SOCIOLOGIA DO LAZER E DO TURISMO

Download Report

Transcript SOCIOLOGIA DO LAZER E DO TURISMO

JOST KRIPPENDORF –
RESUMO E ANÁLISE


RESUMO DO LIVRO “Sociologia do Lazer e do
Turismo – para uma nova compreensão do
lazer e das viagens” (KRIPPENDORF, Jost).
Um especialista em comportamento poderia
considerar que se as condições de viagens
massificadas em alta temporada fossem
impostas aos trabalhadores durante as horas de
obrigação profissional, os sindicatos
interviriam, e com razão.






A mobilidade, as férias, as viagens são conquistas
sociais.
Contudo, a alegria que deveriam proporcionar não
chega.
Isto porque a medalha tem um reverso.
Por aquilo que conquistamos, somos obrigados a
pagar, a dar algo em troca.
Assim, as consequências dessa nova liberdade de
ir e vir, tão duramente conquistada, ameaçam
sufocar-nos.
Afinal, este fenômeno contemporâneos traz ganhos
ou prejuízos?




O ser humano não nasceu turista, mas com a
curiosidade e um sentimento um tanto nostálgico
quanto aos destinos longínquos que gostaria de
conhecer.
A dinâmica de tais atributos determinou refinadas
viagens da aristocracia até o fim do século XIX.
Porém, o que impulsiona milhões de pessoas hoje
em dia para longe de suas casas não é mais o
desejo inato de viajar.
Viajar deixou de ser nos últimos 100 anos, em
muitos casos, o desejo de fazer descobertas e
realmente aprender alguma coisa.



As pessoas viajam porque não se sentem mais à
vontade onde se encontram no cotidiano, seja
no local de trabalho, seja onde moram.
Sentem a necessidade urgente de se desfazer
temporariamente da rotina trabalho-moradialazer, a fim de estar em condições de retomá-la
quando regressarem.
Vale lembrar que o trabalho é cada vez mais
mecanizado, compartimentalizado e
determinado fora da esfera de sua vontade.


A fria racionalidade das obrigações sociais
levam ao empobrecimento das relações
humanas, a repressão de sentimentos, a
degradação do ambiente com a literal perda da
“naturalidade”.
Tais condições geram o estresse, o esgotamento
físico e psíquico, o vazio interior e o tédio.



Para encontrarmos uma compensação para
tudo o que nos falta no cotidiano, viajamos.
Desejamos liberar-nos da dependência social,
desligar-nos e refazer as energias, desfrutar da
independência e da livre disposição do próprio
ser.
Viajamos para viver, para sobreviver.

Além de tais motivações (fins), os meios para
alcançar a condição de viajante são fornecidos pelo
próprio sistema.





Dinheiro
Tempo
Mecanismos físicos de acesso (infraestrutura e
equipamentos de transporte)
Mecanismos psíquicos de acesso (informação – através de
agências, contatos sociais, propagandas dos
empreendimentos e destinações)
Indústria do Lazer: sistema que se apoderou de nosso
tempo livre e oferece-nos não apenas satisfações, como
também cria, se necessário, as expectativas e desejos
correspondentes.



Todo esse sistema em modelo industrial de
contraponto ao trabalho e as obrigações se
organiza em uma espécie de CICLO DE
RECONSTITUIÇÃO.
Durante a escapada, consumimos o clima, a
natureza e a paisagem, a cultura e os seres
humanos das regiões visitadas, que
transmutamos em “espaços terapêuticos”.
A seguir, voltamos para casa, mais ou menos
em forma, para suportar o cotidiano durante
um certo tempo – até a próxima viagem.




O desejo de viajar novamente vai voltar logo,
pois alguns dias não são suficientes.
O corpo transborda de anseios e desejos.
É dessa repetição permanente de necessidades
insaciadas e insaciáveis que o ciclo tira sua
dinâmica própria.
Trabalhamos sobretudo para poder sair de
férias e temos necessidade de férias para poder
retomar o trabalho.



Se não existisse o turismo, seria necessário
construir clínicas e sanatórios, para que o corpo
humano se recuperasse do desgaste gerado
pelo cotidiano enfadonho.
O turismo funciona, assim, como terapia da
sociedade, como válvula que faz manter o
funcionamento do mundo todos os dias.
É um remédio, uma droga, que vicia, gera
efeitos colaterais, ajuda a manter o corpo e a
mente, alucina e até mata.

