Ensaio randomizado do atraso da extubação para a redução da reintubação em recém-nascidos pré-termos extremos Danan C et al Dassis Cajubá da Costa.
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Transcript Ensaio randomizado do atraso da extubação para a redução da reintubação em recém-nascidos pré-termos extremos Danan C et al Dassis Cajubá da Costa.
Ensaio randomizado do atraso da extubação para a redução
da reintubação em recém-nascidos pré-termos extremos
Danan C et al
Dassis Cajubá da Costa Britto Filho
Enéas Santos Figuerêdo
Thayana Louize Vicentini Zoccoli
Coordenação: Dr Paulo R. Margotto
www.paulomargotto.com.br
Brasília, 28 de julho de 2010
Introdução
Melhores cuidados em prematuros aumentam a
sobrevida, sem reduzir significativamente a
morbidade respiratória.
A displasia broncopulmonar (DBP) é
usualmente definida como a necessidade de
suporte ventilatório, incluindo O2 suplementar
até 36 semanas de idade gestacional pós-concepção
(IGpc).
A DBP é usualmente associada a Síndrome do
Desconforto Respiratório e é o resultado de uma
séria de fatores cumulativos, incluindo o tempo e a
agressividade da ventilação mecânica (VM).
Introdução
Embora o método mais efetivo para manter o volume
pulmonar seja a pressão traqueal positiva, o
reconhecimento dos efeitos deletérios da VM estimula
estratégias para evitá-la.
Vários estudos mostram que o uso precoce de CPAP é
um método benéfico para o desenvolvimento pulmonar.
O uso precoce da ventilação não invasiva não tem
impacto comprovado na DBP e apresenta uma alta
taxa de reintubação.
Na ventilação não invasiva há uma prevenção parcial
da falha de extubação.
Introdução
Preocupações recentes têm sido sobre o
fechamento da glote que ocorre durante a
ventilação nasal intermitente com pressão
positiva (nIPPV).
Uma alternativa à ventilação não invasiva é a
intubação endotraqueal otimizada, curta e
minimamente invasiva, oferecendo mais
estabilidade e sem maiores efeitos inflamatórios.
Essa estratégia de proteção pulmonar deve ser
combinada com tratamentos comprovados, tais
como os esteróides e surfactante profilático.
Introdução
Recentemente, a insuflação contínua de gás
traqueal (CTGI), para retirada de CO2
aprisionado no espaço morto, revelou a capacidade
de diminuir o volume corrente e as pressões
necessárias para o mesmo alvo de PaCO2.
CTGI associada a hipercapnia permissiva,
limitada oxigenioterapia e extubação precoce
constituem uma estratégia de proteção pulmonar.
Não há evidências que determinam o tempo ideal
para extubação.
Objetivo
O objetivo deste estudo foi determinar o melhor
momento para extubação em recém-nascidos (RN)
extremo baixo peso.
A hipótese foi que a extubação tardia associada aos
métodos de proteção pulmonar diminua a reintubação
e melhore a evolução pulmonar.
Essa hipótese baseia-se no pressuposto de que uma
prorrogação razoável do PEEP traqueal (36 h)
associada à ventilação “suave” preveniria o
recrutamento alveolar quando comparada ao CPAP
nasal e, portanto, diminuiria a necessidade de
reintubação.
Metodologia
Pacientes, randomização e critérios de estudos
Foram incluídos RN entre 24 e 27 semanas, exceto
os que possuíam anomalias congênitas letais ou
anomalias que necessitam de suporte ventilatório
específico, colapso cardiovascular refratário à
expansão volumétrica e drogas inotrópicas ou
hipoxemia grave (índice de oxigenação >10).
Consentimento informado dos pais dentro de 6 h
após o nascimento.
Metodologia
Pacientes, randomização e critérios de estudos
Os pacientes foram aleatoriamente designados para o
grupo de extubação imediata (IE) ou extubação
tardia (DE).
