Caso Clínico INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO Natália Silva Bastos Ivan Motta Araujo Coordenação: Luciana Sugai www.paulomargotto.com.br 27/02/08
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Transcript Caso Clínico INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO Natália Silva Bastos Ivan Motta Araujo Coordenação: Luciana Sugai www.paulomargotto.com.br 27/02/08
Caso Clínico
INFECÇÃO DO TRATO
URINÁRIO
Natália Silva Bastos
Ivan Motta Araujo
Coordenação: Luciana Sugai
www.paulomargotto.com.br
27/02/08
CASO CLÍNICO
IDENTIFICAÇÃO: FAS, sete meses, branco,
masculino, natural e procedente de Ceilândia.
Mãe: Edilsa , 40 anos, comerciária, evangélica,
casada.
Pai: Jonas, 39 anos, cristão, auxiliar geral
QUEIXA PRINCIPAL: “febre há 4 dias”
HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL :Mãe refere
que criança, portadora de ECNP, iniciou quadro
de febre de intensidade variando entre 39 e 40°C
e sem melhora ao uso de ibuprofeno, dipirona por
VO e VR há quatro dias. Associada a febre,
apresentou tosse produtiva com expectoração
amarelada e choro fácil. Refere diurese de cor
amarelo forte e secreção oral aspirada encontrase amarelada
Refere ter procurado o Hospital Regional da Asa
Sul (HRAN) há três dias com mesmo quadro.
Após realização de exame físico e exames
complementares*, foi diagnosticado
“sibilância”(sic) e prescrtito prednisolona,
nebulização e salbutamol spray
RS: Geral: febre, perda ponderal, astenia, irritado
e desidratação. Refere tosse, espirro, dispnéia.
Sistema digestivo: refluxo, evacuação três a
quatro vezes ao dia líquida e fétida. Refere que
sonda da gastrostomia esta deslocada do trajeto
inicial.
APF: Nascido por parto cesariano, no sétimo mês
de gestação devido a sinais de sofrimento fetal
agudo. Bolsa rota de uma hora, com prolapso de
cordão. Não eliminou mecônio. APGAR não
anotado. Necessitou de reanimação. PN: 1615g e
43 cm de comprimento. Fez uso de fototerapia.
Internação na UTI após parto por quatro meses e
15 dias.
Mãe G2P2C2N0A0. Realizou 5 consultas de pré
natal. Sorologias realizadas sem anormalidades e
apresentou um episódio de ITU.
APP: Paciente acamado com diagnóstico de
ECNP da infância, devido a anoxia perinatal
comprometendo desenvolvimento
neuropsicomotor. Internação ao nascer até o
quarto mês de vida. Quadro de PNM com 24h de
vida. Recebeu 4 hemotransfusões. Única cirurgia:
realização de gastrostomia. Apresenta
“asma/sibilância”. Refere quadros convulsivos
OA: Apresenta vacinação em dia. BCG realizada
há 6 meses
HV: LME até o quarto mês de vida e atualmente
leite Nan AR por gastrostomia. Moradia urbana,
5 cômodos, 3 pessoas, água mineral, com rede de
esgoto, luz elétrica, renda mensal de 2000 reais.
