Do trabalho escravo ao trabalho livre
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Transcript Do trabalho escravo ao trabalho livre
ESCRAVIDÃO NO BRASIL
- RESISTÊNCIA E TRABALHO -
ANTECEDENTES DA IMPLANTAÇÃO DA
ESCRAVIDÃO NO BRASIL
África: comércio de escravos entre as sociedades
africanas
Portugal no século XV:
cultivo da cana-de-açúcar e refino do açúcar
desenvolveram-se em Algarves e nas ilhas do
Atlântico
penetração comercial de portugueses no litoral da
África Ocidental: associação entre produção
açucareira e escravidão negra foi se consolidando
Colonização portuguesa: transferência da produção de
açúcar e do trabalho escravo para o Brasil foi uma questão
de tempo
Início da colonização: escravidão indígena
guias, coletores de ervas, lavoura da cana-de-açúcar
algumas dificuldades:
guerras entre nativos e colonos
proteção dos missionários jesuítas aos índios
baixa resistência do indígena às doenças de origem européia
difícil controle das fugas do indígena para os sertões
Opção pela mão-de-obra escrava negra – razões
tráfico negreiro: vantagens econômicas para comerciantes
portugueses e para a Metrópole
Conheciam a agricultura, pecuária, técnicas de trabalho com o
ferro.
ESCRAVIZAÇÃO INDÍGENA CONTINUOU ATÉ O SÉCULO XVIII
ENTRADA DE ESCRAVOS
duração das viagens: 40
a 60 dias
pelo menos 20% dos
negros morriam durante
a viagem
DIVERSIDADE
MARCAS
TRIBAIS
E
CORTES
DE
CABELO
Simbolismos acompanharam
os africanos que vieram
escravizados para o Brasil
RESISTÊNCIA
“ O HOMEM NEGRO NÃO QUERIA A ESCRAVIDÃO. DENTRO DELA,
ENTRETANTO, NÃO SE TORNOU MERO FANTOCHE NAS MÃOS DE
SEUS SENHORES. OS ESCRAVOS PORTAVAM LÓGICAS INDIVIDUAIS,
COLETIVAS E ATIVAS DE RESPOSTAS AO CATIVEIRO.”
RELAÇÕES ESCRAVO-SENHOR
paternalismo / patriarcalismo:
disciplina do trabalho
castigos físicos – garantir a obediência
uso de instrumentos de tortura
injustiças, humilhações, mutilações físicas e problemas
psicológicos
senhor agia como pai que disciplinava,
castigava e protegia os seus escravos. Estes deveriam retribuir com trabalho,
obediência e fidelidade.
NÃO HÁ COMO NEGAR A NATUREZA VIOLENTA DA ESCRAVIDÃO
INSTRUMENTOS DE TORTURA
ACORDOS E CONFLITOS
JOGO DE EQUILÍBRIOS: SENHORES MANIPULAVAM
SEUS ESCRAVOS MAS TAMBÉM ERAM POR ELES
MANIPULADOS
Alforrias: reconstruindo as pequenas
histórias de libertação descobrimos que elas
são cheias de enormes esforços por parte
dos escravos
Acordos acertados entre escravos e
proprietários
ACORDOS E CONFLITOS
JOGO DE EQUILÍBRIOS: SENHORES MANIPULAVAM SEUS ESCRAVOS MAS
TAMBÉM ERAM POR ELES MANIPULADOS
BRECHA CAMPONESA
... costumam alguns senhores de engenho distribuir, para cada
escravo, as jeiras de terras de que ele necessita, com relação ao
seu estado; feriando de cada semana, um até dois dias, para neles
trabalhar cada um na sua roça; donde não só tiram os escravos da
farinha, do milho, e o feijão de que se sustentam, eles, suas
mulheres e seus filhos, nestes dias em que trabalham para si; mas
também, pelos dois, três quatro ou cinco meses em que não moem
os engenhos. E o caso é que, por experiência certa, não somente
tiram os pretos das terras que lavram a farinha precisa para seu
sustento; mas chegam a vender quase todos os gêneros de
lavoura, além de muitas criações; até juntarem as somas com que
se libertam, a si e seus filhos.
FERREIRA, Alexandre. Estado presente da agricultura do Pará, 1784.
TRATADO PROPOSTO À MANOEL DA SILVA FERREIRA
PELOS SEUS ESCRAVOS DURANTE O TEMPO EM QUE SE
CONSERVARAM LEVANTADOS, C.1789 [Engenho de Santana,
Recôncavo da Bahia, século XVIII]*
Meu senhor, nós queremos paz e não queremos guerra; se meu senhor
também quiser, nossa paz há de ser nesta conformidade, se quiser
estar pelo que nós quisemos a saber [...] Em cada semana nos há de
dar os dias de sexta-feira e sábado para trabalharmos para nós, não
tirando um destes dias por causa de dia santo. Para podermos viver nos
há de dar rede, tarrafa e canoas [...] Os atuais feitores não os
queremos, faça eleição de outros com a nossa aprovação [...]
