A Teoria do “Garden Path”

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Transcript A Teoria do “Garden Path”

A Teoria do “Garden Path”
Antes do modelo TGP…
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A Psicolingüística moderna começou como um empreendimento de
cooperação entre linguistas e psicólogos durante os primeiros anos da
década de cinqüenta. Em seus primórdios, a Psicolingüística foi
influenciada pela tradição do Behaviorismo. Na década seguinte o
modelo Chomskyano foi dominante; nos 70’s a Psicolingüística afastase da lingüística e aproxima-se das Ciências Cognitivas. Nos 80’s há
uma reaproximação c/a Lingüística que continuou se estreitando nos
90’s e vem florescendo na presente década.
50: Início dos estudos em Psicolingüística sob a égide do
Behaviorismo.
60: A Psicolingüística torna-se Chomskyana
70: A Psicolingüística é absorvida pela Psicologia Cognitiva
80- atual: Reaproximação crescente c/ a Lingüística
S →r →s →R
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Década de 50: o Behaviorismo
Nas primeiras décadas do século XX há uma crescente oposição às concepções mentalistas em Psicologia e
em Lingüística. Em 1920, o behaviorismo já é o paradigma dominante. Os behavioristas favoreciam o estudo
do comportamento objetivo, freqüentemente c/ animais de laboratório, abandonando por completo o estudo de
processos mentais. A ênfase recaía sobre o papel de contingências ambientais (reforço e punição) sobre o
comportamento. Só por volta de 1950 é que os behavioristas passam a interessar-se por temas lingüísticos,
abandonando seus ratos de laboratório para tentar estudar o que chamavam de “comportamento verbal”.
Diversas pesquisas nesta época fundamentavam as teses de Verbal Behaviour de Skinner, de que o
comportamento verbal era passível de condicionamento por reforço:
Jack & Jill (Bloomfield)
1. Verplanck (1955): “mmm study”
Afirmações de estudantes universitários apresentavam índice
de qualidade
crescente quando estimuladas por reforçadores verbais como mmm ou bom;
2. Greenspoon (1955): produção de plural
Aumentava-se o índice de palavras no plural quando se dirigia o reforço para
este tipo de palavra. Podia-se influenciar a escolha de palavras na conversa
com reforço gestual (meneio de cabeça).
A psicolingüística de base Chomskyana
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Segundo Tannenhaus, há três modos distintos
pelos quais as idéias de Chomsky influenciaram a
Psicolingüística.
1. Contribuição metodológica: afirmando o inatismo
e o fato de que a mente é rica em estrutura ;
2. O problema lógico da aquisição da linguagem
fornece o quadro para a pesquisa em
Psicolingüística desenvolvimental;
3. A teoria lingüística Chomskyana guiou a maior
parte da pesquisa em Psicolingüística Experimental
durante os 60’s.
Estudos psicológicos da gramática

Desde a década de 50, quando surge a Psicolingüística, nos EUA, num
contexto ainda behaviorista, mas já decisivamente influenciado pelo
gerativismo e pela Inteligência Artificial, os primeiros experimentos
investigaram o papel da estrutura na compreensão. Os experimentos
de Miller e seus colegas, por exemplo:

1. Sílabas sem sentido são + facilmente aprendidas em estruturas
frasais
Yig wur vum rix hum jig miv
era mais dificilmente memorizado do que
The Yir wurs vum rixing hum in jig miv.

Resultado: Epstein (1961) sugeriu que este fato revela a importância
da estrutura frasal nos processos de armazenagem e recuperação de
memória.
2. Retenção de Constituintes Sentenciais na Memória de
Trabalho

Unless the temperature drops below freezing, rain will fall
freezing

Unless the storm moves farther north, freezing rain will fall
freezing
Caplan (1972): A informação sentencial é acumulada
na
memória
de
trabalho
em
conjuntos
correspondentes aos constituintes oracionais
3. Locação de Clicks

Garrett, Bever & Fodor, 1966
That he was happy ↓ was evident from the way he
smiled
As unidades de processamento são resistentes à
interrupção. Mesmo quando o click estava no meio
de um constituinte, ele era percebido como estando
na fronteira.
A realidade psicológica da sintaxe

4. Percepção de fonemas, palavras e frases em um background
de ruído
Resultado: Frases eram percebidas mais prontamente do que palavras
e palavras mais prontamente do que fonemas, indicando que QUANTO
MAIS ESTRUTURA, MAIS FÁCIL A COMPREENSÃO.

5. Percepção de frases em background de ruído
(a) frases bem formadas: Os ursos roubam mel das colméias
(b) frases anômalas semanticamente, mas sintaticamente bem
formadas: Colorless green ideas sleep furiously
(c) frases sintaticamente mal formadas: On trains hive elephants the
simplify
Resultados: Sujeitos recuperaram mais palavras das frases em a, do
que das frases em b e mais palavras das frase em b do que das frases
em c, demonstrando que a estrutura sintática tem um papel na
compreensão, até mesmo quando as palavras não tem sentido.
A Teoria da Complexidade Derivacional DTC

A primeira grande teoria em Psicolingüística foi a “Derivational Theory
of Complexity” de Miller e associados. A presunção fundamental
desta teoria era a de que as frases com uma história derivacional mais
complexa deveriam ser mais difíceis de processar. Animado por seus
estudos anteriores de que a sintaxe influencia a compreensão, Miller e
associados montaram experimentos para testar uma versão mais forte,
a de que a compreensão usa a gramática de forma direta. A teoria DTC
funcionava assim: quando uma frase é ouvida ou lida, seu marcador
superficial é computado. Deste marcador recuperava-se o marcador do
“kernel” subjacente revertendo as transformações que se aplicavam na
derivação da frase. A idéia era a de que as transformações requeriam
tempo de processamento. A cada transformação revertida aplicava-se
um tag, assim a representação final era um kernel + um conjunto de
tags. Por exemplo, quando se ouvia uma frase como:
A DTC
PATRICIA QUER VESTIR-SE
CV=> PATRICIA QUER VESTIR-SE
SSI=> PATRICIA QUERER VESTIR-SE
REFL=> PATRICIA QUERER PATRICIA VESTIR-SE
PATRICIA QUERER PATRICIA VESTIR PATRICIA
A DTC
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Assim, uma frase com maior número de transformações seria mais custosa
processualmente do que uma frase com menor número de transformações.
Vários experimentos foram desenvolvidos não só por Miller, mas por outros
estudiosos para testar a teoria:
Os primeiros estudos pareciam confirmar a teoria:

McMahon(1963)
Afirmativa ativa
5 precedes 13
Afirmativa passiva
13 is preceded by 5
Negativa ativa
13 does not precede 5
Negativa passiva
13 is not preceded by 6

Transformação de Negação: The sun is not shining era mais difícil de
compreender do que sua contraparte afirmativa.
A falência da DTC

Mas diversos estudos posteriores demonstram que outras transformações não
eram mais custosas, passando-se a interpretar o resultado da negativa não
como efeito da DTC, mas como efeito puramente semântico.
Bever, Fodor, Garrett & Mehler
Movimento de partícula: John phoned the girl up
John phoned up the girl

As duas frases eram processadas ± no mesmo tempo. Outros estudos
chegaram mesmo a verificar que frases com mais transformações eram
processadas mais rapidamente do que contrapartes com menos
transformações.

