Diagnóstico emergético do Pantanal Enrique Ortega P a n t a n a l Laboratório de Engenharia Ecológica - Unicamp Embrapa Pantanal Pantanal: paraíso das aves, sob o domínio das águas Parte 1: um lugar de convívio.

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Transcript Diagnóstico emergético do Pantanal Enrique Ortega P a n t a n a l Laboratório de Engenharia Ecológica - Unicamp Embrapa Pantanal Pantanal: paraíso das aves, sob o domínio das águas Parte 1: um lugar de convívio.

Diagnóstico emergético
do Pantanal
Enrique Ortega
P
a
n
t
a
n
a
l
Laboratório de Engenharia
Ecológica - Unicamp
Embrapa Pantanal
1
2
Pantanal:
paraíso das aves,
sob o domínio das águas
Parte 1:
um lugar de convívio sustentável
3
95% das terras do Pantanal são
propriedade de fazendeiros.
Apenas 4% da porção brasileira
desse bioma esta protegida em
reservas, mas o paraíso das aves
pode sofrer futuramente com o
impacto da ocupação humana.
Bioma Pantanal, a maior planície
inundável interiorana do mundo.
4
Em 1536, após a fundação de Buenos Aires, uma expedição
espanhola subiu os rios Paraná e Paraguai em busca de ouro.
Alcançou os rios Apa e Nabileque, uma imensa área alagada.
Um soldado alemão dessa tropa, Ulrich Schmidel, batizou a
região de Mar dos Xaraés, referindo-se a um dos vários
povos indígenas que ocupavam o território.
5
Assim nasceu um engano que duraria séculos: a idéia de
que o Pantanal seria uma espécie de mar interior – coisa
que não é nem nunca foi. Apesar de a origem do nome do
bioma, não podemos chamá-lo de pântano, porque o terreno
não fica permanentemente alagado.
Na realidade, o Pantanal é a maior planície sujeita a
alagamentos periódicos do mundo.
6
Embora a água das lagoas
– ou baías, como são
chamadas na região – seja o
elemento dominante dessa
paisagem, chove pouco no
Pantanal.
Tão pouco que, se não
fossem as inundações
originadas pelas chuvas que
ocorrem nas áreas mais altas
ao redor da planície, o bioma
não existiria com a feição que
tem hoje.
Nas cheias, as baías se
unem por canais, que os
pantaneiros chamam de
corixos e vazantes.
7
Sem as inundações o lugar se assemelharia aos domínios
vizinhos, com vegetação mais seca: o Cerrado (a leste) ou o
Chaco do Paraguai e da Bolívia (a oeste).
Com o lento ciclo anual de cheia e vazante dos seus rios
tortuosos, se desenvolve um conjunto variado de habitats:
campos, brejos, matas ciliares, capões de mata e de cerrado
que abrigam animais de quase todos os biomas nacionais. 8
Durante séculos o Pantanal foi,
para o colonizador europeu uma
região de passagem. Só no século
XIX, com a pecuária, começaria
uma ocupação de pesca e
pecuária sustentável. Por isso,
esse paraíso de tuiuiús, araras,
jacarés, onças, capivaras e cervos
chegou aos dias atuais intacto.
E assim ele deve permanecer, para deleite das gerações
futuras, se o impacto crescente da agropecuária, da pesca e
do próprio turismo for mantido sob controle.
Mas tanto o que ocorre nas bordas desse sistema quanto o
que se planeja fazer dentro dele pode acabar com esse
paraíso.
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Água dos
rios
Espécies
migratórias
SediHumus mentos
Insumos
Homem
pantaneiro
Sedimentos
biomassa
Fauna
local
$
$
Gado em pé
Gado
Superfície
terrestre
Sedimentos
Sol,
vento,
chuva
biomassa
Rios e lagoas
Infraestrutura
Fauna
local
Pesca do
Pantanal
$
$
Peixe
Água filtrada
biologicamente
Pantanal
tradicional
10
Faun
Reg
Reprod
Supl
Alim
Sal
Medic
Vac
Diesel
Mat
Consumo
Tralha
Mantimentos
Trab
Temp
Info
B
FL
Áreas
Florestadas
H
Roça
B
FL
B
FL
Cria- MO
MO
ções local temp
Infra
Faz Infra
Tur
Turista
Turista
Campo
Cerrado
Natm
NPK solúvel
Sol
Chuva
Vento
albedo
Onça
$
Campo
Limpo Alto
B
Bezerro
FL
Campo
Limpo
Sazonal
Rebanho de
Cria
B
FL
Pasto
Cultivado
B
Corpos
D`água
Bezerros
FL
Produtos
Alternativos
Produtos
Alternativos
Degradação
11
Localização e características físicas
É uma bacia muito plana de 200 mil quilômetros quadrados
situada no centro do continente. Desse total, 70% – 150 mil
quilômetros – ficam em território brasileiro (um terço no
estado de Mato Grosso e dois terços em Mato Grosso do Sul).
