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PRODUÇÃO AUDIOVISUAL
TEORIAS DA COMUNICAÇÃO
Prof. Franthiesco Ballerini
www.franthiescoballerini.com
[email protected]
MARSHALL MCLUCHAN
E TEORIAS DAS MÍDIAS
Marshall McLuhan é um pensador moderno, cujas
idéias remontam a um mero centenário. Alguns
podem julgar a história recente para que seja digna
de credibilidade, mas é fato que seus pensamentos
tiveram grande importância para o desenvolvimento
da comunicação, principalmente na atualidade,
quando o assunto é internet ou redes sociais.
O que todos pensavam na década de 60 quando
McLuhan começou a se tornar popular era: “E se ele
estiver correto?”, como escreveu o jornalista Tom
Wolfe, do New York Herald Tribune. O jornalista foi
ousado ao supor que McLuhan “era o pensador mais
importante desde Newton, Darwin, Freud, Eistein e
Pavlov”
MARSHALL MCLUCHAN
E TEORIAS DAS MÍDIAS
De fato o autor canadense se tornou popular: suas
frases de efeito e seu carisma o lançaram de uma
forma como seu antecessor Harold Innis (cujas idéias
precedem as de McLuhan e nas quais encontramos
vários pontos comuns entre os dois) não havia
conseguido. Ainda assim foi bastante criticado, e
vários pensadores consideraram seu trabalho
superficial e baseado em determinismo tecnológico.
Mas e se de fato McLuhan tenha sido apenas mal
compreendido e tenha visionado a antecipação de
respostas para as quais em sua época, ainda não
havia perguntas? No cenário atual da comunicação
digital temos percebido muitas situações que levam a
crer nessa máxima, quando se analisam mais
atentamente os conceitos e idéias de McLuhan.
MARSHALL MCLUCHAN
E TEORIAS DAS MÍDIAS
Nascido em 21 de Julho e 1911 e falecido em
31/12/1980, Marshall McLuhan levou uma vida
dedicada às artes e às humanidades. Sua família
era estruturada: seu pai era corretor de seguros e
sua mãe era a chefe da família, uma mulher culta
e viajada, que lhe deu grande incentivo na
carreira acadêmica.
Começou a estudar Engenharia, mas acabou
se formando em Literatura Inglesa Moderna.
Obteve os títulos de mestre e doutor em Filosofia
pela Universidade de Cambridge. A maior parte
de sua carreira de professor e pesquisador ocorre
na Universidade de Toronto, no Canadá, onde
inclusive se deu sua aproximação com Innis.
MARSHALL MCLUCHAN
E TEORIAS DAS MÍDIAS
Publicou aproximadamente 15 obras, dentre as quais
as mais importantes foram: “O meio é a mensagem”,
“Guerra e Paz na Aldeia Global” e “Os meios de
comunicação como extensões do homem”, seu primeiro
livro de grande notoriedade. Somam-se nesse bolo
diversos artigos, entrevistas e até mesmo uma
participação num filme do cineasta Woody Allen,
“Noivo neurótico, noiva nervosa”, de 1977.
Seus conceitos, quase sempre traduzidos em
frases curtas e de impacto, se popularizaram e
criaram vida própria, como a mais célebre de todas:
“O meio é a mensagem”. A partir de agora veremos
cada um destes conceitos e tentaremos entender
porque eles se tornaram tão importantes numa
sociedade altamente tecnológica e que avança cada
vez mais para um grau extremo de interdependência
digital.
A EVOLUÇÃO DAS MÍDIAS, LINGUAGEM E
CLASSIFICAÇÃO DOS MEIOS
McLuhan avalia o processo comunicativo de um ponto
de vista evolutivo e estabelece três períodos de
evolução das mídias: civilização da oralidade, da
imprensa e da eletricidade, de acordo com a sua obra
“A galáxia de Gutemberg”. Seu ponto de vista
avaliativo é quase sempre o técnico e do indivíduo.
Análises sociais e econômicas estão sempre em
segundo plano em sua obra.