Outros estudos retestaram ativa/passiva e também não ofereceram suporte à
teoria. Assim, os resultados indicaram que as pessoas não parecem produzir
frases complexas aplicando transformações mentais a sentenças simples. Ou
seja, transformações não eram psicologicamente reais. Esse foi um revés que
levou ao afastamento da Psicolingüística da Lingüística.
A realidade psicológica das EPs
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Outros estudos, no entanto, pareciam seguir na linha de que as estruturas
sintáticas são psicologicamente reais. Aqueles estudos, por exemplo, sobre:
-Percepção de tons/cliques de Fodor, Bever e Garrett: os cliques eram
percebidos em pontos identificados como as fronteiras relevantes para a EP.
É desta época a introdução de diferentes paradigmas experimentais, tais
como monitoramento de fonemas, decisão lexical, reconhecimento de sonda.
- Sachs (1967): Os ouvintes lembram do conteúdo de uma frase, mas não de
sua forma - evidência de que as pessoas se lembram das EP’s e estas são
reais.
Wanner (1974) : RECONHECIMENTO DE SONDA de palavra na EP era mais
efetiva quanto mais vezes a palavra aparecia na EP. Assim, em Patricia quer
vestir-se, Patricia estaria mais ativo do que em Patricia quer sair. Discutia-se a
interpretação em termos de processamento de co-referência.
Além da estrutura

Entretanto, na década de 70 mesmo esta versão mais fraca da teoria não vai
sobreviver. Uma série de experimentos realizados por Bransford & Franks
demonstraram que a representação mnemônica de uma frase inclui elementos
que não estão na EP, mas que são derivados de inferências baseados no
conhecimento do mundo. Assim, frases como:

Três tartarugas descansavam sobre um tronco e um peixe nadou por
baixo delas

Podiam ser interpretadas tanto como:
- O peixe nadou por baixo das tartarugas
- O peixe nadou por baixo do tronco
Sendo a segunda interpretação uma inferência que não estaria de modo algum
representada na EP. Como analisa Tannenhaus, a 2a interpretação é inferida da
frase mediante o uso de conhecimento das relações espaciais do mundo real.
Este estudo, junto a outros chamou a atenção para a importância de fatores
não gramaticais na compreensão, tal como o contexto.
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Anos 70

Com gemas furtadas financiando-o, nosso herói desafiou
bravamente todo o desdém e a zombaria com que tentavam
impedir seu intento. – “seus olhos vos enganam”, retrucou. Um
ovo, não uma mesa, tipifica este planeta inexplorado. Agora três
irmãs obstinadas buscam as provas, forjando seu caminho ora
na calma vastidão, ora sobre picos e vales turbulentos. Assim,
os dias se tornaram semanas enquanto os incrédulos
espalhavam boatos e temores por toda parte. Finalmente, como
que chegadas do nada, criaturas aladas surgiram trazendo a
certeza do sucesso.
(Anderson, E., 1976)
Anos 70…

Vimos então que durante os 70’s a pesquisa se direciona para o discurso,
pragmática, inferência. Mas e os estudos de Processamento Sintático?
Houve também posições intermediárias, que procuraram conciliar os
resultados contraditórios. Assim, propôs-se que as estruturas sintáticas de
superfície são psicologicamente reais, mas não as transformações. No
modelo da época havia o componente gerativo, que gerava as EP’s e o
componente transformacional que convertia EP em ES.

Os estudos com base na gramática, ainda que marginais, continuaram,
tomando um novo impulso no fim da década de 70. Principalmente os
estudos relatados em Fodor Bever e Garrett, que haviam sido os
responsáveis por experimentos que desconfirmaram a DTC e que
procuravam uma alternativa para aquela teoria.
É dessa época o
levantamento preliminar de diferentes tipos de frases como as frases de
encaixe central e, principalmente, as frases com ambiguidades estruturais
locais e temporárias conhecidas como garden paths, que serão objeto de
estudos, constituindo-se na teoria do garden path, principalmente pelo
trabalho de Frazier e associados em Amherst, já no final dos 70’s e começo
dos 80, sob a égide do modelo GB.
Bever, 1970

A frase clássica de Bever que abre o campo do garden path(1970):
The horse raced past the barn fell
Frases de encaixe central também foram reconsideradas, mas a o
foco das pesquisas centrou-se sobre o garden path . A questão: por
que e sob que condições o Mecanismo Humano de Processamento
de Frases (HSPM) ou parser adota uma análise de uma estrutura
ambígua ao invés de outra. Lança-se aí um problema central na
compreensão lingüística: como se resolve a ambigüidade. O
trabalho de Bever (1970) “The Cognitive Basis for Linguistic
Structure”, distingüe regras de estrutura gramatical de heurísticas
ou estratégias perceptuais.
Bever (1970)
Bever propôs uma série de estratégias nãotransformacionais para explicar não só porque
algumas frases são mais demoradas para processar
do que outras, mas também para tentar explicar os
erros que as pessoas cometem ao ouvir frases.
Essas estratégias já foram alvo de muitas críticas,
por não serem completas, meramente descritivas,
serem redundantes e até mesmo por estarem
simplesmente erradas. É o caso da estratégia
NVN -> Ator Ação Objeto
Seus princípios tem hoje mais um valor histórico.
As estratégias de Kimball (1973)
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Princípio I – Top Down
O parsing nas línguas naturais procede de acordo com um algoritmo
“top-down”.
Princípio II – Right Association
Os constituintes são preferencialmente apostos ao nó mais baixo em
construção.
Princípio III – New Node
Um item funcional assinala o início de um novo nó.
Princípio IV – Two Sentences
Os constituintes de não mais do que dois S podem ser parseados ao
mesmo tempo.
Princípio V – Closure
Um nó deve ser fechado logo que possível
Princípio VI – Fixed Structure
O custo da reanálise dos constituintes de um sintagma (phrase)
fechado é computacionalmente alto.
Princípio VII – Processing
Uma vez parseado, um sintagma (phrase) deve ser removido da área
de trabalho da memória de curto prazo.
Kimball
Someone shot the servant of the actress who was on the balcony.
( Right Association )
Alguém baleou o empregado da atriz que estava na varanda.
( Right Association )
O rato que o gato que o cachorro perseguiu mordeu morreu.
( Two Sentences )
O cachorro perseguiu o gato que mordeu o rato que morreu.
( Closure )
That is a nice flower/That boy is her brother/That the boy left is surprising.
( Top down )
The girl pushed through the window cried
( Closure )
Mãe suspeita de assassinato de filho morre
( Closure )
They knew the girl was in the closet/ They knew that the girl was in the closet.
( New Node )
Eles viram a menina no armário/ Eles viram a menina entrar no armário
( Closure )
The girl persuaded her enemies were in the closet.
( Closure )
The Sausage Machine
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Frazier e Fodor (1978) e, principalmente, Frazier (1979) unificam em um sistema mais
econômico e elegante as estratégias propostas durante a década de setenta por Bever e
por Kimball. Dois princípios são inicialmente propostos: Late Closure – LC (Aposição
Local) e Minimal Attachment – MA (Aposição Mínima). Basicamente, o modelo de Frazier
e Fodor, que ficou conhecido na literatura como Sausage Machine – a máquina de
salsichas – é composto de dois estágios: um PPP – Preliminary Phrase Packager –, que
procede à estruturação inicial dos itens lexicais em sintagmas e um SSS – Sentence
Structure Supervisor –, responsável pela estruturação subseqüente dos sintagmas em um
marcador frasal completo. As decisões iniciais do PPP quanto às relações estruturais
entre os nós sintáticos são determinadas pelo LC e pelo MA.
Frazier & Fodor (1978) demonstram, por exemplo, que em uma frase como (i), o item
down tende a ser aposto mais baixo, no âmbito do SN glove, resultando em um efeito
garden-path. Já em uma frase como (ii) em que o constituinte é mais pesado, a frase é
processada (parsed) corretamente, podendo-se apor com mais facilidade o constituinte
ao verbo e não ao SN mais baixo:
She threw [the bat, the ball and [the glove down]]
She threw [the bat, the ball and the glove] down into the mud]
A Teoria do Garden Path (Labirinto)
TGP
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Pressupostos
1. Modularidade da Mente
2. Processador serial
3. Processador sintático inicial
4. Imediaticidade da Análise sintática
 Princípios
1. Aposição Mínima (Minimal Attachment)
2.Aposição Local (Late Closure)
3. Antecedente Ativo (Active Filler)
4. Estratégia do Antecedente mais Recente
(Most Recent Filler Strategy)
5. Princípio da Cadeia Mínima (Minimal Chain Principle)
Veríssimo, L.F. O Zelador do Labirinto. (2003). Revista Ícaro, 230, RMC Editora, p. 34.
O zelador do labirinto
Tem também a história do zelador do labirinto. Todos os dias ele saía de casa cedo,
com sua marmita, e entrava no labirinto. Seu trabalho era percorrer todo o labirinto,
inspecionando as paredes e o chão, vendo onde precisava um retoque, talvez uma
mão de tinta, etc.
Era um homem metódico. Pela manhã, fazia a ronda do labirinto, anotando tudo que
havia para ser consertado, depois saía do labirinto, almoçava, descansava um
pouquinho, e entrava de novo no labirinto, agora com o material que necessitaria
para seu trabalho. Quando não havia nada para ser consertado, ele apenas varria
todo o labirinto e, ao anoitecer, ia para casa. Um dia, enquanto fazia a sua ronda, o
zelador encontrou um grupo de pessoas apavoradas. Queriam saber como sair dali.
O zelador não entendeu bem.
– Como, sair?
– A saída! Onde fica a saída?
– É por ali – apontou o zelador, achando estranha a agitação do grupo.
Mais tarde, no mesmo dia, enquanto varria um dos corredores, o zelador encontrou
o mesmo grupo. Não tinham encontrado a saída. Estavam ainda mais apavorados.
Alguns choravam. Alguém precisava lhes mostrar a saída!
Veríssimo, L.F. O Zelador do Labirinto. (2003). Revista Ícaro, 230, RMC Editora, p. 34.
Com uma certa impaciência, o zelador começou a dar a direção. Era fácil.
– Saiam por ali e virem à esquerda. Depois à direita, depois à esquerda, esquerda
outra vez, direita, direita, esquerda... – Espere! – gritou alguém. – Ponha isso num
papel.
Sacudindo a cabeça com divertida resignação, o zelador pegou seu caderno de
notas e toco de lápis e começou a escrever.
– Deixa eu ver. Esquerda, direita, esquerda, esquerda.
Hesitou.
– Não, direita. É isso. Direita, direita, esquerda... Ou direita outra vez?
O zelador atirou o papel e o lápis no chão como se estivessem pegando fogo. Saiu
correndo, com todo o grupo atrás. Também estava apavorado. Aquilo era terrível.
Ele nunca tinha se dado conta de como aquilo era terrível. Corredores davam para
corredores que davam para corredores que davam numa parede. Era preciso
voltar pelos mesmos corredores, mas como saber se eram os mesmos
corredores? A saída! Onde fica a saída?
A administração do labirinto teve que procurar um novo zelador, depois que o
desaparecimento do outro completou um mês. Podia adivinhar o que tinha
acontecido. O novo zelador não devia ter muita imaginação. Era preferível que
nem soubesse ler e escrever. E em hipótese alguma devia falar com estranhos.
Garden-paths
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João comprou a flor para Susana/John
bought the flower for Susan
João viu o turista com o binóculo
João disse que o professor voltará ontem
João viu o cúmplice do ladrão que fugiu
HSPM

