Caso Clínico: Hematoma subdural Augusto Cavalcanti Fernanda Abrão Maria Barcelos Coordenação: Paulo R. Margotto Escola Superior de Ciências da Saúde/SES/DF www.paulomargotto.com.br 3/3/2008 HRAS/SES/DF 6/2/2008
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Caso Clínico: Hematoma subdural Augusto Cavalcanti Fernanda Abrão Maria Barcelos Coordenação: Paulo R. Margotto Escola Superior de Ciências da Saúde/SES/DF www.paulomargotto.com.br 3/3/2008 HRAS/SES/DF 6/2/2008 Caso clínico Identificação RN de NFB, 3 dia de vida (ddv), sexo masculino, natural de Vianópolis-GO, procedente de Silvânia-GO Queixa principal Criança com muito sono há 1 dia Caso clínico História da doença atual - GAE Mãe refere que criança recebeu alta após o nascimento em bom estado e sugando bem há dois dias, porém há um dia iniciou quadro de agitação e gemência. Procurou neste dia um serviço de saúde em Silvânia e a criança foi atendida por um clínico geral que prescreveu Luftal. Como criança evoluiu com sonolência intensa e anorexia, procurou pediatra em Luziânia, que identificou abaulamento de fontanela anterior e encaminhou RN ao HRAS com suspeita de meningite. No caminho, evoluiu com uma crise convulsiva tônico-clônica generalizada. Chegou ao destino em mau estado geral, apresentando nova crise e em decorticação. História colhida com a mãe: Criança não chorou ao nascer, chorou apenas minutos após, muito fracamente. Recebeu alta no 1º ddv, sugando mal. Apresentou gemência no 1º dia de vida, foi dado Dimeticona. Após a medicação, criança passou a apresentar sonolência intensa, com dificuldade em despertar. Restante da história, já relatada. Caso clínico Revisão de sistemas Eliminações fisiológicas normais; regurgitações freqüentes. Antecedentes pessoais Mãe fez pré natal, 7 consultas, com sorologias (toxo, rubéola, anti-HBC, anti-HCV, HTLV, HIV e VDRL) negativas; teve 6 episódios de ITU, tratados com cefalexina e penicilina. Nascido de parto cesáreo eletivo (iteratividade + laqueadura materna), a termo (38+6), chorou ao nascer, parto sem pediatra (acompanhado por enfermeira), Apgar 10-10, peso=3340g, PC=36, estatura=51, não recebeu vacinas (dados do cartão da criança); mãe nega intercorrências perinatais, alta com 24 horas de vida; em seio materno exclusivo. Caso clínico Antecedentes familiares Mãe de 31 anos e pai de 30, saudáveis; irmão de 5 anos, saudável; casos de cardiopatia e hipertensão arterial na família. Condições sócio-econômicas Reside em casa, com saneamento básico e rede elétrica; 3 cômodos e 4 moradores; não tem animais em casa. Caso clínico Exame físico Mau estado geral, taquidispneico leve, hipocorado (2+/6+), desidratado, hipoativo Ap card- RCR 2T BNF sem sopros; FC=131bpm Ap resp- MV fisiológico, sem desconforto Abdome- ok Extremidades- mal perfundidas (4 seg), sem edema, pulsos fracos Neurol- pupilas anisocóricas: midriática fixa à esquerda e miótica fotorreativa à direita; sinais de decorticação; fontanela anterior abaulada e tensa, com diastase de suturas. Caso clínico Hipóteses diagnósticas hipertensão intracraniana secundária a sangramento? Lesão expansiva? Meningite? Evolução 18/02/08 (3º dia de vida): UTI HRAS Entubado, crise tônico-clônicas generalizadas de difícil controle, comatoso, anisocórico Feito fenobarbital IM e EV e hidantal em doses máximas, com redução das crises Eco cerebral: dilatação de ventrículo direito TAP= 1’30”; TTPA= 2’ HG=7,6; HT=22,6; plaq=222mil; leuc=12,1 (4bast); glic=58; Na+=143; K+=4,9; CL-=111 Evolução 19/02/08 (4º dia de vida): UTI HRAS Permanece com crises, mesmo em uso de dose máxima de medicações; reativo à manipulação Anisocoria menos intensa e fontanela abaulada com diastase de suturas Iniciado antibioticoterapia- ampicilina + gentamicina Evolução Neuropediatria: manter tratamento, contra indico punção lombar, avaliar uso de acetazolamina, aguardar exames de imagem Eco cerebral (19/02): estruturas apagadas à esquerda Dr.Paulo R. Margotto Dilatação ventricular direita;estruturas apagadas a esquerda (compressão)_ Evolução 20/02/08 (5º dia de vida): UTI HRAS exame e conduta mantidos; feito kanakion antes de colher exames TAP= 13” 100%, INR=1; TTPA= 32” RNM 20/02/08 RNM: Pequeno hematoma subgaleal na região parietooccipital esquerda e coleção subdural moderada em todo hemicrânio esquerdo. Hemorragia