O restante se divide entre Bolívia e Paraguai.
12
O clima predominante é o mesmo do
Cerrado, o tropical semi-úmido.
A chuva atinge de 1200 a 1400 mm.
É uma planície cercada de terras
mais altas que se inunda pelo menos
quatro meses ao receber as águas das
serras que a circundam.
No interior da bacia, as altitudes
raramente ultrapassam a faixa entre 50
e 150 metros acima do nível do mar.
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Mapa físico do bioma Pantanal
A planície do Pantanal
é cercada por chapadas
(Parecis, Guimarães,
Emas) e serras (Araras,
Maracaju e Bodoquena).
PARAGUAI
Nelas as elevações
chegam aos 1000 m de
altitude.
O Pantanal é cortado
de norte a sul pelo rio
Paraguai que ao longo
de seu curso recebe
água de vários afluentes
(Cuiabá, Itaquira, São
Lorenzo, Taquari,
Miranda).
14
Quando alcançam a planície, os rios passam a correr num
terreno com pequeno declive, 2 centímetros a cada
quilômetro, do norte para o sul (embora em alguns trechos
possa chegar a 30), e 3 a 5 centímetros, no sentido lesteoeste.
As matas-galeria acompanham as margens
dos rios do Pantanal.
15
As águas no interior da bacia escorrem muito lentamente até
a porta de saída, pelo sul, onde o rio Paraguai corre ao
encontro do rio Paraná. Devido a baixa velocidade, as
correntes não têm força para romper obstáculos do terreno e
fazem um caminho cheio de curvas (meandros). À medida
que o rio se enche, a água pode extravasar o leito sinuoso e
preencher áreas mais baixas, dando origem às baías ou
lagoas.
16
Nas cheias, quando o nível das águas sobe de 50
centímetros a 6 metros, as baías começam a se unir por
canais, que os pantaneiros chamam de corixos e vazantes.
Algumas lagoas são permanentes, têm uma faixa de areia
em volta e alta concentração de sais, acumulados pela
evaporação. Recebem, por isso, o nome de salinas. As
elevações que nunca se inundam são conhecidas
regionalmente como cordilheiras.
A paisagem da planície do Pantanal (MS), com
salinas (lagoas permanentes) e vegetação.
17
Em anos de cheias excepcionais, como 1984 e 1995, o rio
Paraguai se espalha por uma largura de até 20 quilômetros.
Em todo o Pantanal, a área inundada pode chegar a 137 mil
quilômetros quadrados.
18
A lenta onda de enchentes iniciada no mês de fevereiro no
norte do bioma leva de quatro a cinco meses para alcançar o
sul do Pantanal (junho-julho).
No auge do período de inundação em Mato Grosso do Sul
(julho e agosto), a região pantaneira de Mato Grosso já se
encontra no início da estação seca.
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Os rios trazem sedimentos do planalto circundante, formado
por terrenos antigos (65 a 500 milhões de anos). As
inundações depositam os sedimentos no interior da bacia. A
maior parte deles é composta de areia mas há também há
um pouco de argila. Esse processo nos últimos 2,5 milhões
de anos formou camadas de até 400 metros de espessura.
O Pantanal é uma
bacia sedimentar.
Nos sedimentos está a
base da explosão de
vida do Pantanal.
20
Biodiversidade
No Pantanal, fauna e flora encontram ótimas condições para
se desenvolver, fazendo dele um dos mais ricos mosaicos de
vida no mundo. Isso porque as rochas dissolvidas na água das
enchentes contêm sais minerais e outros nutrientes importantes
para o crescimento das plantas. Eles ficam retidos nas áreas
inundáveis, como lagoas, brejos, corixos e vazantes, que
funcionam como um filtro. Os vegetais que proliferam são em
especial aqueles adaptados para viver em áreas alagadas,
chamados de macrófitas.
21
Biodiversidade
Onça-pintada
Jacaré
Piranha
Capivara
Sucuri
Tucano
22
São conhecidas 250 espécies de macrófitas no Pantanal:
plantas emergentes, anfíbias, flutuantes, submersas e
epífitas. As mais conhecidas são a vitória-régia, de origem
amazônica, e o aguapé. Elas fornecem abrigo e alimento
para insetos, moluscos e outros invertebrados. E também
para peixes, que migram do canal do rio, na cheia, para os
trechos alagados e cobertos de camalotes, nome dado aos
grandes bancos de vegetação flutuante.