A velocidade do processamento
O mecanismo humano de processamento de frases ou parser
aplica a gramática mental muito rapidamente
Audição: Aproximadamente 300ms por palavra = 3 – 4 sílabas por
segundo (1 segundo = “um chimpanzé" ),
mas duas vezes mais rápido é compreensível.
Leitura Silenciosa: de 200 a 350 palavras por minuto
= aproximadamente 170 - 300ms por palavra
A leitura dinâmica alcança de 2,000 – 10,000 palavras por minuto!
Como o parser procede?

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O
parser
atribui
estrutura
à
cadeia
de
palavras
incrementacionalmente (palavra a palavra, sem esperar pela
informação completa).
A construção da estrutura é serial, algoritmica, & determinística
exeto quando encontra AMBIGÜIDADE, incluindo a AMBIGÜIDADE
TEMPORÁRIA. Nesses casos, a gramática não determina a análise
da cadeia de palvras.
O parser deve, então, adivinhar que análise o falante pretendeu. (Há
poucas evidências para ação retardada ou paralela)
No caso de ambigüidade plena, um “chute” incorreto 
incompreensão. No caso de ambigüidade temporária  um “garden
path” (=crash!)
Se o “chute”estiver correto, não há problema. Se estiver errado, o
parser precisará reanalisar a frase.
Ambigüidade: plena e temporária

Ivo detesta Pedro e Maria e Luís não.
[
]e[
]
[
]e[
]

Ivo detesta Pedro e Maria não.
Ambigüidades Temporárias



Ian knows Thomas
Ivo viu
Pedro
onset
área ambígua
is
a train
sair
resolução

Analisemos a frase “Ian knows Thomas is a train” . (em português, uma estrutura
equivalente seria João viu Pedro sair). Nesta frase o “onset”, início da ambigüidade qual
é?
É o verbo know, que permite tanto um complemento nominal quanto um
complemento sentencial. a ambigüidade é resolvida pela presença do verbo “be”, que
assinala um complemento sentencial. Aqui dá-se o garden path. A área entre o onset
da ambigüidade e a sua resolução é a área ambigua da frase. Na frase é o SN Thomas.

É importante notar que estas áreas da frase são independentes das propriedades
particulares do modelo de parsing que se assume. Estes são fatos que não decorrem do
modelo. Independentemente de o parser fazer uso de informação sobre a grade de
subcategorização do verbo, a frase é ambígua.
Imediaticidade da Análise

O Princípio da Imediaticidade (Just e Carpenter (1980/87) : É
um princípio de parsing global, descreve características gerais
do processo e não estratégias específicas de construção.
Basicamente, as mensagens lingüísticas consistem de cadeias
de palavras, encontradas uma a uma. Uma vez pronunciadas
estas palavras desaparecem. Vimos que sua retenção
perceptual na memória sensorial é de quanto tempo? Cerca de 4
segundos. Como então conseguimos processar frases
complexas, que requerem operações mentais diversas tão
prontamente? A questão é
tratada pelo Princípio da
Imediaticidade da Análise, segundo o qual as palavras são
estruturadas logo que encontradas.

Observe-se que há três alternativas lógicas a esse respeito:

1. O parser atrasa a computação até que o ponto de ambiguidade
seja identificado e só então constrói a árvore correta;
2. O parser computa todas as análises distintas em paralelo
3. O parser computa uma única análise sintática imediatamente e a
mantém até que seja contradita, quando então deve retornar para
reanalisar a frase.



A imediaticidade é justificada pelo garden-path e porque tem a
vantagem de evitar a explosão computacional, ou seja, a memória de
curto prazo teria dificuldades em manter diferentes alternativas
sintáticas e semânticas ativas até que uma delas fosse a escolhida.
Singer (p.70) exemplifica com a ambigüidade semântica de flower/flour
, que deixaria 4 alternativas a serem mantidas até que o processo
interpretativo pudesse resolver a ambigüidade. Seria uma carga
pesada demais para a memória de curto prazo. Na verdade a própria
existência de garden path indica qual a opção mais viável
Explosão computacional
John bought [the flower] [for Susan.]
2.
John bought [the flower for Susan]
3.
John bought [the flour] [for Susan.]
4.
John bought [the flour for Susan]
1.
Frazier & Rayner, 1982
ESTUDO COM “EYE-TRACKER”
(Frazier & Rayner)
NM
MÃE SUSPEITA DE ASSASSINATO DO FILHO FOGE.
Região ambígua
Região
DESAMBIGUIZADORA
M
MÃE SUSPEITA DE ASSASSINATO DO FILHO E FOGE.
Região ambígua
Delay
Tempo relativo MAIS ELEVADO
Região desambigüizadora
Tempo GLOBAL
M = NM
Serial
Região desambigüizadora
M < NM
Paralelo
Região ambígua
M = NM
A teoria do Labirinto
(Teoria do Garden Path)




