Transcript Sofrimento no trabalho
O sofrimento (tanto quanto o prazer) pertencem ao domínio privado, subjetivo, pessoal O trabalho, por sua vez, pertence ao domínio social
Esse domínio social se manifesta na organização do trabalho, ou seja, na divisão de tarefas, cadência/ritmo, modo operatório prescrito repartição das responsabilidades entre os trabalhadores hierarquia, comando, controle e atinge o funcionamento psíquico do trabalhador, o domínio subjetivo
O modo operatório prescrito, ou regras, consiste em estratégias técnicas que fixam as maneiras de fazer Sociais que enquadram as condutas de interações (homem x homem; homem x instrumento)
linguísticas que produzem formas específicas de falas que se estabilizam em práticas Éticas que promovem justiça e servem de referência às arbitragens
O funcionamento psíquico incorpora investimentos afetivos, amor, ódio, amizade, confiança, i.e., projetos enraizados na história pessoal do trabalhador
Atingem igualmente, por meio de pressões físicas, mecânicas, químicas e biológicas, o corpo dos trabalhadores ocasionando doenças, desgaste, envelhecimento
Não há indícios de que essas pressões (que incluem cadências e repetitividade) conduzam a consequências idênticas sobre o estado mental de um grupo de trabalhadores. Por quê?
Porque cada indivíduo compreende (analisa, interpreta e reflete) reage se defende de acordo com a história e a estrutura de sua personalidade
A luta do sujeito contra as forças ligadas à organização do trabalho o empurram em direção à doença mental O sofrimento no trabalho é justamente a vivência subjetiva que se situa entre a doença mental e o bem estar psíquico.
Sofrimento patogênico: quando não há liberdade para transformar, gerir e aperfeiçoar a organização do trabalho. A consequencia é a repetição, a frustração, o aborrecimento, o medo e a impotência gerada pelas pressões
Sofrimento criador: o trabalho favorece a transformação do sofrimento em criatividade beneficiando a identidade e aumentando a resistência do sujeito à desestabilização psíquica e somática. Há um reconhecimento de sua originalidade, identidade e de sua pertinência a um coletivo de trabalho
São construídas, organizadas e gerenciadas coletivamente com a finalidade de minimizar a percepção que os trabalhadores tem das pressões
Operações exclusivamente mentais, ativas que não alteram a pressão. Apesar do sofrimento ser individual (provocando a criação de diferentes estratégias) , há o surgimento de uma estratégia defensiva coletiva (comum)
As estratégias coletivas dependem de consenso, de coordenação e unificação por meio de regras defensivas. Apesar de consistirem em percepções irrealistas, elas são validadas coletivamente (p. ex., o descaso em repartições públicas)
Devem ser harmonizadas com recursos defensivos individuais para garantir a economia da energia psíquica
O risco é a alienação: os trabalhadores passam a lutar contra tudo aquilo que possa desestabilizar essas estratégias (ideologia defensiva fundada na homogeneidade e no conformismo)
Vantagens para a organização podem conduzir à auto-aceleração (acelerações frenéticas das cadências de trabalho afetando a quietude e afastando o aborrecimento). Nesse caso o trabalhador reprime o funcionamento psíquico impedindo a atividade fantasmática (pensamentos que permitem a descarga de energia)
Regras de trabalho ou de ofício que não estão de acordo com as regras da organização de trabalho oficial.
Consiste em articulação coerente de macetes e truques que se transformam em princípios reguladores para a ação e para a gestão das dificuldades ordinárias e extraordinárias observadas no curso do trabalho.
Essas regras afetam a solução das relações sociais e tem um impacto na organização técnica do trabalho (dão lugar a conflitos e litígios)
Estão ligados a uma forma específica de inteligência que tem origem no corpo, nas percepções e na sensibilidade orgânica.
Caracteriza-se pela invenção, imaginação, inovação, criatividade, etc. Esse tipo de inteligência rompe com as normas e regras sendo, portanto, astucioso
Condições sociais para ativar a inteligência Validação social reconhecimento reconhecimento pela hierarquia pelos pares (consciência da (consciência da utilidade) habilidade da originalidade, da beleza)
Não há uma relação com o trabalho que seja estritamente técnica, estritamente cognitiva ou estritamente física . Ela está sempre sujeita a um contexto intersubjetivo, isto é, à mediação pelas relações hierárquicas e pelas relações de solidariedade.
INTEGRAÇÃO HUMANA MODIFICA A TÉCNICA E LHE ATRIBUI UMA FORMA CONCRETA CARACTERIZADA PELA EVOLUTIVIDADE DOS HOMENS, DOS COLETIVOS, DA HISTÓRIA LOCAL E DO TEMPO