painel 2a. JIED - Luciana Salazar Salgado

Download Report

Transcript painel 2a. JIED - Luciana Salazar Salgado

AUDIODESCRIÇÃO:
uma mediação paratópica
Lorena Gobbi Ismael
([email protected])
Bacharelanda em Linguística
Departamento de Letras - UFSCar
Introdução
Sabe-se que o discurso da inclusão de “minorias” vem tomando cada vez mais corpo nos últimos tempos. Há uma clara tentativa política,
em sentido amplo, de equalização de direitos, possibilidades etc num pressuposto de que, ao balizar os “diferentes grupos sociais”, respeitarse-iam as diferenças tornando possível o convívio em tom de pertencimento mútuo. (Mas, se assim o for, como ficaria a questão da
identidade ?).
Mesmo assim, há de se pensar que há variados contextos de exclusão dos sujeitos ditos minoritários (caberia a pergunta: minoritário em
relação a quem e em qual contexto?): exclusão atitudinal, espacial, jurídica, arrisca-se dizer (por que não?) cultural, dentre muitas outras.
Em nosso caso, cercamos uma prática inclusiva de caráter mediador, a audiodescrição. Trata-se de um recurso de verbalização de
informações visuais, sendo possível alcançar diversos gêneros (cinema, teatro, ópera etc), que foca os sujeitos DV´s (deficientes visuais).
Mas sabemos que a linguagem não é transparente...
Desenvolvimento
Pensando na atual dinâmica social,
onde os fluxos de informações são
constantes e indomáveis graças à
lógica globalizada do período que
M. Santos nomeia de técnico
científico-informacional,
nesse
espaço-lugar onde as imagens são
artefatos cada vez mais abundantes
e importantes em nossa sociedade
(AUMONT, 2009), muito além de
barreiras espaciais ou jurídicas (mas
reconhecendo
sua
enorme
importância catalizadora) por
exemplo, a inclusão (exclusão)
social dos PNE´s (portadores de
necessidades
especiais)
recai
justamente
na
questão
da
(in)viabilidade de uma conduta
autônoma destes em relação a todo
esse excesso de informação
circulante em midia tão diversos.
Em nosso recorte, torna-se
evidente que a exclusão de que
tratamos está relacionada à
capacidade,
primeiramente
fisiológica, de apreensão de
textos/informações visuais. Em “A
imagem”, Aumont nos propõe a
densidade de questões, orientações,
teorias e vieses possíveis para se
“olhar”, ler e interpretar imagens.
Mas, mesmo assim, emerge, da sede
de inclusão, uma prática antiga que
passa a ser “profissionalisada” (por
conta não só do funcionamento
desse discurso como também pela
dinâmica própria de nosso período);
uma mediação oficializada entre as
informações visuais de textos
diversos e DV´s: a audiodescrição.
Levando-se em conta que “ Uma sociedade (...) não se
distingue das formas de comunicação que ela torna possíveis e
que a tornam possível.” (MAINGUENEAU, 2004 : 72), podemos
concluir que com a inserção dessa nova prática, a audiodescrição,
o sujeito DV poderá participar de um modo mais efetivo na
constituição da sociedade e de si mesmo como cidadão na medida
em que torna possível para ele uma leitura imagética já que “(...)
a imagem é também meio de comunicação e de representação de
mundo (...)” (AUMONT2009 : 131).
Mas ainda haverá lacunas (do mesmo modo que em qualquer
comunicação?) já que essa mediação se faz por um sujeito que,
em nosso caso, inserido (seu texto) numa cena englobante
publicitária, procura afastar-se dela para efetivar seu intento e, ao
mesmo tempo, não pode dela desligar-se já que é no pressuposto
de levar a “mensagem” da venda que sua atuação se faz
necessária e, ainda, que ao produzir seu texto age, de alguma
forma, na tentativa de aproximação do lugar do próprio público
(sujeito cego), prática inconcebível a menos que o audiodescritor
efetivamente o seja, caso este que implicaria uma série de
reflexões outras.
Considerações
Propõe-se, através da teoria da Análise do Discurso de
orientação francesa, apoiando-se mais fortemente em
Maingueneau, examinar a materialidade verbal do processo de
audiodescrição da campanha anteriormente citada.
Afinal, se “ a imagem é sempre modelada por estruturas
profundas, ligadas ao exercício de uma linguagem, assim como à
vinculação a uma organização simbólica (a uma cultura, a uma
sociedade)” (AUMONT, 2009 : 131), temos o fato de que a
“imagem é universal, mas sempre particularizada” (Ibid.) através
de uma leitura que é, por sua vez, uma enunciação efetivada
(SALGADO, 2010), por tanto, passível de uma análise linguística.
Acreditamos que o conceito de paratopia (Maingueneau,
2006) possa ser um interessante ponto de partida para a análise
que será desenvolvida. Sendo tipicamente utilizado no campo do
discurso literário na abordagem da questão da autoria, nos parece
operacional mobilizar o referido conceito em questões textuais
além-literatura como essa.
Nosso objetivo ao
analisar a propaganda
televisiva
audiodescrita “Natura
Mamãe Bebê”(Brasil,
abril/maio 2009), a
segunda com este
recurso no país e que
serve de referência
para tantas outras, é
investigar como o
texto audiodescrito
coloca o
(muitas
vezes também
audiodescritor
Frame de vídeo do comercial “Natura Mamãe Bebê”
Audiodescrição:
“Embalagens no formato de uma barriga grávida.”
o locutor,
necessariamente em lugares fronteiriços.
mas
nem
sempre)
Referências
AUMONT, Jacques. A imagem. Trad. Estela dos Santos Abreu &
Cláudio C. Santoro. Campinas: Papirus, 1993. (Ofício de Arte e
Forma).
CHARAUDEAU, P. ; MAINGUENEAU, D. Dicionário de Análise
do Discurso. Coordenação da tradução Fabiana Komesu. São Paulo:
Contexto, 2008.
MAINGUENEAU, Dominique. Discurso literário. Trad. Adail
Sobral. São Paulo: Contexto, 2009.
SALGADO, L.S. ; ANTAS JR., R. M. . A criação num
mundo sem fronteiras : paratopia no período técnicocientífico informacional. Acta Scientiarum. Language
and Culture (Online), v. 33, p. 259-270, 2011.
SALGADO, L.S. A circulação da energia social
inscrita na vitalidade dos textos. Alfa : Revista de
Linguística (UNESP. São José do Rio Preto. Online), v.
54, p. 04, 2010.
________. Análise de textos de comunicação. Trad. Cecília P. de
Souza-e-Silva & Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2004.
MOTTA, L. M. V. M.; FILHO, P. R. (org.).
AUDIODESCRIÇÃO: transformando imagens em
palavras. São Paulo: Secretaria dos Direitos da Pessoa
com Deficiência do Estado de São Paulo, 2010.
SAES, Silvia Faustino de Assis.
Percepção e imaginação. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
2010. (Filosofias: o prazer de pensar/dirigida por Marilena Chauí e
Juvenal Savian Filho).
IGUALE: comunicação e acessibilidade
<www.iguale.com.br>