AF: Mãe e pai saudáveis. Familia materna e
paterna saudáveis. Irmão morto aos nove anos
por “câncer cerebral”
EXAME FÍSICO: Peso:5850g
REG, hipocorado(+/4+), hidratado, afebril,
hipotônico, anictérico, acianótico
Oroscopia: descamação, mucosa hipocorada,
desidratada(+/4+)
Gânglios: impalpáveis
AR: MV rude, roncos difusos
AC: RCR 2T, BNF, sem sopros
Abdome: globoso, RHA+, timpânico, flácido, fígado
1 cm do RCD, vazamento em gastrostomia
Membros: sem edema, boa perfusão
Genitália: Testículos tópicos
SNC: sem irritação , meníngea
HIPÓTESE DIAGNÓSTICA
ECNPI
Sibilância
Febre a esclarecer
Infecção do trato
urinário (ITU)
Exame HRAN dia 10/02/08
Leu: 12500
HB: 14,5
HTC: 43
PQT: 333
SEG: 46
LINF: 48
MON:3
RX tórax: “NORMAL
Exame HMIB 12/02/08
leuc 21100
HTC 37,3
HB 11,9
PLT 276
seg 37 bast 1 linf 60 mon 1 eos 1
ur 76 cre 0,7 sódio 147 k 4,4 cl 117
EAS dens 1025 ph 6,0 ced 5p/c acetona + leuc
numerosos hem aglomeradas flora ++ nitrito neg
EVOLUÇÃO
13/02/08
Persistência da febre
Iniciado tratamento para ITU com gentamicina,
Iniciado sabutamol spray e corticóide
Solicitado Urocultura
16/02/08
Mantem-se afebril, mãe relata melhora do estado geral,
sono tranquilo, respiração sem esforço, porém refere
secreção aumentada após manipulação fisioterápica,
eliminações presentes
Exame físico: corado, hidratado, acianótico, anictérico, leve
taquipnéia, sem esforço
ACV: RCRT, BNF, sem sopro
AR: MV rude, roncos de transmissão
Abdome: plano,RH+, timpânico, flácido, sem VMG
Conduta : HG , função renal, urocultura
Resultado de urocultura colhido dia 13/02/08
Enterobacter aerogenes ( 20 000 UFC) .Enterobacter
aerogenes sensível a ceftriaxone, cefuroxime, cefepime,
gentamicina, imipenem, sulfa.e intermediário a amicacina
18/02/84
9:00h
Persistência de sibilância, solicitado RX torax.
Exame: corado,hidratado,afebril,acianótico,BEG
ACV: sem alteração
Abdome: inocente
AR:MVF, roncos difusos, tiragem intercostal leve
a moderada , batimentos de asa de nariz positivo
Conduta: solicitado Rx tórax
15:00h
laudo RX: leve grau de hiperinsuflação pulmonar,
associado a infiltrados pneumônicos em LSD
18/02/08
Exames colhidos dia 16/02/08
urocultura negativa
colônias < 1000
PCR< 0,32
leu 8800 seg 59 linf 38 mon 2 eos 1
Hb 12,5 HTC 39
ur 9,4 cra 0,3
22/02/08
Controles:TAX 36°C, FC 148, SAT O2 97
Mãe relata bom estado geral, nega febre, boa
aceitação da dieta, sem diarréia e vômitos.
melhora da dispnéia
Exame físico:corado, hidratado,acianótico, BEG
AC: ok
Abdome: inocente
AR: sibilos expiratórios, esparsos, tiragem leve
Conduta: alta , marcar amb de neuro
Infecção do trato urinário (ITU)
Definição: multiplicação de patógenos na via
urinária
Pode estar relacionada a malformações da via
urinária ou pode ser causa ou conseqüência de
alterações funcionais
Não há divisão entre alta e baixa
Deve ser encarada de maneira séria e erradicar o
patógeno logo que tenhamos o diagnóstico correto
EPIDEMIOLOGIA
Está entre as doenças bacterianas mais
freqüentes e de maior risco durante a infância,
especialmente entre lactentes
Acomete 8% dos RN, com predomínio no sexo
masculino (existência maior de anomalias
congênitas)
1,1 caso para cada 100 meninos; 3 a 6 casos para
cada 100 meninas
ETIOPATOGENIA
Gram
negativos
Gram
positivos
Fungos
Virus
Tuberculose
renal
GRAM NEGATIVOS
A maior parte são causadas por G- aeróbicos como
enterobactérias (flora intestinal)
