Concepções de leitura Leitura tem sido chamada de atividade cognitiva pois envolve todos os processos mentais.
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Transcript Concepções de leitura Leitura tem sido chamada de atividade cognitiva pois envolve todos os processos mentais.
Concepções de leitura
Leitura tem sido chamada de atividade cognitiva pois envolve todos os
processos mentais. A compreensão de um texto (escrito/falado) exige
atenção, percepção, memória e pensamento.
Esses processos mentais realizam operações necessárias para a
compreensão da linguagem como: raciocínio dedutivo (a leitura das
entrelinhas) e raciocínio indutivo (baseada no conhecimento de mundo,
de outros textos, do autor, das condições sociais em que se vive).
O texto escrito é um objeto diferente do texto falado, e, em vez do
aluno olhar as partes relevantes desse objeto, a fim de perceber suas
funções, ele foi acostumado a olhar os seus aspectos superficiais.
Sendo assim, dizemos que o aluno não lê e não gosta de ler, pois não
compreende o texto, apenas o decifra e o compreende parcialmente.
A leitura torna-se mais difícil quanto menos se lê.
1)
2)
3)
A leitura deve levar o aluno ao prazer da descoberta, a fim de ter efeito
nos seguintes aspectos:
percepção de elementos lingüísticos significativos (funções importantes
no texto);
ativação do conhecimento anterior;
elaboração e verificação de hipóteses que permitam ao leitor perceber
outros elementos, mais complexos.
Todo leitor é capaz de utilizar os 3 itens acima e esse conhecimento é
socialmente adquirido, portanto um aluno que não dispõe de revistas e
jornais na sua casa, e cuja única experiência com a leitura é a do livro
didático, não integrará os diversos elementos num todo significativo de
forma espontânea.
Idéias INCORRETAS sobre leitura:
1.
Leitura é um ato passivo.
2.
Leitura é um processo = palavra por palavra.
3.
Um texto deve ser lido somente uma vez.
4.
Voltar no texto para esclarecer uma dúvida não é uma forma apropriada de leitura.
5.
O objetivo de toda leitura é entender tudo e lembrar de todas as palavras num texto.
6.
Ler não é só difícil como é chato.
7.
A função mais importante de um texto é informar.
8.
Nem todo leitor consegue ler textos autênticos (livros, revistas, jornais, etc.).
Usar a leitura de forma competente significa compreender que ler
é uma experiência individual e interpessoal: individual porque
significa um processo pessoal e particular de processamento dos
sentidos do texto; interpessoal porque os sentidos não se
encontram no texto exclusivamente, ou no leitor exclusivamente,
ao contrário, os sentidos situam-se entre texto e leitor.
Esse conhecimento refere-se a um grau ou tipo de letramento
que inclui saber decifrar o escrito e ler/escrever com proficiência
de leitor/escritor competente.
Dessa forma, a leitura é um processo complexo que envolve o controle
planejado de atividades que levam à compreensão. Entre essas
atividades, destacam-se:
definir o objetivo de uma determinada leitura: "Vou ler este texto para ver
como se monta este brinquedo", "Só quero ver a data da morte de
Napoleão". "Vou correr os olhos pelo sumário para ter uma idéia geral do
livro";
ter conhecimento sobre o assunto, sobre onde foi publicado o texto (jornal,
revista, livro, folder, folheto etc.), sobre o autor do texto, sobre a época em
que foi publicado, ou seja, sobre as condições de produção do texto a ser
lido;
antecipar informações que podem estar contidas no texto a ser lido;
realizar inferências;
identificar os segmentos mais e menos importantes de um texto: "Aqui
o autor está apenas dando mais um detalhe". "Esta definição é
importante";
distribuir a atenção de modo a se concentrar mais nos segmentos mais
importantes: "Isto é novo para mim e preciso ler com mais cuidado“.
"Isto eu já conheço bem e posso ir apenas passando os olhos";
sintetizar as informações dos trechos do texto;
avaliar a qualidade da compreensão que está sendo obtida da leitura:
"Estou entendendo perfeitamente o que o autor está tentando dizer".
"Este trecho não está muito claro para mim";
determinar se os objetivos de uma determinada leitura estão sendo
alcançados: "Estou lendo este capítulo para ter uma idéia geral do que é
Educação Física, mas ainda não consegui ter uma noção clara do
assunto";
corrigir o rumo da leitura nos momentos de distração ou interrupções:
"Estou tão distraído que passei os olhos por este parágrafo sem prestar
atenção no que estava lendo; vou ter que relê-lo";
estabelecer relações entre tudo o que o texto nos diz e o que outros textos
já nos disseram, e o que sabemos da vida, do mundo e das pessoas.
KLEIMAN, Ângela. Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos das escolas. Campinas: Mercado de
Letras, 1999. cap. 5.
NÃO EXISTEM LÍNGUAS UNIFORMES
(Sírio Possenti)
Alguém que estivesse desanimado pelo fato de que parece que as coisas não dão certo
no Brasil e que isso se deve ao “povinho” que habita esse país (conhecem a piada?),
poderia talvez achar que tem um argumento definitivo, quando observa que “até mesmo
para falar somos um povo desleixado”. Esse modo de encarar os fatos da linguagem é
bastante comum, infelizmente. Faz parte da visão de mundo que as pessoas têm a
respeito dos campos nos quais não são especialistas. Em outras palavras, é uma
avaliação falsa. Mas como existe, e como também é um fato social associado à
linguagem, deve ser levado em conta. Por isso, para quem pretende ter uma visão mais
adequada do fenômeno da linguagem, especialmente para os profissionais, dois fatos
são importantes: a) todas as línguas variam, isto é, não existe nenhuma sociedade ou
comunidade na qual todos falem da mesma forma; b) a variedade lingüística é o reflexo
da variedade social e, como em todas as sociedades existe alguma diferença de status
ou de papel entre indivíduos ou grupos, essas diferenças se refletem na língua. Ou seja:
a primeira verdade que devemos encarar de frente é relativa ao fato de que em todos os
países ou em todas as comunidades de falantes existe variedade de língua. E não
apenas no Brasil, porque seríamos um povo descuidado, relapso, que não respeita nem
mesmo sua rica língua. A segunda verdade é que as diferenças que existem numa
língua não são casuais. Ao contrário, os fatores que permitem ou influenciam na
variação podem ser detectados através de uma análise mais cuidadosa.
