Por que gêneros do discurso? - Diretoria de Ensino Norte 1

Download Report

Transcript Por que gêneros do discurso? - Diretoria de Ensino Norte 1

O ensino da língua na perspectiva
dos multiletramentos – o lugar
dos gêneros do discurso
Shirley Goulart
Princípios organizadores do conteúdo de ensino de
Língua Portuguesa – PCNs
Quando o conceito de letramento chegou à escola...
Quando aprendemos?
Zona Proximal de Desenvolvimento
Vygotsky (1930)
ZPD
Zona de conflito
DR
DP
MEDIAÇÃO
Desenvolvimento Real
Desenvolvimento Potencial
Apropriação-internalização
Somos seres sociais e históricos; nos constituímos nas e
pelas relações sociais, em determinado tempo e espaço.
Isso significa que é nas relações sociais, desde sempre, que
apreendemos e produzimos conhecimento, com e através
da linguagem.
entendida como um produto dessas relações sociais e
como uma forma privilegiada de interação humana, que
faz a mediação entre os sujeitos e o meio social e
histórico.
Quando vamos nos comunicar com o outro, fazemos isso numa
situação concreta – queremos dizer algo ao nosso(a)
companheiro(a), aos nossos alunos, aos nossos pais ou ao nosso
chefe... – e usamos as palavras da língua atribuindo-lhes sentidos
muito próprios (dando forma aos nossos discursos), em função do
conteúdo do nosso dizer, naquela situação específica.
Práticas de leitura e escuta e
de produção oral e escrita
situações de uso da língua em que nos
apropriamos de um gênero, dependendo da esfera
em que estamos, para dizer o que queremos dizer
Letramentos
Gênero
• Formas de dizer sócio–historicamente
cristalizadas, oriundas de necessidades
produzidas em diferentes esferas da
comunicação humana.
• “Tipos relativamente estáveis de
enunciados” (Bakhtin, 1952-1953)
Algumas esferas (ou campos) de
circulação de discursos
jornalística
escolar
científica
publicitária
cotidiana
artística
entretenimento
Em cada esfera de atividade, temos:
 Atores envolvidos
 Interesses/ perspectivas em jogo (determinam
finalidades)
 Diferentes atividades realizadas na esfera
 Gêneros em circulação
Gênero
• Formas de dizer sócio–historicamente
cristalizadas, oriundas de necessidades
produzidas em diferentes esferas da
comunicação humana.
• “Tipos relativamente estáveis de
enunciados” (Bakhtin, 1952-1953)
Elementos que constituem
os gêneros
Conteúdo temático
- o que pode ser dito
num gênero;
assuntos/temas típicos
Forma
composicional
- forma(s) de organização/
estruturação geral dos
textos pertencentes àquele
gênero; partes típicas dos
textos pertencentes àquele
gênero e suas relações
Estilo
- seleção nos recursos da
língua: lexicais,
fraseológicos e
gramaticais
Gêneros do Discurso
Por que os nomeamos e
diferenciamos de imediato?
Cau Gomez. Fonte: http://migre.me/dJySo
(...)
Art. 37 - A administração pública
direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e
eficiência (...)
O BICHO
(Manuel Bandeira)
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Zop. 10/04/2013. Disponível em
http://chargeonline.com.br/
Internet e Redes sociais: novas práticas,
novos comportamentos...
Novos letramentos...
Multilinguagens e
multimídias
Multiculturalismo
Letramentos
Multiletramentos
implica considerar o diálogo do verbal com outras
linguagens e mídias e assumir uma dimensão
multiculturalista
Por uma pedagogia dos multiletramentos
Fonte: Multiletramentos na
escola, de Roxane Rojo e
Eduardo Moura. Parábola
editorial.
Por que gêneros do discurso?
Por que assumir uma perspectiva
enunciativa-discursiva no ensino de LP?
