Aula 3 Filosofia (2)
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Filosofia da Educação
A RAZÃO, A VERDADE E O
CONHECIMENTO
Não há nada no mundo que esteja melhor
repartido do que a razão: toda a gente está
convencida de que a tem de sobra.
Prof. Ivan Claudio Guedes
[email protected]
René Descartes
Filósofo, físico e matemático francês.
A Razão
A Razão
• A Filosofia se realiza como conhecimento racional da
realidade natural e cultural, das coisas e dos seres
humanos.
• “Ele não tem razão”, para significar que nos sentimos
seguros de alguma coisa ou que sabemos com
certeza alguma coisa.Num momento de fúria ou de
desespero, “alguém perde a razão”, como se a razão
fosse alguma coisa que se pode ter ou não ter,
possuir e perder, ou recuperar, como na frase: “Agora
ela está lúcida, recuperou a razão”.
A Razão
• A Filosofia afirma que somos seres racionais e
que nossa vontade é racional; por identificar
razão e causa e por julgar que a realidade
opera de acordo com relações
causais, a Filosofia afirma que
a realidade é racional.
Nessa frase, as
palavras razões e
razão não têm o
mesmo significado,
indicando coisas
diversas.
Razões são os motivos do coração, enquanto razão é
algo diferente de coração; este é o nome que damos
para as emoções e paixões, enquanto “razão” é o
nome que damos à consciência intelectual e moral.
A consciência é a razão. Coração e razão,
paixão e consciência intelectual ou moral são
diferentes.
Se alguém “perde a razão” é porque está sendo
arrastado pelas “razões do coração”.
Se alguém “recupera a razão ” é porque o
conhecimento intelectual e a consciência moral
se tornaram mais fortes do que as paixões.
A razão, enquanto consciência moral, é a vontade
racional livre que não se deixa dominar pelos
impulsos passionais, mas realiza as ações morais
como atos de virtude e de dever, ditados pela
inteligência ou pelo intelecto.
Para muitos filósofos, porém, a razão não é
apenas a capacidade moral e intelectual dos seres
humanos, mas também uma propriedade ou qualidade
primordial das próprias coisas, existindo na própria
realidade.
Para esses filósofos, nossa
razão pode conhecer a
realidade (Natureza,
sociedade, História)
porque ela é racional
em si mesma.
Razão objetiva
A realidade é racional em si mesma. É a afirmação de
que o objeto do conhecimento ou a realidade é
racional; a razão subjetiva é a afirmação de que o
sujeito do conhecimento e da ação é racional.
Razão subjetiva
A razão é uma capacidade intelectual e moral dos seres
humanos.
Para muitos filósofos, a Filosofia é o momento do
encontro, do acordo e da harmonia entre as duas
razões ou racionalidades.
Origem da palavra razão
A palavra latina ratio e a palavra grega logos.
Logos vem do verbo legein, que quer dizer: contar, reunir, juntar,
calcular.
Ratio vem do verbo reor, que quer dizer: contar, reunir, medir, juntar,
separar, calcular.
Que fazemos quando medimos, juntamos, separamos, contamos e
calculamos? Pensamos de modo ordenado.
Por isso, logos, ratio ou razão significam pensar e falar
ordenadamente, com medida e proporção, com clareza e de modo
compreensível para outros. Assim, na origem, razão é a
capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e
claramente, para pensar e dizer as coisas tais como são. A razão é
uma maneira de organizar a realidade pela qual esta se torna
compreensível.
Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra
razão fez com que ela fosse considerada oposta a
quatro outras atitudes mentais:
Ao conhecimento ilusório;
Às emoções, aos sentimentos, às paixões;
À crença religiosa;
Ao êxtase místico.
Os princípios racionais
• Princípio da identidade, é a condição do pensamento e sem ele não
podemos pensar.
• Princípio da não-contradição, afirma que uma coisa ou uma idéia
que se negam a si mesmas se autodestroem, desaparecem, deixam
de existir.
• Princípio do terceiro-excluído, define a decisão de um dilema - “ou
isto ou aquilo” - e exige que apenas uma das alternativas seja
verdadeira.
• Princípio da razão suficiente, afirma que tudo o que existe e tudo o
queacontece tem uma razão (causa ou motivo) para existir ou para
acontecer, e que tal razão (causa ou motivo) pode ser conhecida
pela nossa razão.
• princípio da indeterminação. é válido para os fenômenos em escala
hipermicroscópica.
A razão: inata ou adquirida?
• Inatismo e empirismo
A razão pretende, através de seus princípios, seus
procedimentos e suas idéias, alcançar a realidade em
seus aspectos universais e necessários.
RESUMINDO…
• Do lado do inatismo, o problema pode ser formulado da
seguinte maneira: como são inatos, as idéias e os princípios
da razão são verdades intemporais que nenhuma
experiência nova poderá modificar.