Em resumo, as afirmações fundamentais da Teoria do Garden Path
são:
o parser usa uma porção do seu conhecimento gramatical isolado do
conhecimento do mundo e de outras informações para a identificação
inicial rápida e reflexa das relações sintagmáticas (encapsulamento
informacional);
o parser confronta-se com sintagmas de aposição ambígua e
compromete-se com uma estrutura única (comprometimento
mínimo);
pressionado pela arquitetura do sistema de memória de curto prazo,
que tem um limite estreito de processamento e armazenamento, o
parser segue um princípio psicológico na escolha dessa estrutura:
use o menor número possível de nós (Aposição Mínima) e, se duas
aposições mínimas existem, aponha cada nova palavra ao sintagma
corrente (Aposição Local);
TGP





Para estabelecer relações de longa distância, o parser usa o
conhecimento da estrutura para:
identificar um elemento ativo na periferia esquerda e associá-lo à
primeira lacuna disponível (Antecedente Ativo);
associar uma lacuna ao antecedente mais recente (Antecedente
Mais Recente);
postular rapidamente análises com menos cadeias e cadeias
com menos elos (Princípio da Cadeia Mínima);
o parser distingüe entre relações sintáticas primárias e
secundárias, aplicando os princípios acima apenas para o
processamento das relações primárias (Construal).
Aposição Mínima

O parser aplica uma série de princípios de decisão
ou estratégias que favorecem árvores simples e
compactas. Tais estratégias dizem respeito,
fundamentalmente, à geometria da árvore sintática,
embora a freqüência possa também contribuir.

Minimal Attachment “Attach an incoming item into
the sentence structure using as few nodes as
possible.”
(Frazier 1978)
Aposição Mínima











VP
/
\
SN
V’
Mãe
/
\
suspeita SP
/ \
de SN
\
N’
/ \
assassinato SP
/__\
do filho
foge?
Aposição não-mínima
VP



/
SN
/____\

\
V
foge
Mãe suspeita
de assassinato do filho
Aposição Mínima
(Frazier & Rayner, 1982)
1. We figured that Tom probably forgot the
flashlight. (Aposição mínima)
“Nós imaginamos que Tom provavelmente
esqueceu a lanterna”
2. Tom probably forgot the flashlight had been
stolen. (Aposição Não-Mínima)
“Tom provavelmente esqueceu que a
lanterna tinha sido roubada”
Aposição Mínima
Nas frases (1) e (2), o princípio de parsing relevante, segundo Frazier &
Rayner (1982), é a Aposicão Mínima (Minimal Attachment, MA). Em (1)
e (2), o SN the flashlight “a lanterna” apresenta ambigüidade estrutural
temporária entre uma análise como objeto direto do verbo forgot
“esqueceu” ou como sujeito de oração subordinada substantiva objetiva
direta, pois esse verbo admite como complemento tanto um SN quanto
uma oração. A predição do princípio da Aposição Mínima é a de que o
parser deve “apor o material que vai encontrando ao marcador frasal em
construção, usando o menor número de nós sintáticos, de acordo com
as regras de boa formação da língua” (p. 180). Assim, tanto em (1)
quanto em (2), a preferência mínima será por incorporar o SN the
flashlight como objeto direto de forgot e não como sujeito de
complemento oracional, pois a primeira análise requer a postulação de
menos nós sintáticos. Essa decisão revela-se acertada em (1), mas não
em (2), estrutura não-mínima, que leva o parser ao garden-path. Ao
encontrar a forma verbal had been “tinha sido”, o parser notará que a
decisão mínima não funcionou nesse caso e precisará reanalisar o SN
the flashlight como sujeito da oração objetiva direta.
O Processamento de concatenações sintáticas em três tipos de estruturas
frasais ambíguas em Português
Marcus Maia,Shelen Alcântara, Simone Buarque,Fernanda Faria (UFRJ)
Reportam-se neste artigo estudos de questionário e experimentos
de leitura auto-monitorada sobre três tipos de concatenações
sintáticas ambíguas em português: orações iniciadas por QUE,
ambíguas entre aposição como complemento ou como adjunto;
formas verbais ambíguas entre a flexão de presente do indicativo ou
o particípio passado; sintagmas preposicionais ambíguos entre
aposição ao sintagma verbal ou ao sintagma nominal. Analisam-se
essas duplas possibilidades de concatenações nos termos de
Frazier & Clifton (1996), respectivamente, como relações sintáticas
primárias e secundárias, mapeando-as em termos da caracterização
apresentada em Chomsky (2001). Os resultados permitem
corroborar a atuação no processamento de frases em português do
Princípio da Aposição Mínima (Fodor e Frazier, 1978; Frazier, 1979)
e apontam no sentido do encapsulamento do parsing sintático.
O Processamento de concatenações sintáticas em três tipos de estruturas
frasais ambíguas em Português
Marcus Maia,Shelen Alcântara, Simone Buarque,Fernanda Faria



Os três estudos reportados a seguir investigam o comportamento do parser
quando defrontado com dupla possibilidade de concatenação sintática.
Embora testando três tipos de ambiguidades sintáticas distintas, os estudos
têm como referência a Teoria do Garden Path e adotam os mesmos
procedimentos experimentais. São conduzidos, em um primeiro momento,
estudos offline, com base em questionários a serem completados por
voluntários, sem medida de tempos em milésimos de segundos. Em um
segundo momento, os três estudos reportam experimentos de leitura automonitorada, utilizando o programa Psyscope, a fim de medir tempos de
leitura em milésimos de segundos.
O primeiro estudo analisa as preferências de aposição sintática no caso de
orações subordinadas iniciadas por QUE, que têm como matriz uma oração
nucleada por um verbo “dicendi”. A ambigüidade decorre da possibilidade
de integrar a subordinada como substantiva objetiva direta ou como
adjetiva, formando um SN complexo. Observe-se que, no caso da
preferência pela aposição como substantiva, o processador será conduzido
a um efeito labirinto (garden-path), pois não terá como integrar a oração
subseqüente, precisando voltar e reanalisar a segunda oração como
adjetiva:
(1) A babá explicou para a criança / QUE estava sem sono / que a mamãe
iria chegar à noite.