Devido ao desenho do estudo, os cuidadores não
podiam ser cegos em relação ao grupo designado.
Grupo IE: a retirada do tubo ocorreu logo que os
critérios de extubação foram alcançados.
Grupo DE: a retirada do tubo ocorreu após 36 h de vida
e quando os critérios de extubação foram alcançados.
O atraso de 36 h foi uma escolha arbitrária uma vez que
não havia estudos disponíveis.
Metodologia
Pacientes, randomização e critérios de estudos
Quando a extubação foi planejada, todas as
crianças foram tratadas com cafeína para evitar a
apnéia.
Crianças de uma gravidez múltipla foram
colocadas no mesmo grupo escolhido
aleatoriamente.
Metodologia
Pacientes, randomização e critérios de estudos
Critérios para extubação:
FR < 30 irpm,
Pressão de pico inspiratório (PIP) < 15 cmH2O,
FiO2 < 30% para atingir uma PCO2 transcutânea
(TcPCO2)alvo (45-55 mmHg) e
SpO2 (87-92% ).
Critérios de reintubação:
pH < 7,1 ou
pH < 7,2 e TcPCO2 > 65 mmHg ou
Mais de 1 apnéia grave necessitando de suporte
ventilatório em um período de 24 h.
Metodologia
Pacientes, randomização e critérios de estudos
Dentro de 10 min após o nascimento, um tubo traqueal foi
inserido para infundir 150-200 mg/kg de surfactante.
Na UTI Neonatal, iniciou-se imediatamente a ventilação
mandatória intermitente sincronizada (SIMV) por um
ventilador limitado a pressão com CTGI.
Uma 2a dose de surfactante era obrigatória, se FiO2 > 25%
para atingir SaO2 entre 87% e 92%, 12-48 h após o
nascimento.
Para o desmame, a PIP foi diminuída em primeiro lugar,
seguida da freqüência do ventilador, visando uma TcPCO2
entre 45-55 mmHg, que define a hipercapnia permissiva
moderada.
Metodologia
Pacientes, randomização e critérios de estudos
Após a extubação, CPAP nasal, ventilação nasal
intermitente com pressão positiva (nIPPV), ou
nIPPV sincronizada foram utilizadas
rotineiramente até 72 horas pós-nascimento com
uma PEEP mínima de 4 cmH2O.
Ao longo da internação, a ventilação nasal foi
utilizada para tratar apnéia, dispnéia com
hipercapnia > 55 mmHg ou dependência de
oxigênio.
Metodologia
Pacientes, randomização e critérios de estudos
Tratamento com esteróides:
Na 1ª sem, se índice de oxigenação (OI) > 20.
Na 2ª sem, se OI > 8.
Na 3a sem, se os critérios de extubação não foram
cumpridos.
Nos casos de reintubação, a extubação foi permitida
após 48 h de VM, se os critérios de extubação foram
cumpridos.
No entanto, a extubação imediata foi permitida quando
a razão para reintubação foi a administração de
surfactante.
Metodologia
Coleta de Dados
TcPCO2 e parâmetros ventilatórios foram
registrados até 28 dias de vida em 1, 2 e 6 h após o
nascimento, depois de 6/6h até 48h, e depois no
mesmo horário diariamente.
Metodologia
Coleta de Dados
Eventos registrados:
• uso de drogas inotrópicas durante os primeiros 3 dias,
• hipotensão arterial sistêmica,
• hipoxemia grave com OI > 10,
• pneumotórax,
• extubação acidental,
• uso de esteróides pós-natal,
• infecção da corrente sangüínea,
• anormalidades na ultrassonografia do cérebro,
• mortalidade dentro dos primeiros 7 dias,
• ganho de peso até 36 semanas de IG,
• suporte ventilatório e de O2,
• idade no momento da alta ou idade da morte.
Metodologia
Análise Estatística
Comparações entre os grupos foram realizadas
através do teste de Fisher para variáveis
categóricas e do teste Mann-Whitney para
variáveis quantitativas.
