternado 3 dias após com mesmo diagnóstico no Hospital do Guará. Relato de Caso ANTECEDENTES FAMILIARES: Mãe, 28 anos, do lar, sadia, nega vícios. Pai, 28 anos, desempregado, HAS, DM, nega vícios. Avó – HAS, DM Bisavô paterno – tuberculose Bisavô materno – leucemia Relato de Caso ANTECEDENTES SOCIAIS: Residem em casa de alvenaria, com 05 cômodos, com 03 pessoas, água e fossa asséptica. Não possui animais em domicilio Mãe refere que até 2 anos de idade, a criança foi criada em uma fazenda no interior do Pará. Relato de Caso US ABDOME (16/11/06): Distensão difusa de alças abdominais em abdome superior e fossa ilíaca direita. Pequena hepatoeslpenomegalia. Rim direito aumentado de volume para a faixa etária. Discreta quantidade de liquido livre ao redor de pólo inferior de rim direito e entre alças no flanco esquerdo. Relato de Caso RX DE ABDOME (16/11/2006) Discussão do Caso Febre Parada de eliminação de flatos/fezes Dor / distensão abdominal ABDOME AGUDO ? “O termo abdome agudo designa sinais e sintomas de doença intraabdominal que freqüentemente necessita de tratamento cirúrgico” Sabiston, 17ª ed Causas de abdome agudo por sistemas acometidos Abdome doloroso e distendido Sem febre Trato Úrinário Distúrbios do trato Gastrointestinal Vômitos fecalóides Apendicite Cólica renal ou ureteral Dor em cólicaCistite aguda Hérnia encarcerada ↑ distensão →Pielonefrite dor abdominal ↓ Volvo Intestinal aguda ↓ da peristalse Úlcera péptica perfurada Infarto renal Distensão gasosa e níveis hidroaéreos Perfuração intestinal ao Raio X Diverticulite de Meckel Evolui para isquemia → perfuração → Distúrbios Peritoneais Causada por aumendo dos gânglios Distúrbios intestinais inflamatórios contaminação → peritonite mesentéricos em virtude de infecção Abscessos intra-abdominais Gastroenterite respiratória alta recente Peritonite primária Adenite mesentérica Quadro Clínico simula apendicite Peritonite tuberculosa Incidência máx: 11-20 anos Fígado, Baço e Trato biliar Leucócitos <12.000 (geralmente <8000) Colecistite Colangite Infarto esplênico Hepatite aguda Distúrbios Retroperitoneais Hemorragia retroperitoneal Dor abdominal inespecífica Abdome Agudo Diagnóstico de Abdome Agudo: Dor abdominal (modo de início, progressão, caráter da dor) Anorexia + Vômitos (precedidos pela dor) Redução da peristalse Febre Massas abdominais Defesa à palpação / dor à descompressão brusca Leucocitose (>13mil com desvio – infecção grave) ou leucopenia (infecção viral) Amilase e provas de função hepática Apendicite Aguda Quadro abdominal agudo mais freqüente da infância Pico de incidência na infância: 4-15 anos Ocorre por obstrução da luz do apêndice por fecalito ou hiperplasia linfóide História Clássica: “Dor abdominal inicialmente periumbilical, acompanhada de vômitos e náuseas, com evolução parar localização da dor em FID” Apendicite Aguda Fases da Apendicite: 1. 2. 48h 3. Edematosa (inflamação) Fibrinopurulenta (infecção bacteriana) Necrótico/Perfurativo (bloqueio do epíplon ou peritonite difusa) 4. Apendicite Hiperplástica (bloqueio intenso) Se apêndice retrocecal instalação mais lenta Febre é discreta Apendicite Aguda Diagnóstico: - DOR FID + Irritação peritoneal + Blumberg positivo - Leucocitose + desvio à esquerda + Rx sugestivo Ao diagnósticar apendicite Apendicectomia - Evitar evolução e complicação (perfuração, abscesso) - Quanto menor a idade maior o risco de perfuração (30 a 74% dos casos, dependendo da faixa etária) Apendicite Aguda Relato de Caso HDA (22/11/06): Durante o procedimento cirúrgico foi observada a presença de tumoração em raiz de mesocólon e realizado biópsia. Diante de uma nova hipótese diagnóstica – linfoma – a criança foi então transferida para o HBDF no dia 20/11/06 para melhor acompanhamento e tratamento. Após resultado do anatomopatológico a criança foi novamente encaminhada ao HRAS, no dia 22/11/06 (5º DPO). Relato de Caso EXAME FÍSICO (22/11/2006): REG, taquipnéico leve, acianótico, anictérico, afebril, hidratado, hipocorado (+/4+). Peso = 17000g AR: MV presente bilateralmente, sem RA. ACV: RCR, em 2T, BNF, sem sopros FC = 124bpm. Abdome: Ascítico, tenso, doloroso