 Essa perspectiva permite a concretização do ideal de
formação na direção de um exercício mais pleno da
cidadania;
 Documentos legais (LDB, DCN, PCN etc.);
Algumas esferas (ou campos) de
circulação de discursos
jornalística
escolar
científica
publicitária
cotidiana
artística
entretenimento
Justificativa da eleição dos gêneros como objeto
de ensino-aprendizagem(1)
 o gênero pode ser considerado um
megainstrumento para o ensino e a aprendizagem de
LP (Schneuwly: 1994) porque permite a concretização
de uma perspectiva enunciativa para o ensino de
Português:
• A noção permite capturar aspectos, elementos e
relações da ordem da enunciação e do discurso,
além de aspectos eminentemente estruturais ou da
ordem do lingüístico;
Justificativa da eleição dos gêneros como objeto
de ensino-aprendizagem(2)
• a consciência desses aspectos, elementos e
relações favorecem a compreensão e produção de
textos:
• favorece uma integração entre práticas de leitura,
escrita e análise linguística;
Foto retirada na região da Paulista
José Paulo Paes. In: Um por todos (poesia
reunida). Editora Brasiliense. 1986.
“Cada texto é produzido no interior de um
processo interlocutivo. Por isso responde
aos objetivos desse processo, é marcado
pelos sujeitos nele envolvidos e pelas
práticas históricas que foram se
constituindo ao longo do tempo no
interior de cada instituição social”
(Geraldi. Portos de passagem)
Justificativa da eleição dos gêneros como objeto
de ensino-aprendizagem(3)
• fornece
subsídios
para
pensarmos
conteúdos,
sequências e simultaneidades curriculares e fornece
parâmetros mais claros de avaliação;
• na última década, a reflexão e pesquisa em torno dos
gêneros foi intensa, o que tem subsidiado o trabalho
docente na E. Básica: resultados têm sido animadores
no que diz respeito à aprendizagem dos alunos.
Trabalho com gêneros na escola:
equívocos comuns
• Desconsideração das características da esfera de
circulação no estudo do gênero;
• Tendência a estruturalizar o gênero;
• Tendência a cristalizá-lo excessivamente ou, pior, tomálo numa perspectiva prescritiva;
Pensando bem, a Samello
não evoluiu muito
nos últimos 30 anos.
Ela continua fazendo
sapatos à mão.
Primeiro grande amor
– Eva, não vá...
Reynaldo Damazio. Os sem menores contos do séculoi
Trabalho com gêneros na escola:
equívocos comuns (2)
• Tendência a forçar/forjar classificações;
• Confusão entre conteúdo temático e tema;
• Confusão entre estilo de gênero e estilo de
autor;
Trabalho com gêneros na escola:
equívocos comuns (3)
• Tendência a conduzir o trabalho apenas por visitação e
não por imersão;
• Falta de critérios para a seleção de gêneros e de
princípios de organização/progressão curricular;
• Gêneros são tomados como mais um objeto
descontextualizado (mais uma metalinguagem).
COMO TRABALHAR COM GÊNEROS?
• Seleção de gêneros (que supõe algum critério
de classificação)
• Descrição de gênero
• Seleção dos conteúdos que serão trabalhados
com os alunos – transposição didática
• Articulação do currículo – Progressão
curricular
Critérios para seleção de gêneros
1. Serafini (1985) propõe 4 agrupamentos que
tomam por base:
–
as funções da escrita (expressiva, informativoreferencial, poética e informativoargumentativa);
– os discursos de base (descrição, narração,
exposição, argumentação)
– as capacidades de linguagem
expressivos
Criativos
Informativoreferenciais
Informativoargumentativos
2. Schneuwly/Dolz (1996) vão propor 5
agrupamentos que tomam por base:
–Domínios sociais de comunicação;
–Capacidades de linguagem
–Tipologias textuais
Narrar, relatar, argumentar, expor e instruir
Domínios sociais de comunicação
ASPECTOS TIPOLÓGICOS
Exemplos de gêneros orais e escritos
Capacidades de linguagem dominantes
conto maravilhoso
conto de fadas
fábula
lenda
narrativa de aventura
Cultura literária ficcional
NARRAR
Mimesis da ação através da criação da intriga no
domínio do verossímil
narrativa de ficção científica
narrativa de enigma
narrativa mítica
sketch ou história engraçada
biografia romanceada
romance
romance histórico
novela fantástica
conto
crônica literária
adivinha
piada…
Domínios sociais de comunicação
ASPECTOS TIPOLÓGICOS
Exemplos de gêneros orais e escritos
Capacidades de linguagem dominantes
relato de experiência vivida
relato de viagem
diário íntimo
testemunho
anedota ou caso
autobiografia
curriculum vitae
Documentação e memorização das ações humanas
RELATAR
Representação pelo discurso de experiências
vividas, situadas no tempo
...