subaracnóidea pequena à esquerda. Importante efeito de massa, com herniação subfalciana, com dilatação do ventrículo lateral contralateral. Edema difuso do parênquima. Evolução 20/02/08 (5º ddv): HBDF (neurocirurgia) Procedimentos: craniotomia + drenagem de hematoma “ Drenado volumoso hematoma subdural; houve grande edema cerebral e como não havia pericárdio bovino não foi possível fazer plástica na dura-mater; recolocado flap ósseo; deixado PIC” Prescrito manitol Evolução 21/02/08 (6º ddv; 1º dpo): HBDF Glasgow 6, anisocoria PE>PD, FA normotensa Dura-mater aberta – tirar PIC Prescrito concentrado de hemácias Trocada antibioticoterapia para cefepime+amicacina TC Evolução 23/02/08(7º DDV, 2º DPO): movimentos mastigatórios 24/02/08: abertura ocular espontânea 25/02/08: dieta por SOG, suspenso sedação, extubar 27/02/08: dieta por gavagem, secreção serohemática em FO 28/02: retirado O2. Manteve boa saturação. 29/02: Sucção bem o seio materno. Líquor em FO. 01/03: MV rude. 02/03: MV rude. Curativo úmido. Aspecto pós-operatório Aspecto pós-operatório Diagnósticos diferenciais Doença hemorrágica do RN Shake síndrome Tocotraumatismo Causas de hemorragia no RN Insuficiência fisiológica dos fatores da coagulação (em quantidade e função) Imaturidade do desenvolvimento dos vasos sanguíneos fetais e estruturas de suporte. Exposição a trauma durante o nascimento. Aumento das incidências de condições freqüentemente associadas com sangramentos como sepse e asfixia. Deficiência de vitamina K. Doença hemorrágica do RN A doença hemorrágica por deficiência de vitamina K é uma coagulopatia que ocorre em bebês por concentração inadequada dos fatores de coagulação II, VII, IX e X. É uma das causa mais comuns de distúrbio hemostático adquirido na infância precoce. Doença hemorrágica do RN A doença hemorrágica tardia tem pico de incidência entre 4 a 8 semanas e é rara após 12 semanas, mas pode ocorrer em qualquer período no 1º ano de vida. Mais de 60% dos casos se apresentam como hemorragia intracraniana em um bebê previamente hígido. Doença hemorrágica do RN Causas de hemorragia precoce (<24h de vida): Uso materno de anticonvulsivantes, tuberculostáticos e anticoagulantes na gestação aumenta a degradação da vitamina K no RN. Doença hemorrágica do RN Os RN têm somente 5% da atividade de coagulação do adulto. Causas de deficiência de Vit. K: aleitamento materno exclusivo diarréia crônica uso prolongado de antibióticos Doença hemorrágica do RN Por volta de 2/3 dos RN com a forma tardia da doença apresentam sérios sangramentos intracranianos, com alta morbimortalidade. Com o uso rotineiro da Vit. K profilática, a DH RN tardia diminuiu de 7/100.000 para 1,1/100.000. Shaken baby syndrome Sinais e sintomas: Letargia / hipotonia Irritabilidade extrema Hiporexia, emagrecimento ou vômitos sem causa aparente Sinais de espancamento em braços ou tronco são raros Não sorri ou vocaliza Déficit de sucção e deglutição Shaken baby syndrome Dificuldades respiratórias Convulsões Crânio e fronte aumentados de tamanho ou abaulamento de fontanela Não sustentação da cabeça Não fixa olhar ou acompanha movimentos Anisocoria Shaken baby syndrome Sinais brandos podem passar sem diagnóstico (sintomas inespecíficos); acometimentos graves levam a seqüelas importantes ou morte Crianças que não falam e que são trazidas à assistência médica sem história de trauma têm maior risco de diagnóstico equivocado Shaken baby syndrome Estudo: 173 crianças Média de idade- 8 meses 31% não receberam correto diagnóstico na primeira consulta (em geral crianças mais novas) 54 crianças não receberam diagnóstico após múltiplas consultas pós injúria Tocotraumatismo Relacionado a parto difícil Cesárea diminui riscos Espera-se parto difícil quando: mãe apresenta medidas pélvicas pequenas recém-nascido parece grande para a idade gestacional (freqüentemente no caso de mães diabéticas) apresentação pélvica ou outras apresentações anormais, especialmente em primíparas Tocotraumatismo Lesões mais freqüentes: Sistema nervoso central e periférico Bossa serosa, edema no local de apresentação do couro cabeludo, hemorragia subgaleal, cefalematoma, fraturas com afundamento do crânio, trauma dos nervos cranianos, trauma da medula espinhal Tocotraumatismo Fraturas A fratura clavicular média (mais comum), úmero e