Transcript ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO SÉCULO XVIII
ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO
SÉCULO XVIII
“Fugere urbem”
ORIGENS
IDEOLOGIA DA ARISTOCRACIA EM DECADÊNCIA X BURGUESIA EM ASCENSÃO = INSATISFEITA COM O ABSOLUTISMO DOS REIS, COM A SOLENIDADE DO BARROCO E COM AS FORMAS DE CONVIVÊNCIA SOCIAL RÍGIDAS, ARTIFICIAIS E COMPLICADAS.
A RELAÇÃO COM O ILUMINISMO
A RAZÃO (E NÃO MAIS A CRENÇA RELIGIOSA) APARECE COMO SINÔNIMO DE VERDADE. AS LUZES DO ESCLARECIMENTO AJUDAVAM OS HOMENS A ENTENDER O MUNDO E A COMBATER PRECONCEITOS.
SIMPLIFICAÇÃO DA ARTE = DOMÍNIO DA RAZÃO; APROXIMAÇÃO DA NATUREZA; VALORIZAÇÃO DAS ATIVIDADES GALANTES.
CARACTERÍSTICAS
BUSCA DA SIMPLICIDADE: VERDADE = RAZÃO = SIMPLICIDADE IMITAÇÃO DA NATUREZA: “LOCUS AMOENUS ” = LOCAL APRAZÍVEL = CULTO AO HOMEM NATURAL PASTORALISMO = CELEBRAÇÃO DA VIDA PASTORIL (MODISMO E ARTIFICIALISMO) BUCOLISMO = ADEQUAÇÃO À HARMONIA E SERENIDADE DA NATUREZA = VALORIZAÇÃO DA VIDA NO CAMPO
CARACTERÍSTICAS
IMITAÇÃO DOS CLÁSSICOS: AUTORES CONSAGRADOS DA ANTIGÜIDADE GRECO-ROMANA MODELO MÁXIMO: HORÁCIO = “INUTILIA TRUNCAT ” (CORTAR O INÚTIL) + “CARPE DIEM ” (APROVEITAR O DIA) + “FUGERE URBEM ” (FUGIR DA CIDADE) + “AUREA MEDIOCRITAS ” (VIDA MATERIALMENTE SIMPLES, MAS RICA EM REALIZAÇÕES ESPIRITUAIS) USO EVENTUAL DA MITOLOGIA CLÁSSICA
CARACTERÍSTICAS
A AUSÊNCIA DE SUBJETIVIDADE: RENÚNCIA DO “EU POÉTICO” E ADOÇÃO DE UMA PERSONALIDADE PASTORIL.
O POETA DEVE EXPRESSAR APENAS SENTIMENTOS COMUNS E GENÉRICOS.
AMOR GALANTE (CONVENCIONAL): DECLARAÇÕES EDUCADAS E DISCRETAS.
SURGIMENTO DE ACADEMIAS E ARCÁDIAS LITERÁRIAS.
ARCADISMO NO BRASIL
CONTEXTO AUTORES & OBRAS
ARCADISMO NO BRASIL
DECORRÊNCIA DA ATIVIDADE MINERADORA (MG) = ENRIQUECIMENTO DAS CIDADES SURGIMENTO DE NOVAS CLASSES: PROFISSIONAIS LIBERAIS = ROMPIMENTO COM O DUALISMO: SENHOR-ESCRAVO RELAÇÃO COM A INCONFIDÊNCIA MINEIRA = NECESSIDADE DE INDEPENDÊNCIA
ARCADISMO NO BRASIL
LITERATURA = SISTEMA LITERÁRIO: EXISTÊNCIA CITADINA INTENSIFICANDO AS RELAÇÕES SOCIAIS = SURGIMENTO DOS “SARAUS” = MÚSICA E POESIA = SURGIMENTO DOS PRIMEIROS NÚCLEOS PERMANENTES E REGULARES DE UM PÚBLICO INTERESSADO EM ARTE (LITERATURA) PRIMEIRO E DECISIVO PASSO NO PROCESSO DE FUNDAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA
AUTORES
POESIA LÍRICA
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA (1729 – 1789)
POETA DE TRANSIÇÃO: UTILIZAÇÃO DE PRINCÍPIOS ESTÉTICOS DO ARCADISMO INFLUÊNCIAS BARROCAS: O SOFRIMENTO INFLUÊNCIA CAMONIANA: GOSTO PELA ANTÍTESE E PELO SONETO É RACIONALMENTE ÁRCADE E EMOTIVAMENTE BARROCO TEMAS BARROCOS: O DESENCANTO COM A VIDA; A BREVIDADE DOLOROSA DO AMOR; A RAPIDEZ COM QUE TODOS OS SENTIMENTOS PASSAM
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
O SOFRIMENTO BARROCO:
“Ouvi pois o meu fúnebre lamento Se é que de compaixão sois animados.”
