AULA 02 TEORIA LITERÁRIA (2): GÊNERO LÍRICO

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Transcript AULA 02 TEORIA LITERÁRIA (2): GÊNERO LÍRICO

Literatura Brasileira

AULA 02 TEORIA LITERÁRIA (2): GÊNERO LÍRICO Aspectos gerais

O adjetivo―lírico‖ tem origem na palavra

lira

, uma espécie de harpa que era muito utilizada como acompanhamento musical nos cantos gregos. Assim, os textos enquadrados no gênero lírico tinham, até o final da Idade Média, uma íntima relação com a música. Ao separar-se o texto do acompanhamento musical, aquele passou a apresentar uma estrutura mais rica. A partir daí, elementos como métrica, ritmo, rima e outros passaram a ser mais intensamente cultivados pelos artistas. Pode-se dizer que o gênero lírico é a manifestação literária em que predominam os aspectos subjetivos, íntimos do autor. A sublimidade da beleza poética, que reflete as mais profundas e elevadas sensações do espírito humano, é o que constitui, na essência, o lirismo. O lirismo é, em geral, a maneira de o autor falar consigo mesmo ou com um interlocutor particular um, A poesia causa emoção, leva-nos acima dos limites físicos e temporais. A poesia está aí, por aí, nas coisas, nas palavras à espera de olhares e ouvidos sensíveis. Poesia é a emoção, a sensação e a expressão do belo. No texto poético predomina, portanto, a função emotiva ou expressiva da linguagem. Este modelo literário quase sempre se manifesta formalmente pelos poemas (textos escritos em versos).

1. Verso e Estrofe

Entende-se por verso ―a unidade rítmica que corresponde à acomodação de uma frase a um esquema melódico, caracterizado por certo número de sílabas (ou conjuntos de sílabas), e pela colocação de sílabas de determinadas categorias em posições mais ou menos fixas.

‖(Zélia Cardoso de Almeida). Já um conjunto de versos denomina-se

estrofe

. Podemos classificar as estrofes de acordo com o número de versos nelas presente. Vejamos alguns tipos mais comuns de estrofes:

Dísticos –

estrofes com

2

versos:

UM, UNS

1 Coroa, manto, brasão e cetro, pousa. Minúsculo, só, nenhum exército. Seu domínio: o ar, onde governa em silêncio. Vejo, e não sei que nome tem, Insigne inseto, senhor de toda beleza. Chamo-lhe

alteza

. Eucanaã Ferraz, poeta contemporâneo brasileiro 

C u i d a d o !

Não confundir eu lírico com autor

. O autor cria uma personalidade poética para dar vazão a sensações e impressões; essa personalidade é que chamamos de

eu lírico

ou

eu poético

.

Elementos de versificação

Na poesia, principalmente aquela feita nos moldes tradicionais, estudam-se alguns elementos técnicos que facilitam a leitura, a interpretação e a análise de textos poéticos, além de desenvolver o gosto pelo gênero. Vamos conhecer melhor alguns desses elementos.

Tercetos –

estrofes com

3

versos:

BANHO (rural)

De cabaça na mão, céu nos cabelos à tarde era que a moça desertava dos arenzés de alcova. Caminhando um passo brando pelas roças ia nas vingas nem tocando; reesmagava na areia os próprios passos, tinha o rio com margens engolidas por tabocas feito mais de abandono que de estrada e muito mais de estrada que de rio Zila Mamede (1928 – 1985), poeta paraibana 1

Quartetos

versos: (ou

quadras

)

estrofes com

4 ISMÁLIA

Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar. Alphonsus de Guimaraens, poeta simbolista brasileiro

Oitavas –

estrofes com

8

versos:

CANTO 1 I

De um varão em mil casos agitado, Que as praias discorrendo do Ocidente, Descobriu o Recôncavo afamado Da capital brasílica potente: Do Filho do Trovão denominado, Que o peito domar soube à fera gente; O valor cantarei na adversa sorte, Pois só conheço herói quem nela é forte.

II

Literatura Brasileira Santo Esplendor, que do grão-Padre manas Ao seio intacto de uma Virgem bela; Se da enchente de luzes Soberanas Tudo dispensas pela Mãe Donzela; Rompendo as sombras de ilusões humanas, Tu do grão caso! a pura luz revela Faze que em ti comece, e em ti conclua Esta grande Obra, que por fim foi tua.