70 a 80% das ITUs agudas não complicadas são
causadas pela E coli
Em meninos, Proteus pode ser tão ou mais freqüente
do que a E coli
E coli possui fímbrias P ou “pili” que se fixam aos
receptores do uroepitélio, aumentando a adesividade
bacteriana possibilitando a ascensão da bactéria
Alta prevalência de antígeno capsular K
Produção de hemolisina e de colicina
Resistência à atividade bactericida do soro
Outras: Klebsiella, Enterobacter, Pseudomonas,
Serratia e Citrobacter
GRAM POSITIVOS
Staphylococcus Saprophyticus pode ser o
responsável por ITU em adolescentes de ambos os
sexos
Em meninos não circuncidados, a ITU por G+ é
mais comum
Outras: Enterococo, S aureus, S epidermidis
FUNGOS E VIRUS
ITU por candida são pouco comuns, pesquisar
imunodepressão
O adenovírus tipos 11 e 21 podem gerar ITU
TUBERCULOSE RENAL
Em crianças com obstrução do trato urinário,
bexiga neurogênica e litíase renal mais comum:
Proteus, Pseudomonas, Enterococus, S aureus, S
epidermidis
Presença de RVU potencializa a virulência das
bactérias
FATORES DE DEFESA DO HOSPEDEIRO
Clareamento bacteriano ou lavagem uretral
Baixo pH urinário, alta concentração urinária de
uréia e amônia, lisozima e imunoglobulinas IgG e
IgA
Mucosa vesical apresenta forte resistência à
adesão bacteriana e a possibilidade de
descamação quando agredidas
Fagocitose por leucócitos polimorfonucleares e
macrófagos na submucosa
VIAS DE ACESSO DAS BACTÉRIAS AO TU
Via hematogênica: durante processo bacterêmico
ou septicêmico(predominante em meninos no
periodo neonatal)
Agentes: S aureus, Salmonella, Candida,
Pseudomonas e bacilo de Koch
Via ascendente: via uretra, bexiga, ureteres até
alcançar estruturas renais (as meninas são mais
predispostas a esta via)
Agentes: Enterobacterias aeróbicas G
FATORES PREDISPONENTES
RVU – 30 a 40%
Bexiga neurogênica
Duplicação do TU
Válvula de uretra posterior
Estenose pieloureteral
Ureterocele
Instrumentação do TU
Constipação intestinal
DM
Oxiuríase
Hábitos higiênicos
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA ITU
Variam de acordo com a idade:
ITU em Neonatos e Lactentes
ITU em Pré escolares e Escolares
Adolescentes
ITU EM NEONATOS E LACTENTES
Ganho ponderal insuficiente
Anorexia
Vômitos
Diarréia
Irritabilidade
Icterícia colestática
Letargia
Convulsão
Variações térmicas
Urina com odor fétido
OBS: causa de FOI
ITU EM PRÉ ESCOLARES E ESCOLARES
Febre
Disúria
Calafrio
Dor
abdominal
Enurese, urgência, polaciúria,
incontinência e/ou retenção urinária
Urina fétida ou turva
ADOLESCENTES
Polaciúria
Disúria
Febre,
calafrios e dor nos flancos
(pielonefrite)
Início
de atividade sexual pode vir
acompanhado de surtos de ITU
DIAGNÓSTICO
A suspeita é freqüente, a clínica é frustrada e
inespecífica e a coleta de material é falha.
Exames realizados:
1. EAS
2. Urocultura com antibiograma
3. US renal
4. Uretrocistografia miccional – UCM
5. Urografia excretora
6. Cintilo grafia com DMSA
OBS:Menores de 5 anos: obrigatório realização de
US renal e UCM
EAS
Densidade baixa: infecção da medula renal
pH alcalino: ITU por Proteus
Albuminúria e hematúria: pielonefrite
Nitrito positivo: bacteriúria, esterase leucocitária
positiva
Bacteriúria: ITU
Piúria > 5 em meninos e >10 em meninas: ITU
Cilindros piocitários: pielonefrite
UROCULTURA COM ANTIBIOGRAMA
Gram de urina não centrifugada
Falso negativa: pH <5 e DU <1.003, agentes
bacteriostáticos na urina, uso de antibióticos...