Foram utilizadas as curvas de sobrevivência
Kaplan-Meier para a data de autonomia
respiratória.
O valor de p < 0,05 foi considerado
estatisticamente significativo.
O Comitê de Ética aprovou o estudo.
Resultados
Agosto de 2000 a Dezembro de 2002
O estudo foi interrompido após 2
anos, antes de atingir a amostra
calculada, pois os dois grupos
não tiveram qualquer chance de
se tornar estatisticamente
diferentes com relação ao
principal desfecho.
Resultados
Características da população:
Realizada análise
adicional para avaliar viés
Resultados
9 bebês (10,5%) morreram antes da alta:
2 morreram após 36 sem de IGpc (1 em cada grupo).
7 morreram antes de 36 sem de IGpc:
•
•
1 no dia 24 no grupo IE (derrame pericárdico),
6 do dia 6 ao dia 54 no grupo DE: 4 por elevado grau de
hemorragia intra-ventricular (IVH) e 2 por
enterocolite necrosante.
1 por IVH grave, antes do critério de extubação;
5 com pelo menos uma tentativa de extubação, incluídos na
análise como extubação bem sucedida.
Resultados
O tempo de extubação foi de acordo com o
protocolo.
Outras intervenções foram indiferentes nos 2
grupos, incluindo TcPCO2.
Períodos com hipercapnia (TcPCO2 acima de 55
mmHg durante a VM traqueal ou 65 mmHg após a
extubação) foram semelhantes nos 2 grupos (9,4%
vs 9,0%, p = 0,85).
Resultados
Mudanças nos picos de pressão inspiratória (PIP), PEEP e volume
corrente (VT) nas 36 horas pós-nascimento em RN < 28 sem de IG:
Para atingir estes valores de TcPCO2 com CTGI, baixas pressões
inspiratórias foram utilizadas.
Quando TcPCO2 permaneceu < 45 mmHg, apesar da frequência mínima
(10/min) e pressão inspiratória máxima (<10 cmH2O): CPAP traqueal
poderia ser usado.
Resultados
Principais resultados dos grupos randomizados:
Resultados
Resultados
Percentual de RN <1000g com respiração espontânea
por tempo
Autonomia respiratória definitiva
ocorre significamente mais cedo
nos grupo DE (p<0,05)
Neste subgrupo, os resultados
anteriores são confirmados com
duração de suporte ventilatório
acumulada no grupo DE (p<0,005)
e alta hospitalar mais cedo
(p<0,05).
Neste subgrupo, a freqüência de
sobrevida sem DBP com 36 sem de
IG foi 75%.
Discussão
1o estudo comparando 2 tempos de extubação em
prematuros.
Embora o tempo de extubação tenha sido curto, em
ambos os grupos, em comparação com outros estudos, a
taxa de falha de extubação foi semelhante aos dados
publicados anteriormente.
É razoável supor que as diferenças de resultado entre os
dois grupos são atribuídas ao período de cerca de 35 h
no qual um grupo recebeu ventilação traqueal
minimamente invasiva e o outro, ventilação nasal
(CPAP nasal ou nIPPV sincronizada).
Discussão
Entre os desfechos secundários, os mais relevantes
clinicamente são: menor tempo de internação na UTI
Neonatal e menor suporte ventilatório acumulado no
grupo DE.
Isso pode sugerir que o período adicional de ventilação
traqueal durante os primeiros 2 dias pós-parto pode ter
fornecido melhor estabilização alveolar e preservado o
desenvolvimento ou a função pulmonar.
Diferença com elevada significância nos RN < 1000 g, que
receberam alta mais cedo no grupo DE.
Discussão
Hipótese inicial: melhorar a estabilidade respiratória inicial
produziria uma diferença na taxa de falha de extubação e
efeitos foram observados principalmente a longo prazo,
consistente com os efeito no desenvolvimento pulmonar.
No entanto, esta hipótese não foi confirmada pela taxa similar
de DBP nos dois grupos.