Poderemos plantar nosso arroz onde quisermos e em qualquer brejo,
sem que para isso peçamos licença, e poderemos cada um tirar
jacarandás ou qualquer outro pau sem darmos parte para isso. A estar
por todos ,os artigos acima, e conceder-nos estar sempre de posse da
ferramenta, estamos prontos para servirmos como dantes, porque
queremos seguir os maus costumes dos mais engenhos. Poderemos
brincar, folgar e cantar em todos os tempos que quisermos sem que
nos impeça e nem seja preciso licença.
* Este documento foi encontrado em arquivos portugueses e publicado originalmente em: SCHWARTZ, Stuart
B. "Resistance and Accommodation in Eighteenth-Century Brazil: The Slaves view of Slavery". HISPANIC
AMERICAN HISTORICAL REVIEW, Volume 57, número 1, pp. 69-81.
No dia-a-dia:
desobediência
diminuição deliberada do ritmo de trabalho
sabotagem
pequenos roubos de mantimentos, bebidas, roupas e animais
domésticos
Formas declaradas de resistência:
rebeliões
autodestruição por suicídio
abortos
matança de filhos recém-nascidos
ataques físicos contra senhores e seus familiares, administradores
e feitores
fuga individual ou coletiva
participação nas irmandades leigas
“Um dos expedientes largamente usados foram
os intercursos sexuais mantidos com os
senhores
ou
com
outros
proprietários.
Estratégia quase exclusiva das mulheres, a
intimidade
amorosa
sofreu
variações
e
resultou em situações bastante diversas. Os
contatos
foram
efêmeros,
ocorreram
periodicamente
ou
transformaram-se
em
uniões duradouras; foram mantidos em
segredo
ou
assumidos
pelos
parceiros;
caracterizaram-se pela presença de filhos e
ensejaram um número de alforrias, das mães e
dos rebentos bastardos. Eles podiam propiciar,
também, uma vivência menos penosa no
período de cativeiro”.
(PAIVA, Eduardo França. Escravos e libertos em Minas Gerais do século XVIII. São Paulo,
Annablume, 1995)
TRABALHO ESCRAVO
ESCRAVISMO ASSOCIADO À AGRICULTURA DE
EXPORTAÇÃO
No engenho, intenso
ritmo de trabalho:
6 meses do ano (fev-jul):
plantar canaviais, cortar
lenha a ser usada na
produção do melaço;
consertos diversos;
pequenas plantações de
alimentos;
durante a safra, o
engenho funcionava 24
horas por dia.
ESCRAVISMO ASSOCIADO A OUTRAS
ATIVIDADES E À MINERAÇÃO
Fumo
Farinha e cereais
Mineração
Abastecimento da
região mineradora –
presença do
trabalho escravo.
DIVERSIDADE DE ATIVIDADES
Salvador - escravos mais numerosos que livres:
escravos domésticos, de aluguel e de ganho
Carregadores
Pescadores
Estivadores
Vendedoras
Barqueiros
Serviços domésticos
Ofícios artesanais: aprendizes, ajudantes e mestres
Rio de Janeiro, Olinda e Recife e nas regiões da
mineração (Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás)
apresentaram o mesmo quadro.
E MAIS ...
construção de navios negreiros – indústria
naval do século XVII;
pesca e refino do óleo de baleia;
mulheres escravas produziam
roupas – indústria doméstica;
panos
em
Minas Gerais: indústria do ferro;
Rio de Janeiro do século XIX – setor
manufatureiro:
luvas, meias, chapéus, cerâmicas e charutos
ESCRAVOS TRABALHANDO PARA SI
Meio
rural:
“
brecha
camponesa” - concessão de
dias livres foi acompanhada
pelo plantio de pequenas
roças; excedentes entravam
nos mercados locais;
Centros urbanos: escravos
de ganho estavam livres
para embolsar a renda
excedente;
Minas Gerais – século XVIII:
mineradores
escravos
trabalhavam aos domingos e
encontravam os veios mais
ricos de ouro.
ESCRAVOS DE GANHO
Nos núcleos urbanos:
escravos artesãos e
prestadores de
serviços entregavam
uma quantia fixa aos
seus senhores
escravos e escravas
estiveram envolvidos
com atividades
comerciais – convívio
com pessoas livres,
alforriadas e escravas
ANÁLISE ICONOGRÁFICA
NA BIBLIOTECA
LIBBY, Douglas C. e PAIVA, Eduardo França. A escravidão no Brasil:
relações sociais, acordos e conflitos. São Paulo, editora Moderna, 2000.
(coleção “Polêmica”)
MAESTRI,Mário. O escravismo no Brasil. São Paulo, editora Atual,
1994. (coleção “Discutindo a História do Brasil”)
NEVES, Maria de Fátima R. das. Documentos sobre a escravidão no
Brasil. São Paulo, ed. Contexto, 1996. (coleção “Textos e
Documentos”; 6)
QUEVEDO, Júlio e ORDOÑEZ, Marlene. Escravidão no Brasil: trabalho e
resistência. São Paulo, ed. FTD, 1999. (coleção “Para conhecer
melhor”)
TREVISAN, Leonardo.
Abolição: um suave jogo político? São
Paulo, editora Moderna, 1988. (coleção “Polêmica”