o fêmur- galho verde Tecidos moles Edema e equimoses Tocotraumatismo Hemorragias intracranianas Problema principal nos recém-nascidos, especialmente quando prematuros Três principais razões são hipóxia, pressões exercidas sobre a cabeça do lactente durante o trabalho de parto e a presença de matriz germinativa em prematuros Tocotraumatismo Necropsias mostram pequenas hemorragias no espaço subaracnóide, foice e tentório. As hemorragias maiores são menos comuns, porém mais graves Sangramento dentro do espaço subaracnóide provalvelmente é o mais comum nos lactentes a termo e podem ser responsáveis por hemácias vistas no LCR dos recém-nascidos. Há estudos que apontam para a hemorragia subdural como a mais freqüente. Tocotraumatismo Hemorragias dentro dos ventrículos ou do parênquima representam os tipos mais graves de hemorragia intracraniana Cerca de 40% dos lactentes prematuros < 1.500g têm hemorragia intracraniana Estudos de ultra-som craniano (US) e TC podem detectar sangue e geralmente são úteis no diagnóstico Tocotraumatismo O prognóstico para lactentes com hemorragia intraventricular grande é reservado A maioria dos lactentes com hemorragias pequenas sobrevive ao episódio de sangramento agudo e evolui bem. Uns poucos podem ficar com graus variados de déficit neurológico. Hematoma subdural Agudo: <3 dias Subagudo: de 3 dias a 3 semanas Crônico: > 3 semanas (efusão subdural) Hemorragia Subdural em RN Ocorre, em geral, entre a 2ª e a 12ª semanas de vida dos RN que não receberam vitamina K e amamentados exclusivamente ao seio materno. Mais comum em meninos e RN de baixo peso. Causas Doença hemorrágica do RN Tocotraumatismo Traumatismo intra-útero (raro). A hemorragia é de origem venosa. Estruturas relacionadas Sinais e sintomas Abaulamento de fontanela Hipóxia Convulsões Apnéia Letargia Diagnóstico TC é o exame mais solicitado RM é o exame mais acurado para identificar pontos de sangramento. USG pode dar o diagnóstico e servir como parâmetro de seguimento clínico Hematoma subdural-diagnosticado pela Dra. Couchard, Port-Royal, Paris Conduta Vitamina K1 IM. Drenagem por US: É controversa, pois pode causar edema cerebral ou maior hemorragia após descompressão. Em pequenas hemorragias (<3cm) sem efeito de massa ou comprometimento de outras estruturas e sem sinais no exame físico, pode ser feito acompanhamento clínico. Hemorragias > 3cm = neurocirurgia + reserva de sangue no banco de sangue. Investigar maus tratos. Prognóstico Altas taxas de morbi-mortalidade associadas. Dentre os operados: 10% de mortalidade, 30% de seqüelados. Consultem as referências (em links) Datta S, Stoodley N, Jayawant S, Renowden S, Kemp A. Neuroradiological aspects of subdural haemorrhages. Arch Dis Child. 2005 Sep;90(9):947-51 Sharma AK, Diyora BD, Shah SG, Pandey AK, Mamidanna R. An extradural and subdural hematoma in a neonate. Indian J Pediatr. 2005 Mar;72(3):269 LeFanu J, Edwards-Brown R. Patterns of presentation of the shaken baby syndrome: subdural and retinal haemorrhages are not necessarily signs of abuse. BMJ. 2004 Mar 27;328(7442):767. No abstract available Harding B, Risdon RA, Krous HF. Shaken baby syndrome. BMJ. 2004 Mar 27;328(7442):720-1. No abstract available. Kemp AM. Investigating subdural haemorrhage in infants. Arch Dis Child. 2002 Feb;86(2):98-102. Review Morris MW, Smith S, Cressman J, Ancheta J. Evaluation of infants with subdural hematoma who lack external evidence of abuse. Pediatrics. 2000 Mar;105(3 Pt 1):549-53 Minns RA. Subdural haemorrhages, haematomas, and effusions in infancy. Arch Dis Child. 2005 Sep;90(9):883-4. Review. No abstract available Danielsson N, Hoa DP, Thang NV, Vos T, Loughnan PM. Intracranial haemorrhage due to late onset vitamin K deficiency bleeding in Hanoi province, Vietnam. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2004 Nov;89(6):F546-50. Distúrbios hemorrágicos Autor(es): Paulo R. Margotto Hemorragia intraventricular no recém-nascido a termo Autor(es): Paulo R. Margotto Hemorragia intraventricular e talâmica em um recém-nascido a termo com aumento de anticorpos antifosfolípides Autor(es): Paulo R. Margotto Hemorragia intracraniana na doença hemorrágica tardia do recém-nascido. Autor(es): Pooni PA et al. Resumido por Paulo R. Margotto Dr. Paulo R. Margotto, Dda Fernanada, Ddo Augusto e Dda Maria