Caramuru

, de Santa Rita Durão

O B S E R V A Ç Ã O

: o

Soneto

é uma composição poética que possui, em seu formato mais comum, 14 versos, distribuídos em

2 quartetos

e

2 tercetos

. Exemplo:

CATORZE VERSOS

O primeiro é assim: fica de parte. No segundo já posso prometer que no terceiro vai haver mais arte. Mas afinal não houve… Que fazer? Melhor será calar, pois que dizer nem do sexto conseguirei destarte. Os acentos errados é favor não ver; nem os versos errados, que também sei

hacer

… Ó nono verso porque vais embora sem que eu te sublime neste décimo? Ao décimo-primeiro dediquei uma hora. Errei-o. Mas que importa se a poesia, mesmo que o não errasse, já não vinha? É este o último e, como os outros, péssimo… Alexandre O’Neill (1924 – 1986), poeta português

2. Rima

É a coincidência de sons (parcial ou total) entre palavras no final ou no meio dos versos, criando uma afinidade sonora entre dois ou mais versos. Podemos classificar as rimas de acordo com os seguintes critérios: Quanto à semelhança de sons

Consoantes

ou

puras –

de modo geral, quando rimam os sons vocálicos e consonantais da sílaba tônica. Virgulino Ferreira, o Lampi

ão

Bandoleiro das selvas nordest

inas

Sem temer a perigo nem ru

ínas

Foi o rei do cangaço no sert

ão

Mas um dia sentiu no coraç

ão

O feitiço atrativo do am

or

A mulata da terra do Cond

or

Dominava uma fera perig

osa

Mulher nova, bonita e carinh

osa

Faz o homem gemer sem sentir d

or

Otacílio Batista (poeta pernambucano,) 2

Literatura Brasileira Quanto à categoria gramatical das palavras rimadas Quanto à disposição ao longo do poema Quanto à posição dentro do verso

Toantes –

quando rimam apenas as vogais tônicas das sílabas. Exemplo:

TOANTE

Molha em teu pranto de aurora as minhas mãos p

á

lidas. Molha-as. Assim eu as quero à b

o

ca, Em espírito de humildade, como um c

á

lice De penitência em que a minh’alma se faz b

o

a... Foi assim que Teresa de Jesus am

o

u... Molha em teu pranto de aurora as minhas mãos p

á

lidas. O espasmo é como um êxtase religi

o

so... E o teu amor tem o sabor das tuas l

á

grimas... Manuel Bandeira, in

Carnaval Pobres

palavras

quando as que rimam pertencem à classe gramatical. mesma

CAIS MATUTINO

Cordames e redes dormindo no

fundo

;  substantivo À popa estendidas, as velas molhadas; Foi noite de chuva nos mares do

mundo

.  substantivo

Ricas

palavras

pertencem quando que a gramaticais diferentes.

Alternadas ou cruzadas –

quando as rimas se apresentam sistema ABAB.

Paralelas

sob

emparelhadas –

as rimam classes o ou quando as rimas se apresentam sob o sistema AABB.

Sobre um mar de rosas que

arde

 verbo Em ondas fulvas,

distante

 advérbio Erram meus olhos,

diamante

 substantivo Com as naus dentro da

tarde

.  substantivo Pedro Kilkerry Quando o céu

incendeia A

E acende uma estrela no

coração

Quando a lua

passeia B A

E a vida acontece Numa

canção

(...)

B

14 Bis, in

Mesmo de brincadeira A CAROLINA

Querida, ao pé do leito derradeiro Em que descansas dessa longa v

ida

, Aqui venho e virei, pobre quer

ida

, Trazer-te o coração de companheiro.

B B

Ribeiro Couto Machado de Assis

Interpoladas

ou

opostas –

quando as rimas se apresentam sob o sistema A - - A, nos os extremos de uma estrofe.

Espelho, sub-reptício

espelho

, meu professor de disfarce. Quem poderá disfarçar-se sem recorrer ao seu

conselho

?

Externa –

aparece na extremidade do verso.

O demo a viver se exp

onha

, Por mais que a fama a ex

alta

, Numa cidade onde f

alta

Verdade, honra, verg

onha

.

A A

Olavo Bilac

Interna –

aparece no interior do verso.