Na civilização da oralidade temos a tradição da
palavra falada e uma relação social tribalizada,
processo que é fragmentado com o advento da
imprensa. A palavra impressa tira o homem desse
convívio, destribalizando-o. A terceira etapa desse
processo evolutivo, com o advento da luz, torna a
tribalizar o homem, uma vez que os meios permitem
maior interação. Segundo o artigo de Gaëtan
Tremblay:
A EVOLUÇÃO DAS MÍDIAS, LINGUAGEM E
CLASSIFICAÇÃO DOS MEIOS
“... as mídias eletrônicas que se sucedem, desde a
segunda metade do século XIX, autorizam um
retorno à percepção multissensorial e ao
pensamento complexo e global, características da
oralidade, depois dos séculos da linearidade, da
especialização, da hierarquização e da divisão e
do sectarismo que seguiram a invenção, a difusão
e a dominação da imprensa no mundo civilizado”.
A EVOLUÇÃO DAS MÍDIAS, LINGUAGEM E
CLASSIFICAÇÃO DOS MEIOS
McLuhan também classifica os meios como quentes ou
frios. Os quentes correspondem àqueles que
prolongam um de nossos sentidos em alta definição,
correspondendo esta ao estado de saturação de um
sentido (MCLUHAN, 1974, p. 38). Já os meios frios
correspondem aos que por transmitirem uma
quantidade menor de informação, permitem uma
interação maior do indivíduo, como é o caso por
exemplo do telefone.
Assim como os meios o autor classifica seguindo os
mesmos critérios também as culturas, como quando
fala que os países atrasados são frios, enquantos os
países desenvolvidos são quentes. Essa divisão é
importante para McLuhan à medida em que se
analisa a intencionalidade da comunicação em seus
níveis interpessoais.
A EVOLUÇÃO DAS MÍDIAS, LINGUAGEM E
CLASSIFICAÇÃO DOS MEIOS
Analisar essa divisão à luz dos conceitos atuais
de ciberespaço, pensando nas possibilidades de
comunicação que a internet proporciona, por
exemplo, percebemos talvez uma necessidade de
evolução do pensamento, ou pelo menos pensar
de uma forma diferente.
É muito difícil enquadrar a internet, enquanto
nova tecnologia numa classificação única. Ela
pode ser tanto meio quente, saturada e
impossibilitando interações, e também pode ser o
oposto permitindo o máximo de interação, mesmo
com o máximo de saturação.
A EVOLUÇÃO DAS MÍDIAS, LINGUAGEM E
CLASSIFICAÇÃO DOS MEIOS
Segundo as dimensões analisadas por André Lemos
(2002) pode-se considerar o ciberespaço como
indexador dos mais variados tipos de meios, que cada
vez mais estão inseridos numa situação de interdependência entre si. Daí vemos também a relação de
inter-dependência de um meio com relação a outro.
Nenhum meio existe por si só, por exemplo: o cinema
sempre se apropria da literatura, da TV ou mesmo de
uma história falada. Nos dias atuais percebemos isso
também na própria internet: os tópicos populares do
twitter quase sempre tem uma relação muito direta
com os tópicos de audiência da mídia televisiva por
exemplo, como mostrou uma pesquisa recente do
IBOPE.
A EVOLUÇÃO DAS MÍDIAS, LINGUAGEM E
CLASSIFICAÇÃO DOS MEIOS
“A principio, o “conteúdo” de qualquer meio ou veículo
é sempre um outro meio ou veículo. Por sua vez, a
“mensagem” de qualquer meio ou tecnologia é a
mudança de escala, cadência ou padrão que esse meio
ou tecnologia introduz nas coisas humanas”.
(McLUHAN, 1974, p. 22)
É importante perceber neste contexto que segundo o
pensamento de McLuhan, a evolução da tecnologia em
cada uma de suas etapas provoca mudanças
estruturais na sociedade. Isso acontece meio que ao
acaso já que o surgimento de uma tecnologia não
ocorre por uma tentativa isolada do desenvolvimento
técnico em si, e sim de uma tentativa de transformar,
reproduzir e documentar as experiências do homem
(MCLUHAN, 1974, cap. 6).