A IMPOSSIBILIDADE AMOROSA:
“Nise? Nise? Onde estás? Aonde espera] Achar te uma alma que por ti suspira,”
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
AS ANTÍTESES (A DUREZA DA PEDRA E A TERNURA DO CORAÇÃO):
“Destes penhascos fez a natureza O berço em que nasci! Oh, quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza!”
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
A PEDRA COMO SÍMBOLO: Contradição: Formação intelectual ocidental x inconsciente preso à pátria = preferência por imagens e cenários nos quais predominam a pedra, a rocha e os penhascos = sua memória é feita de rochas e pedras de Minas Gerais = CONCLUSÃO: poemas europeizados com símbolos das raízes brasileiras
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
OBRAS:
Obras poéticas (1768) + Vila Rica (1839)
PSEUDÔNIMO PASTORIL = GLAUCESTE SATÚRNIO MUSA = NICE
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA (1744 – 1810)
OBRAS:
Marília de Dirceu (Parte I – 1792; Parte II – 1799; Parte III – 1812); Cartas Chilenas (1845)
PSEUDÔNIMO PASTORIL = DIRCEU MUSA = MARÍLIA
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
MARÍLIA DE DIRCEU:
Texto árcade + dimensão romântica
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
Toda escrita em Vila Rica, com Gonzaga ainda em liberdade, em um tom otimista e afirmativo Presença de elementos árcades: o canto da natureza convencional, a vida pastoril, a recusa em intensificar a subjetividade, a galanteria, o racionalismo neoclássico e a clareza do estilo.
Liras autobiográficas dentro dos limites que as regras árcades impunham à confissão pessoal.
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
Em suas liras, um pastor (o próprio poeta) celebra, em tom moderadamente apaixonado, as graças da pastora
Marília
, que conquistara seu coração:
“Tu, Marília, agora vendo Do Amor o lindo retrato Contigo estarás dizendo Que é este o retrato teu.
Sim, Marília, a cópia é tua, Que Cupido é Deus suposto: Sé há Cupido, é só teu rosto Que ele foi quem me venceu.”
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
A EXPRESSÃO DO AMOR: Impulsos afetivos nos limites do amor galante A expressão sentimental vale-se de alegorias mitológicas (Cupido) Há um conjunto de frases feitas e lugares comuns sobre os encantos da amada, sobre as qualidades do pastor Dirceu e sobre a felicidade do futuro relacionamento entre ambos. Há um esforço por exaltar as qualidades da vida familiar, do casamento, das pequenas alegrias que sustentam um lar.
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
Pastoralismo & Estabilidade econômica:
“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado, De tosco trato, de expressões grosseiro, Dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
IDEOLOGIA MATERIALISTA BURGUESA & VALORES AFETIVOS:
“É bom, minha Marília, é bom ser dono De um rebanho, que cubra monte e prado; Porém, gentil Pastora, o teu agrado Vale mais que um rebanho, e mais que um trono.] ”
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
O aflorar da sensualidade = desejo de confidência & atrevimento erótico:
“Ornemos nossas testas com as flores, E façamos de feno um brando leito; Prendamo nos, Marília, em laço estreito, Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças, Sem que o possam deter, o tempo corre; E para nós o tempo, que se passa, Também, Marília, morre.”
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
O CARPE DIEM:
“Que havemos de esperar, Marília bela?
Que As vão passando os florescentes dias?
glórias que vêm tarde já vem frias, E pode, enfim, mudar-se a nossa estrela.
Ah!
não, minha Marília, Aproveite-se o tempo, antes que O estrago de roubar ao corpo as E ao semblante a graça!” faça forças
MARÍLIA DE DIRCEU PARTE II
A tristeza domina a segunda parte do poema, toda ela escrita na prisão Motivo básico: as agruras vividas por Dirceu Tendência maior à confissão + tom de desabafo Pré-romantismo: passagens mais subjetivas e sentimentais
MARÍLIA DE DIRCEU PARTE II
TENDÊNCIA PRÉ-ROMÂNTICA = SENTIMENTALISMO:
“Eu tenho um coração maior que o mundo,] Tu formosa Marília, bem o sabes: Um coração, e basta, Onde tu mesma cabes.”
