Monografia apresentada ao Programa de Residência Médica em Pediatria Hospital Regional da Asa Sul (HRAS)/SES/DF Influência da alimentação infantil no 1º ano de.

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Monografia apresentada ao Programa de Residência Médica em Pediatria
Hospital Regional da Asa Sul (HRAS)/SES/DF
Influência da alimentação infantil no 1º ano
de vida e morbidade por diarréia
PEDRO HENRIQUE GONÇALVES REIS
MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO EM PEDIATRIA
Orientador: Jefferson A. P. Pinheiro
www.paulomargotto.com.br
Brasília, 25 de outubro de 2010
Brasília – DF
2010
INTRODUÇÃO
• A doença diarréica da criança é uma síndrome freqüente, estando
entre as principais causas de consulta, internação e letalidade,
sobretudo em países em desenvolvimento.
• A diarréia aguda, manifestação comum de infecções intestinais, é
uma das doenças mais recorrentes em todo o mundo,
caracterizando-se pelo aparecimento abrupto.
Diarréia
•
Processo sindrômico;
•
≤ 14 dias;
•
Etiologia presumivelmente infecciosa;
•
Má absorção de água e eletrólitos;
•
Aumento do número de evacuações e do volume fluido fecal;
•
Depleção hidrossalina de intensidade variável;
Pode ser acompanhada por:
- Febre;
- Inapetência;
- Abatimento;
- Dor ou desconforto intestinal e vômitos;
• As crianças são suas maiores vítimas;
• É a maior causa da internação de crianças na faixa etária de zero a
cinco anos de idade;
• Maior gravidade nas crianças abaixo de doze meses de idade;
• A desidratação, sua pior conseqüência, é uma das principais
responsáveis pelas altas taxas de mortalidade infantil;
• Problema de saúde pública;
• Maior impacto na morbidade, quanto menor a idade das crianças
acometidas;
• No mundo: Um bilhão de episódios por ano, causando 3,3 milhões
de mortes;
• No Brasil, o número de óbitos de crianças de até cinco anos de
idade acometidas por diarréia ainda são altos;
• Em 1996, foram registrados 6.048 óbitos no Brasil, sendo que, a
região Nordeste contribuiu com 2.987 casos;
• Sabe-se que estes números são ainda maiores, se levado em
consideração, a subnotificação dos casos;
• Estimativas mundiais de mortes atribuídas à diarréia, mostram que
houve uma redução substancial nas décadas de 80 e 90 com o
advento da terapia de reidratação oral - OMS;
• É possível, que para certos grupos populacionais, a sua ocorrência
seja mais expressiva, em virtude de:
Precárias condições de vida;
Diarréia infantil X concentração de renda;
Desemprego;
Baixo poder aquisitivo;
Pouca escolaridade;
Déficit de moradias;
Precárias condições de saneamento;
Baixo nível de educação materna.
• A recorrência deste quadro infeccioso pode levar a desidratação
crônica e a um retardo do desenvolvimento intelectual.
• A maioria dos patógenos que causam diarréia é transmitida
principal ou exclusivamente pela via fecal-oral.
• Existem relatos que associam o padrão sazonal à mudança do
agente etiológico.
• Verão X Inverno
• Dentre os fatores prognósticos ligados ao óbito em pacientes com
diarréia aguda, a má-nutrição é destacada como um dos principais,
ao lado da ausência de aleitamento materno e faixa etária menor
de seis meses.
• A alimentação exclusiva com leite materno é reconhecidamente a
melhor forma de proteger o lactente das enfermidades infecciosas.
• Um fator de risco de extrema relevância na determinação da
doença diarréica é o desmame precoce.
• Essa influência do desmame na ocorrência da diarréia persistente
sugere que a amamentação seja intensificada, especialmente em
países onde a diarréia constitui-se num problema de saúde pública;
• Por essa razão, tornar-se necessário verificar:
- A influencia da alimentação no 1º ano de vida na morbidade por
diarréia;
- O impacto do aleitamento materno na prevenção destes quadros
em crianças menores de um ano de idade.