Donz

ela

b

ela

, que me insp

ira

a l

ira

Um c

anto

s

anto

de fremente amor, Ao b

ardo

o c

ardo

da trem

enda

s

enda

Est

anca

, arr

anca

-lhe a terrível dor. Gregório de Matos Guerra Castro Alves 3

Literatura Brasileira

O B S E R V A Ç Õ E S

:

1.

De modo geral,

versos brancos

são versos que

não apresentam rimas

. Exemplo:

CONVERGÊNCIA

Tudo converge para o ser. É em mim que o mundo existe para mim. Helena Kolody, in

Antologia poética 2.

Ocasionalmente, aparecem nos vestibulares algumas classificações de rimas que já não são mais muito utilizadas na contemporaneidade, como:

Rima rara –

um caso especial de rima rica, quando se dá entre palavras que apresentam pouquíssimas possibilidades de rimas possíveis. Exemplo: leque / peque; pondes / frondes.

Rima preciosa –

também um caso especial de rima rica, a qual se obtém de forma artificial, por meio de palavras combinadas. Exemplo: Brilha uma voz na

noute

... De dentro de Fora

ouvi-a

... Ó Universo, eu

sou-te

... Oh, o horror da

alegria

Deste pavor, do

archote

De apagar, que me

guia

! Fernando Pessoa Ou – vi – ram –

doI

– pi – ran –

gaas

– mar – gens – plá

3. Métrica

É o número determinado de sílabas poéticas (ou métricas) em cada verso. Na contagem das sílabas métricas processo denominado

escansão

– –, observam-se, geralmente, as seguintes normas: A leitura de um verso deve ser caracterizada pelo ritmo. Faz-se a contagem de sílabas até a sílaba tônica da última palavra de cada verso, descartando-se as sílabas que eventualmente aparecerem após ela. Procurar acomodar as sílabas seguindo a entonação. Se necessário, faz-se a

elisão

(ou

sinalefa

), que consistena acomodação de vários sons a uma única sílaba métrica. Os ditongos, em geral, equivalem a apenas uma sílaba métrica. Normalmente, termina em quando vogal e uma a palavra palavra imediatamente posterior se inicia por vogal, unem-se esses fonemas numa só sílaba métrica. Vale o mesmo procedimento para o caso de palavra que se iniciar com a letra ―h‖ (letra que não é pronunciada nesses casos).  C u i d a d o !

Não confundir sílabas gramaticais com sílabas métricas! Os exemplos a seguir procuram elucidar tal diferença:

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, Ou – vi – ram – do – I – pi – ran – ga – as – mar – gens – plá – ci – das

14

sílabas gramaticais

10

sílabas métricas De um povo heroico o brado retumbante. De – um – po – vo – he – roi – co – o – bra – do – re – tum – ban – te

Deum

– po –

vohe

– roi –

coo

– bra – do – re – tum – ban

14

sílabas gramaticais

10

sílabas métricas E o sol da liberdade em raios fúlgidos E – o – sol – da – li – ber – da – de – em – rai – os – fúl – gi – dos

Eo

– sol – da – li – ber – da –

deem

– rai – os – fúl

14

sílabas gramaticais

10

sílabas métricas Brilhou no céu da pátria nesse instante. Bri – lhou – no – céu– da – pá – tria – nesse – ins – tan – te Bri – lhou – no – céu – da – pá – tria – ne –

sseins

– tan

12

sílabas gramaticais

10

sílabas métricas 4

Literatura Brasileira Logo os versos acima possuem

10

sílabas métricas, sendo chamados de versos

decassílabos

. A seguir, vejamos outras métricas:

Pentassílabos

ou

Redondilhas menores

versos com

5

sílabas métricas:

E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o riso não veio não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? Carlos Drummond de Andrade

Heptassílabos

ou

Redondilhas maiores

possuem

7

sílabas métricas:

– OS COLOMBOS

Outros haverão de ter O que houvemos de perder. Outros poderão achar O que, no nosso encontrar, Foi achado, ou não achado, Segundo o destino dado. Mas o que a eles não toca É a Magia que evoca O Longe e faz dele história. E por isso a sua glória É justa auréola dada Por uma luz emprestada. Fernando Pessoa

Eneassílabos –

possuem

9

sílabas métricas: Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? Não descende o cobarde do forte, Pois, choraste, meu filho não és! Possas tu, descendente maldito De uma tribo de nobre guerreiros, Implorando cruéis forasteiros, Seres presa de vis aimorés. Gonçalves Dias