O turismo gera, portanto, um efeito
estabilizador para:
Indivíduo
 Sociedade
 Sistema (estrutura política, econômica e sociocultural
vigente)





É interessante notar que quando o ser humano
consegue mudar de ambiente e desligar-se do
anterior, desenvolve, após experimentar a
fugacidade do turismo, a necessidade de voltar á
estabilidade benéfica do seu dia-a-dia.
Ele viaja para perceber que as coisas não são tão
ruins assim em casa, e que talvez sejam até
melhores do que qualquer outro lugar.
Ele viaja para voltar, com saudades do lar e do
cotidiano enfadonho.
Só aventuras, novidades, sonhos e “felicidade”,
cansam.


Contudo, um número crescente de pessoas
começa a se dar conta de que o sistema atual é
inadequado.
Isto se reproduz na esfera do lazer e do
turismo, mercantilizados e descaracterizados,
trazendo mais prejuízos que benefícios.



A preocupação com o meio ambiente, por
exemplo, é crescente.
Não se restringe somente a ambientalistas.
Hoje muitos são contrários a intervenções
paisagísticas drásticas, como grandes hoteis em
uma praia deserta ou ao incremento
rodoviário, que pode descaracterizar uma
localidade, aumento exponencialmente seu
fluxo.




Os habitantes das regiões visitadas começam a
sentir, também, um certo rancor em relação aos
efeitos negativos do êxodo das massas turísticas.
Elas se sentem muitas vezes invadidas e, ao
mesmo tempo, excluídas.
Desejam não depender somente do turismo, ou, ao
menos, participar da gestão de seu
desenvolvimento.
Divulgam e tratam bem o turista por necessidade
(dependência) financeira. Mas, no fundo, gostaria
de se livrar deles.




O sistema econômico, que se baseia na rotação
entre produção/consumo desenvolveu, há
algum tempo, uma dinâmica muito perigosa.
Não se trata de cobrir as necessidades humanas
que realmente se fazem sentir. Elas já estão
satisfeitas em sua maior parte.
Também não se trata de criar novos valores.
A economia distanciou-se do ser humano,
colocou-se acima deste e, de uma certa forma,
apoderou-se de sua liberdade.




Economia simboliza administração de recursos
escassos.
Em uma sociedade pautada no consumo crescente
de novas necessidades, as distorções são
inevitáveis.
Tais assimetrias se expressam no universo do lazer
e das viagens.
Como exemplo, pode-se considerar que na maioria
das destinações turísticas existe um mercado de
construção civil que obedece leis próprias e que se
dissocia, muitas vezes, do próprio turismo.




O turismo de lazer constitui uma das formas de
ocupação do tempo e do espaço mais marcantes e
de impactos menos controláveis.
Para descobrir a natureza do turista, por exemplo,
é necessário tentar compreender como se conectam
os elementos do fenômeno turístico (ambientais,
temporais, econômicos, legais, estruturais,
socioculturais, mercadológicos, humanos).
Precisamos saber quais são suas causas e efeitos, os
desejos e as realidades.
É necessário compreender, antes de mais nada, o
mecanismo de seu funcionamento, antes de
determinar os meios de controlá-lo, modificá-lo e
aperfeiçoá-lo.




O HOMEM À PROCURA DO EQUILÍBRIO
Encontrar o próprio equilíbrio entre as
necessidades é dominar a vida, viver liberado das
tensões e das inquietações – uma estado que
poderíamos chamar de felicidade.
Todavia, se um dos polos é mais forte que o outro,
surge um sentimento de insatisfação, de carência
ou saturação, seguido do imperioso desejo de
reagir, ainda que, muitas vezes, sem se saber como.
Neste caso, a saída mais adequada é buscar um
equilíbrio de atividades, em que o corpo e a alma
buscam a harmonia entre estímulo e repouso.




Naturalmente, este ponto varia de um indivíduo
para o outro, sendo alguns mais calmos e passivos
e outros mais afeitos a ação e ao estímulo.
De um lado, o homem está sujeito aos estímulos
sob a forma da “corrida contra o relógio”, do
barulho e do estresse.
Por outro, tantas coisas são monótonas, sem
atrativos e iguais: a moradia, os arredores, o trajeto
para o local de trabalho, o trabalho em si e até
mesmo o lazer diário.
O PROFISSIONAL DE LAZER E TURISMO QUE
SOUBER COLABORAR COM A DOSAGEM
ESTÍMULO-REPOUSO DE MODO CRIATIVO E
MOTIVANTE TERÁ SUCESSO.



