Nos passos da FEB Viagem feita nos dias 20 e 21/07/2011 seguindo os passos da Força Expedicionária Brasileira nas regiões da Toscana (Pisa.

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Nos passos da FEB
Viagem feita nos dias 20 e 21/07/2011 seguindo os
passos da Força Expedicionária Brasileira nas regiões
da Toscana (Pisa e Pistóia) e da Emilia-Romagna
(Porreta Terme, Gaggio Montano e Montese).

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A viagem começou por Pisa que,
além do interesse turístico por conta
da sua famosa torre inclinada,
abrigou em suas cercanias, na
Tenuta Reale di San Rossore, os
acampamentos
do
Regimento
Sampaio
(1o
Regimento
de
Infantaria) e do 11o Regimento de
Infantaria (Regimento Tiradentes).
O 1o Grupo de Aviação de Caça
também ficou alojado em Pisa, no
Albergo Nettuno. Aliás, foi no bar
desse hotel que o Capitão Pessoa
Ramos e os Tenentes Rocha,
Perdigão, Meira e Rui Moreira Lima
fizeram uma paródia da marcha
Carnaval em Veneza. Mais tarde,
essa paródia veio a se tornar o Hino
Oficial da Aviação de Caça da FAB.


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Depois da breve passagem por Pisa, me dirigi para a cidade de Pistoia, onde foram
enterrados os corpos de 443 dos 465 militares brasileiros mortos na Itália, incluindo-se
nesse número oito aviadores do Primeiro Grupo de Aviação de Caça mortos em combate.


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Após o translado dos restos mortais dos heróis brasileiros para o Monumento Nacional
aos Mortos da II Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo, o Cemitério Militar deu lugar
ao Monumento Votivo Militar Brasileiro, inaugurado em 07/06/1966.


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Saindo de Pistóia, segui pela Rota 64 para Porreta Terme e lá, por mero acaso, acabei
pernoitando no Hotel Roma, que na época da guerra se chamava Albergo delle Terme
e que foi a sede do QG Avançado da 1a Divisão de Infantaria Expedicionária,
comandada pelo General Mascarenhas de Moraes.


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Após a passagem por Porretta Terme fui para Gaggio Montano, comuna onde está situado o
Monte Castello, uma das posições mais estratégicas da chamada Linha Gótica, que era um
poderoso sistema defensivo alemão que cortava a Itália de costa a costa através dos Apeninos.


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A Batalha de Monte Castello durou cerca de três meses, de 24 de novembro de 1944 a 21 de
fevereiro de 1945, durante os quais se efetuaram quatro ataques. Houve um grande número de
baixas devido a vários fatores, entre os quais as temperaturas extremamente baixas do
inverno que, exatamente naquele ano, foi um dos mais rigorosos do século XX.


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Em 1995, por ocasião das
comemorações do cinqüentenário do
término da Segunda Guerra em
Gaggio Montano a comunidade
gaggense decidiu fazer um pequeno
monumento que simbolizando a
amizade entre italianos e brasileiros.

O monumento foi originalmente
erigido na região conhecida como
Guanella, ao pé do Monte Castello,
bem próximo ao local onde mais
tarde se erigiu o Monumento ai
Caduti Brasiliani.
Posteriormente, esse monumento, que
é conhecido pelos italianos como
Monumento Brasile, foi transferido
para o Parco Giochi, na área urbana
de Gaggio Montano.


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Inaugurado ao pé do Monte Castello em 21/06/2001, o Monumento ai Caduti Brasiliani,
projetado pela brasileira Mary Vieira, homenageia os soldados brasileiros mortos na Itália.


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Um dos arcos brancos aponta para a terra e simboliza a morte, ao passo que o outro aponta para o
céu, isto é, para a transcendência que as mortes dos soldados significaram.
Ademais, na concepção do monumento, a escultora Mary Vieira imaginou o movimento contínuo
do sol que, ao meio-dia, projeta sobre o solo uma cruz, símbolizando o heroísmo brasileiro.


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Ao lado do monumento está a casa de veraneio da família do Commendatore Francesco Berti,
doador do terreno para a sua construção. A casa, os estábulos e os depósitos foram ocupados
por diversas companhias do 11o RI durante a campanha da tomada do Monte Castello.


