FEB Celso Furtado Cap XX a XXIV

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Celso Furtado
FEB
Cap. XX a XXIV
Cap. XX: Gestação da economia cafeeira
Meados do séc. XIX: para superar a etapa de
estagnação, o Brasil necessitava reintegrar-se nas
linhas de expansão do comércio internacional
 Porque não havia se desenvolvido tecnologia
própria nem se formavam capitais
 “Para levantar recursos nos mercados de capitais era
necessário apresentar projetos com perspectivas
muito atrativas ou oferecer garantias de juros
subscritas por quem tivesse o necessário crédito”
Estagnação das exportações tradicionais
Açúcar: preço declinante; mercados inglês atendido
pelas colônias inglesas; mercado americano
atendido por Cuba
Algodão: concorrência da produção americana (com
fretes mais baixos, terras de boa
qualidade...)  a situação do Brasil melhorou
com a Guerra Civil (década de 1860)
Outros produtos eram “menores”: fumo (perda do
mercado africano); couros (produzido no Rio da
Prata); arroz (EUA) e cacau
Vantagens da produção de café (I)
“O problema brasileiro consistia em encontrar produtos
de exportação em cuja produção entrasse com
fator básico a terra.
 A terra era o fator de produção abundante no país.
Capitais praticamente não existiam e a mão-deobra era basicamente constituída por um
estoque de pouco mais de dois milhões de
escravos, parte dos quais permaneciam
imobilizados na indústria açucareira ou
prestando serviços domésticos”
Empresa cafeeira versus empresa
açucareira (I)
Empresa cafeeira: utilização intensiva de MDO escrava,
tal qual açucareira.
Mas tem grau de capitalização muito mais baixo,
porquanto se baseia na utilização do fator terra”
Seu K também está imobilizado, mas seu equipamento
é mais simples e quase sempre de fabricação local
 Tinha custos monetários mais baixos que o açúcar:
somente uma forte alta nos preços da MDO poderia
interromper seu crescimento, porque havia muita
terra
Empresa cafeeira versus empresa
açucareira (II)
Economia cafeeira (RJ & MG): no início, havia MDO
escrava subutilizada na região da mineração
 por isso teria crescido muito apesar da queda dos
preços (1830-1850)
No 3º quartel do século, os preços do café sobem, e os
preços do açúcar caem
 Transferência de MDO escrava do norte para o sul
Brasil: Exportações (em % do total)
Fonte: Sérgio Silva. Expansão cafeeira e origens da industrialização no Brasil
Decênio
Café
Açúcar
Algodão
Couros
1821-30
18,4
30,1
20,6
13,6
1831-40
43,8
24,0
10,8
7,9
1841-50
41,4
26,7
7,5
8,5
1851-60
48,8
21,2
6,2
7,2
1861-70
45,5
12,3
18,3
6,0
1871-80
56,6
11,8
9,5
5,6
1881-90
61,5
9,9
4,2
3,2
A classe dirigente
Origem: comerciantes de gêneros e animais do sul de
MG que haviam abastecido o RJ a partir a
chegada da Corte
Na época do açúcar, os comerciantes estrangeiros
controlavam o negócio
 Agora, com o café, “sua vanguarda esteve formada
por homens com experiência comercial. Em
toda a etapa de gestação os interesses da
produção e do comércio estiveram
entrelaçados”
A classe dirigente (II)
“A nova classe dirigente formou-se numa luta que se
estende em uma frente ampla: aquisição de
terras, recrutamento de MDO, organização e
direção da produção, transporte interno,
comercialização nos portos, contatos oficiais,
interferência na política financeira e econômica
Proximidade do RJ era vantajosa: “Desde cedo eles
compreenderam a enorme importância que
podia ter o governo como instrumento de ação
econômica”
Cap. XXI: O problema da MDO
I. Oferta interna potencial (I)
Em meados do séc. XIX, havia no máximo 2 milhões de
escravos: inelasticidade da oferta de trabalho
[1850: fim do tráfico]
Censo de 1872: 1,5 milhão de escravos. Em 1800, o nº
de escravos era > 1 milhão
 Como no período haviam sido importados mais
de 500 mil “peças”, “a taxa de mortalidade era
> natalidade” (Nos EUA era o contrário, talvez
porque a maioria vivesse em pequenas
propriedades)
Oferta interna potencial (II)
Questão da MDO: Brasil ≠ Europa
Europa: industrialização = revolução tecnológica =
urbanização = melhores condições sociais =
maior crescimento vegetativo da população =
MDO + do que suficiente = queda dos salários
Brasil: crescimento extensivo = maior utilização da
terra mediante incorporação de MDO
 “O problema econômico estava, portanto, na
oferta de MDO”
MDO & setor de subsistência
A ‘roça’ era a base da economia de subsistência
Mas “do ponto de vista social a unidade + significativa
era a que tinha como chefe o proprietário de
terras. A este interessava que o maior nº de
pessoas vivesse em suas terras, cabendo a cada
um tratar de sua própria subsistência
 Desta forma, no momento oportuno poderia
dispor da MDO que necessitasse”
 Os “senhores da terra” resistiram a propostas de
recrutamento (transferência regional) de MDO
MDO & “trabalhadores livres” urbanos
“Também nas zonas urbanas se havia acumulado uma
massa de população que dificilmente
encontrava ocupação permanente”
MAS... a adaptação à disciplina do trabalho agrícola e
às condições de vida nas grandes fazendas era
problemática
 Opinião da época: a MDO livre (urbana +
subsistência) não servia para a “grande lavoura”
 Não evoluiu a ideia de recrutamento interno
financiado pelo governo
Cap. XXII: O problema da MDO
II. A imigração europeia
Solução alternativa: imigração europeia, como
mostrava o caso dos EUA
MAS... Como atrair europeus para grande lavoura
(plantation)?