23
As duas feições de mata mais típicas do Pantanal são os
capões e as matas-galeria. Nas cordilheiras (pequenas
elevações que não se alagam) formam-se os capões, onde
a vegetação predominante tem forte parentesco com a do
Cerrado, embora a piúva (ipê-roxo), árvore-símbolo do
Pantanal, seja mais característica da Mata Atlântica.
As piúvas, um tipo de ipê,
estão entre as árvores mais
24
características do Pantanal.
São comuns ali o pequi, o paratudo e o jatobá, que alcançam
de 12 a 16 metros de altura. Nas matas-galeria, ao longo dos
rios e corixos, há também outras espécies de árvores, como
figueiras, ingás e novateiros.
25
Muitas plantas de outros biomas são encontradas no
Pantanal, como o babaçu, uma palmeira típica da Amazônia.
Isso acontece porque o Pantanal está em contato com outros
domínios (a Amazônia, ao norte; o Cerrado, a leste; e a Mata
Atlântica que não está distante dali) e acaba assim por
funcionar como um corredor de circulação de espécies entre
eles. Até plantas da Caatinga, como o mandacaru, são
encontradas nas áreas mais altas e Secas do bioma.
26
Outro fenômeno típico da planície pantaneira é a formação de
áreas relativamente homogêneas de vegetação. São
chamadas de parques e recebem nomes específicos
conforme a espécie predominante: paratudal (paratudo),
carandazal (carandá), acurizal (Cacuri), buritizal (buriti) e
assim por diante.
27
São muitas as associações entre os organismos do Pantanal.
Uma interação curiosa é a das piraputangas (uma espécie de
peixe) que acompanham pelo rio o deslocamento dos bandos
de macacos-prego pela mata-galeria. Os macacos pulam de
árvore em árvore para se alimentar dos frutos, dos quais
deixam cair pedaços e sementes na água, para alegria dos
peixes que estão à espreita.
28
Os animais do Pantanal são uma atração à parte. Mais de 300
espécies de peixes como pintados, cacharas, jaús, parus,
piraputangas, piranhas e dourados se aproveitam das
condições favoráveis de abrigo e alimentação. Os peixes
integram um dos poucos grupos em que ocorre endemismo no
Pantanal: já foram identificadas 15 espécies que só existem
neste bioma e em nenhum outro.
29
Nos períodos em que termina a enchente e a água começa
a escoar, boa parte da vegetação morre. Os detritos se
decompõem e servem de alimento para uma infinidade de
invertebrados e peixes pequenos, que por sua vez são
predados por outros animais. As aves fazem a festa, em
particular quando as baías não estão ligadas aos rios e o
nível da água abaixa. Com tanto alimento disponível, o
Pantanal atrai muitos pássaros – são mais de 400 espécies.
Garça-branca (Casmerodius albus),
ave migratória que se reúne em
bandos na época da reprodução.
30
Muitos desses pássaros se reúnem nos ninhais (árvores
com grande quantidade de ninhos), onde a defesa contra
predadores é mais eficaz para o grupo. É comum encontrar
jacarés e sucuris embaixo de ninhais esperando que um
filhote de ave caia do ninho para virar almoço.
Ninhal com aves na beira do rio Vermelho31
(MS).
A ave-símbolo da região é o tuiuiú, também chamado de
jaburu, que pode ser visto com freqüência nas lagoas, locais
onde encontra seu alimento preferido: o peixe mussum, que
se esconde na lama. É ali também que aves como garças e
colhereiros se alimentam; são centenas, às vezes milhares
delas.
O tuiuiú (Jabiru mycteria), a bela ave-símbolo do
Pantanal. Frequentador das lagoas em busca de
peixes.
Colheiro (Plaralea ajaja) com seu bico
reto, largo e achatado, uma das aves 32
típicas do bioma.
O Pantanal abriga mais de um tipo de arara, mas a araraazul é a mais diretamente associada ao bioma. Ela se
alimenta dos frutos de duas palmeiras comuns na região, o
acuri e a bocaiúva, às vezes também de jatobá.
Casal de araras-azuis (Anodorhynchus hyacinthinus), espécie
ameaçada de extinção.
33
A arara azul (ameaçada de extinção) exibe sua fragilidade na
hora de fazer o ninho: 95% delas constroem seu ninho em
ocos da árvore manduvi e 5% em angicos-brancos. Ela
compete com outros pássaros que usam esses ocos, como a
arara-vermelha, o falcão-relógio e a marreca-cabocla, a
arara-azul e também enfrenta as abelhas e o desmatamento.