O segundo estudo investiga estruturas em que uma forma verbal ambígua
entre presente do indicativo e particípio se segue a um SN, admitindo ser
aposta a ele como um verbo principal ou como uma oração adjetiva reduzida,
formando um SN complexo. Como se observa no exemplo em (2), a
preferência pela aposição como verbo no presente do indicativo poderá levar
o leitor ao efeito garden-path, pois ao encontrar a oração subseqüente não
terá como integrá-la no primeiro passe, já que se comprometeu com a
estrutura mínima. Deverá, então, reanalisar sintaticamente a estrutura, de
forma não mínima, isto é, interpretando a forma verbal como particípio,
formando um SN complexo:
(2) A empresária /PAGA com antecedência de um mês/ exige exclusividade.
Finalmente, o terceiro estudo explora a compreensão de estruturas em que
um sintagma preposicional pode apresentar ambigüidade de aposição
sintática como um adjunto adverbial ou como um adjunto adnominal,
formando um SN complexo:
(3) O policial /viu o turista/com o binóculo.
Observe-se que o SP “com o binóculo”, no exemplo acima, pode ser tomado
como o instrumento com o qual o policial viu o turista (estratégia de aposição
do SP ao SV) ou como um modificador do SN “o turista” (estratégia do SN
complexo, não mínima). Os três estudos têm em comum ainda o fato de
haverem manipulado efeitos semânticos e/ou pragmáticos, tanto nos estudos
de questionário, quanto nos experimentos de leitura auto-monitorada, com a
finalidade de investigar a interferência de fatores não estritamente estruturais
no processamento sintático.
O Processamento de concatenações sintáticas em três tipos de estruturas
frasais ambíguas em Português
Marcus Maia,Shelen Alcântara, Simone Buarque,Fernanda Faria (UFRJ)
1. Oração Substantiva x Oração Adjetiva.
“O patrão disse ao funcionário que nunca chegava atrasado que lhe daria aumento”.
1.1. Estudo de questionário
Um questionário com frases para serem completadas foi aplicado em 40 alunos de graduação da UFRJ.
O questionário continha 60 frases (20 experimentais + 40 distratoras), em duas versões +P (+
plausibilidade de aposição ao SN) and –P (- plausibilidade de aposição ao SN).
Exemplos:
+P Havia várias crianças na creche. A babá explicou para a criança que.......
-P Havia só uma criança na creche. A babá explicou para a criança que.....
Resultados
Oração substantiva
Oração adjetiva
TOTAL
Tabela 1 – Resultados
275 dados
125 dados
400 dados
do questionário +P
68,75 %
31,25 %
100 %
Oração substantiva
353 dados
Oração adjetiva
23 dados
Ambíguas
20 dados
Bão preenchido
4 dados
TOTAL
400 dados
Tabela 2 – Resultados do questionário –P
88,25 %
5,75 %
5,00 %
1,00 %
100 %
O Processamento de concatenações sintáticas em três tipos de estruturas
frasais ambíguas em Português
Marcus Maia,Shelen Alcântara, Simone Buarque,Fernanda Faria
Mesmo no contexto mais plausível, não há preferência maior do
que 50% pelo pronome relativo (N = -8.0904, p  0). De toda forma, o
contexto teve forte influência sobre as respostas: no contexto mais
plausível houve um aumento significativo da proporção de preferências
pelo pronome relativo (t(397) = 9.56; p 
0). Os resultados
demonstram, claramente, a preferência dos sujeitos pela produção com
conjunção integrante, o que corresponde a 88,25 % do total de dados
analisados. Observe-se que em ambos os casos, o princípio da aposição
mínima parece estar funcionando, levando à produção preferencial de
estruturas com menor complexidade estrutural. Entretanto, o contexto
+ plausível fez com que a preferência pela aposição mínima diminuísse
sensivelmente, ainda que se mantendo como a opção preferencial.
Conjunção Integrante
(+) Plausível
68,75 %
(-) Plausível
88,25 %
Tabela 2 – Percentuais comparativos
Pronome
relativo
31,25 %
5,75 %
1.2. Estudo on-line

24 alunos de graduação da UFRJ foram voluntários de um experimento
de leitura auto-monitorada não cumulativa
com 16 conjuntos
experimentais + 32 distratores em um desenho “between-subjects” ,
incluindo 4 condições:

+PL(+Plausível longa): Havia duas crianças na sala. / A babá explicou
para a criança / que estava sem sono / que a mamãe só iria chegar à
noite.
-PL (-Plausível longa): Havia uma criança na sala. / A babá explicou
para a criança / que estava sem sono / que a mamãe só iria chegar à
noite.
+PC (+Plausível curta): Havia duas crianças na sala. / A babá explicou
para a criança / que a mamãe só iria chegar à noite.
-PC (-Plausível curta): Havia uma criança na sala. / A babá explicou para
a criança / que a mamãe só iria chegar à noite.



Tempos médios de leitura do segmento crítico
Tempos Médios
2500
2000
1500
+PC
1775
-PC
1759
+PL
2329
-PL
2364
PC
1767
PL
2346.5
1000
500
0
+PC
-PC
+PL
-PL
PC
PL
2. Concatenação de SN sujeito a verbo principal ou a oração
adjetiva reduzida

O tipo de estrutura examinado nesse estudo é equivalente ao famoso exemplo de
Tom Bever “The horse raced past the barn fell”.

Usando técnica de monitoramento da fixação ocular (eye-tracking), Ferreira & Clifton
encontraram evidência contra o uso imediato da informação temática. Observem-se,
a título de exemplo, um dos conjuntos de frases estudadas por eles:

(1) The defendant examined by the lawyer was unreliable.
“O réu examinou/examinado pelo advogado não era confiável”
(2) The evidence examined by the lawyer was unreliable
“A prova examinou/examinada pelo advogado não era confiável”


Os autores encontraram o mesmo padrão de leitura para os dois tipos de frase,
concluindo que os leitores sempre perseguem a análise em termos de oração
principal, em conformidade com o Princípio da Aposição Mínima, sem levar em conta
no processamento inicial a informação de natureza semântica.
2.1. Estudo de questionário


Em Português, um tipo equivalente de ambiguidade ocorre com
formas tais como “oculta”, “suspeita”, “paga”, etc., nas quais a
forma verbal é ambígua entre a 3a pessoa do singular no
presente e o particípio. Foram preparados dois questionários,
contendo cada um 16 frases experimentais e 32 frases
distratoras, que foram completados por 17 voluntários, alunos
de graduação da UFRJ. Um dos questionários utilizava SN’s do
tipo [+humano] e o outro SN’s do tipo [-humano], como
exemplificado em (1) e (2), a seguir:
(1) A repórter oculta...
(2) A rocha oculta...
Resultados
Mínima
+H
190
-H
170
Geral
360
Não-mínima
70
71
141
% Mínima
0.73 0.70 0.71
Tabela 7 – Dados do Questionário
Observe-se que
das 272 observações obtidas para cada
questionário (16 frases experimentais completadas por 17
voluntários), registram-se preferências significativas pela estrutura
mínima, tanto no questionário em que os SN’s tinham o traço
[+humano], quanto no questionário em que os SN’s tinham o traço
[-humano]. Note-se, entretanto, que algumas formas verbais
apresentaram maior sensibilidade ao caráter [+humano]/[-humano]
do SN, como as formas “isenta”, “limpa” e “fixa”.
Resultados específicos
+HM
suspeita
expulsa
paga
isenta
oculta
aceita
limpa
suja
salva
pega
alerta
desperta
descalça
inquieta
confessa
fixa
TOTAL
%
14
13
16
4
14
17
17
3
17
17
11
15
1
17
14
190
69,9
+HN
3
4
10
3
14
17
16
3
70
272
25,7
100
+H
ambíguos
-HM
1
3
6
2
12
2
17
16
13
11
17
2
3
17
17
5
17
1
7
16
9
170
4,4
62,5
-HN
1
6
15
14
16
10
1
8
71
272
26,1
100
-H
ambíguos
15
1
3
12
31
11,4
2.2. Estudo “on line”
16 conjuntos de frases experimentais foram lidos por 24 sujeitos em uma tarefa de leitura auto-monitorada.
4 condições de controle e 32 distratores foram incluídos no desenho.
Control
Verb (V)
Participle(P)
Human (H)
HV
HP
Inanimate (I)
IV
IP
Table 4 – Experimental and Control conditions
HV
HP
HM
HN
IV
IP
IM
IN
Experimental
Minimal (M)
HM
IM
Paga
A empresária recompensa com prêmio em reais mas exige confiança.
A empresária recompensada com prêmio em reais exige confiança.
A empresária paga com antecedência de um mês mas exige confiança.
A empresária paga com antecedência de um mês exige confiança.
A empresa recompensa com prêmio em reais mas exige confiança.
A empresa recompensada com prêmio em reais exige confiança.
A empresa paga com antecedência de um mês mas exige confiança.
A empresa paga com antecedência de um mês exige confiança.
Non-mínimal (N)
HN
IN
On-line
As frases foram apresentadas em quatro segmentos, cujo tempo de permanência na tela
era monitorado pelo leitor, que era instruído para ler de modo mais natural e rápido
possível. As frases eram monitoradas, apertando-se a tecla amarela na caixa de botões. O
quadro (8) abaixo exemplifica a segmentação das frases experimentais.
Segmento Segmento
1
2
SN
V
sujeito
A moça
isenta
Segmento 3
Segmento 4.
complemento
(conjunção) V
complemento.
de pagamento de
mensalidades
Tabela – Estrutura das frases experimentais
(e) divulga o curso.
+
Pergunta
A moça
divulga o
curso?
Cruzamentos
HM x HN
IM x IN
HV x HM
IV x IM
HP x HN
IP x IN
HM x IM
HN x IN
P-Valores
0,0000
0,0000
0,0050
0,0131
0,0009
0,0018
0,8983
0,6680
Tempos Médios
2500
2000
1500
Condições
HV
HP
HM
HN
IV
IP
IM
IN
Tempos
médios
1653
1614
1228
2242
1636
1508
1242
2355
1000
500
0
HV HP HM HN
IV
IP
IM
IN
Há uma preferência significativa pela estrutura mínima (verbo principal),
conforme predito pela Aposição Mínima. A manipulação do traço [HUMANO]
NÃO afetou os tempos de leitura médios do segmento crítico. O segmento 4 foi
lido mais rápidamente em HM do que em HN e também em IM do que em IN,
refletindo o efeito surpresa e a reanálise dos garden-paths. Por outro lado, notese que não há diferenças significativas quando se comparam os tempos de
leitura médios das condições HM e IM ou os tempos de HN e IN,
demonstrando a ausência de acesso semântico rápido pelo parser.
3. Concatenação de SP a SV ou a SN