AS EXTENSÕES DOS SENTIDOS DO HOMEM
Em sua obra mais popular, o autor defende a ideia de
que todos os meios são extensões dos sentidos dos
homens, como se fossem o que ele mesmo chama de
prótese técnica. Assim, a roda seria a extensão dos
nossos pés e da habilidade de locomoção, o telefone a
ampliação de nossa fala e assim sucessivamente.
É importante destacar neste ponto que a extensão é
diferente da projeção, do homem enxergar o seu outro
nos meios. A relação é absolutamente simbiótica, e
essa simbiose é fundamental para entendermos os
processos de transformação da sociedade a cada vez
que surge um novo sistema tecnológico. Portanto
quando se fala de um meio, trata-se exclusivamente
dos sentidos e habilidades do próprio homem
enquanto indivíduo e também enquanto ser social
embora McLuhan deixe essa análise em segundo
plano.
AS EXTENSÕES DOS SENTIDOS DO
HOMEM
Quando se fala em meios, apesar da grande
ênfase dos estudos da escola canadense voltados
para os meios de comunicação de massa, a
significação é mais ampla: o meio é toda e
qualquer forma de interação social do homem, e
as maneiras pelas quais ele estabelece relações
de poder e interação. Quando percebemos por
exemplo a relação do homem com a moda ou com
o automóvel, isso fica bastante nítido. A
mensagem que se quer passar torna-se a própria
forma, a representatividade da posse torna-se o
conteúdo da afirmação social.
AS EXTENSÕES DOS SENTIDOS DO
HOMEM
Esse sentido da prótese técnica que McLuhan atribui
aos meios é cada vez mais imperceptível com a
evolução das tecnologias e causa relações distintas e
alternadas entre o homem e a máquina, ora de
dependência, ora de cooperação e ora de dominação.
Tomemos como exemplo a memória: o papel e a
caneta foram por um tempo as extensões desse
sentido, extensões essas que se evoluíram para o
palmtop e hoje estão na nuvem, no ciberespaço. Não
precisamos mais escrever os compromissos na agenda
e andar com ela a tiracolo conferindo. O Google
Agenda organiza as informações, categoriza-as e nos
relembra de nossos compromissos. Instaurou-se a
relação de interdependência.
AS EXTENSÕES DOS SENTIDOS DO
HOMEM
Alguns poderão criticar, como já criticam, dizendo
que o ser humano está com menos capacidade de
memorização (para aproveitar o exemplo supracitado), está mais impaciente por conta do
imediatismo nas respostas que também foi um
fruto da própria tecnologia. Mas o fato é que
essas transformações não foram isoladas e
individuais. O grupo, a sociedade evoluiu, e nas
regras que ditam os costumes e a conduta do
indivíduo atuais, as transformações foram de
uma forma ou de outra, necessárias.
AS EXTENSÕES DOS SENTIDOS DO
HOMEM
E mais do que apenas ser uma extensão, a relação
também é de mão dupla, e a tecnologia acaba também
por transformar o corpo humano, e aqui vemos uma
relação muito clara com o evolucionismo. Para citar
um exemplo bem claro, uma pesquisa não muito
antiga mostrou que a forma como a mão humana
interage com os teclados do celular mudou: as pessoas
mais velhas tendiam a usar apenas o indicador (numa
época em que o telefone celular servia apenas para
fazer ligações e não exigia muita habilidade)
enquanto as gerações mais novas usam em escala
bastante maior os polegares, por causa da habilidade
que exige o manuseio de uma tela touchscreen ou seja
por causa das várias funções que um aparelho celular
hoje em dia possui.
AS EXTENSÕES DOS SENTIDOS DO
HOMEM
Além da percepção dos sentidos físicos, a tecnologia
também altera a percepção de espaço e de tempo do
homem, sendo um fator a mais para contribuir na
transformação estrutural da sociedade.