Um dos tipos de fatores que produzem diferenças na fala de pessoas são externos à
língua. Os principais são os fatores geográficos, de classe de idade, de sexo, de etnia,
de profissão etc., ou seja, pessoas que moram em lugares diferentes acabam
caracterizando-se por falar de algum modo de maneira diferente em relação a outro
grupo. Pessoas que pertencem a classes sociais diferentes, do mesmo modo (e de
certa forma, pela mesma razão, a distância – só que esta é social) acabam
caracterizando sua fala por traços diversos em relação aos de outra classe. O mesmo
vale para diferentes sexos, idades, etnias, profissões. De uma forma um pouco
simplificada: assim como certos grupos se caracterizam através de alguma marca
(digamos, por utilizarem certos trajes, por terem determinados hábitos etc.), também
podem caracterizar-se por traços lingüísticos. Para exemplificar: podemos dizer que
fulano é velho porque tem tal hábito (fuma cigarro sem filtro, por exemplo), ou porque
fala “Brasil” com um “l” no final (ao invés de falar “Brasiu”, com uma semivogal, como em
geral ocorre com os mais jovens). Ou seja, as línguas fornecem meios também para a
identificação social. Por isso, é freqüentemente estranho, quando não ridículo, um velho
falar como uma criança, uma autoridade falar como uma pessoa simples etc. Por
exemplo, muitos meninos não podem ou não querem usar a chamada linguagem correta
na escola, sob pena de serem objeto de gozação por parte dos colegas, porque em
nossa sociedade a correção é considerada uma marca feminina.
Também há fatores internos à língua que condicionam a variação. Ou seja, a variação é
de alguma forma regrada por uma gramática interior da língua. Por isso, não é preciso
estudar uma língua para não “errar” em certos casos. Em outras palavras, há “erros” que
ninguém comete, porque a língua não permite. Por exemplo, ouvem-se pronúncias
alternativas de palavras como caixa, peixe, outro: a pronúncia padrão incluiria a
semivogal, a pronúncia não-padrão a eliminaria (caxa, pexe, outro). Mas nunca se ouve
alguém dizer peto ou jeto ao invés de peito e jeito. Por que será que os mesmos falantes
oram eliminam e ora mantêm a semivogal? Alguém pode explicar por que o i cai antes de
certas consoantes e não diante de outras? Alguém pode explicar por que o u cai antes de
t (outro) e o i não cai no mesmo contexto (peito, jeito)? Certamente, então, o tipo de
semivogal (i ou u) e a consoante seguinte são parte dos fatores internos relevantes para
explicar esse fato que, de alguma forma, todo falante conhece.
Outro exemplo: podem-se ouvir várias pronúncias, em vários lugares do país, do som que
se escreve com a letra l em palavras como alguma: alguma, auguma, arguma. A variação
também existirá em palavras como planta: planta ou pranta (mas nunca ouviremos
puanta). Mas, o l será sempre um l em palavras como lata. Ou seja: no fim da sílaba, ele
varia; no meio, também (embora não com o mesmo número de variantes). Mas, no início,
nunca. E isso vale para falantes cultos e incultos.
Mais exemplos: poderemos ouvir “os boi”, “dois cara”, comédia dos Erro”, mas
nunca “o bois”, um caras” ou “comédia do Erros”. Ouviremos muitas vezes
“nós vai”, mas nunca “eu vamo(s)”. Assim, as variações lingüísticas são
condicionadas por fatores internos à língua ou por fatores sociais, ou por
ambos ao mesmo tempo.
Alguns sonham com uma língua uniforme. Só pode ser por mania repressiva
ou medo da variedade, que é uma das melhores coisas que a humanidade
inventou. E a variedade lingüística está entre as variedades mais funcionais
que existem.
Podemos pensar na variação como fonte de recursos
alternativos: quanto mais numerosos forem, mais expressiva pode ser a
linguagem humana. Numa língua uniforme talvez fosse possível pensar, dar
ordens e instruções. Mas, e a poesia? E o humor? E como os falantes fariam
para demonstrar atitudes diferentes? Teriam que avisar (dizer, por exemplo,
“estou irritado”, “estou à vontade”, “vou tratá-lo formalmente”)?
Por que (não) ensinar gramática na escola, p. 33.
Exercícios:
Responda às seguintes questões:
1.
Esclareça resumidamente, qual é o assunto do texto.
2.
O autor considera que somos um povo desleixado ao falar?
3.
Os americanos também têm variedade lingüística? Você pode dar um
exemplo?
4.
O que o autor quis dizer com “a variedade lingüística é o reflexo da variedade
social”.
5.
Esclareça como o fator geográfico age na variação da língua. Exemplifique.
6.
Porque o autor diz que o fator social também está relacionado à distância.
Exemplifique.
7.
Dê outros exemplos de palavras que só pessoas idosas usariam.
8.
Como se chamam palavras que já caíram em desuso?
9.
O que são fatores internos que condicionam as variações?
10. A língua é uniforme?