Dodecassílabos

ou

12

sílabas métricas:

Alexandrinos –

possuem Olhai! O sol descamba... A tarde harmoniosa Envolve luminosa a Grécia em frouxo véu, Na estrada ao som da vaga, ao suspirar do vento, De um marco poeirento um velho então se ergueu. Ergueu-se tateando... é cego... o cego anseia... Porém o que tateia aquela augusta mão?... Talvez busca pegar o sol, que lento expira!... Fado cruel... Mentira!... Homero pede pão! Castro Alves

O B S E R V A Ç Ã O :

que De modo geral,

versos livres

são versos

não apresentam uma métrica regular

Exemplo: . Cria o teu ritmo livremente, como a natureza cria as árvores e as ervas rasteiras. Cria o teu ritmo e criarás o mundo. Ronald de Carvalho

4. Ritmo

A musicalidade implícita ou explícita que rege a cadência sonora ou emocional dos versos chama-se ritmo, que talvez seja o elemento estrutural mais importante de um poema, uma vez que ele costuma estar presente até mesmo nas composições poéticas mais modernas, que às vezes chegam a abrir mão de outros elementos, como a rima, métrica e a estrofe O ritmo na poesia tradicional se baseia numa alternância mais ou menos cadenciada de sílabas átonas e tônicas.Na poesia moderna, é necessário captar as intenções e emoções, procurando ler e interpretar o poema. 5

Literatura Brasileira

TESTES

02.01. (UFV – MG) –

Um elemento estrutural usado para caracterizar o verso tradicional é: a) o tema; b) a metáfora; c) o metro; d) a intertextualidade. Texto para a questão

02.02:

........................................................... Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo! Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério?! Cruz e Sousa,

Últimos sonetos 02.02. (FGV – SP) –

Tendo em vista que os versos acima fazem parte de um soneto, é correto afirmar que a linha pontilhada indica a omissão de: a) b) c) d) e) um terceto; dois tercetos; três tercetos; um quarteto; dois quartetos.

02.03. (UFRS) –

O soneto é uma das formas poéticas mais tradicionais e difundidas nas literaturas ocidentais e expressa, quase sempre, conteúdo: a) b) c) d) e) dramático; satírico; lírico; épico; cronístico.

02.04. (FAP – PR) –

Os poemas que seguem são todos metapoemas, isto é, seu foco temático é a própria poesia. Assinale a opção em que o comentário não se refere a nenhum dos poemas:

ARS

A Arte é luz é sina. A Arte aluzcina. Quero Aluzcinarte. Afonso Romano de Sant’Anna

POÉTICA

conciso? com siso prolixo? pro lixo José Paulo Paes

DESAFIO

Minerar palavras grávidas em lavra íngreme. Na safra, perpetrar alguns crimes. Juarez Poletto

RAZÃO DE SER

Escrevo. E pronto. Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso. Escrevo porque amanhece, e as estrelas lá no céu lembram letras no papel, quando o poema me anoitece. A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê. Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê? Paulo Leminski a) b) c) d) e) A poesia é trabalho difícil, pois a escolha das palavras depende de empenho, ainda que elas possam ser ricas de possibilidades; entretanto, a colheita nem sempre é adequada ao esforço, e se produzem maus poemas. Produzir poesia é natural para o poeta, é sua função, seu motivo para existir; portanto, não carece de justificativas, já que é a sua necessidade. A inteligência é o ingrediente do poeta para realizar um bom poema, que precisa da escolha certa das palavras, pois, nele, nada deve ser em excesso, sob pena de ser eliminado. A poesia precisa alcançar a perfeição da forma, a exatidão das rimas e a beleza das imagens; apenas assim se alcança o padrão de grande arte e causa vertigem e prazer ao leitor. Arte clareia e embevece, e ao artista não há escapatória; ele precisa dela e com ela objetiva iluminar o apreciador a ponto de lhe causar o delírio. 6

Literatura Brasileira O poema ―O rio‖, de Manuel Bandeira é referência para as questões

02.05

e

02.06

:

O RIO

Ser como o rio que deflui Silencioso dentro da noite. Não temer as trevas da noite. Se há estrelas no céu, refleti-las. E se os céus se pejam de nuvens, Como o rio as nuvens são água, Refleti-las também sem mágoa Nas profundidades tranquilas. BANDEIRA, Manuel.