34
Em busca de uma economia sustentável
O Pantanal é um paraíso só de bichos e plantas, também
populações humanas vivem nesse bioma há séculos, muito
antes da chegada do colonizador europeu.
Embora a presença do homem impacta o ambiente – da
destruição de florestas à poluição das águas – até agora ela
não foi suficiente para destruir a teia de relações ecológicas
que existe por trás da exuberância natural dessa planície.
35
Na época da chegada do colonizador europeu, no século
XVI, calcula-se que houvesse, só na região sul do Pantanal,
cerca de 1,5 milhão de índios. Eles se dividiam em muitas
etnias (povos), como guaranis, guatós, ofaiés, cadiuéus,
caiapós e paiaguás. Os paiaguás foram extintos e dos guatós
restam somente poucas centenas.
36
Se somados os habitantes de todos os municípios que
compõem o Pantanal, chega-se a uma população de quase
2 milhões de pessoas. Corumbá (MS) é uma das maiores
cidades, com mais de 100 mil habitantes.
Corumbá (MS), às margens do rio Paraguai, é
um dos principais centros urbanos do Pantanal.
37
Em Mato Grosso, na porção norte do Pantanal, fica Cáceres,
com população de mais de 90 mil pessoas. Outros 3 milhões
povoam os planaltos ao redor, onde nascem os rios que
inundam a planície pantaneira – para não falar das duas
capitais, Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT), fora do
Pantanal, com cerca de 700 mil habitantes cada um (incluída
a população de Várzea Grande, vizinha de Cuiabá).
38
Como outras regiões do Brasil, este bioma também
presenciou uma sucessão de ciclos econômicos. Até o século
XVIII, a região teve significado apenas militar, pela disputa
entre espanhóis e portugueses. Ganhou importância com a
descoberta de ouro em locais como Poconé (porção norte do
Pantanal), por bandeirantes paulistas.
Os bandeirantes levavam o ouro e
traziam provisões para a região, em
grandes expedições chamadas
monções, que seguiam pelos rios.
As monções sofriam constantes
ataques de índios, como os paiaguás.
Para garantir a alimentação de quem
explorava o ouro, surgiram roças na
região, o que seria o embrião de uma
agricultura permanente
39
No século XIX, com o esgotamento da mineração, teve início
o ciclo do açúcar. Abriu-se espaço para grandes plantações
de cana e foram construídos engenhos que, já na primeira
década do século XX, colocavam o estado de Mato Grosso
como o segundo maior produtor de açúcar do Brasil.
Quando não havia cana para colher e moer, na entressafra,
a mão-de-obra era empregada no abate do gado criado solto
nos campos naturais do Cerrado e do Pantanal. A carne era
salgada para que não se estragasse durante o transporte até
os centros consumidores.
Foi o chamado ciclo das charqueadas, em referência ao
nome da carne salgada (charque), que se manteve até o final
do século XX.
40
Foi nessa época que se iniciou o ciclo da pecuária, que
prossegue até hoje. O produto de venda passou então a ser o
próprio rebanho e não mais a carne. As cabeças de gado
criadas soltas nos campos – sistema conhecido como
pecuária extensiva – eram levadas para engorda em outras
regiões do país (como o Triângulo Mineiro).
Os pantaneiros, vaqueiros do pantanal, são os que cuidam do
gado espalhado pelas grandes fazendas da região.
41
Mais recentemente se observa o início de uma transição
para a pecuária mais intensiva, com abate na própria região.
O rebanho mato-grossense (do sul e do norte) é um dos
maiores do Brasil, com cerca de 50 milhões de cabeças, das
quais se calcula que entre 4 e 8 milhões estejam no Pantanal.
Pantaneiro toca berrante para conduzir o gado. A
pecuária é a principal atividade econômica do Pantanal.
42
O turismo vem crescendo em importância nas últimas três
décadas. Já representa o segundo maior setor econômico do
Pantanal, perdendo apenas para a pecuária.
A atividade teve início com as viagens para a prática da
pesca (a caça é proibida, mas a pesca é regulamentada) e
evoluiu nos últimos anos para a modalidade de ecoturismo,
com a transformação de fazendas em pousadas voltadas à
contemplação de ambientes naturais de rara beleza e de
animais selvagens em seu ambiente natural.
O Pantanal é um dos mais
importantes destinos turísticos
do Brasil. Em meio a sua matas,
é possível encontrar diversos
43
complexos hoteleiros e de lazer.