A ambigüidade de aposição de SPs é uma das mais
estudadas em inglês. Vários estudos aferiram tempos de
leitura dessas estruturas, demonstrando que, em geral, levase mais tempo para ler SPs que demandam aposição ao SN
do que SPs apostos ao SV. A conclusão tem sido a de que os
leitores, guiados pelo princípio da aposição mínima, fazem
uma aposição inicial do SP ao SV, sendo forçados,
posteriormente a revisar esta análise, quando ela se revela
inadequada. (cf. Altmann, 1986; Ferreira & Clifton, 1986;
Frazier, 1978; Rayner, Carlson and Frazier, 1983, Sedivy &
Spivey-Knowlton, 1994):
The gang leader hit the lawyer with a whip.
The gang leader hit the lawyer with a wart.
Estudo de questionário



Foram preparados dois questionários contendo cada um 20 frases
experimentais e 40 frases distratoras, a serem respondidas por 40
voluntários, alunos de graduação da UFRJ. Em ambos os
questionários havia uma frase inicial que pretendia funcionar como um
contexto para a frase seguinte, onde ocorria a ambigüidade de
aposição do SP. No primeiro grupo, havia um contexto que afirmava
a existência de um único referente, enquanto que, no segundo grupo, o
contexto introduzia mais de um referente possíveis, com vistas a
favorecer a aposição baixa do SP, como exemplificado em (1) e (2), a
seguir:
(1) Contexto – Plausível: Havia um turista no parque.
O policial viu o turista com o binóculo.
(2) Contexto + Plausível: Havia dois turistas no parque.
O policial viu o turista com o binóculo.
Resultados
Plausib./Ligação
- Plausível
+ Plausível
SP de SV
259 /64,9%
219 / 54,9%
SP de SN
141 / 35,1%
181 / 45,1%
TOTAL
400 / 100%
400 / 100%
Tabela 13 – Resultados e percentuais por condição experimental
Um teste sobre a proporção geral (40%) mostrou que esta é significativamente
menor do que 50% (N = -5.62, p  0). Mesmo no contexto mais plausível, não há
preferência maior do que 50% pelo SN (N = -1.91, p < 0,05). De toda forma, o
contexto teve forte influência sobre as respostas: no contexto mais plausível houve um
aumento significativo da proporção de SN (t(399) = 2.90; p < 0,01).
Observe-se, portanto, que, em ambas as condições de plausibilidade, registra-se uma
preferência significativa pela aposição alta, isto é, a interpretação que analisa o SP
como ligado ao SV, indicando que o princípio da Aposição Mínima é operativo
também neste tipo de estrutura em português.
On-line

Projetou-se um experimento de leitura auto-monitorada, em que 24
sujeitos foram solicitados a ler, da forma mais natural e rapida
possível, duas orações segmentadas, conforme indicado pelas barras
oblíquas, nos exemplos abaixo. Cada sujeito foi exposto a 16 frases
experimentais, apresentadas randomicamente com 32 distratoras,
totalizando 48 frases. As frases experimentais distribuíam-se em quatro
condições, a saber, +PB (+ plausível baixa), +PA (+plausível alta), -PB
(-plausível baixa) e –PA (-plausível alta). As frases experimentais
foram comparadas “entre-sujeitos”, evitando-se que um mesmo sujeito
fosse exposto a mais de uma versão da mesma frase. Um conjunto
experimental completo é exemplificado a seguir:

.+PB Havia dois turistas no parque./ O policial / viu o turista /com a
ferida aberta.
+PA Havia dois turistas no parque./ O policial / viu o turista /com o
binóculo preto.
-PB Havia um turista no parque./ O policial / viu o turista /com a ferida
aberta.
-PA
Havia um turista no parque./ O policial / viu o turista/com o
binóculo preto.



Como indicado abaixo, a Aposição Mínima é operativa também nesse tipo de estrutura
em PB. O experimento demonstrou ainda não haver interação entre a pressuposição
pragmática e a preferência de aposição do SP. Os tempos de leitura computados foram os
tempos médios dos segmentos com os SPs. A aposição baixa forçada apresentou tempos
de leitura mais longos, como previsto. Cruzamentos def +PA x + PB e de PA (+PA e –
PA) e PB (+PB e – PB) foram estatisticamente significativos, indicando garden path e
reanálise. Por outro lado, cruzamentos de –P x + P não foram significativos. –PA x +PA
(p-value = 0,8505); –PB x +PB (p-value= 0,1244Esses resultados sugerem que o efeito da
pressuposição pragmática capturada no questionário offline não ocorre durante o parsing,
mas durante uma interpretação pós-sintática.
Tempos Médios
Condições
PA
PB
+PA
-PA
+PB
-PB
Médias
1161
1540
1153
1167
1458
1613
2000
1500
1000
500
0
PA
PB
+PA
-PA
+PB
-PB
Gráfico 3 – Tempos Médios de Leitura dos SP’s
Cruzamentos
P-valores
PA X PB
0,0000
-PA X +PA
0,8505
-PB X +PB
0,1244
+PA X +PB
0,0002
-PA X -PB
0,0000
Tabela 11– Resultado das ANOVAS
Conclusões

Os três estudos permitiram demonstrar a existência de efeitos garden-path
em português, provocados pela atuação do Princípio da Aposição Mínima
(Frazier e Fodor, 1978; Frazier, 1979), que orienta o parser a decidir pela
computação menos complexa sintaticamente. Os três estudos apresentaram
também uma simetria interessante no que diz respeito aos resultados dos
questionários offline, comparativamente aos estudos de leitura automonitorada online. De modo geral, os estudos offline apresentaram maior
sensibilidade a efeitos semânticos e pragmáticos, enquanto que os
resultados dos estudos online parecem sugerir que estes fatores estariam
menos disponíveis ao parser do que as informações estritamente
estruturais.

Os dados experimentais sobre o português permitiram estabelecer que as
relações do tipo primário são mais prontamente estabelecidas no parsing do
que as relações secundárias que, inclusive, na análise de Chomsky (2001),
requerem uma operação a mais do que as primeiras, a simplificação. Nesse
sentido, o artigo pretendeu argumentar em favor da realidade psicológica
dos princípios gramaticais, sugerindo que o desempenho do parser não é
apenas determinado por fatores extra-lingüísticos, como os limites de
memória de trabalho, mas que seu funcionamento é, fundamentalmente,
decorrente dos princípios que norteiam a gramática.
Aposição Local
Aposicão Local (Late Closure, LC) – “Quando
possível, aponha os itens lexicais que vão sendo
encontrados à oração ou sintagma correntemente
sendo processado, ou seja, o nó não terminal mais
baixo possível dominando o último item analisado”
Late Closure: When possible, attach incoming lexical
items into the clause or phrase currently being
processed (i.e., the lowest possible nonterminal
node dominating the last item analyzed).
Late Closure
Aposição não-local = custo de processamento
 
Maria
o presente
o menino
Maryviu
saw
a gift for apara
boy…
na caixa.
NP
PP
NP
o presente
P
NP
PP
para
o menino
na caixa
Aposição Local