O recuo para dentro de si, o empobrecimento
dos contatos humanos e o sedentarismo
(mental e físico) são outras questões-chave.
Não é surpreendente que, na linguagem
comum, a noção de cotidiano só tenha
conotações negativas.
Contudo, algo gera mais incômodo: existem em
nossas vidas dias mais comuns do que
domingos e feriados?




A possibilidade de sair, e principalmente, de
viajar, reveste-se de importância.
Afinal, o cotidiano só será suportável se pudermos
escapar do mesmo.
Quando chega o final de semana ou as férias,
alegramo-nos de antemão, traçamos planos e
fazemos preparativos.
Desejamos aproveitar o precioso tempo livre para
satisfazer nossos desejos que foram reprimidos no
cotidiano.




A grande questão é: essas necessidades, via de
regra, só podem ser satisfeitas “fora” e não
“dentro”.
A exceção seria dos privilegiados que exercem
uma atividade genuinamente agradável, criativa e
variada.
Além disso, aqueles que determinam eles próprios
as tarefas do dia e o ritmo de trabalho, que são
livres, a quem nada falta e cuja moradia é tão
agradável que poderiam passar as férias no jardim.
Para estes raros sortudos, todos os dias são, de
certa forma, férias.




Este benefício, porém, são reservados ao pequeno
número de aristocratas do trabalho: escritores,
pintores, músicos, professores e poucos outros que
souberam se organizar.
Em compensação, todos aqueles que são escravos do
trabalho e que fazem parte da sociedade industrial
necessitam de consolo “externo”.
Para eles, o repouso e as férias são sinônimos de sair,
viajar.
Nossa sociedade projeta para fora as necessidades de
repouso. Por isso, torna evidente a polarização
“trabalhar e morar aqui X descansar além”.


As cidades não se preocupam de fato com o
lazer, tampouco com as necessidades de
relaxamento de seus habitantes.
Quando o fazem, manifestam-se de modo
estéril, adequando-se a aspectos consumistas,
de ritmo controlado e frenético de vida e a
perspectiva ilusória de “salvação da lavoura”,
alimentada pelas mídias e pelas empresas do
setor.





Veja a cruel lógica urbano-espacial: há uma
pressão crescente para implantação de lugares
de trabalho – mais valorizados, nos centros.
Os preços dos terrenos aumentam.
O espaço habitável se reduz.
As cidades transbordam e invadem o campo.
As vias de comunicação entre cidade e campo
se desenvolvem.

Os esforços desesperados para salvar alguns
espaços verdes e implantar algumas instalações
de lazer não alteram a situação: as condições de
moradia e a qualidade de vida nos
conglomerados urbanos se degradam a olhos
vistos, com o agravante que a prioridade, quase
sempre, é das zonas centrais.


O que impele um indivíduo a viajar, a procurar lá
fora (da casa, no espaço periférico e carente
urbano; e do trabalho, no espaço central e caótico
urbano) o que obviamente não encontra dentro
(equilíbrio, paz de espírito, felicidade, prazer,
liberdade) não é tanto um resultado de um
impulso pessoal.
Trata-se mais da influência do meio social, que
fornece a cada um suas normais existenciais, como
o princípio dos deslocamentos e processos
temporais da urbanidade (pós)industrial.





Em outras palavras, a decisão pessoal é, de certa forma,
condicionada pela sociedade.
Para o homem em constante estado de carência, a nossa
sociedade oferece o turismo, como “antídoto à infelicidade”.
A necessidade de relaxamento é reconhecida e orientada
para o turismo e transformada em viagem.
No entanto, esta necessidade poderia, se fossem criadas
melhores condições, ser muitas vezes saciadas em casa.
Como a prioridade política, econômica e social não é
oferecer às massas condições de moradia e trabalho
prazerosas, explica-se como o turismo tornou-se uma norma
social, consolidando-se como um dos fenômenos
comportamentais mais relevantes da sociedade
contemporânea.





Não se diz: “O que você faz nas férias?”, mas
“Aonde você vai nas férias?”.
Ficar em casa durante todo o tempo liberado das
obrigações pode parecer algo de difícil justificativa,
sem que haja perda do prestígio social.
O choque do lazer extra-doméstico anestesia e
paralisa a intensa animação das cidades.
Não haveria, portanto, uma coerção social de fazer
o que todos fazem?
E o que será daqueles que são obrigados a ficar,
“de castigo”, em casa?


A situação não poderia ser mais favorável aos
vendedores de férias e aos promotores de
turismo: os fatores sociais já evocados criaram,
de antemão, um clima propício às viagens.
A necessidade de relaxamento é comercializada
e transformada em viagens de todas as
espécies, de acordo com as regras de arte do
marketing.