Água dos
rios
Espécies
migratórias
Insumos
SediHumus mentos
$
Visitantes
Homem
pantaneiro
$
biomassa
Superfície
terrestre
Sol,
vento,
chuva
Fauna
local
$
Instalações
turísticas
turista
Infraestrutura
biomassa
Rios e lagoas
Fauna
local
$
Gado em pé
Gado
Pesca do
Pantanal
$
$
Peixe
Água filtrada
biologicamente
Pantanal
44
Outra área em crescimento é a mineração de manganês e
de ferro, no maciço de Urucum (perto de Corumbá). O
potencial de exploração das reservas está estimado em 100
bilhões de toneladas de manganês e 2 bilhões de toneladas
de ferro. Há um projeto de um Pólo Siderúrgico para a
produção de aço na região, que hoje só exporta esses
minerais sem beneficiar e também a implantação de um Pólo
Gás-Químico, para processar o gás da Bolívia e dele extrair
matérias-primas para fabricar produtos petroquímicos.
Mina no Maciço de Urucum.
45
Influências indígenas e hispânicas
A cultura pantaneira conta com três elementos básicos:
(1) a presença de índios, especialmente no passado, a
predominância da pecuária e a influência do elemento
hispânico dos países vizinhos, Paraguai e Bolívia.
A maior terra indígena do Pantanal é a dos cadiuéus,
famosos pela cerâmica e pintura corporal elaboradas.
46
Uma contribuição indígena é a rica medicina tradicional, que
encontra na vegetação do Pantanal remédio para tudo.
"Paratudo", não por acaso, é o nome regional do ipê que
serve de base para preparados contra problemas de
estômago, tosse e outras doenças. Usam-se a erva-desanta-maria para matar vermes, o barbatimão para cicatrizar
feridas e curar inflamações e o leite de taiúva para a dor de
dente.
47
(2) O cavalo e a pecuária, trazidos pelos espanhóis na época
colonial, dominam a paisagem e fazem da lida com o gado a
habilidade mais difundida entre pantaneiros tradicionais.
48
(3) A música regional revela a
contribuição hispânica, em especial
a paraguaia, com gêneros como
guarânia, polca e chamamé.
O instrumento típico do Pantanal
é a viola-de-cocho, confeccionada
numa única peça da madeira de
sara, uma árvore que só cresce
nas matas de galeria e que
atualmente tem extração proibida.
A viola-de-cocho (à esq.), esculpida em uma
única peça de madeira, é o instrumento mais
comum nas festas e cantorias pelo Pantanal.
49
É a peça central do cururu e do siriri, danças executadas
em festas populares, como a de São Sebastião e outras que
adentram para a área do Cerrado. Sua tradição deu origem a
uma grande escola de violeiros, com expoentes como
Helena Meirelles.
Helena Meirelles (1924-2005), violeira, cantora e
compositora, reconhecida mundialmente por
seu talento como tocadora de viola
50
A cultura pantaneira se manifesta na poesia do advogado,
fazendeiro e poeta Manoel de Barros, que se refere em grande
parte de sua obra aos componentes da vida e da paisagem
pantaneira.
Ele publicou muitos livros premiados, como Compêndio para
uso dos pássaros (1960), O guardador de águas (1989) e O
fazedor de amanhecer (2001).
Manoel Barros (1916-), um
dos principais poetas
contemporâneos do Brasil,
se consagrou com sua
poesia sobre o Pantanal. 51
Pantanal:
paraíso das aves,
sob o domínio das águas
Parte 2:
um espaço ameaçado
52
A mobilização para preservar o Pantanal
Apesar das condições relativamente boas do bioma, existe
muita preocupação com o futuro da natureza pantaneira.
As ameaças mais temidas são a agropecuária intensiva e a
criação de pólos industriais, que podem desequilibrar a teia
de relações ecológicas. Até o mesmo o turismo, visto como
uma saída econômica de menor impacto, pode ter efeitos
danosos para o ambiente no Pantanal.
53
A madeira retirada por pecuaristas para transformar a mata em pasto
normalmente vai parar nos fornos de produção de carvão vegetal.
Segundo o IBAMA, existem mais de 5 mil carvoarias em Mato Grosso
do Sul, a maior parte delas funcionando irregularmente.
54
Se for respeitada a capacidade de suporte dos campos
naturais do Pantanal, ou seja, a criação de uma quantidade
de bois e vacas que não afete o equilíbrio do ambiente, a
pecuária não é destrutiva. Para aumentar a produtividade,
porém, muitos criadores desmatam capões e matas-galeria
para aumentar a área de pastagem e introduzir espécies de
capim estranhas ao ambiente pantaneiro. O pisoteio do gado
sobre a vegetação é outra ameaça ao bioma.