Meus poemas preferidos 02.05. (UFPR) –

Sobre o poema, considere as seguintes afirmativas: 1. Tem ao todo duas estrofes e oito versos. 2. Há rima entre o segundo e o terceiro versos de cada estrofe. 3. Com o primeiro verso, o poema estabelece comparação entre o rio e a condição humana. 4. Na segunda estrofe, o poema trata de lamentar a presença das nuvens, incompatíveis com a natureza do rio. 5. ―Estrelas do céu‖ e ―nuvens‖ são elementos diversos que o rio reflete; por comparação, equivalem a situaçõesdiversas vividas pelo ser humano. Assinale a alternativa correta: a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 1, 4 e 5 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 2, 3 e 5 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 2, 3, 4 e 5 são verdadeiras.

02.06. (UFPR) –

Sobre o poema de Manuel Bandeira, assinale a alternativa correta: a) Não se trata-se de um romance, mas de um conto, por ser breve. b) É característico do Romantismo brasileiro, dado que seus versos exploram a paisagem natural. c) É uma narrativa curta em prosa, com forte apelo a imagens naturais e grande poder de síntese. d) Privilegia a subjetividade, ao utilizar imagens da natureza para exprimir-se sobre uma atitude diante da vida. e) Tem apelo nacionalista, por exuberância da natureza brasileira. exaltar a

02.07. (UEPG – PR) –

Texto para a próxima questão:

FAMÍLIA

Três meninos e duas meninas, sendo uma ainda de colo. a cozinheira preta, a copeira mulata, o papagaio, o gato, o cachorro, as galinhas gordas no palmo de horta e a mulher que trata de tudo. A espreguiçadeira, a cama, a gangorra, o cigarro, o trabalho, a reza, a goiabada na sobremesa de domingo, o palito nos dentes contentes, o gramofone rouco toda noite e a mulher que trata de tudo. O agiota, o leiteiro, o turco, O médico uma vez por mês, O bilhete todas as semanas branco! Mas a esperança sempre verde. A mulher que trata de tudo e a felicidade. ANDRADE, Carlos Drummond de.

Alguma poesia,

p.81

Sobre o poema acima, é correto afirmar: 01) Os versos que compõem esse poema são livres, uma vez que não seguem uma mesma métrica. 02) Nesse poema, Carlos Drummond de Andrade não teve intenção de demonstrar seu interesse em retratar coisas do cotidiano,mas tentou quebrar as regras da época sugerindo um novo modelo de família em que "a mulher trata de tudo". 04) 08) 16) Nos versos "o palito nos dentes contentes, / o gramofone rouco toda noite" observa-se a figura de pensamento denominadaprosopopeia, que consiste na atribuição de alguma característica própria dos seres humanos a um ser animado ou inanimado. Pela descrição da família e do que acontece no ambiente em que vive, pode-se afirmar que o texto apresenta uma demonstraçãoda uniformidade e monotonia dos acontecimentos que envolvem a vida familiar. No poema acima, por não haver rima, pode-se afirmar que os versos são brancos. 7

02.08. (FURGS – RS) –

Texto: [...] Senhor Deus dos desgraçados Dizei-me vós, senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus... Ó mar! Por que não apagas Co’a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão? Astros! Noite! Tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!... [...] Esse fragmento do longo poema de Castro Alves, ―Navio Negreiro‖, vem marcado por: a) b) c) d) e) uma linguagem despojada e coloquial; um sentido de credulidade na presença de Deus, que irá salvar os ―desgraçados‖; um metro regular e constante; ser a descrição dos caracteres heroicos dos ―desgraçados‖; total ausência de rimas ricas e pobres.

02.09. (FUVEST – SP) –

Texto: Essa vida por aqui é coisa familiar; mas diga-me retirante, sabe benditos rezar? sabe cantar excelências, defuntos encomendar? sabe tirar ladainhas, sabe mortos enterrar? João Cabral de Melo Neto,

Morte e vida severina

O número de sílabas métricas (ou poéticas) dos versos do excerto é o mesmo do seguinte provérbio: a) A bom entendedor / meia palavra basta. b) Água mole em pedra dura / tanto bate até que fura. c) Quem semeia vento / colhe tempestades. d) Quem dorme com cães / amanhece com pulgas. e) Cabeça de vadio / hospedaria do diabo. INSTRUÇÃO: texto para a questão

02.10

:

