INFÂNCIA DE VIDRO A Delinquência como Sintoma do Desamparo

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Transcript INFÂNCIA DE VIDRO A Delinquência como Sintoma do Desamparo

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“O bebê, que vê a mãe basicamente como
o objeto que satisfaz todos os seus
desejos - o seio bom, por assim dizer –
logo começa a reagir a essas gratificações
e ao seu carinho criando sentimentos de
amor em relações a ela como pessoa.
Contudo, esse primeiro amor já é
perturbado em suas raízes por impulsos
agressivos. O amor e o ódio lutam entre si
na mente da criança; essa luta continua
presente de certa forma pelo resto da vida
e pode se tornar fonte de perigo nas
relações humanas” (Klein, p.p. 348-349,
1996).
Ministrante:
Prof. Me. Marcos de Oliveira,
Filósofo e Psicanalista.


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O DESENVOLVIMENTO HUMANO (INFÂNCIA)
Nesta primeira face o ego se transforma de um
estado não-integrado (esquizoide) em uma
estrutura coesa e relativamente unívoca.
DO DESAMPARO AO SENSO DE PESSOALIDADE

1-Dependência Absoluta. Neste primeiro estado
o bebê necessita totalmente dos cuidados
paternais. Como elemento passivo, ainda não
interagi como ser consciente, apenas está em
posição de se beneficiar ou de sofrer distúrbios da
modelação ambiental.


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2-Dependência
Relativa.
Neste
novo
momento o núcleo central do ego já encontrase relativamente estruturado, assim, o cuidado
materno torna-se uma relação pessoal.

3- Emancipação Psíquica. A criança já é capaz
de se nutrir do acúmulo de recordações do
cuidado materno, por isso, depende menos do
cuidado real oferecido pelos Pais.


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AGRESSIVIDADE INATA
A tendência inata no sentido de integração
sempre dependerá do equilíbrio da vida instintiva
do bebê; sua agressividade deverá ser transformada
em afeto de vinculação (amor).
Chamamos de “identificação primária” o
canal afetivo pelo qual essa transformação se
realiza psiquicamente.
A falha ambiental deste fenômeno de
identificação primária é a raiz da predisposição a
distúrbios afetivos e a tendência antissocial.


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A CAPACIDADE DE SE PREOCUPAR
Segundo a visão do psicanalista Winnicott
(1983) a capacidade de uma criança se preocupar
com o outro [...] pressupõe uma organização
complexa do ego, que não se pode considerar de
outro modo que não seja o de uma conquista [...].
Para
este
pensador
inglês
o
desenvolvimento da capacidade afetiva de se
vincular aos outros, deve ser entendido como um
sinal de crescimento e de integração do ego.


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PROVISÃO AMBIENTAL SUFICIENTEMENTE BOA

A criança está em fusão com sua mãe, por

isso, a mesma é o verdadeiro “lugar” de
existência do infante, daí o fato deste primeiro

objeto ser habitualmente denominado de
“ambiente mãe”.
Winnicott ressaltou da seguinte maneira a
importância do cuidado materno:


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As bases da saúde mental do indivíduo, no sentido
de ausência de psicose ou predisposição à mesma
(esquizofrenia), são lançadas por este cuidado
materno, que quando vai bem dificilmente é
percebido, e é uma continuação da provisão
fisiológica que caracteriza o estado pré-natal. [...] a
esquizofrenia ou a psicose infantil ou uma
predisposição à psicose em uma data posterior se
relacionam com uma falha da provisão ambiental
(Winnicott, 1983, p.49).

Se o cuidado materno falhar por algum motivo,
segundo o ponto de vista psicanalítico, o infante corre
um grande risco de não “nascer” integralmente; ao
invés, a personalidade embotada começa a se construir
baseada em defesas contra os fracassos relacionais.


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A FUNÇÃO PATERNA
Para a psicanálise o pai desempenha um
importante papel na montagem psíquica de um
indivíduo.
O pai é o símbolo da normatividade externa
por isso, sua imagem aponta para o compromisso
com a Lei.
A imagem paterna, ou se quisermos, a
função paterna, inaugura o plano das oposições
que interrompe o desejo incestuoso da criança
pela mãe, ele introduz uma privação que leva à
razão. O controle instintual só é possível assim.


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EFEITOS DA FUNÇÃO PATERNA
1) Promove a castração simbólica

2) Introduz o sujeito na Lei (contrato social)
3) Solidificar o superego
A falta de tal imagem pode levar a
distúrbios no psiquismo.


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O CARÁTER E A LEI DE FORA
O termo castração nesse contexto de formação
identitária, não tem uma conotação negativa, apenas
significa uma ação psíquica capaz de produzir uma nova
ordenação mental.
Se como afirmamos anteriormente, a mãe se
configura como tese primária da existência, o pai surge
no universo psíquico da criança como antítese daquilo
que o bebê e a mãe são. A díade mãe-bebê transforma-se,
pela força do aparecimento de um novo elemento, em
tríade. O pai surge como um outro dialético, capaz de
suspender o desejo incestuoso pela mãe, por este ato de
interdição, a mãe é dessexualizada como objeto primário
e, assim, o infante identifica-se com a imagem do “dono
da mãe”.