Gado em área desmatada
nos arredores da Serra da
Bodoquena.
55
A atividade que mais pode prejudicar o ecossistema do
Pantanal é a agricultura intensiva praticada nos planaltos em
torno do bioma, como as lavouras de soja e de cana.
Essas culturas acabam com a vegetação natural das áreas
mais altas, onde nascem o rios que correm na planície
pantaneira. A falta de cobertura vegetal facilita a erosão do
solo, que é levado em grandes quantidades para os rios
pelas enxurradas.
56
Além disso, a agricultura no planalto pode contaminar com
substâncias tóxicas as águas ainda puras do Pantanal. Por
essa razão e pelo risco de assoreamento, a Assembléia
Legislativa do Estado de Mato Grosso do Sul chegou a proibir
a instalação de usinas produtoras de álcool nas proximidades
da bacia pantaneira. Mas a pressão dos usineiros é grande!
57
Também sofreu atrasos e resistência o plano de criar uma
hidrovia no rio Paraguai, que fatalmente aumentaria sua
velocidade e prejudicaria a formação das lagoas temporárias,
ameaçando a sobrevivência da rica vida aquática que atrai
tantas aves e outros bichos para a região.
58
Um dos principais argumentos dos defensores do bioma
pantaneiro é que ele vale mais conservado do que destruído.
Segundo a WWF, os serviços prestados pelos ecossistemas
pantaneiros – da reciclagem da água à manutenção da
biodiversidade, do fornecimento de matérias-primas ao
ecoturismo — valem pelo menos US$ 15 bilhões por ano.
Se a vegetação e os
corpos d'água perderem
suas características
naturais, a rica fauna
perderá suas fontes de
sustento, afastando os
turistas.
59
O grau de desmatamento no Pantanal não é precisamente
conhecido, com estimativas variando entre 4% e 15% das
áreas florestadas.
Três dezenas de unidades de conservação (UCs) estão
localizadas no Pantanal, cobrindo 6.702 quilômetros
quadrados, ou 4,5% do bioma de 150 mil quilômetros
quadrados. T
Só três dessas UCs são federais e duas delas ficam em
Mato Grosso e foram criadas em 1981: Parque Nacional do
Pantanal Mato-grossense (1.360 quilômetros quadrados) e
Estação Ecológica Taiamã (143 quilômetros quadrados).
A terceira localiza-se em Mato Grosso do Sul, o Parque
Nacional da Serra da Bodoquena (765 quilômetros
quadrados), criado no ano 2000.
60
Áreas prioritárias de conservação do Pantanal
61
Como 95% das terras pantaneiras são propriedades
privadas, cresce a importância das reservas particulares
do patrimônio natural (RPPNs), que hoje respondem por
metade das áreas protegidas do bioma.
62
“Arrombados” do Taquari
O aumento da carga de sedimentos nos cursos d'água traz
o risco de – literalmente – entupir o Pantanal. É o fenômeno
do assoreamento dos rios, ou seja, a diminuição de sua
profundidade pelo acúmulo de terra ou areia no fundo. Já se
conhecem casos graves, como o do rio Taquari, em
que se formam os chamados "arrombados": locais onde o
rio rompe permanentemente suas margens e alaga áreas de
até 11 mil quilômetros quadrados, que não se esvaziam
quando termina o período das cheias.
63
Fumaça de
queimadas
Migração
de espécies
Materiais e
serviços
renováveis
Infraestrutura
Materiais e
serviços não
renováveis
Empresas
Rios e
aquíferos
Turistas
N, P,
minerais
solo
água
$
gado
Biodiv.
turistas
População
humana
Biomassa
Planalto
peixes
Biodiv.
solo
Sol, vento
e chuva
água
População
humana
Biomassa
Zona
urbana
Ecossistema
aquático
gado
Biodiv.
solo
água
População
humana
Biomassa
Planície
Minérios
(Fe, Mn)
água
solo
Morraria
Biodiv.
Indústrias de
extração
Biomassa
População
humana
64
A mudança climática e o Pantanal
1. Levando em conta as previsões para Amazônia pode-se
prever que o Pantanal poderá sofrer uma redução
drástica em sua biodiversidade e da produtividade com o
aumento da temperatura.
Tem se observado uma situação crítica com relação à
Amazônia, tudo indica que sua temperatura poderá se elevar
até 8º C. Isto deverá causar uma transformação na mata, ao
invés de uma floresta densa e alta se abrirá espaço para uma
vegetação rala, semelhante ao cerrado que os climatologistas
chamam como o fenômeno de “savanização da Amazônia”,
porque devido ao aumento da temperatura, cresce a
evaporação de água retirada do solo e a transpiração das
plantas, fatores que devem provocar o ressecamento do solo,
65
em especial na porção leste da Amazônia.