Falso positiva: coleta inadequada
Contagem de colônia em jato médio de
urina(colhido por sonda):
1. <10.000 – negativa
2. 10.000 a 100.000 – associar a clínica
3. >100.000 – positiva
Antibiograma: nortear uma possível troca ATB
em caso de iniciado terapia empírica
US RENAL
Método
seguro, sem efeito colateral e pode
ser feito na fase aguda da doença
Visualiza:
hidronefrose, litíase, abscesso
renal...
Baixa
sensibilidade para cicatrizes renais
URETROCISTOGRAFIA MICCIONAL
Método
invasivo e relativamente seguro
Deve
ser feito após esterilização da urina
(2 a 6 semanas após quadro agudo)
Método
utilizado para classificação do
grau de refluxo
UROGRAFIA EXCRETORA
Elevada
carga de irradiação
Menor
sensibilidade
Menor
custo
Praticamente
não utilizada
CINTIGRAFIA
Seguros,
sensíveis e eficazes
Visualiza alterações do parênquima renal
DMSA (ac dimercaptosuccínico) de
deposição lenta e próprio para detecção de
alterações morfológicas como alterações
inflamatórias e cicatrizes renais
DTPA (ac dietilenotriamino-pentacético)
permite a aferição de fluxo, de filtração e
excreção renal do tecnécio
ESTUDO URODINÂMICO
Reservado
para crianças com ITU e
bexiga neurogênica
TRATAMENTO
Erradicar o agente e evitar recorrências
Estimular ingestão hídrica, ritmo intestinal
fisiológico e micções freqüentes
Tratar inflamação perineal e oxiuríase
Circuncisão parece ser benéfica para ITU
recorrente e com RVU
Bacteriúria assintomática não deve ser tratada
Antibioticoterapia: casos não complicados e
complicados
Quimioprofilaxia
ITU SINTOMÁTICA NÃO COMPLICADA
Ambulatorial por 7 a 14 dias, em caso de não
melhora clínica em 48h de tratamento pode ser
alterado o ATB.
DROGAS
DOSES (kg/dia)
No DOSES
Sulfametoxazol
e trimetropim
Nitrofurantoína
40mg + 8mg
12/12h
5- 7 mg
6/6h
Cefalosporinas
25- 50 mg
6/6h
Ácido nalidíxico
60 mg
6/6h
ITU NÃO COMPLICADA /PIELONEFRITE AGUDA
Comprometimento do estado geral deve ser
tratado no hospital com ATB IV (aminoglicosídeo
associado a ampicilina)
OBS: sempre preferir a via IV em pacientes não
cooperativos ou com vômitos freqüentes
QUIMIOPROFILAXIA
<5anos
até terminada investigação
Crianças com ITU de repetição
Uropatia obstrutiva até correção cirúrgica
RVU ate desaparecimento com 5 a 6 anos
>5 anos com infecções recorrentes
Pré e pós operatório de cirurgias
urológicas
Distúrbios da micção até seu controle
DROGAS
DOSES (kg/dia)
No DOSES
Sulfametoxazol
e trimetropim
10 mg + 1 a 2 mg
à noite
Nitrofuratoína
1 a 2 mg
à noite
Cefalosporinas
(cefalexina*)
¼ da dose de
manutenção
à noite
* Reservada para neonatos e lactentes até 2 meses de vida
ACOMPANHAMENTO APÓS DIAGNÓSTICO
Urocultura de controle uma semana após o início
do tratamento
Urocultura: 1x por mês nos primeiros 3 meses e
trimestral nos 2 anos seguintes
Não melhora clínica:
1. Resistência à droga
2. Concentração inadequada do ATB no local da
infecção
3. Dose insuficiente da droga escolhida
4. Obstrução urinária e estase urinária
PROGNÓSTICO
A
cura espontânea é rara
Nas
não complicadas o prognóstico é bom
O
prognóstico dependerá do diagnóstico
precoce e da possibilidade de correção dos
fatores predisponentes
No
caso de pielonefrite há maior chance de
lesão renal ( conseqüências: HA e IRC)
OBRIGADO