difusamente, impossibilitando palpação. RHA diminuídos. Extremidades: Edema (+/4+) em mmii, cacifo positivo. Linfonodos: Presença de linfonodos palpáveis (0,5cm1,5cm), móveis e indolores, em cadeias cervical anterior, submandibular, supraclavicular, axilar direita e esquerda e em cadeias inguinais. Relato de Caso 22/11/2006 22/11/2006 29/11/2006 01/12/2006 10/12/2006 Hb 9,2 9,2 7,5 7,6 7,2 Ht 29,2 29,7 24 24 23,5 Plaq 194.000 190.000 129.000 233.000 423.000 Leuc 14.300 14.500 19.600 27.900 10.600 Seg - 84 50 56 83 Bast - 5 2 2 2 Linf - 8 18 12 9 Mono - 1 4 1 5 Eos - 2 25 29 1 VHS - - - 40 - Relato de Caso Glicose Uréia Creatinina Cálcio TGO TGP Amilase Sódio Potássio Cloreto LDH PCR P. totais Albumina 22/11/2006 23/11/2006 29/11/2006 01/12/2006 10/12/2006 106 84 24 22 15 0,7 0,5 0,6 9,2 9,8 6,9 7,8 10 10 10 13 6 9 10 13 124 127 121 124 134 2,6 3,3 3,7 3,8 4,9 93 90 96 94 102 755 634 26 3,04 6 7,4 2,2 3 Discussão do Caso Tumoração abdominal à laparotomia Linfoma? Neuroblastoma? Tumor de Willms ? Linfoma Neoplasia originária do tecido linfóide Ao contrário das leucemias, nasce do tecido linfóide e infiltra a medula óssea e tecidos Faixa etária mais acometida: 7-11 anos Incidência 3x maior no sexo masculino Ao contrário de adultos, na criança o sítio predominante é extranodal, sendo que 35-45% se iniciam no abdome Linfoma Classificação de Linfomas Não-Hodgkin (REAL / OMS) Linfoma Linfomas mais comuns da infância: Linfoblástico de células T (40%) Massa de mediastino Burkitt (30%) Linfoma difuso de grandes células B (25%) Burkitt na criança Extranodal • Idade média: 11 anos • Não há associação com EBV Trato Gastrointestinal Região Íleo-cecal Linfoma Manifestações Clínicas: Linfadenopatia periférica não-dolorosa Febre Sudorese noturna Perda ponderal Depende da agressividade Hepatoesplenomegalia + ascite Diarréia, náuseas e vômitos Dor abdominal crônica Plenitude pós-prandial Hemorragia digestiva Obstrução/perfuração intestinal Sítio Extranodal Linfoma Achados Laboratoriais Hemograma: Mielograma: Anemia Leucopenia Trombocitopenia Medula óssea infiltrada Hipercalcemia/Hiperuricemia Neuroblastoma Tumor sólido originário de embrionários extracraniano, maligno, neuroblastos simpáticos Corresponde a 14% dos tumores malignos na infância e 50% nos neonatos Incidência 1:10.000 recém-nascidos vivos Pode ocorrer regressão espontânea (mesmo na presença de metástases), ou também maturação para formas benignas 66% têm doença disseminada ao diagnóstico Neuroblastoma Metástases Quadro Clínico • Equimose periorbitária na Medula adrenal • Dor40% óssea • Paraplegia 25% no Abdome • Emagrecimento • Diarréia Se Abdominal • Estado geral ruim • Náuseas, vômitos • Mudança do hábito intestinal • Massa abdominal • Hipertensão, rubor e sudorese (catecolaminas) Neuroblastoma Quadro Laboratorial: Anemia (p/ infiltração medular) Mielograma com comprometimento medular Dosagem urinária de metabólitos das catecolaminas (ex: ác. Vanilmandálico) Exames de Imagem: US e TC: definem contornos do tumor e comprometimento de grandes vasos e mostram calcificações Urografia excretora: Mostra as calcificações Tumor de Willms Tumor embrionário de origem renal também conhecido como nefroblastoma Distribuição 1:1 entre os sexos Diagnóstico entre 1 e 4 anos, sendo raro antes dos 6 meses e após os 10 anos Mortalidade de 10% no Brasil Freqüentemente está associado a malformações urinárias sempre pesquisar nefroblastoma na presença dessas anomalias. Tumor de Willms Manifestações Clínicas: Assintomática - criança normalmente em bom estado geral no momento do diagnóstico (ao contrário do neurblastoma) Massa abdominal em flanco, lisa, sólida, indolor à palpação (90%) Distensão e dor abdominal Hematúria macro ou micro (10-15%) Hipertensão (20%) Hepatoesplenomegalia e ascite Tumor de Willms Exames de Imagem: Ultra-sonografia: Rápido, baixo custo. Mostra se a massa retroperitoneal é renal e se há acometimento contra-lateral, de grandes vasos e de gânglios retroperitoenais. Rx Tórax: Avalia presença de metástases pulmonares TC: Superior ao US em confirmar a presença da neoplasia com uma melhor definição dos gânglios acometidos Relato de Caso