• Do lado do empirismo, o problema pode ser formulado da
seguinte maneira: a racionalidade ocidental só foi possível
porque a Filosofia e as ciências demonstraram que a razão
é capaz de alcançar a universalidade e a necessidade que
governam a própria realidade, isto é, as leis racionais que
governam a Natureza, a sociedade, a moral, a política.
Ceticismo
A verdade
Ignorância e verdade
• A verdade como um valor
• Afirmar que a verdade é um valor significa: o
verdadeiro confere às coisas, aos seres
humanos, ao mundo um sentido que não
teriam se fossem considerados indiferentes à
verdade e à falsidade.
“Não se aprende Filosofia, mas a filosofar”
Kant
Ignorância, incerteza e insegurança
• Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode
ser tão profunda que sequer a percebemos ou a
sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos, não
sabemos que ignoramos.
• Na incerteza, descobrimos que somos ignorantes,
que nossas crenças e opiniões parecem não dar
conta da realidade, que há falhas naquilo em que
acreditamos e que, durante muito tempo, nos serviu
como referência para pensar e agir.
Busca da verdade
• O desejo da verdade aparece muito cedo nos
seres humanos como desejo de confiar nas
coisas e nas pessoas, isto é, de acreditar que
as coisas são exatamente tais como as
percebemos e o que as pessoas nos dizem é
digno de confiança e crédito.
• Quando uma criança ouve uma história, inventa
uma brincadeira ou um brinquedo, quando joga, vê
um filme ou uma peça teatral, está sempre atenta
para saber se “é de verdade ou de mentira”, está
sempre atenta para a diferença entre o “de
mentira” e a mentira propriamente dita, isto é, para
a diferença entre brincar, jogar, fingir e faltar à
confiança.
• Por isso mesmo, a criança é muito sensível à
mentira dos adultos, pois a mentira é diferente do
“de mentira”, isto é, a mentira é diferente da
imaginação e a criança se sente ferida, magoada,
angustiada quando o adulto lhe diz uma mentira,
porque, ao fazê-lo, quebra a relação de confiança e
a segurança infantis.
Dificuldades para a busca da verdade
• Todo mundo acredita que está recebendo, de modos
variados e diferentes, informações científicas,
filosóficas, políticas, artísticas e que tais informações
são verdadeiras, sobretudo
porque tal quantidade
informativa ultrapassa a
experiência vivida pelas
pessoas, que, por isso,
não têm meios para avaliar
o que recebem.
• A propaganda trata todas as pessoas – crianças,
jovens, adultos, idosos – como crianças
extremamente ingênuas e crédulas. O mundo é
sempre um mundo “de faz-de-conta”: nele a
margarina fresca faz a família bonita, alegre, unida e
feliz.
• Uma outra dificuldade para o desejo da busca da verdade
vem da atitude dos políticos nos quais as pessoas confiam,
ouvindo seus programas, suas propostas, seus projetos
enfim, dando-lhes o voto e vendo-se, depois, ludibriadas,
não só porque não são cumpridas as promessas, mas
também porque há corrupção, mau uso do dinheiro
público, crescimento das desigualdades e das injustiças, da
miséria e da violência.
Tipos de busca da verdade
• 1º
• nasce da decepção, da incerteza e da insegurança e,
por si mesmo, exige que saiamos de tal situação
readquirindo certezas.
• 2º Na atitude filosófica
• nasce da deliberação ou decisão de não aceitar as
certezas e crenças estabelecidas, de ir além delas e
de encontrar explicações, interpretações e
significados para a realidade que nos cerca.
Há uma única verdade indubitável que poderá ser aceita e
que deverá ser o ponto de partida para a reconstrução do
edifício do saber. Essa única verdade é:
“Penso, logo existo”
Se eu duvidar de que estou pensando, ainda estou
pensando, visto que duvidar é uma maneira de pensar.
Buscando a verdade
• Dogmatismo é uma atitude muito natural e muito
espontânea que temos, desde muito crianças. É
nossa crença de que o mundo existe e que é
exatamente tal como o percebemos.
Indagação de santo Agostinho, em
suas confissões:
• “O que é o tempo? Tentemos fornecer uma
explicação fácil e breve. O que há de mais
familiar e mais conhecido do que o tempo?
Mas, o que é o tempo?”
“Lira Paulistana”
Garoa do meu São Paulo
Um negro vem vindo, é branco!
Só bem perto fica negro,
Passa e torna a ficar branco.
Meu São Paulo da garoa,
- Londres das neblinas frias Um pobre vem vindo, é rico!
Só bem perto fica pobre,
Passa e torna a ficar rico.
Mário de Andrade
• Esses versos, nos quais a garoa de São Paulo se parece com
a neblina de Londres, isto é, com um véu denso de ar
úmido, dizem que não conseguimos ver a realidade: o
negro, de longe, é branco, sem o véu da garoa, o negro é
negro e o pobre é pobre.