Frazier & Rayner (1982) apresentam um experimento em que
registraram os movimentos oculares de sujeitos na leitura de
frases contendo ambigüidades estruturais temporárias, tais
como:
Since Jay always jogs a mile this seems like a short distance to
him. (Late Closure ou Aposição Local)
“Como Jay sempre corre uma milha isso parece perto para ele”
Since Jay always jogs a mile really seems like a very short
distance to him. (Early Closure ou Aposição Não-Local)
“Como Jay sempre corre uma milha realmente parece muito
perto para ele”

No exemplo em (2), a estratégia LC é aplicada, atrasando-se o
fechamento do sintagma verbal, cujo núcleo é um verbo que
pode ser transitivo ou intransitivo, para incluir-se o sintagma
nominal a mile “uma milha” como objeto direto. A operação do
parser é bem sucedida e não há garden path (efeito labirinto). Já
em (3), a aplicação da estratégia é mal sucedida e diz-se que o
parser é garden-pathed, ou seja, perde-se no labirinto. Guiado
pelo LC, optou por atrasar o fechamento do SV para incluir o SN
como objeto do verbo, mas, ao tentar continuar o processamento
da frase, dá-se conta de que se perdeu no labirinto. Precisa,
então, rever a análise, pois a estrutura, nesse caso, requeria o
EC, o fechamento imediato do SV, sem incluir aí o SN a mile,
que deverá ser, agora, reanalisado como sujeito da próxima
oração.
Late Closure em PB
(Ribeiro, 2002)







Frazier (1978) obteve evidências preliminares para a estratégia Late Closure
usando uma tarefa de apresentação visual em que as palavras de uma frase
eram apresentadas não-cumulativamente a uma velocidade de 300-350ms
por palavra. Os sujeitos indicavam ao final da apresentação se a frase era
gramatical. Os tempos de decisão mais rápidos ocorriam quando as frases
obedeciam a interpretação prevista pelo princípio de localidade (late closure)
do que quando as frases eram resolvidas pela aposição não local (early
closure).
Ilustram-se abaixo dois dos tipos de frases testadas por Frazier::
(1) a. Mary kissed John and his brother when she left. ( 1065ms)
b. Mary kissed John and his brother started to laugh. (1667ms)
(2) a. Anne was watching you she laughed and nobody knew why (1037 ms)
b. Anne was watching you were laughing and nobody knew why (1598
ms)
Ribeiro (2002) aplicou um experimento de leitura auto-monitorada em que
48 alunos de graduação da UFRJ foram expostos a estruturas equivalentes
em PB:
Segmento crítico
Tipo 1
EC
SC
LC
Maria beijou João
Maria beijou João
Maria beijou João
e o irmão dele
e o carro dele
e o irmão dele
arregalou os olhos
derrubou as árvores
estalando os lábios
de espanto.
do quintal.
com vontade.
EC
SC
LC
Use a farinha
Use a farinha
Use a farinha
e o fermento
e você
e o fermento
engrossará a massa
engrossará a massa
preparando a massa
do pão.
do pão.
do pão.
EC
SC
LC
Ladrões atacaram Maria
Ladrões atacaram Maria
Ladrões atacaram Maria
e seu filho
e seus gritos
e seu filho
soltou um grito
assustaram os vizinhos
roubando os pertences
de medo.
da rua.
dos dois.
EC
SC
LC
A imprensa criticava
A imprensa criticava
A imprensa criticava
o técnico
o penta
a seleção
manteve o time
parecia um sonho
o técnico teimou
e trouxe o penta.
mas veio.
e trouxe o penta.
EC
SC
LC
A oposição ataca
A oposição ataca
A oposição ataca
o governo
o debate
o governo
nega os problemas
desce de nível
o debate esquenta
e pouco muda.
e pouco muda.
mas pouco muda.
EC
SC
LC
O mais fortes vencem
O mais fortes vencem
O mais fortes vencem
os fracos
os genes
os fracos
perdem a luta
mantêm a espécie
perdem a luta
e a vida segue.
e a vida segue.
e a vida segue.
Tipo 2
Resultados

Os tempos de leitura do terceiro segmento (segmento crítico)
foram registrados e os resultados indicaram que as estruturas de
aposição local (LC) foram lidas mais rapidamente do que as
estruturas não locais (EC). Os tempos de leitura dos controles
semânticos não foram significativamente diferentes do que os
tempos de leitura dos segmentos críticos nas estruturas locais.

Tipo 1
EC = 1953 ms; LC = 1141 ms (p = 0, 0003)
SC = 1370 ms; LC = 1141 ms (p = 0,2)





Tipo 2
EC = 2227 ms; LC = 1444 ms (p = 0, 003)
SC = 1511 ms; LC = 1444 ms (p = 0,7)
Teoria do Garden Path: Dependências de
longa distância
3 princípios foram postulados no âmbito da TGP
para dar conta de dependências anafóricas:
1.
Antecedente Ativo (Active Filler)
2.
Antecedente Mais Recente (Most Recent Filler)
3.
Cadeia Mínima (Minimal Chain Principle)
Questões
Como o parser lida com frases em que constituintes a serem
relacionados não ocorrem em suas posições canônicas, ou seja,
frases com dependências de longa distância com vazios (gaps) e
antecedentes (fillers)? Dois problemas para o parser: (1) Uma cv
não se manifesta no sinal acústico, devendo sua presença ser
inferida indiretamente; (2) O antecedente distante questiona a
localidade da construção da representação estrutural.
Assim, as CVs têm sido um tópico central na pesquisa em
processamento há 3 décadas. São reveladoras sobre a própria
arquitetura do sistema de processamento
Vestígios de QU
Which booki is John reading __i?
Que livroi o João está lendo __i ?
Como computar a coindexação? O vestígio nem
sempre está logo após o verbo ou no fim da
frase:
Which booki is John reading * __i about__i ?
Active Filler




Que problemas estas construções de longa distância do tipo
antecedente/categoria vazia levantam para o processador
gramatical?
1. Identificação do antecedente preenchedor da lacuna
Detecção do antecedente em COMP
2. Identificação da Lacuna
Postulação da lacuna é imediata? Postergada? Info lexical é
acessada?
3. Coindexação do antecedente à lacuna
Ambigüidades podem ocorrer quando mais de um antecedente
possível estão presentes.
Efeito da lacuna preenchida
(Filled gap effect)
O processador aproveita a informação sobre o
antecedente?
Crain & Fodor (1985) mostraram que sim:
(1)
Whoi did the child ask __i to sing the song?
Whoi did the child ask us to sing the song for __i?
(2) é mais difícil de processar do que (1), indicando um efeito surpresa. O
parser identificou o antecedente em posição sem função gramatical
e papel temático e procura uma lacuna para coindexá-lo,
satisfazendo, assim, tão logo quanto possível os requisitos
gramaticais. Entretanto, a primeira posição de postulação da lacuna
está preenchida.
(2)
Active Filler
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

O processador usa regras de estrutura de frase para criar
estruturas sintagmáticas ?
ou
O processador usa núcleos de Sintagmas para criar a
estrutura?
As lacunas, por exemplo, poderiam ser postuladas à base de
regras de estrutura de frase ou à base de informação lexical
particular. Por exemplo, a possibilidade de uma lacuna é
entretida à base do SV ou precisa ser atrasada até o verbo
nuclear ser identificado e seu status como transitivo ser
determinado?
A lacuna é postulada como “first resort”.
Clifton & Frazier. (1989). Comprehending Sentences with Long Distance Dependencies. In: G.
Carlson & M. Tanenhaus (eds). Linguistic Structure in Language Processing.
Hipótese do Antecedente Ativo : Active
Filler Hypothesis:
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