No começo de 2007,
o Painel
Intergovernamental
de Mudanças
Climáticas (IPCC),
apresentou sua
avaliação sobre o
aumento da
temperatura, estes
reconhecem que a
savanização da
Amazônia será
mesmo uma provável
conseqüência do
aquecimento global.
66
E uma das conseqüências direta dessa mudança será a
perda da biodiversidade, tanto da flora quanto da fauna.
Animais que vivem em equilíbrio com a floresta tendem a
desaparecer junto com ela. Segundo pesquisas 18% da
floresta amazônica deve virar cerrado entre 2090 e 2099,
porém este cálculo foi feito sem considerar as ações
antrópicas (do ser humano), como o desmatamento.
67
Outro grupo de pesquisadores do INPE usou índices atuais
de desmatamento para fazer projeções futuras e concluíram
que se a derrubada na região ultrapassar os 40%, a
temperatura na região vai subir 4ºC, as chuvas vão diminuir
24% na estação seca e a savanização já será sentida na
Amazônia oriental. Segundo levantamento recente feito pelo
governo federal, o desmatamento já chega a 20% nesta
região.
68
A falta da mata talvez provoque também um aumento do
fenômeno El Nino – o aquecimento das águas do pacifico,
pois a diminuição da mata pode provocar a redução das
chuvas na região. E quanto mais chove, mais intensos ficam
os ventos que, ao sobrarem, deixam as águas do oceano no
litoral mais frias. Se o vento diminui, o oceano se aquece.
Podemos extrapolar essa tendência para o Pantanal que fica
ao Sul da Amazônia, e pensar em um aquecimento de
4 a 6 C, que seria extremamente perigoso.
69
2. A agropecuária sofrerá grande impacto
As mudanças climáticas também poderão afetar a economia.
Levantamento feito por pesquisadores da Embrapa e do
Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à
Agricultura (CEPAGRI), da Unicamp, mostra que a produção
agrícola em geral para todos os grãos pode cair 25% com o
aumento da temperatura, e as culturas que mais sofrerão
com isso será o café e a soja.
Ironia do destino, a soja, hoje
uma das piores inimigas da
Amazônia, pode sofrer uma
redução de mais de 50% se a
temperatura subir 5,8 ºC.
Foto de novembro de 2004
mostra área ilegal com soja ao
lado de floresta, no Mato
Grosso. A conversão em
plantação se deu em menos
de um ano, de acordo com o
70
governo estadual .
Os pesquisadores estimam também que a pecuária será
prejudicada, havendo queda na produção de leite e aumento
de abortos em vacas.
Entidades recomendam que o governo já comece a pensar
em estratégias de gestão de água para minimizar os
problemas.
71
3. Saúde da população estará em risco
Secas e inundações irão fragilizar a saúde ainda mais de
populações que já se encontram em situações vulneráveis.
Escassez de água, incluindo aí a indisponibilidade de
alimentos, afetarão grandemente aqueles que vivem da
agricultura de subsistência.
Com isso muitas pessoas irão migrar ao mesmo tempo
podendo provocar uma redistribuição de doenças endêmicas.
72
4. A necessidade de pesquisa para saber como atenuar,
adaptar e mitigar
Os pesquisadores alertam que, antes de tudo, o país tem de
investir nos cálculos sobre o impacto das mudanças
climáticas para poder fazer obras mais adequadas para a
realidade futura.
73
O impacto das Hidroelétricas no Pantanal
Manso
Itiquira
74
A função ecológica mais importante no Pantanal é o pulso
das cheias. Assim a conservação da naturalidade deste pulso
é alvo de conservação para o Pantanal. Intervenções
humanas que alteram o pulso das cheias estão fazendo a
sociedade se afastar deste alvo. Ainda não se sabe até onde
a modificação do fluxo e do regime das cheias será
suportada pelos ecossistemas pantaneiros.
Como é sempre no caso em ecologia, podemos pensar que
há um valor limite além do qual esse sistema irá brutalmente
falir. As represas têm a capacidade de alterar o fluxo ou até o
regime das cheias dependendo de seu tamanho, tipo e
também de números. Os trabalhos mais recentes da
Comissão Mundial das Represas (World Commission on
Dams) não deixam dúvidas sobre isso.
75
Existe 9 represas hidrelétricas em operação ao redor
do Pantanal, sem contar as inúmeras represas
menores usadas para suprimento de água e irrigação.