MARÍLIA DE DIRCEU PARTE II
AS PERDAS DO PASTOR DIRCEU: 1.
”
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro Fui honrado Pastor da tua Aldeia; Vestia finas lãs, e tinha sempre A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal e o manso gado, Nem tenho, a que me encoste, um só cajado
.”
MARÍLIA DE DIRCEU PARTE III
Publicada em condições confusas Reúne material variado e de menor valor expressivo, nada acrescentando ao sentido final da obra.
Proposta de abandono da vida no campo Vida na cidade = Dirceu = advogado = Marília = sua “gostosa companhia”
MARÍLIA DE DIRCEU PARTE III
“
Tu não verás, Marília, cem cativos Tirarem o cascalho e a rica terra, Ou caudalosos.
dos cercos Ou na minada Serra.
” dos rios
MARÍLIA DE DIRCEU PARTE III
“
Verás em cima da espaçosa mesa Altos volumes de enredados feitos; Ver-me ás folhear os grandes livros, E decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus Consultos, Tu me farás gostosa companhia, Lendo os fastos da sábia, mestra História, Os cantos da poesia.
”
CARTAS CHILENAS
Todo o fingimento poético cerca a elaboração desses textos: neles, Gonzaga assina com o pseudônimo de
Critilo
e dirige se a
Doroteu
(o poeta Cláudio Manuel da Costa) que vivia supostamente em Espanha.
Critilo Minésio
critica a administração de
Fanfarrão
(Luís da Cunha Meneses) que ele diz ser “general do Chile”. Onde se lê Chile, leia-se província de Minas Gerais; onde se lê Santiago, leia-se Vila Rica (atual Ouro Preto).
CARTAS CHILENAS
A sátira das Cartas chilenas incide diretamente sobre a figura do governador Luís da Cunha Meneses, cujas ações são continuamente condenadas pelo narrador Critilo. Não há, portanto, qualquer intenção ligada à condenação do sistema colonial a que estava submetido o Brasil: o que o texto pretende é criticar um mau governo, principalmente no que se refere ao desrespeito às leis do Reino Português.
CARTAS CHILENAS
Essa crítica é decorrência das concepções ilustradas, que colocavam as leis como instrumento fundamental para a preservação da ordem sábia e natural que organizava a vida social. O desrespeito às leis partindo de um governante era, portanto, um perigoso risco à harmonia do grupo social: era uma verdadeira monstruosidade, palavra e imagem que o narrador emprega freqüentemente.
SILVA ALVARENGA (1749-1814)
Considerado como o mais brasileiro dos árcades, pela sensibilidade rítmica de seus versos, pseudônimo Silva árcade Alvarenga, era cujo
Alcino Palmireno
, ficou conhecido por uma única obra, Glaura, publicada em 1799, composta de rondós e madrigais ( “composições poéticas que encerram um pensamento delicado, terno ou galante/canções pastoris”).
SILVA ALVARENGA
A obra
Glaura
inspiração galante, celebra a pastora revela um lirismo de onde o poeta
Alcino Glaura
, que se esquiva num clima refinamento de da galante sensualidade.
galanteria, o O detalhismo acentuado e uma relativa superficialidade temática permite que se considere o estilo de Silva Alvarenga um exemplo do chamado
rococó
( “excesso de ornatos” - “acúmulo ornamental ”).
SILVA ALVARENGA
Por outro lado, que em há quem defenda função de sua espontaneidade e pronuncia quase sentimental, aliadas a uma certa melancolia, incluído o num romântico.
poeta espaço deva ser pré-
AUTORES
A ÉPICA ÁRCADE
BASÍLIO DA GAMA (1741-1795)
O ponto alto da obra literária de Basílio da Gama é o texto espanhóis.