 os europeus iam para os EUA para trabalhar em
pequenas propriedades (e depois, serem eles
mesmos proprietários)
 para as plantations, iam escravos “produzidos” nos
EUA ou “sequestrados” no Atlântico para se
tornarem “livres”
Imigração europeia: EUA & Brasil
EUA: fretes baratos na volta, porque algodão ocupava
muito espaço nos navios na ida
 Mas “o fundamental era que os colonos contavam
com um mercado em expansão ... que era em
grande parte reflexo do desenvolvimento das
plantações do sul”
Brasil: as primeiras colônias (1824) careciam de
fundamento econômico e eram
totalmente financiadas pelo governo
 O objetivo do governo era “melhorar a raça”...
Imigração europeia: círculo vicioso
Para que as colônias tivessem êxito, seria necessário
haver atividades produtivas rentáveis. Mas...
1. a produção para exportação estava organizada
em grandes plantações  além da necessidade
de “imobilização de capital”, aos “barões do café”
não interessava (financiar...) a concorrência
2. a expansão do mercado interno dependia do
desenvolvimento das exportações, que dependia
da oferta de MDO...
Imigração europeia: solução (I)
Década de 1860: aumento dos preços do café e do
algodão  maior demanda por MDO
1. Sistema de pagamento ao colono  salário
monetário anual fixo + variável de acordo com
colheita
2. Pagamento da viagem: como não havia garantia de
que o colono permaneceria na terra de quem o
financiasse, coube ao governo arcar com os
gastos de transporte
Imigração europeia: solução (II)
3. Ao fazendeiro cabia os custos durante o 1º ano de
atividade + disponibilizar terras para o colono
manter a família
4. Itália: unificação reduziu a competitividade das
empresas no Sul do país: “sobrou” MDO
5. 1875-1900: dos 803 mil imigrantes que chegaram a
São Paulo, 577 mil eram italianos
CAP. XXIV: Eliminação do trabalho escravo
“Constituindo a escravidão no Brasil a base de um
sistema de vida secularmente estabelecido ...
Para o homem que integrava esse sistema a
abolição do trabalho servil assume as
proporções de uma ‘hecatombe social’.”
“Prevalecia então a ideia de que um escravo era
uma ‘riqueza’ e que a abolição da escravatura
acarretaria o empobrecimento do setor da
população que era responsável pela criação
de riqueza no país.”
Eliminação do trabalho escravo (II)
• Por um lado...: riqueza privada desapareceria
instantaneamente por um golpe legal
• Por outro lado...: abolição traria a “liberação”
de vultosos capitais, pois não haveria
capital imobilizado em força de trabalho
Celso Furtado: a abolição não destrói nem cria
riqueza. “Constitui simplesmente uma
redistribuição da propriedade dentro de
uma coletividade”.
Eliminação do trabalho escravo (III)
No Nordeste, as terras já estavam ocupadas
“Os escravos liberados tiveram grande
dificuldade para sobreviver”
- As áreas de subsistência eram muito
distantes
- Nas cidades já havia excedente
populacional
 Foram trabalhar em outros engenhos
aceitando baixos salários
Eliminação do trabalho escravo (IV)
Na região cafeeira, já havia menor fertilidade
do solo no RJ, MG e parte de SP
Seria de se esperar que os libertos fossem
procurar emprego em SP e Paraná
Mas já havia forte migração de europeus
A relativa abundância de terras permitia o
aumento da economia de subsistência
Mas a situação do antigo escravo no SE e no Sul
era melhor do que a do NE
Eliminação do trabalho escravo (V)
A abolição não provocou modificações na forma
de organização da produção e mesmo na
distribuição da renda
“Sem embargo, havia-se eliminado uma das
vigas básicas de poder formado na época
colonial ... que constituía um fator de
entorpecimento do desenvolvimento
econômico do país”