Possíveis fatores que contribuem para a menor duração da
ventilação e para a baixa taxa de DBP observada são a
estratégia de proteção pulmonar e o uso de esteróides pósnatal.
Uso de esteróide pós-natal é controverso, mesmo quando o
tratamento é iniciado após 2 semanas, com duração limitada e
em baixa dose, como em nosso protocolo.
Discussão
A estratégia de ventilação pulmonar protetora
proposta não foi descrita prospectivamente ou
estudada antes, embora esteja em concordância
com recomendações recentes em prematuros.
Os estudos que compararam CPAP com VM após
terapia com surfactante não incluem o uso de
surfactante profilático, tornando difícil a sua
comparação com o nosso protocolo.
Discussão
Embora este estudo não tenha sido desenhado para avaliar a
estratégia de proteção pulmonar a longo prazo, observou-se uma
alta taxa de sobrevivência sem necessidade de O2 na 36ª sem de
IGpc em bebês nascidos antes de 28 sem de IG, mesmo nos < 1000
g ao nascimento (75%).
Comparado a um estudo de coorte similar na mesma unidade
durante o ano anterior a este estudo, essa estratégia específica
aumentou a taxa de sobrevivência sem DBP de 47% a 78% (dados
não mostrados).
Estabilidade hemodinâmica é uma outra estratégia benéfica para
proteção pulmonar.
Neste estudo, apenas seis (7%) bebês necessitaram de suporte
hemodinâmico durante os primeiros 3 dias pós-natal.
Ventilação minimamente invasiva e, principalmente, baixa
pressão das vias aéreas principais permitida pela CTGI podem ter
afetado positivamente a hemodinâmica pulmonar, melhorando
assim a hemodinâmica sistêmica.
Discussão
Esse estudo tem duas grandes limitações: não foi um estudo
cego e o desequilíbrio das mortes entre os grupos.
Um estudo cego era tecnicamente impossível devido ao
desenho do estudo.
O desequilíbrio entre as mortes dos dois grupos pode ser
questionável:
Esta diferença não foi estatisticamente significativa e se
considera a taxa tão baixa de mortes no grupo IE devido ao
acaso.
A taxa de mortes no grupo DE não é incomum e foi explicada
por 4 IVH de alto grau.
Entretanto, os fatores geralmente associados a IVH, como
hipo ou hipercapnia, hipóxia ou asfixia, instabilidade
hemodinâmica, tiveram a mesma freqüência nos dois grupos.
Infelizmente, o desequilíbrio entre as mortes, possivelmente
devido à interrupção precoce do processo, diminui a
importância dos resultados para os desfechos secundários.
Conclusão
Atrasar a extubação por 36 horas não diminui a
taxa de reintubação, mas não teve nenhum efeito
adverso.
Manejo ventilatório precoce provavelmente
influencia no resultado respiratória tardio, assim
destacando a importância de uma estratégia
protetora pulmonar desde o nascimento.
Consultem:
:: 7o Simpósio Internacional de Neonatologia do
Rio de Janeiro (24-26/6/2010): CPAP - O Estado
da Arte em 2010
Autor(es): Augusto Sola (EUA). Realizado por Paulo R.
Margotto
Danan et al compararam a extubação imediata versos o atraso
na extubação por 36 horas nos RN intubados, abaixo de 28
semanas, para receber surfactante ao nascer, com o objetivo de
avaliar que o atraso na extubação diminuiria a taxa de
reintubação. Os autores concluíram que adicionando 36 horas à
ventilação mecânica otimizada não foi associado a efeitos
adversos, sendo que a ocorrência de dependência de oxigênio
com 36 semanas de idade pós-concepção não foi
significativamente menor no grupo do atraso na extubação
(p<0,02), no entanto, observaram menor tempo de internação na
UTI Neonatal naquele grupo e menos dias de suporte
ventilatório (p<0,02)
Obrigado!
Dda Thayana, Dr. Paulo R. Margotto, Ddo Dassis e Ddo Enéas