OBJETIVOS
• Verificar a influencia da alimentação no 1º ano de vida na
morbidade por diarréia e o impacto do aleitamento materno na
prevenção destes quadros em crianças menores de um ano de
idade.
MATERIAIS E MÉTODOS
• Estudo transversal;
• Crianças menores de um ano até a data de 14/08/2010;
• Aplicado questionário pré-estabelecido;
• Para avaliação dos alimentos usados pela criança, utilizou-se o
recordatório das últimas 24 horas e, com relação à diarréia,
questionou-se quanto ao início de algum episódio nos 3 meses que
antecederam a pesquisa.
• As duas principais variáveis estudadas foram a amamentação
(exposição) e a diarréia aguda (doença);
• Foram consideradas
mamavam;
• Subdivididas
em
complementar;
como amamentadas
aleitamento
as crianças
exclusivo,
que
predominante,
• Foram classificadas como desmamadas as crianças que tinham
cessado a amamentação;
• Como conceito de diarréia, foi empregado a impressão subjetiva da
mãe, que, conhecendo o ritmo intestinal do filho, informou sobre a
presença ou ausência de diarréia;
PROTOCOLO DE PESQUISA
QUESTIONÁRIO
Faixa Etária
( ) 0 – 3meses ( ) 3 – 6 meses ( ) 6 – 9 meses ( ) 9 – 12 meses
Idade: _____________
- Amamentação  1 ano____________________(
) SIM ( ) NÃO
- Amamentação  6 meses__________________(
) SIM ( ) NÃO
- Exclusivo  6 meses______________________(
) SIM ( ) NÃO
- Predominante  6 meses __________________( ) SIM ( ) NÃO
- Complementar  1 ano____________________(
) SIM ( ) NÃO
- Diarréia nos últimos 3 meses______ ________ ( ) SIM ( ) NÃO
- Saneamento básico_______________________(
) SIM ( ) NÃO
Critérios de inclusão
• Paciente em que a mãe preencheu o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido concordando em participar da pesquisa;
• Paciente com idade inferior a um ano;
Critério de exclusão
• Pacientes que não preencheram os critérios de inclusão;
Análise Estatística
• Para avaliar a associação entre as variáveis, foi calculada a razão de
prevalência.
• Sendo utilizadas as medidas de significância estatística através
cálculo do valor de p, sendo considerados como significantes os
valores bicaudais < 0,05 e calculado o intervalo de 95% de
confiança.
• Os dados coletados foram armazenados em banco de dados e
analisados pelo software SPSS versão 14 (Statistical Package for
Social Sciences).
RESULTADOS
Distribuição entre faixas etárias das 172 crianças entrevistadas.
Prevalência da diarreia nas 172 crianças menores de doze meses, de acordo com a faixa
etária, nos últimos 3 meses que antecederam a pesquisa.
Prevalência da diarreia nas 45 crianças menores de doze meses, de
acordo com a amamentação.
Prevalência de saneamento básico nos domicílios das crianças entrevistadas.
Prevalência do aleitamento materno, nas 80 crianças menores de seis meses, conforme a
presença, ou ausência de diarréia, nos três meses que antecederam a coleta de dados.
• No presente trabalho, observou-se que a proteção do leite humano
contra a doença sob análise foi mais evidente em crianças de
menor idade, porque, quando foi avaliada a prevalência de diarréia,
segundo a presença ou ausência de amamentação no primeiro
semestre de vida, essa associação atingiu níveis de significância
estatística;
• Naqueles grupos em que houve a introdução de alimentação
complementar ou naquelas onde o seio materno era o alimento
predominante, não foi evidenciado uma alteração significativa.