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Com a triangulação originária, a criança se desindentifica com o objeto-mãe e se identifica com o objeto-pai,
para no final do processo dialético, chamado por Freud de
complexo de Édipo, também se des-indentificar do segundo
objeto. Ao fazer isto a criança não expurga totalmente os
objetos primários de seu mundo interno, apenas promove
dialeticamente uma síntese a partir dos resíduos imagéticos
interiorizados e, através deste movimento, emancipa-se e fixase identitariamente como pessoa. Podemos chamar essa série
dialética de: dialética-do-ser-para-ser.
Segundo o que foi ensinado por Freud, a identificação
secundária com o pai é muito importante para estabelecer um
vínculo mais permanente entre o Eu e o mundo social. Para o
mestre de Viena, a imagem do Pai é a representação da lei
externa, uma metáfora da normatividade societária.


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Mesmo aqueles que aculturam, não estão totalmente
cônscios dos motivos de seu trabalho. Antes de a criança
internalizar os seus pais como ideal, a mesma já está internalizada
pelos mesmos como ideal familiar. Freud em seu artigo A Guisa
de Introdução ao Narcisismo, explicou da seguinte maneira essa
transação narcísica:
A criança deve satisfazer os sonhos e os desejos nunca
realizados dos pais, tornando-se um grande homem e herói
no lugar do pai, ou desposar um príncipe, a título de
indenização tardia da mãe. O ponto mais vulnerável do
sistema narcísico, a imortalidade do Eu, tão duramente
encurralada pela realidade, ganha, assim, um refúgio seguro
abrigando-se na criança. O comovente amor parental, no
fundo tão infantil, não é outra coisa senão o narcisismo
renascido dos pais, que, ao se transformar em amor objetal,
acaba por revelar inequivocamente sua antiga natureza
(Freud, 2004, p.110).


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O PENSAR EMPÁTICO
O primeiro espelho da criatura humana
é o rosto da mãe: a sua expressão, o seu
olhar, a sua voz. [...] É como se o bebê
pensasse: olho e sou visto, logo, existo!
(D. Winnicott)
O significado moral do mundo é um efeito
colateral do tipo de relação que nos formou mais
intimamente, portanto, uma “moral humanista”
deve
ser
sentida
e
não
compreendida
intelectualmente.


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O tipo de ética que aplicamos no
contato com os nossos filhos, servirá sempre
como “filtro” ou “amplificador” das
tendências circunstanciais da vida social.
O foco de atenção do raciocínio moral é
determinado pelos valores internalizados
pelo sujeito, assim sendo, a qualidade
relacional da chamada “ação social” é sempre
um sintoma de uma longa história de
formatação pessoal.


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Um
ambiente
primário
positivo
sedimenta
os
seguintes
sentimentos
necessários:
1) Auto Confiança
2) Autoestima

3) Amor Próprio
4) Empatia


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O filósofo Mario Sergio Cortella escreveu o
seguinte sobre a midiatização do cotidiano de uma
criança moderna:
Uma criança dos centros urbanos, a partir
dos dois anos de idade, assiste, em média
três horas diárias de televisão, o que resulta
em mais de 1.000 horas como espectadora
durante um ano (sem contar as outras
mídias eletrônicas como rádio, cinema e
computador); ao chegar aos sete anos, idade
escolar obrigatória, ela já assistiu a mais de
5.000 horas de programação televisiva
(Cortella, 2011, p. 48)


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CRONOLOGIA PSICOAFETIVA
1ª Fase: Dependência
absoluta

Complexo
de Édipo

2ª Fase:
Transicionalidade

3ª Fase: Maturidade


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TENDÊNCIAS NEURÓTICAS PASSIVAS:
Um estado de carência prolongado
normalmente se exterioriza pelos seguintes
sintomas:
1)Necessidade indiscriminada de agradar e de
ser estimado por todos;
2)Uma vivência pautada na meta de
satisfazer às expectativas dos outros;
3)Fraqueza em defender seus próprios
direitos;
4)Medo fóbico de ser abandonado;
5)Pavor de ficar sozinho.


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TENDÊNCIAS NEURÓTICAS ATIVAS:
Alguns desenvolvem uma necessidade neurótica de
poder para eclipsar suas angustias:
1)Desejo de dominar pelo simples prazer de
mandar;
2)Desrespeito essencial pelos outros, por seus
sentimentos e opiniões.
3)Horror a situações incontroláveis;
4)Orgulho de sua capacidade de explorar outros;
5)Autoimagem exagerada (narcisismo).
Os “sintomas” neuróticos, como fobias, depressões
e uso de drogas lícitas e ilícitas, são em última análise,
respostas existenciais aos conflitos internos.