• Mas, apesar de vê-los de perto tais como são, de longe
voltam a ser o que não são.
• O poeta exprime um dos problemas que mais fascinam a
Filosofia: Como a ilusão é possível? Como podemos ver o
que não é? Mas, conseqüentemente, como a verdade é
possível? Como podemos ver o que é, tal como é? Qual é a
“garoa” que se interpõe entre o nosso pensamento e a
realidade? Qual é a “garoa” que se interpõe entre nosso
olhar e as coisas?
A atitude dogmática ou natural se rompe
quando somos capazes de uma atitude de
estranhamento diante das coisas que nos
pareciam familiares.
“Custei um pouco a compreender o que estava vendo, de tão
inesperado e sutil que era: estava vendo um inseto pousado,
verde-claro, de pernas altas. Era uma ‘esperança’...” Clarice
Lispector
O sentido das palavras
A mesma estranheza pode ser encontrada num poema de
Carlos Drummond:
“Penetra surdamente no reino das palavras.…
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?”
Se as palavras tivessem sempre um sentido óbvio e único, não
haveria literatura, não haveria mal-entendido e controvérsia. Se as
palavras tivessem sempre o mesmo sentido e se indicassem
diretamente as coisas nomeadas, como seria possível a mentira?
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor,
A dor que deveras sente.”
Fernando Pessoa
As três concepções da verdade
• Perceber
• Dizer
• Crer
As concepções da verdade
• GREGO: verdade se diz aletheia, significando:
não-oculto, não-escondido, nãodissimulado.
• LATIM: verdade se diz veritas e se refere à
precisão, ao rigor e à exatidão de um relato,
no qual se diz com detalhes, pormenores e
fidelidade o que aconteceu.
• HEBRAICO: verdade se diz emunah e significa
confiança. Agora são as pessoas e é Deus
quem são verdadeiros.
O consenso se estabelece baseado em três
princípios que serão respeitados por todos:
1. Que somos seres racionais e nosso pensamento
obedece aos quatro princípios da razão (identidade,
não-contradição, terceiro-excluído e razão suficiente
ou causalidade);
2. Que somos seres dotados de linguagem e que ela
funciona segundo regras lógicas convencionadas e
aceitas por uma comunidade;
3. Que os resultados de uma investigação devem ser
submetidos à discussão e avaliação pelos membros
da comunidade de investigadores que lhe atribuirão
ou não o valor de verdade.
Teoria pragmática
Na qual um conhecimento é verdadeiro por seus
resultados e suas aplicações práticas, sendo verificado
pela experimentação e pela experiência. A marca do
verdadeiro é a verificabilidade dos resultados.
• É preciso começar liberando nossa consciência dos
preconceitos, dos dogmatismos da opinião e da
experiência cotidiana. Essa consciência purificada,
que é o sujeito do conhecimento, poderá, então,
alcançar as evidências (por intuição, dedução ou
indução) e formular juízos verdadeiros aos quais a
vontade deverá submeter-se.
Tanto os antigos quanto os modernos
afirmam que:
1. a verdade é conhecida por evidência (a evidência pode ser
obtida por intuição, dedução ou indução);
2. a verdade se exprime no juízo, onde a idéia está em
conformidade com o ser das coisas ou com os fatos;
3. o erro, o falso e a mentira se alojam no juízo (quando
afirmamos de uma coisa algo que não pertence à sua
essência ou natureza, ou quando lhe negamos algo que
pertence necessariamente à sua essência ou natureza);
4. as causas do erro e do falso são as opiniões preconcebidas,
os hábitos, os enganos da percepção e da memória;
5. a causa do falso e da mentira, para os modernos, também
se encontra na vontade, que é mais poderosa do que o
intelecto ou o pensamento, e precisa ser controlada por
ele;
6. uma verdade, por referir-se à essência das coisas ou dos
seres, é sempre universal e necessária e distingue-se da
aparência, pois esta é sempre particular, individual, instável
e mutável;
7. o pensamento se submete a uma única autoridade: a dele
própria com capacidade para o verdadeiro.
Com a revolução copernicana kantiana, uma distinção muito
importante passou a ser feita na Filosofia: a distinção entre juízos
analíticos e juízos sintéticos.
• Um juízo é analítico quando o predicado ou os
predicados do enunciado nada mais são do que a
explicitação do conteúdo do sujeito do enunciado. Por
exemplo: quando digo que o triângulo é uma figura de
três lados, o predicado “três lados” nada mais é do que a
análise ou a explicitação do sujeito “triângulo”.
• Juízos sintéticos cuja síntese depende da estrutura
universal e necessária de nossa razão e não da
variabilidade individual de nossas experiências.