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Vemos aqui uma patrulha brasileira passando ao lado da casa da Famiglia Berti subindo
em direção ao Monte Castello para mais uma investida contra os alemães.
Somente após a vitória dos nossos soldados é que foi possível ao IV Corpo de Exército
prosseguir sua marcha em direção a cidade de Bologna e, após cruzar o Vale do Pó,
bloquear o Passo de Brenner, na fronteira entre a Itália e a Suíça, evitando assim que as
tropas alemãs pudessem seguir em retirada para reforçar as defesas do seu próprio país.


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De Gaggio Montano parti para a cidade de Bombiana, onde morreu em 20/02/1945 o
Capitão Antonio Alvares da Silva, conhecido como Frei Orlando.


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Por volta das 14:00h do dia 20 de fevereiro de 1945, na
véspera da tomada de Monte Castello, Frei Orlando se
deslocava para a linha de frente para levar conforto
religioso aos soldados da 6a Companhia do 11o RI
quando o jipe que o transportava ficou imobilizado por
uma pedra presa ao seu eixo dianteiro.
Um militar brasileiro que o acompanhava tentou soltar a
pedra com o uso da manivela do jipe e, no intuito de
ajudá-lo, um partigiano italiano passou a golpear a pedra
violentamente com a coronha da sua espingarda.
A espingarda acabou disparando e o tiro acertou em cheio o peito de Frei Orlando
que, imediatamente, soltou um grito de dor, levando uma mão ao peito e a outra ao
bolso para alcançar um terço. Mas, ele não teve mais tempo sequer para finalizar a
Ave-Maria que começou a rezar: morreu ali mesmo.
Em 28 de janeiro de 1946, considerando que Frei Orlando demonstrou possuir
“peregrinas virtudes morais e cívicas que o recomendam à posteridade como
modelo do verdadeiro sacerdote e capelão militar”, um decreto-lei assinado pelo
Presidente da República instituiu Frei Orlando como Patrono do Serviço de
Assistência Religiosa do Exército, o SAREx.


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De Bombiana fui em direção a Montese, onde foi escrita a página mais sangrenta da história
da Força Expedicionária Brasileira. Em suas estreitas ruas, a FEB teve seu primeiro contato
com o combate urbano, no qual o controle da cidade foi disputado ferrenhamente casa por casa.


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Com o rompimento da Linha Gótica, os alemães estabeleceram uma nova linha defensiva
um pouco mais ao norte que ficou conhecida como Linha Gengis Khan, da qual Montese
era um dos seus bastiões mais fortes.


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De Montese os alemães poderiam controlar uma extensa área e, por isso, sua tomada era de
grande importância para permitir o avanço das tropas aliadas em direção ao Vale do Pó e
daí aos Alpes, consolidando assim a reconquista do território italiano.


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Sem a menor dúvida, Montese
foi a cidade da província de
Modena mais devastada durante
a Segunda Guerra Mundial.

Após intensos bombardeios
pelas artilharias de ambos os
lados em guerra, das 1.121
casas de Montese restaram
destruídas mais de 800, assim
como o comércio foi igualmente
arrasado.
As vítimas civis também foram
em número bastante elevado:
houve mais de 700 feridos,
muitos deles mutilados pelas
odiosas
minas
terrestres
espalhadas pelos alemães; e, a
grande maioria dos quase 200
mortos era composta de idosos,
mulheres e crianças.


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Hoje, muitas das casas, assim como o castelo medieval, encontram-se totalmente reconstruídos
tal qual eram antes da guerra, o que confere à cidade um aspecto bastante bucólico e acolhedor.


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Contudo, como que para avivar
a memória dos mais velhos e
para reafirmar aos mais jovens
os malefícios trazidos pela
guerra, a pequena fonte, situada
no meio da praça principal da
cidade, ainda carrega as marcas
de balas de fuzil e estilhaços de
granada dos tempos de tristeza e
destruição.


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Acredita-se que o Castelo de
Montese, situado no alto do monte
conhecido como La Rocca, foi
construído na primeira metade do
século XIII, sendo atacado e
queimado já em 1254, durante uma
revolta da população local.
Em 1390 fez-se a primeira grande
obra reconstrução e, provavelmente
desta fase remonta a estrutura atual
da fortaleza.
Após as grandes perdas sofridas
durante os bombardeios de 1945 e a
reconstrução apressada do pósguerra, o castelo foi cuidadosamente
restaurado e retornou para uso
público em 1998, abrigando em seu
interior o museu da cidade.