notícia
reportagem
crônica social
crônica esportiva
...
histórico
relato histórico
ensaio ou perfil biográfico
biografia
...
textos de opinião
diálogo argumentativo
carta de leitor
carta de reclamação
carta de solicitação
Discussão de problemas sociais controversos
ARGUMENTAR
Sustentação, refutação e negociação de tomadas de
posição
deliberação informal
debate regrado
assembléia
discurso de defesa (advocacia)
discurso de acusação (advocacia)
resenha crítica
artigos de opinião ou assinados
editorial
ensaio
...
Domínios sociais de comunicação
ASPECTOS TIPOLÓGICOS
Exemplos de gêneros orais e escritos
Capacidades de linguagem dominantes
texto expositivo (em livro didático)
exposição oral
seminário
conferência
comunicação oral
Transmissão e construção de saberes
EXPOR
Apresentação textual de diferentes formas dos
saberes
palestra
entrevista de especialista
verbete
artigo enciclopédico
texto explicativo
tomada de notas
resumo de textos expositivos e explicativos
resenha
relatório cientifico
relatório oral de experiência
…
instruções de montagem
receita
regulamento
Instruções e prescrições
DESCREVER AÇÕES
Regulação mútua de comportamentos
regras de jogo
instruções de uso
comandos diversos
textos prescritivos
...
Embora essas propostas de agrupamento
possibilitem observar diferentes aspectos dos
gêneros, o elemento que acaba sendo
predominante na transposição que se costuma
fazer é o tipológico.
Tal ênfase pode dificultar a análise e percepção
de elementos da ordem da enunciação e do
discurso.
Ex. quando estuda-se notícia ou crônica
Outra possibilidade de agrupamento
3. Esferas de atividades/ esferas de
comunicação
Tal agrupamento se aproxima mais da
perspectiva Bakhtiniana, pela própria
definição do autor de gênero (que envolve
esferas).
Alguns exemplos de esferas ou campos de
circulação de discursos
científica
cotidiana
publicitária
jornalística
escolar
política
artística
Ao partir da esfera de atividade, necessariamente
consideramos:
 Atores envolvidos
 Interesses/ perspectivas em jogo (determinam
finalidades)
 Diferentes atividades realizadas na esfera
 Gêneros em circulação
Implicações para o ensino e aprendizagem:
... as situações didáticas têm como objetivo levar os alunos a
pensar sobre a linguagem para poder compreendê-la e utilizá-la
apropriadamente às situações e aos propósitos definidos. (PCN,
19)
Tomando-se a linguagem como atividade discursiva, o texto
como unidade de ensino e a noção de gramática como relativa ao
conhecimento que o falante tem de sua linguagem, as atividades
curriculares em Língua Portuguesa correspondem, principalmente, a
atividades discursivas: uma prática constante de escuta de textos
orais e leitura de textos escritos e de produção de textos orais e
escritos, que devem permitir, por meio da análise e reflexão sobre os
múltiplos aspectos envolvidos, a expansão e construção de
instrumentos que permitam ao aluno, progressivamente, ampliar sua
competência discursiva. (PCN: 27)
Na leitura...
• Análise dos elementos textuais e discursivos que
constituem os textos e que são essenciais na construção
de sentidos, tanto para a compreensão leitora quanto
para produção de textos.
Na produção...
A estrutura de base de uma sequência didática
Apresentação
da situação
PRODUÇÃO
INICIAL
Módulo
1
Módulo
Módulo
PRODUÇÃO
2
n
FINAL
...
Esquema da sequência didática
[email protected]