“Isso significa que a organização simbólica do homem, o seu
sistema de percepção espacial e temporal, sofre o impacto
de várias tecnologias comunicativas; é a este nível que os
mass media provocam os seus efeitos mais significativos e
duradouros”. (GOMES, 1997, p. 115)
Nessa perspectiva de transformação do ambiente, um
especial da revista Meio & Mensagem (cujo nome inclusive
é uma homenagem ao próprio Marshall McLuhan) traz um
depoimento coerente com as máximas mcluhanianas, a
seguir:
AS EXTENSÕES DOS SENTIDOS DO
HOMEM
“Ele (McLuhan) está falando que toda tecnologia se torna um
ambiente, ou seja, transforma-se em um ordenador social e
cultural e, além disso, essas tecnologias vêm afetar nossos
corpos e mentes. A emergência de uma nova tecnologia é uma
reprogramação sensorial, elas forjam as formas de ver o
mundo, representar as coisas e perceber a nossa própria vida”.
(REVISTA MEIO & MENSAGEM, nº 1468, p. 42)
E ao contrário das críticas que banalizam a sua pesquisa com
a acusação de superficialidade, percebe-se que essas mudanças
da sociedade em virtude da tecnologia são muito mais
profundas e causam muito mais efeitos do que se imagina.
Com o passar do tempo e até mais, com uma reflexão breve
sobre o futuro e o rumo que a sociedade toma na sua relação
com a tecnologia, vemos que a consulta aos pensamentos de
McLuhan sempre se faz válida como um ponto de referência.
“Enfrentamos a mesma dor e desorientação sempre que o
corpo está estendido ou amputado por novas fontes”. (Idem,
p.43)
O MEIO É A MENSAGEM
A frase mais famosa de McLuhan é a síntese dos conceitos
discutidos até o momento, talvez por isso seja a sua
afirmação mais marcante.
“Um dos conceitos mais difundidos de McLuhan é que o
meio é a mensagem. Observa ele que toda tecnologia
gradualmente cria um ambiente humano totalmente novo.
Os ambientes não são envoltórios passivos, mas processos
ativos. Por isso no ambiente da era eletrônica, a
classificação dos dados cede ao reconhecimento de
estruturas e padrões, a frase-chave da IBM. Deste modo,
quando McLuhan afirma que o meio é a mensagem, está
dizendo que, na era eletrônica, um novo ambiente foi
criado, cujo conteúdo é o antigo ambiente da era industrial.
O ambiente velho é re-processado pelo novo. Por exemplo, a
televisão reprocessou o cinema, transformando-o em seu
conteúdo. O ambiente é imperceptível, pois o que
percebemos é o conteúdo”. (GOMES, 1997, p.118-119)
O MEIO É A MENSAGEM
Para pensar na definição de meio para McLuhan,
é necessário pensar nos sentidos que a palavra
adquire. Especialmente no último capítulo da
primeira parte de “Os meios de comunicação
como extensões do homem”, o autor fala das
relações sinestésicas entre um meio e o sentido
explorado pela extensão. Ou seja, o meio deve ser
pensado como um conjunto de expressões que
uma linguagem midiática pode decodificar ao ser
apropriada por um outro usuário.
O MEIO É A MENSAGEM
Assim, um computador por exemplo não é simplesmente a
extensão da capacidade de escrever. Deve-se considerar outras
capacidades materiais, que surgem num contexto de
transformação social, que acabaram sendo englobadas, por
exemplo a função de ver um vídeo, ou ouvir música no
computador. Até mesmo a capacidade do computador de
assumir o papel de um outro meio, quando por exemplo o
usamos para falar com alguém via Skype, substituindo (ou
seria incorporando?) as habilidades materiais do telefone.
Essa incorporação de meios como vimos anteriormente, é um
processo quase sempre complexo para o homem. Temos de um
lado a necessidade continuar traduzindo as nossas
experiências ou usando os próprios termos de McLuhan,
expandindo nossos sentidos, e de outro a resistência em não
poder reconhecer “que a própria forma de qualquer meio de
comunicação é tão importante quanto qualquer coisa que ele
transmita”. (McLUHAN, 1990, p. 154). Uma vez quebrado esse
paradigma e aceita uma nova ordem tecnológica, o indivíduo
incorpora essa transformação e passa a conviver melhor com
essa “amputação”.