Em muitos aspectos, as técnicas de venda de
viagens são as mesmas que para um aspirador de
pó, automóveis ou outros bens de consumo.
No entanto, dado o fato de que as operadoras e
agências de viagens tiram partido do sentimento
nostálgico e do sonhos das pessoas, tratam de
comercializar paisagens, os seres, as experiências e
as culturas.
Com isso, percebe-se o tamanho da
responsabilidade deste profissional.



Esta consciência, contudo, praticamente inexiste,
até porque os profissionais visam atender os
interesses comerciais da empresa na qual estão
vinculadas.
Isto significa que não interessa o real motivo da
viagem, mas que a mesma seja simplesmente
realizada e, para tal, é necessário descobrir como
“fisgar o peixe turista”.
Segue no próximo slide recomendações
psicológicas de promoção em cartazes turísticos:




O importante é dar a impressão de um ambiente de férias, isto é, de
um antípoda do cotidiano que reflita, de um lado, descontração,
bem-estar, alegria, liberdade, prazer e, de outro, repouso, espaço.
Deve-se dar a impressão de imobilidade do tempo, relaxamento,
assim como um certo romantismo, uma experiência especial.
Algo que não pode se ter na vida todos os dias e que não lembre a
vida cotidiana (ex. aparência diferenciada – estética, vestuário –
dos que usufruirão do local).
As pessoas locais devem obedecer os padrões de beleza
convencionais da comunidade emissora, tomando o cuidado para
serem um pouco diferentes, especiais e, ao mesmo tempo, sem
causar muita estranheza, a ponto de serem alvos de preconceitos ou
inseguranças no contato com os turistas.

Os clichês são os mesmos, como há várias décadas:













Oceano de um azul profundo;
Areia branca;
Pôr-do-sol;
Palmeiras e Coqueiros;
Belos turistas bronzeados e felizes;
Aldeias pitorescas nas montanhas;
Piscina reluzente;
Neves eternas;
Paisagens intactas;
Pistas de esqui;
Buffets ricamente guarnecidos;
Famílias unidades e radiantes;
Vida noturna com luzes, cores e diversão.



Ao se perguntar às pessoas a razão da realização
de uma viagem, é traçado um perfil psicológico do
turista.
Não há nada surpreendente na constatação de que
as razões predominantes são aquelas que a
publicidade geral e turística enseja.
Entretanto, diferentes motivações permanecem no
domínio do inconsciente e do subconsciente e não
podem vir à tona por perguntas assim tão simples.


Em uma pesquisa feita na Alemanha no ano de
1985 se questionou o motivo da pessoa ter
realizado uma viagem durante o período de férias.
Os principais resultados são:






Desligar, relaxar
Para fugir da vida diária, mudar de ambiente
Recuperar as forças
Estar em contato com a natureza
Ter tempo para o outro
Comer bem

Em seguida, com menos citações vieram:
Descansar, não fazer nada, não fazer esforços
 Ir de encontro ao sol e fugir do mau tempo
 Estar com outras pessoas, ter companhia
 Fazer o que quiser, ser livre
 Ar puro, água limpa, sair da poluição
 Distrair-me, brincar, me divertir
 Conhecer novos lugares e obter novas impressões
 Ver outros países, ver o mundo


Outros itens citados em menor proporção
foram:
Para ter a chance de me mexer através de atividades
físicas fáceis e divertidas
 Para ser tratado com deferência, para me dar prazer
 Para cuidar da saúde, prevenir doenças
 Para cuidar da beleza, bronzear-me
 Para alargar os horizontes, cultivar a própria
educação e o saber
 Rever parentes, conhecidos, amigos


Por fim, foram lembradas ainda as seguintes
experiências:
Reavivar as lembranças
 Dedicar-me aos meus interesses
 Pegar a estrada
 Fazer uma introspecção, ter tempo para refletir
 Para partir em busca de aventuras, assumir riscos,
fazer face ao insólito


A interpretação de Krippendorf indica como
principais motivações sociológicas às viagens:









Viajar é descansar, refazer-se;
Viajar é compensar privações a integrar-se socialmente
Viajar é fugir
Viajar é comunicar-se
Viajar é alargar o próprio horizonte
Viajar é ser livre e independente
Viajar é partir para a descoberta de si mesmo
Viajar é ser feliz
Viajar é…




Para se sentir em férias, basta, à maioria das
pessoas, não precisar trabalhar nem estar em
casa.
O ambiente estranho tem a função de uma
decoração exótica.
No entanto, parece por demais “estrangeiro”,
diferente do comum, e acaba se tornando
desconfortável e talvez até ameaçador.
De certa forma, não desejamos abandonar
nossos queridos hábitos, pois eles nos
confortam.