Quando um antecedente é identificado em posição nãoargumental (COMP), a possibilidade de postular uma lacuna
para este antecedente é maior do que a de identificar um SN. Na
p. 292, F&C apresentam evidências para a HAA:
Who did Fred tell Mary left the country
A interpretação favorita desta frase é:
Who-i did Fred tell ___-i Mary left the country
E não:
Who-i did Fred tell Mary ____-i left the country.
Most Recent Filler
Frazier, Clifton & Randall (1983)
Antecedente Recente
This is the girl the teacher wanted __ to talk to __.
Antecedente Distante
This is the girl the teacher wanted __ to talk
As frases com antecedente distante foram mais
difíceis de serem compreendidas do que as frases
com antecedente recente
Minimal Chain Principle
De Vicenzi, M. (1996). Syntactic Analysis in Sentence Comprehension:Effects of
Dependency Types and Grammatical Constraints


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
Neste trabalho, Vicenzi apresenta 3 experimentos sobre o
parsing de questões-QU em Italiano, onde são manipuladas as
seguintes variáveis:
1. tipo de Qu (Quem/Qual)
2. Sítio de extração do Qu (oração principal, oração dependente
com e sem complementizador)
O objetivo destas manipulações é o de verificar se o parser é
sensível ao tipo de dependências processadas e se os efeitos de
processamento podem ser explicados por um princípio único de
processamento : o Princípio da Cadeia Mínima (MCP - Minimal
Chain Principle). Os resultados demonstram que o parser,
seguindo o MCP, prefere estruturas com menos cadeias e com
cadeias menos complexas.
Princípio da Cadeia Mínima
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
A autora incia discutindo algumas das questões que podem ser levantadas no estudo de
dependências do tipo QU:
1. Como o parser funciona? Há um uso imediato e automático da gramática?
2. Caso afirmativo, que tipo de gramática melhor caracteriza a gramática mental?
3. Que estratégias de parsing são usadas p/ levar do input perceptual à interpretação?
Uma abordagem experimental para estas questões consiste em investigar frases com
ambiguidades estruturais, tais como sub/obj com Qu em Italiano:
Chi ha chiamato Gianni?
 Quem chamou o João?
 Quem-i[e-i chamou o João]
Quem-i [e-j chamou e-i o João-j]



A razão para estudar frases contendo ambiguidades estruturais . Qual é? Não é tanto
para saber como o parser resolve estas ambiguidades em si, embora a língua natural
esteja cheia de ambiguidades, mas a lógica é: Se o parser demonstra uma preferência
sistemática por uma maneira de resolver as ambiguidades, então temos um insight
sobre o sistema de compreensão.
Princípio da Cadeia Mínima
Evite postular membros da cadeia
desnecessários, mas não atrase a
postulação de membros necessários.

PCM
Por que o parser tem esta urgência de completar uma cadeia? A razão
final para estruturar material em uma representação sintática é atingir a
interpretação semântica de cada frase. Uma tarefa essencial para se
chegar à interpretação semântica é emparelhar cada SN com uma
posição argumental de um predicado. Assim, para interpretar uma frase
temos de saber quem fez o que para quem. Uma cadeia liga todas as
posições em uma oração pela qual e para a qual um SN se moveu,
contendo informação sobre as posições que atribuem caso e papel
temático que licenciam uma oração. Nos caso em que os SN se
moveram, isto é, estão fora de sua posição argumental canônica, há
uma pressão sobre o parser para que este construa a cadeia mais
curta para os elementos QU a fim de ligá-lo logo a uma posição que
possa receber caso, papel temático, logo que possível, a fim de que a
interpretação semântica seja viabilizada.
PCM

A autora considera que na teoria GB, trabalhos de Cinque, 92 e Rizzi
90, entre outros, propuseram a existência de uma diferença sintática
entre elementos QU, no que se refere a elementos QU não
referenciais, como quem, o que e elementos QU referenciais como
qual-N, sendo os primeiros regidos por cadeias de regência pelo
antecedente e os segundos por relações de vinculação. A autora faz a
hipótese de que apenas os QU não referenciais são regulados pelo
MCP, sendo os referenciais D-linked, ligados discursivamente
(Pesetsky,87). A idéia intuitiva de ligação discursiva (D-linked) é a de
que um elemento se refere a um grupo de objetos existentes na
representação discursiva, podendo receber uma interpretação
diretamente através de suas propriedades de ligação discursiva,
enquanto os tipos não referenciais (quem, o que) só podem ser
enviados para o componente interpretativo se ligados a estrutura
argumentativa de um verbo, na sintaxe.
PCM
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Experimento 1: Testa o processamento de dependências QU em
interrogativas simples com ambiguidade estrutural suj/obj em Italiano.
Os participantes foram 40 alunos da U. de Roma. O experimento usou
24 questões QU que eram ambiguas entre a interpretação do QU como
sujeito ou como objeto. O SN pós-verbal portava informação
desambiguizadora à base de plausibilidade. A tarefa era a leitura automonitorada. Os sujeitos apertavam um botão que controlava o
aparecimento de segmentos das frases na tela de um micro. Cada
questão QU era seguida por uma pergunta sobre a compreensão, a
que os sujeitos deviam responder apertando um botão sim ou um
botão não. Havia portanto 3 medidas dependentes:
1. Tempo de leitura de cada segmento
2. Tempo de resposta às perguntas de compreensão
3. Índice de acertos nas perguntas de compreensão.
PCM


1. QU n-ref (QUEM) com interpretação sujeito:
Quem-i [___-i demitiu o metalúrgico sem dar aviso prévio?]

2. QU n-ref (QUEM) com interpretação objeto:
Quem-i [___-j demitiu ___-i o proprietário-j sem dar aviso prévio?]

3. QU ref (QUAL) com interpretação sujeito:

Qual engenheiro-i [___-i demitiu o metalúrgico sem dar aviso prévio?]

4. QU ref (QUAL) com interpretação objeto:

Qual engenheiro-i [___-j demitiu___-i o proprietário-j sem dar aviso
prévio?]

PCM
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
Estas 24 frases (seis por condição) foram espalhadas entre 74 distratores com
diferentes estruturas. Cada sujeito viu apenas uma versão de cada quádruplo,
sendo exposto a todas as condições.
Quais eram as predições?
1. QU em posição SUJEITO devem ser preferenciais aos QU em posição Objeto,
pois nestas estruturas o SN pós-verbal (objeto) está gerado na base aí mesmo,
sem precisar mover-se. Assim, o QU em posição objeto deveria ser desfavorecido
pois é mais custoso em termos de cadeias, já que tem uma cadeia para o elemento
QU e para o SN-pós verbal.
2. Deve haver vantagem de processamento adicional para a extração do QU nref
SUJ (QUEM), pois na extração do QU nref (QUEM) em posição objeto, o parser
que seguira o MCP completando a cadeia imediatamente tem que reanalisá-la
quando por razões de plausibilidade o SN pós-verbal é o Sujeito.
3. No caso das interrogativas com QU ref. (QUAL), o parser não segue o MCP e
sim a ligação discursiva. Assim, não postula uma cadeia imediatamente, esperando
todos os argumentos do verbo serem recebidos para então coindexar o sintagma
QU com a posição vazia adequada. Portanto quando por razões de plausibilidade o
SN pós verbal é interpretado preferencialmente como agente, a única posição
disponível para coindexar o QU é a de objeto. Se, por outro lado, a plausibilidade
indicar que o SN pós-verbal é um objeto, então o QU é coindexado com o sujeito,
não havendo qualquer reanálise para este tipo de QU ref.
PCM
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RESULTADOS
A preferência geral pela extração do QU-suj em rel ao QU-obj nas
orações com QU nref (QUEM) tanto em termos dos tempos de leitura,
quanto em termos de COMPREENSÃO é patente nos resultados
estatisticamente robustos:
QU n-ref (QUEM) SUJ
2,171ms
89% corretos
QU n-ref (QUEM) OBJ
2,569ms
81% corretos
QU ref (QUAL) SUJ 2, 577ms
90% corretos
QU ref (QUAL) OBJ2,648ms
87% corretos
Constatou-se, igualmente, que nas frases com QU- ref(QUAL), tal
assimetria não ocorre, como previsto. Apenas os tempos gerais de
processamento são mais elevados em decorrência do SN extra que
deveria ser processado aí.