Em um futuro próximo, 22 (ou 44) represas
hidrelétricas serão adicionadas à Bacia do Alto
Paraguai.
Para avaliar o impacto cumulativo dessas represas
qualitativamente, uma matriz de índices foi elaborada.
No momento não parece haver impactos cumulativos
nem dentro do Pantanal nem dentro das bacias onde
essas represas estão.
76
Quanto mais represas forem construídas, pode haver
impactos cumulativos de magnitude variante em várias
áreas da planície aluvial. No Pantanal de Cuiabá, os
índices sugerem que o impacto mais importante será
no tamanho e regime das cheias, especialmente a
montante da confluência São Lourenço com o rio
Cuiabá.
Na confluência dos rios Jauru e Paraguai os índices
sugerem outro foco de impactos cumulativos no
regime das cheias. Finalmente, altos índices de
impactos cumulativos no regime das cheias foram
encontrados na confluência dos rios Correntes e
Itiquira.
77
Planejando o desenvolvimento da energia hidrelétrica
de forma diferente reduz os índices dos impactos
cumulativos. Usando mais represas pequenas traz
resultados positivos, porem mistos. Por exemplo, o
calculo dos índices neste cenário somente com
represas menores indica um impacto na descarga
máxima alcançando o Pantanal maior do que no cenário
atualmente proposto, o qual conta poucas, mas grandes
represas.
Dobrando, em vez de triplicando a produção de energia
hidrelétrica nos próximos anos, produz uma redução
drástica nos índices de impactos cumulativos e, dos três
cenários estudados, é sem dúvida a melhor estratégia
de desenvolvimento de energia quando pensamos em
conservar a integridade dos ecossistemas pantaneiros.
78
A política que é apresentada pelo governo é a de
incentivo a construção de hidroelétricas.
A Hidrelétrica de Manso é um exemplo concreto e bem
recente, do impacto social ocorrido na Chapada dos
Guimarães, aumentando consideravelmente o número
de desabrigados e de sem terra, onde os pescadores
foram retirados de suas localidades com promessa de
serem indenizados por Furnas e até hoje buscam na
justiça aquilo que é seu por direito, amargando nas
mais profundas incertezas e desânimo com a lentidão
da justiça.
79
A Usina de Manso influenciou negativamente na
qualidade da água dos rios da baixada Cuiabana, como
também prejudicou toda a família ribeirinha, que
tradicionalmente viviam em função destes rios.
O Poder Público poderia estar desenvolvendo atividade
de recuperação da qualidade da água, como também na
elaboração de políticas públicas que viessem ao
encontro dos anseios dos pescadores profissionais, visto
que devido à falta de interesse do Poder Público os
estoques pesqueiros sofreram uma diminuição muito
grande.
É necessário que se crie com urgência novas leis de
pesca, que garanta a sobrevivência dos Ribeirinhos, bem
como a dos rios, pois como diz os pescadores: “peixe
sem rio não vive”.
80
As principais ameaças são: a sobre-pesca e a
agricultura. 100 milhões de pessoas dependem dessas
águas, que podem ficar rapidamente escassas se
forem implantados os 27 novos projetos de barragens
já projetados, sendo seis em fase de construção.
Como se não bastasse, mais intervenções hidrológicas
estão previstas para viabilizar o transporte de soja,
madeira, aço e outras commodities no Pantanal -- um
risco antigo, mas que ultimamente tem ganhado força
com os incentivos a projetos de integração sulamericanos, como o IIRSA, e por esse motivo foi citado
no relatório como a principal ameaça a essa bacia.
Enfim, planejasse externamente projetos que podem
afetar gravemente o pantanal. A essa ação cabe uma
reação.
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N
Petróleo,
carvão e gás
Serviços da
Biosfera
População
Ciência e
tecnologia
Combustíveis,
agroquímicos,
etc.
Processo
industrial
SubProdutos
externalidades
negativas
Indústrias transformadoras de energia e materiais fósseis
serviços ambientais
Solo, H2O,
biomassa
Vegetação
nativa
R
Sol, vento,
chuva
População
serviços
produtos
(materiais e alimentos)
N
Produtos
Subprodutos
Sistema
antrópico
externalidades negativas
CTR
CTN
Áreas de produção de serviços ambientais
e produtos agro-silvo-pastoris
82
N
Ex
Ex
CTN
Materiais e
serviços
ambientais
CTN
R
N
CTR
produtos
serviços ambientais
externalidades negativas
83
Obrigado pela atenção!
Agradecimentos a:
Regiane Oliveira
Mileine Zanghetin
Laboratório de
Engenharia Ecológica
Embrapa Pantanal
www.unicamp.br/fea/ortega/
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