O Uraguai
, concebido originariamente como um poema épico destinado a celebrar a vitória militar de Gomes Freire de Andrade, Comissário Real, contra os índios da Colônia de Sete Povos das Missões do Uruguai. Localizadas a leste do rio Uruguai, em região hoje pertencente ao estado do Rio Grande do Sul, essas missões agrupavam sete povoações habitadas por índios guaranis e jesuítas
BASÍLIO DA GAMA
A origem do conflito está no tratado de Madri, de 1750, segundo o qual Portugal entregaria a Colônia do Sacramento à Espanha em troca das terras onde estavam os Sete Povos das Missões; diante da resistência indígena e jesuítica, portugueses e espanhóis organizaram uma campanha militar que se estendeu de 1752 a 1756.
O Uraguai
narra os a episódios finais dessa campanha militar e conseqüente anexação dos territórios à Coroa portuguesa.
BASÍLIO DA GAMA
O poema épico
O Uraguai
dois objetivos básicos: a defesa e a exaltação da política pombalina e a crítica virulenta aos jesuítas, seus antigos tem mestres.
O URAGUAI (1769)
No aspecto formal,
O Uraguai
não apresenta nenhum esquema estrófico regular; seus versos são brancos (sem rima) e, ainda que seja possível perceber a divisão nas tradicionais partes do poema épico (proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo), essas partes não seguem as normas estritas do gênero, revelando se flexíveis.
O URAGUAI
O Uraguai
, na realidade, não é um típico poema épico em sua estrutura, formada por apenas cinco cantos, sem esquema regular de estrofes. Os maiores méritos formais do texto residem justamente nessa ruptura com a tradição camoniana da epopéia em língua portuguesa: Basílio da Gama criou um texto inovador , que explora formas e ritmos de maneira até então inéditas.
O INDIANISMO EM
O URAGUAI
Elemento temático muito importante: a exaltação da figura do índio.
O poema
O Uraguai
, não enfatiza a guerra em si, nem as ações dos vencedores, nem os vilões jesuítas - tratados caricaturalmente. Ganham destaque, de fato, e descrição física e moral do índio, o choque de culturas e a paisagem nacional. Além disso, o autor cria passagens de forte lirismo, como a do episódio da morte de Lindóia.
O INDIANISMO EM
O URAGUAI
A valorização do índio e da natureza selvagem do Brasil corresponde, por um lado, ao ideal de vida primitiva e natural cultivado pelos iluministas e pelos árcades. Por outro lado, porém, esses aspectos, que podemos chamar de
nativistas
, prenunciam as tendências da literatura do século XIX: o Romantismo .
A MORTE DE LINDÓIA
“Entram enfim na mais remota e interna Parte de antigo bosque, escuro e negro, Onde ao pé de uma lapa cavernosa Cobre uma rouca fonte, que murmura, Curva latada de jasmins e rosas.
Este lugar delicioso e triste, Cansada de viver, tinha escolhido Para morrer a mísera Lindóia.”
SANTA RITA DURÃO (1722 – 1784)
OBRA:
Caramuru
, que tem como subtítulo
Poema épico do descobrimento da Bahia,
é um poema épico escrito nos moldes camonianos: dez cantos, versos decassílabos, estrofes em oitava-rima e estrutura convencional (proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo), em que são narradas as lendárias aventuras de Diogo Álvares Correira, náufrago no Recôncavo da Bahia no século XVI.
CARAMURU (1781)
Seus companheiros de devorados pelos naufrágio foram índios; ele, porém, teria se salvado, dando um tiro de espingarda que impressionou tanto os nativos, índios tupinambás, que passaram a respeitá-lo e lhe deram o nome de
Caramuru
, que significa
“filho do trovão” ou “homem de fogo ”.
O INDIANISMO EM
CARAMURU
Em
Caramuru
, Santa Rita procura apresentar a natureza brasileira, descrevendo o clima, a fertilidade da terra, as riquezas naturais. Assim, alia se à tradição dos cronistas e viajantes que descreveram a colônia no século XVI. Interessa-se particularmente pelo indígena, descreve seus costumes e instituições e ressalta sua catequese. Visto que Diogo Álvarez, mesmo não sendo padre, demonstra interesse em conduzir o índio ao caminho do cristianismo, caracterizando-se como um consciencioso evangelizador.
MOMENTO LÍRICO = A MORTE DE MOEMA
“
Perde o lume dos olhos, pasma e treme, Pálida a cor, o aspecto morib
䁵
ndo; Com a mão já sem vigor, soltando o leE, Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda dů mar, que irado fre e, Tornando a aparecer desde o profundo: - Ah! Diogo ţruel! - disse com mágoa, E sem mais vista ser, sorveu-se na água .”