O MEIO É A MENSAGEM
Dentre as críticas feitas ao trabalho de McLuhan, é
importante verificarmos a questão do determinismo
tecnológico, e o quanto isso pode influenciar na
interpretação de sua obra. Na obra do autor canadense essa
crítica pode ser interpretada de forma que os fatos sejam
lineares e seqüenciais, ou seja, é a tecnologia quem
determina exclusivamente as condutas do ser humano, seu
conhecimento, percepção, cultura e interação com a
sociedade.
Essa visão para os estudiosos da obra de McLuhan é na
verdade uma interpretação errônea das idéias. Para o
professor José Marques de Melo, em entrevista, “a
academia o achava espetaculoso demais. Ele não cumpria
os padrões da universidade e foi um dos raros escritores de
seu tempo que ao morrer, mereceram capas de jornais.
McLuhan não foi compreendido. Ele foi muito combatido,
muito louvado e pouco lido”. (MEIO & MENSAGEM, nº
1468, p. 43).
O MEIO É A MENSAGEM
Sem avaliar a fundo essa e as demais críticas a
respeito da obra de McLuhan, é impossível não
concluir de toda a forma que seus estudos foram
revolucionários. Considerando que a maioria das
escolas de comunicação focou na emissão, recepção ou
mesmo na mensagem, a análise do poder dos meios
sem dúvida foi uma nova e bastante válida
contribuição.
O autor Gabriel Cohn traça um tímido paralelo com
um autor que precedeu McLuhan, Walter Benjamim.
Em 1936 este autor publicou o estudo “A obra de arte
na era de sua reprodutibilidade técnica” em que diz o
seguinte: “O tipo e o modo de organização da
percepção sensorial humana - o meio em que ela se dá
- é determinado não apenas natural mas também
historicamente”.
O MEIO É A MENSAGEM
Assim, nesse universo, percebemos mais uma vez
que a evolução da tecnologia é quem acompanha
o processo histórico do homem. A busca pela
transformação da natureza e pela retratação da
sua realidade é que leva o homem a descobrir a
tecnologia, muitas vezes criada com uma
funcionalidade distinta, que acaba se
transformando de acordo com a necessidade do
próprio homem que a criou – a percepção e a
transformação da própria realidade humanística
levam a uma revisão e reincorporação dos usos
dos meios e das tecnologias.
A ALDEIA GLOBAL
O último conceito importante cunhado por Marshall
McLuhan é o conceito da aldeia global. Retomando o que foi
dito anteriormente, para o autor, nas etapas das três eras
midiáticas, o homem passa de um processo de tribalização
para posterior destribalização, e por fim um processo de
retribalização. É nesse momento que se instaura a aldeia
global.
Este espaço nada mais seria que um espaço de
convergência, em que toda a evolução tecnológica estivesse
caminhando no sentido de formar uma aldeia, em que em
qualquer instância seja possível a comunicação direta, sem
barreiras. Nessa conceituação McLuhan é mais uma vez
criticado, pois a aldeia global parece a muitos um
estereótipo paradisíaco, uma utopia em que todas as forças
convergiriam para a melhoria do ambiente. Segundo os
críticos, pelo próprio modelo evolucionista esse cenário já se
torna impraticável uma vez que o acesso à tecnologia não é
igualitário.
A ALDEIA GLOBAL
E mais uma vez as críticas soam como uma interpretação
errônea dos pensamentos do autor. A tecnologia está
presente mas não precisa necessariamente chegar a todos
para operar transformações na sociedade. É exatamente
isso que percebemos na sociedade atual, com a internet. A
forma do ser humano lidar com o consumo, com o outro,
com as artes e até mesmo com a sociedade é diferente
mesmo que nem todos tenham acesso à tecnologia de forma
igualitária.