TEXTO 1 PARATODOS

O meu pai era paulista Meu avô, pernambucano O meu bisavô, mineiro Meu tataravô, baiano Meu maestro soberano Foi Antonio Brasileiro Literatura Brasileira Foi Antonio Brasileiro Quem soprou esta toada Que cobri de redondilhas Pra seguir minha jornada E com a vista enevoada Ver o inferno e maravilhas (...) O meu pai era paulista Meu avô, pernambucano O meu bisavô, mineiro Meu tataravô, baiano Vou na estrada há muitos anos Sou um artista brasileiro CD

Paratodos

, de Chico Buarque (1993)

TEXTO 2 POEMETO ERÓTICO

Teu corpo claro e perfeito, – Teu corpo de maravilha, Quero possuí-lo no leito Estreito da redondilha... Teu corpo é tudo o que cheira... Rosa... flor de laranjeira... Teu corpo, branco e macio, É como um véu de noivado... Teu corpo é pomo doirado... Rosal queimado do estio, Desfalecido em perfume... Teu corpo é a brasa do lume... Teu corpo é chama e flameja Como à tarde os horizontes... É puro como nas fontes A água clara que serpeja, Quem em antigas se derrama... Volúpia da água e da chama... A todo o momento o vejo... Teu corpo... a única ilha No oceano do meu desejo... Teu corpo é tudo o que brilha, Teu corpo é tudo o que cheira... Rosa, flor de laranjeira... BANDEIRA, Manuel.

Antologia poética

. 12ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, pág. 21 8

Literatura Brasileira

02.10. (UP – PR) –

Qual é a semelhança formal entre os textos 1 e 2 que aparece indicada em versos dos próprios textos? a) A predominância de versos livres. b) A predominância de versos brancos. c) O rigor formal, característico da estética parnasiana à qual se filiaram os dois autores. d) A reiteração injustificada de vocábulos, o que confere pobreza estética a ambos os textos. e) A presença de versos heptassílabos.

02.11. (UNIOESTE – PR) –

Com base no fragmento abaixo, transcrito do poema ―Procura da poesia‖, de Carlos Drummond de Andrade, assinale a alternativa incorreta: Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. [...] O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia. [...] A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto. [...] Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. [...] Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. Espera que cada um se realize e consuma com seu poder de palavra e seu poder de silêncio. [...] Chega mais perto e contempla as palavras... a) O texto apresenta versos livres, ausência de rimas tradicionais e reiterações. b) Constata-se, no texto, preocupação com o fazer poético. c) Observa-se uma acentuada rigidez formal, característica do culto da arte pela arte. d) Os versos do poema acentuam o reconhecimento do poder das palavras. e) A poesia não é a reprodução de fatos históricos e biográficos.

02.12. (UnB – DF) –

Texto:

MÃOS DADAS

Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente. Carlos Drummond de Andrade A obra literária em versos tem ritmo e metro distintos do texto em prosa. Com relação às características do texto literário e tendo por base o poema

Mãos dadas

, julgue os itens a seguir: 0) O poema é composto por duas estrofes assimétricas. 1) Os versos não obedecem a um esquema métrico constante nem a um ritmo regular. 2) As estrofes são constituídas por versos brancos. 3) Há um paralelismo rítmico, com uma gradação semântica, em "o tempo presente, os homens presentes, a vida presente" (v.12-13).

02.13. (UFU – MG) –

Leia o poema, descrito a seguir, de autoria de Vinícius de Moraes:

SONETO DO AMOR COMO UM RIO

Este infinito amor de um ano faz Que é amor do que o tempo e do que tudo Este amor que é real, e que, contudo eu já não cria que existisse mais. Este amor que surgiu insuspeitado E que dentro do drama fez-se em paz este amor que é o túmulo onde jaz Meu corpo para sempre sepultado. Este amor meu é como um rio; um rio Noturno, interminável e tardio A deslizar macio pelo ermo 9

E que em seu curso sideral me leva Iluminado de paixão na treva Para o espaço sem fim de um mar sem termo. As afirmativas abaixo referem-se a conceito de literatura, gêneros literários e periodização literária, tendo em vista o poema de Vinícius de Moraes: I. O soneto em questão não pode ser considerado uma forma fixa de poema em virtude de seus versos possuírem métrica variável. II. Contém este poema uma concepção existencialista de amor no sentido de valorização do tempo presente, metaforizada pela imagem do rio. III. Este soneto não se diferencia dos produzidos na vigência do classicismo moderno nem com estes se assemelha; deve, por isso, ser considerado como paródia de

Amor é um fogo...