Variáveis
N
Prevalência
n
%
p
IC
OR
<0,05
1,31-2,48
6,09
0,94-1,39
4
1,12-2,92
4,8
Amamentação  1 ano
Não
Sim
24
148
24
21
13,95
86,05
Amamentação  6 meses
Não
Sim
4
76
4
19
2,32
44,18
Exclusivo  6 meses
Não
Sim
17
63
13
10
21,25
36,62
Predominante  6 meses
Não
Sim
4
76
3
20
2,32
32,55
0,92-1,29
2,85
Complementar  1 ano
Não
Sim
81
91
19
26
47,1
52,9
0,68-1,22
0,82
<0,05
Influência do tipo de alimentação no primeiro ano no desenvolvimento de diarréia
• A proteção do leite humano foi evidenciada pela presença de maior
porcentagem de crianças que mamam exclusivamente dentre
aquelas que nunca tiveram diarréia. Soma-se a isso o fato de o
desmame e o aleitamento complementar terem prevalecido dentre
as crianças que tiveram a doença.
• A amamentação até 1 ano de idade também conferiu proteção às
crianças;
• Vale a pena comentar os resultados, encontrados no atual trabalho,
quanto à prevalência da amamentação, em que se demonstrou
uma grande adesão das mães à prática da amamentação,
caracterizando um padrão de aleitamento de alta incidência e longa
duração.
• Vários estudos revelam o impacto do desmame na determinação do
episódio diarréico:
- Numa revisão de 35 estudos publicados em 14 países, que
investigaram a associação entre o tipo de alimentação infantil e
morbidade por diarréia, foi relatada a proteção do aleitamento
materno exclusivo contra diarréia em 83% deles.*
- As crianças não amamentadas apresentavam maior risco de
diarréia do que aquelas parcialmente amamentadas, e essas,
detinham maior possibilidade de desenvolver diarréia do que as
amamentados exclusivamente.**
* Vieira G. O. Alimentação infantil e morbidade por diarréia. Jornal de Pediatria 2003; 79 (1): 449 – 53.
** Araújo. M. A prevalência de diarréia em crianças não amamentadas ou com amamentação por tempo inferior a seis meses. Cien Cuid Saúde 2007, 6(1):
76-84
• Em um estudo caso-controle, realizado em Pelotas-RS, demonstrouse que o risco de morte por diarréia é vinte e três vezes maior
quando o desmame ocorre aos dois meses de idade, em
comparação com as crianças alimentadas exclusivamente com leite
materno. ***
*** ALMEIDA ET. Al. Perfil Epidemiológico e práticas alimentares de crianças menores de dois anos: Região sul – Relatório preliminar. Curitiba (SN) 1998
• Recém-nascidos e lactentes, principalmente nos primeiros seis
meses de vida, são mais vulneráveis a infecções, devido à
imaturidade do sistema imunológico e à maior permeabilidade
intestinal.
• Assim, durante um período crítico de relativa incompetência
imunológica, o leite humano apresenta atributos de qualidade
frente às suas necessidades imunobiológicas, protegendo-os de
doenças do tubo digestivo.
• No Brasil, inquéritos epidemiológicos estimam que 61% das
crianças sofrem desmame precoce, o que pode estar relacionado a
fatores como valores culturais, déficit educacional da nutriz, retorno
materno ao mercado de trabalho ou condições socioeconômicas
precárias.
CONCLUSÃO
• Diante dos resultados expostos, ficou demonstrada a evidente proteção da
amamentação contra a diarréia, no primeiro ano de vida e no aleitamento
exclusivo nas crianças menores de seis meses;
• Considerando o primeiro ano de vida como o período de maior velocidade
de crescimento e de maior vulnerabilidade da criança, esse estudo reforça
a importância do aleitamento materno, sobretudo como prática alimentar
exclusiva nos seis primeiros meses, quando fica absolutamente contraindicado o uso de água, chá, suco ou qualquer outro alimento, na
proteção das crianças contra a doença diarréica aguda.
• Finalmente, enfatiza-se, também, o papel do pediatra no incentivo ao
aleitamento materno como educador e promotor da saúde infantil.