RESULTADO ANATOMOPATOLÓGICO (22/11/06): Os cortes histológicos evidenciam, em meio à fibrose, infiltrado linfloplasmocitário, eosinófilos, histiócitos e células gigantes multinucleadas dos tipos Langhans e corpo estranho formando granulomas. Estes contêm numerosos fungos redondos exibindo brotamento freqüentemente com aspecto de “roda-de-leme”. Há também, de permeio, focos de necrose, exsudato neutrofílico e folículos linfóides. Relato de Caso Relato de Caso Relato de Caso HIPÓTESE DIAGNÓSTICA: Paracoccidioimicose CONDUTA: Sulfametoxazol-trimetropin (94mg/kg/dia) Furosemida (2mg/kg/dia) Espironolactona (2mg/kg/dia) Fleet-enema Evolução (23/11 – 10/12/06) 23/11: Criança evoluindo com dor abdominal leve necessitando de fleet para evacuar. Sem febre. e 28/11: Apresentando picos febris e hiponatremia (dilucional). Reduzido H.V. para 40% Holliday 29/11 – 08/12: Melhora das evacuações. Mantendo picos febris. 08/12: Iniciou quadro de tosse produtiva e MV rude. Evolução (23/11 – 10/12/06) 09/12: 22º DPO de laparotomia, apresentando deiscência de ferida operatória + secreção serosa. Solicitado parecer da cirurgia pediátrica. 10/12: Ressutura de parede abdominal + Faixa abdominal Paracoccidioimicose Micose sistêmica endêmica na América Latina Fungo termo-dimórfico Paraccidioides brasiliensis Incidência 1-3 novos casos por 100mil hab por ano no Brasil Faixa etária mais acometida 30-50 anos (90% no sexo masculino) Fator de risco para infecção: atividades relacionadas ao manejo do solo contaminado com o fungo Distribuição geográfica da PB Paracoccidioimicose Inalação do conídeo e multiplicação pulmonar Disseminação linfo-hematogênica Crescimento do fungo nos órgãos Resposta imune celular efetiva (Th1) Resposta imune não efetiva PB INFECÇÃO PB DOENÇA Paracoccidioimicose CLASSIFICAÇÃO DA PARACOCCIDIOIMICOSE: (International Colloquium on Parcoccidioimicosis) Paracoccidioimicose infecção Paracoccidioimicose doença 1. Forma Aguda (tipo juvenil) 2. Forma Crônica (tipo adulto) Unifocal Multifocal Forma residual ou seqüelar Paracoccidioimicose Aguda Responsável por 3 a 5% dos casos da doença Distribuição 1:1 entre os gêneros Evolução rápida o paciente procura o serviço médico entre 4 a 12 semanas de instalação da doença Paracoccidioimicose Aguda Quadro Clínico: Sintomas gerais de toxemia intensa Linfadenomegalia Hepatoesplenomegalia Icterícia obstrutiva (por compressão) Sub-oclusão ou oclusão intestinal Má absorção, diarréia e perda de peso Ascite Lesões cutâneas Lesões ósteo-articulares Acometimento pulmonar é raro Acometimento do SNC Lesões mucosas raras Paracoccidioimicose Aguda Exames laboratoriais e de imagem: Raio X de Tórax / US abdominal À Histologia: Hemograma completo Células arredondadas, com parede bi-refringente Provas bioquímicas hepáticas Formação granulomatosa, c/ gigantócitos e céls epitelióides Eletroforese de proteínas Exosporulação múltipla (“Roda-de-leme”) Avaliação renal e eletrólitos Padrão ouro: Demonstração do P. brasiliensis em exame a fresco de escarro ou fragmento de biópsia de órgãos acometidos Sorologia: Boa sensibilidade e especificidade, embora mais utilizada para seguimento Paracoccidioimicose Aguda Terapêutica antifúngica Tratamento Suporte às complicações * O fungo é sensível à maioria dos antifúngicos * O tratamento é de longa duração, para permitir o controle das manifestações e evitar recaídas * Atenção às interações medicamentosas Paracoccidioimicose Aguda Sulfametoxazol-trimetoprim Eficácia conhecida Boa tolerabilidade na criança Facilidade de administração (xarope) Fornecido pela rede pública Dose recomendada: 50-100mg/kg/dia (sulfametoxazol) 6-20mg/kg/dia (trimetropin) Itraconazol Segunda opção Anfoterecina B Para pacientes com formas graves Paracoccidioimicose Aguda Critérios de cura: Clínico: Desaparecimento dos sinais e sintomas, cicatrização de lesões, involução das linfadenopatias. Radiológico: Imagens cicatriciais radiológicas Imunológico: Negativação dos títulos sorológicos Após interrupção do tratamento pelos critérios de cura, os pacientes devem ser acompanhados ambulatorialmente uma vez ao ano (risco potencial de reativação tardia)