Mais importante que o que se diz é como se diz: o meio
é fundamental na intercomunicação e muitas vezes
depende só dele o sucesso do processo comunicacional no
sentido de estabelecer comunicações globalizadas. Quando
analisamos os conflitos de países distantes, e
acompanhamos em tempo real as notícias que em outrora
demorariam muito mais para chegar até nós, percebemos a
evolução da tecnologia no sentido de formar a aldeia global.
A ALDEIA GLOBAL
McLuhan chamou esse processo de implosão, que é o
resultado das tecnologias fragmentárias e mecânicas.
Segundo McLuhan, citado por Gomes (1997, p. 115):
“Durante as idades mecânicas projetamos nossos
corpos no espaço. Hoje, depois de mais de um século
de tecnologia elétrica, projetamos nosso próprio
sistema nervoso central num abraço global, abolindo
tempo e espaço(...). Estamos nos aproximando
rapidamente da fase final das extensões do homem: a
simulação tecnológica da consciência, pela qual o
processo criativo do conhecimento se estenderá
coletiva e corporativamente a toda a sociedade
humana, tal como já se fez com nossos sentidos e
nossos nervos através dos diversos veículos”.
A ALDEIA GLOBAL
Nesse sentido, a aldeia global é colaborativa e
podemos perceber dois lados da mesma moeda nesse
cenário. De um lado temos a cooperação, o
comportamento tribal no sentido de manutenção da
ordem: talvez a utopia criticada na aldeia global de
McLuhan tenha algum sentido – a união em favor da
melhoria. O compartihamento e o engajamento que
hoje são princípios por exemplo das redes sociais,
servem para um bem maior: mesmo com um sistema
judiciário falho para as questões do ciberespaço,
nunca tivemos cidadãos tão engajados e vigilantes.
Esse é um avanço considerável para a cidadania.
Do outro lado da moeda, temos um drama
preconizado por McLuhan: o homem angustiado,
sempre apressado, aflito e oprimido pela necessidade
iminente pela necessidade de compartilhar:
A ALDEIA GLOBAL
“Não existe mais a desculpa do conhecimento,
pois o mundo foi trazido para dentro dos lares.
Tal posição, chocante no final da década de 1960,
adquire maior relevância no início do milênio. As
tecnologias esboçadas naquela época estão
explodindo hoje, configurando o que se
convencionou chamar de sociedade do
conhecimento. Por isso a pertinência da
afirmação do pensador canadense: Esta é a idade
da Angústia, por força da implosão elétrica, que
obriga ao compromisso e à participação,
independente de qualquer ponto de vista”. (Idem,
p. 116)
CONCLUSÃO
É impossível no cenário atual, observando o ciberespaço e a
comunicação através da internet e das redes sociais sem
pensar nas idéias de McLuhan. Hoje conseguimos ver
lacunas e pensar em algumas questões sob uma ótica
diferente, como por exemplo quando pensamos nos meios
quentes e frios e no quão tênue essa linha fica quando
pensamos na internet. Mas é natural. O pensamento
humanístico pode e deve evoluir na busca de nossas
respostas diárias às questões que afligem a humanidade.
A questão é que o cerne, o fundamento das idéias se
manteve, e como observado por analíticos da obra do
pensador, explica e nos ajuda a entender muitas questões
que Mcluhan talvez nem tenha pensado ao transcrever
suas teorias. E estas nos ajudam a pensar também no rumo
que a comunicação toma e principalmente, no rumo que a
tecnologia toma e na nossa relação com o desenvolvimento
dela.
CONCLUSÃO
O envolvimento simbiótico do homem com a máquina, com
esta sendo muito mais que uma reflexão de pensamentos,
uma prótese de sentidos físicos e cognitivos nos mostra
como fica a relação do homem em sociedade e nos mostra
como ficam os valores que interferem diretamente em nossa
cultura, nossa educação, nossa arte.
Quando pensamos em questões discutidas atualmente como
a inteligência artificial, percebemos uma tentativa
desenfreada de humanizar a máquina, de fazer com que ela
seja cada vez mais parte de nós, ou de projetar um pouco de
nós nos meios externos.