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A história contemporânea de Montese é fortemente marcada pela Segunda Guerra Mundial.
Por isso, a guerra é o tema central do Museo Storico della Rocca, situado no antigo castelo e
onde a FEB tem um lugar especial de destaque, ocupando a maior sala do museu.


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Além de peças de uniforme, objetos e utensílios utilizados pela FEB na Itália, a sala
dedicada ao Brasil reproduz uma estação de comunicações e uma enfermaria de campanha.


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A conquista de Montese no dia 14, a ocupação no dia 15 e sua manutenção nos dias 16, 17 e
18 de abril de 1945 custaram à FEB um saldo de 34 mortos, 382 feridos e 10 desaparecidos.


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Em Montese, homenageando os soldados brasileiros, foi erigido o Monumento Alla Libertà,
esculpido pelo artista Italo Bortolotti. Situado no Largo Brasile, o monumento foi inaugurado
no dia 14 de abril de 1995 por ocasião dos festejos dos 50 anos da libertação da cidade.


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Minha viagem terminou em Montese.
Por quase todas as cidades pelas quais passei
nesses dois dias tive a grata satisfação de ver
monumentos e placas de agradecimento pela
“reconquista da liberdade” em homenagem
ao soldado brasileiro.
Não vi esse tipo de homenagem a nenhuma
outra tropa que tenha atuado nos Apeninos,
por onde passaram mais de 190 mil homens
das mais variadas nacionalidades e
procedências.


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Certamente isso ocorreu por conta da simplicidade, da solidariedade e da
alegria peculiar aos brasileiros que, além de professarem a mesma religião, por
conta das raízes latinas de ambos os idiomas, aprenderam a se comunicar bem
com os italianos, conquistando a sua amizade e gratidão.


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Porém, ainda que nossos soldados tenham sido recebidos com festa no seu retorno ao Brasil,
Getúlio Vargas temia que a FEB fosse utilizada politicamente contra a sua ditadura de
inspiração fascista, tal qual aquelas que os pracinhas ajudaram a derrubar na Europa.
Assim, após os desfiles, os expedicionários foram proibidos de andar uniformizados pelas ruas
ou de portarem medalhas e condecorações. Também estavam proibidos de dar entrevistas ou
declarações públicas.


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Outro fator que contribuiu para a
desvalorização
da
participação
brasileira na guerra foi o fato de que
muitos militares que fizeram parte da
FEB mais tarde vieram a participar do
Golpe Militar de 1964, que instalou a
ditadura do chamado Regime Militar.
Entre eles estava o seu primeiro
presidente, o general Humberto de
Alencar Castelo Branco, que serviu na
Itália quando ainda ocupava o posto
de tenente-coronel.
Por causa disso, setores da esquerda
que se opunham à nova ditadura
passaram a relacionar a FEB ao Golpe
Militar de 1964.


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Dos 25.394 homens da FEB na Itália, 465 morreram, 16 ficaram desaparecidos e 2.722
foram feridos. Vários ex-combatentes voltaram para ao Brasil com problemas psicológicos
e tiveram dificuldades para se adaptar novamente à vida civil.
As associações de ex-combatentes reivindicaram leis em favor dos pracinhas. Uma das
poucas “regalias” que afinal lhes foi concedida, era a que dava preferência a excombatentes nos casos de empate em concursos públicos.
Somente depois de muitas décadas, com a nova Constituição Federal de 1988, foi que
finalmente eles conquistaram o direito a uma pensão especial. Contudo, o benefício chegou
tarde demais para a maior parte dos pracinhas: menos de dez mil estavam vivos quando a lei
foi aprovada.
Esse trabalho foi feito com o objetivo de homenagear esses bravos brasileiros que um dia
cruzaram o oceano para lutar por uma Pátria que não soube lhes dar o devido valor.

FIM

CAPT. MORAES

Autor: Alexandre Pouchain de Moraes ([email protected])
Fotos feitas pelo autor (resolução maior disponível) e baixadas da Internet
Música: Canção do Expedicionário