, de Camões. IV. É um poema lírico porque nele uma voz central exprime sentimentos através de uma linguagem caracterizada por ritmo (simetria da métrica), sonoridade (rimas) e linguagem metafórica (símile). V. O soneto é predominantemente épico-narrativo pois nele o amor é uma personagem bem delineada, heroico. atuando num espaço-ambiente Escolha a alternativa correta: a) Apenas I e V estão corretas. b) Apenas II e IV estão corretas. c) Apenas III estão corretas. d) Apenas III e IV estão corretas. e) Apenas V está correta.

02.14. (UEM – PR) –

Leia o poema e assinale o que for correto:

CEMITÉRIO PERNAMBUCANO

(Nossa Senhora da Luz) Nesta terra ninguém jaz pois também não jaz um rio noutro rio, nem o mar é cemitério de rios. Nenhum dos mortos daqui vem vestido de caixão. Portanto, eles não se enterram, são derramados no chão. Vêm em redes de varandas abertas ao sol e à chuva. Trazem suas próprias moscas. Literatura Brasileira O chão lhes vai como luva. Mortos ao ar-livre, que eram, hoje à terra-livre estão. São tão da terra que a terra nem sente sua intrusão. João Cabral de Melo Neto.

Melhores poemas

01) Trata-se de um poema construído com versos de sete sílabas, cujo acento tônico predominante recai nas 3.ª e 7.ª sílabas. A rima formada por ―jaz/mar‖ é toante e a formada por ―chuva/luva‖ é soante. 02) Os versos ―Nenhum dos mortos daqui/ vem vestido de caixão‖ indicam que o caixão é comparável a um traje, ou seja, o morto no caixão é como um corpo envolto em roupa. A ausência do caixão remete à extrema pobreza de parte da população pernambucana. 04) Os versos ―Vêm em redes de varandas/ abertas ao sole à chuva‖ revelam a certeza da mudança climática.As palavras ―varandas‖, ―sol‖ e ―chuva‖ remetem a um cenário bucólico e fértil, em que os homens têm esperança de viver. 08) A morte é condição que permite aos homens da terra pernambucana a entrada no paraíso, conforme atesta a expressão ―eles não se enterram, são derramados no chão‖. Os versos comparam o enterro dos mortos à chuva. Assim como a água, que se infiltra na terra e faz brotar a vida, a morte é a condição que permite ao homem o ingresso na felicidade eterna.  16) Na última estrofe, destaca-se a condição mortificante dos vivos, próxima à condição dos mortos. A situação em que vivem, na terra, equivale à situação de quem está enterrado.

02.15. (FUVEST – SP) –

Examine o seguinte texto para responder ao que se pede:

POÉTICA

De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo O este é meu norte. Outros que contem Passo por passo: Eu morro ontem Nasço amanhã Ando onde há espaço — Meu tempo é quando. Vinicius de Moraes,

Antologia poética

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Literatura Brasileira

a)

Do ponto de vista da organização formal dada ao conjunto do poema, o poeta mostra-se vinculado à tradição literária. Essa afirmação tem fundamento? Justifique sua resposta.

b)

Do ponto de vista da mensagem configurada no poema, o poeta expressa sua oposição até mesmo a coordenadas fundamentais da experiência. Você concorda afirmação? Justifique sua resposta. com essa

GABARITO

01. C 02. E 03. C 04. D 05. D 06. D 07. 29 (01,04,08,16) 08. C 09. B 10. E 11. C 12. C – C – C – C 13. B 14. 19 (01,02,16) 15.

a)

Sim, pois o poema ―Poética‖ é um soneto, forma poética tradicional surgida no fim da Idade Média e que foi bastante utilizada a partir do Renascimento. Agora, este soneto de Vinicius de Moraes é um pouco diferente de outros sonetos mais tradicionais – até mesmo de outros escritos pelo próprio autor –, na medida em que possui uma disposição rímica diferente e versos de curta extensão (5 e 4 sílabas métricas).

b)

Sim, uma vez que o eu lírico contraria as ―coordenadas fundamentais da experiência‖, num interessante jogo de oposições que extravasam o senso comum de percepção das coisas. 11