Por mais que a idéia da aldeia global pareça utópica e
inalcançável, por diversos motivos, vemos a materialização
dela, pelo menos em parte, na internet, nas redes sociais.
Palavras chave dos pensamentos de McLuhan, como
compartilhamento e engajamento tornaram-se princípios
da comunicação cibernética.
CONCLUSÃO
Através das redes sociais, pessoas de todo o globo
parecem estar se unindo em prol de um bem maior, a
despeito do que McLuhan previu. A partir do
momento da era da eletricidade convivendo com a TV
e o computador, como analisamos a nossa forma de
vida, nossas maneiras de gerar e transmitir
conhecimento?
Estamos vivendo numa sociedade multimeios, em que
a interação com as diversas formas de comunicação
coexistem. Muitos indivíduos já nasceram sem
consultar as enciclopédias, e até a nossa relação com o
livro escrito é diferente. Alguns só terão contato com a
leitura em seus tablets ou monitores. Talvez isso nos
torne mais apressados, mais angustiados e
imediatistas. Há quem defenda que a forma como
interagimos com a tecnologia hoje nos torna menos
coerentes, com o raciocínio mais deficitário.
CONCLUSÃO
Essa mistura chega às nossas formas de educação, nosso
convívio com a sociedade, no exercício da cidadania. Alunos
e professores formados na cultura do digital, alguns tendo
convivido com o livro, outros não. O conceito de leitura
obrigatória muda, perpassando uma nova seletividade para
o conhecimento. Este aliás não está exclusivamente
presente nos livros, na sala de aula, está na TV, na mídia
exterior. O aparelho celular, outrora vilão das salas de
aula, torna-se aliado. O
Convivemos pacificamente com o excesso de informação,
estudamos com a TV ligada, assistimos a novela ou o jornal
e comentamos no twitter. Trabalhamos com dois monitores
e no navegador da internet, talvez tenhamos dez abas
abertas. Nesse contexto talvez seja fácil se dispersar.
Talvez seja fácil também produzir mais idéias, já que a
inspiração vem de mais fontes.
CONCLUSÃO
Assim, pensamos no nosso aprendizado e na
transmissão de conhecimento com uma indagação
final: seriam os meios meramente formas que
determinam a conduta do homem, ou seriam objetos
de significação imbricados de pensamento e ideologia?
Como a partir de agora a humanidade segue seu curso
de produção de informação e como será a incorporação
dos novos meios pelos meios antigos? Como será esse
processo de amputação? Como as novas extensões do
homem ditarão nossa vida em sociedade?
Respondendo a essas questões caminharemos
realmente num sentido de ampliar os limites da
cidadania e refletir as implicações dos conceitos de
Marshall McLuhan para a sociedade moderna.
REFERÊNCIAS
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técnica”. In: COSTA LIMA, Luiz (Org.)Teoria da Cultura de Massa. São
Paulo, Paz e Terra, 1990.
COHN, Gabriel. “O meio é a mensagem: análise de McLuhan”. In:
Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo, TA-Queiroz, 1987. Pág. 363-371.
GOMES, Pedro Gilberto. Tópicos de Teoria da Comunicação. São Leopoldo,
Editora Unisinos, 1995.
LEMOS, André. As estruturas antropológicas do ciberespaço. In:______.
Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto
Alegre: Sulina, 2002, p. 136-165.
McLUHAN, Marshall. A Galáxia de Gutenberg. São Paulo: Cultrix, 1967.
McLuhan, M. Os meios de comunicação como extensão do homem.
Tradução de Décio Pignatari. São Paulo, Cultrix, 1974. 4° ed.
McLuhan, M. ”Visão, som e fúria”. In: LIMA, Luiz Costa (Org.)Teoria da
Cultura de Massa. São Paulo, Paz e Terra, 1990.
Revista MEIO & MENSAGEM, Grupo M&M, Ano 33, nº 1468, p. 39-46. 18 de
Julho de 2011. ISSN: 0101-3327