Muitos turistas querem a mesma alimentação,
bebidas, idioma, jogos e conforto de casa.
As Agências de Viagens propagandeiam:



Desfrute das satisfações do padrão internacional de
nossos serviços
Nós lhe damos o sentimento de estar em casa.
EM SUMA, FUGINDO-SE DO COTIDIANO PELO
ANTICOTIDIANO, A PESSOA, FATALMENTE, SE
DESCOBRE NO COTIDIANO.




Além disso, a motivação egocêntrica do turista
determina outro aspecto característico de seu
comportamento.
Neste, a viagem tende a se tornar um
fenômeno agressivo, abusivo e colonialista.
Longe de casa, o turista se despe de certas
normas.
Pouco importa o que os outros vão pensar. Ele
pagou, não é verdade?



Longe de casa, alguns viajantes se julgam como
pessoas especiais e agem assim.
É o reino do “Vamos aproveitar pois amanhã
iremos embora.”
Pensando em uma escala de massa, a
consequência deste comportamento
inconsequente e egoísta pode ser catastrófico à
destinação, seus habitantes e a própria
dinâmica da viagem.



Outra característica típica de seu
comportamento é a procura da confirmação da
ideia que ele formou sobre as férias.
Trata-se, antes de mais nada, de imagens e
sonhos pré-fabricados pela publicidade, geral e
turística.
Eles estão presentes em nossas mentes durante
a viagem e desejamos que tais promessas sejam
cumpridas, mesmo que, em geral, representam
meramente clichês e não reflitam nem parte, ou
nada, da realidade.


A indústria do turismo cria e satisfaz,
simultaneamente, a necessidade de viver
experiências familiares inofensivas e
agradáveis em um ambiente estranho.
A localidade diferenciada reduz-se ao pitoresco
(do inglês “picture”). Literalmente torna-se
uma fatia “fotografável” da destinação, não
necessariamente a mais autêntica.



Neste sentido, o turismo em guetos formam
reservas artificiais, construídas sob medida.
Esta categoria compreende os novos complexos
hoteleiros, parques e loteamentos de férias.
Estes, em geral, estão alheios ao nível de
desenvolvimento estrutural, econômico e
sociocultural da localidade, constituindo-se, como
dizem alguns geógrafos, em um “não-lugar”.


Tais empreendimentos bastam a si mesmos,
sendo, inclusive, mais famosos que as
localidades em que estão inseridos (ex. Em qual
município fica a Complexo Sauípe de Hotéis e
Entretenimento?).
Não há necessidade de sair, pois lá dentro
existe tudo o que o turista é incentivado a
vivenciar/consumir.



Por outro lado, pode-se pensar que se constitui na
fórmula mais honesta porque leva em
consideração a formatação de sonhos em um
contexto espacial e temporal moldado para tal.
Além disso, talvez seja a forma de turismo que
produza menos efeitos negativos na localidade
visita e sobre a população autóctone.
Simplesmente porque a interação é mínima ou
nula, em alguns casos.


Em comum, tais empreendimentos possuem a
exclusividade, a diversidade de serviços,
equipamentos e experiências ligadas às
expectativas dos visitantes, a segurança e uma
paisagem “emprestada” e paradisíaca.
Eis por que, em diversos locais, instalou-se
uma atitude de rejeição por parte da população
em relação a este tipo de turismo.




O desperdício de recursos, nesses lugares, é
assustador, até mesmo para os mais alienados dos
turistas.
Uma dose de uísque pode custar mais que o salário
de mais da metade da população da comunidade
ribeirinha ao redor do resort.
Mais do que isso, a mão-de-obra é contratada das
capitais e do exterior, por já terem a “capacitação”
e compreenderem o “padrão internacional”.
Os piores cargos vão para os autóctones, que
invariavelmente são discriminados e
menosprezados.




Hoje, muitos gestores públicos das destinações nos
quais tais empreendimentos estão inseridos falam
de gestão participativa.
Porém, as lideranças comunitárias são usadas
como massa de manobra política.
O dinheiro até vem para o município, estado ou
país, através de impostos, mas a contrapartida, em
geral, é ruim.
Inflação, drogas, prostituição são consequências
comuns de uma invasão sem planejamento e com
interesses elitistas, privados e exploratórios, no
pior sentido do termo.