A Cia. de Navegação Hoepcke foi uma empresa de navegação brasileira, fundada em 1895, por Carl Franz Albert Hoepcke, que imigrou.

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A Cia. de Navegação Hoepcke foi uma empresa de navegação brasileira, fundada em 1895, por Carl Franz Albert Hoepcke, que imigrou da Alemanha para o Brasil, com 19 anos, em 1863, conforme historiamos na parte I “Carl Hoepcke uma rica trajetória de vida”.

Fizeram parte deste complexo naval o Estaleiro Arataca, os navios Max, Meta, Anna, Carl Hoepcke e muitas outras embarcações.

A Industrialização e modernização do Estado de Santa Catarina passa invariavelmente pela insigne figura de Carl Hoepcke.

COMO TUDO COMEÇOU PARTE II

Pintura do artista catarinense Gilberto Furtado Em 1866 Carl Hoepcke vem para Desterro para trabalhar, como contador, na empresa de um tio. Em 1871 funda a empresa Carl Hoepcke S/A.

Ilha de Santa Catarina

A empresa se localizava na Ilha de Santa Catarina, que com suas duas baías propiciava abrigo natural a navegação. Situava se na Praia de Rita Maria, também conhecida como Praia do Cais do Porto ou Praia do Estaleiro Arataca.

A Praia de Rita Maria com a criação da Empresa Carl Hoepcke S/A, sofreu profundas transformações. Ocorreram aterros destinados a construções de armazéns e do Cais do Porto.

Rita Maria - Aterro do começo do século

A Empresa Nacional de Navegação Hoepcke (ENNH) tinha o Porto de Florianópolis como sua base principal e possuía neste seus de trapiches e armazéns. Na foto vemos instalações da empresa.

“O Porto de Florianópolis, nas primeiras décadas do século XX, ficava localizado em frente a cidade e a ele se tinha acesso através dos canais Norte e Sul, ligados pelo Estreito de Santa Catarina, o qual separa a ilha desse nome do continente”.

“Em volta da baía Sul se localizou o comércio com seus trapiches”. Vista da baia sul Em primeiro plano vê-se o trapiche da Guarda Moria e o Trapiche do Mercado Público Municipal; ao fundo vê-se o Porto de Rita Maria, a Ilha do Carvão e a Ponte Hercílio Luz.

Pintura do artista catarinense Gilberto Furtado

“O Porto era essencialmente importador de carga geral, ferramentas, máquinas, combustível e alimentos para o abastecimento da capital e das vilas próximas por meio da navegação pelas baías Norte e Sul”.

“O carvão era desembarcado na Ilha do Carvão e o combustível na Ponta do Coral, parte insular, e na Ponta do Leal, parte continental”.

Ilha do Carvão Cais Rita Maria com ilha do carvão anos de 1940 – Foto Theodoro

“A exportação era basicamente farinha de mandioca, banana e madeira, esta última embarcada no cais do Estreito (continente) onde hoje é um porto pesqueiro da Pioneira da Costa”.

Coqueiros - Visto da ponte Hercilio Luz - onde aparece a Formiplas o Estaleiro Naval e o Fet

Com a criação da empresa Carl Hoepcke S/A, o fundador investiu no ramo da navegação. Fretava veleiros diretamente da Europa para o transporte de mercadorias exportadas e importadas.

Com o aumento do volume de exportações e importações e dado o alto custo do frete, Carl Hoepcke, em 1895, resolve criar uma empresa de navegação para transporte de cargas e passageiros em Florianópolis.

A empresa Nacional de Navegação Hoepcke e o Cabo Submarino (da inglesa Western Telegraph Company), com agência em Florianópolis, eram na época as únicas ligações com o mundo.

Na foto, vemos ao fundo o Cais Rita Maria, a esquerda prédio da empresa Hoepcke e uma Catraia fazendo a travessia Ilha/Continente em 1920.

Os navios Hoepcke representavam “encanto, luxo, sonho e glamour” para os moradores da pacata Florianópolis.

O Cabo Submarino representava uma comunicação rápida e confiável, mas era cara. Cais Rita Maria -1950 Foto Theodoro

“O Cais do Porto dos navios da empresa era denominado de Cais Rita Maria. Até a década de 1960, o trapiche Rita Maria, foi a principal porta de acesso marítima à Ilha de Santa Catarina”.

Trapiche da Empresa – 1906

Fonte: Silvio dos santos

“O atracadouro do antigo Miramar também era usado para o transporte de passageiros e mercadorias entre a Ilha e o Continente”.

Bar Miramar - Antes de 1928

“Existiam outros trapiches na baía Sul, com destaque para os que ficavam em frente ao Mercado Público e Alfândega”.

Mercado Público - 1940

A Cia. de Navegação foi criada em 1895 para estimular, em princípio, o comércio entre Florianópolis e outros portos catarinenses, como São Francisco do Sul, Itajaí e Laguna.

Rita Maria - Vendo navios do Hoepcke no cais - anos de 1920

Os vapores da empresa, no entanto, estenderam a rota para o transporte de gêneros alimentícios até Rio de Janeiro e Bacia da Prata. Navios da cia. de navegação ENNH atracados em Florianópolis, em primeiro plano o navio Carl Hoepcke.

Foto: Instituto Carl Hoepcke

A malha ferroviária e rodoviária na época era deficitária, a navegação de cabotagem, com seu transporte de carga a granel, feita pelos navios da empresa, incrementou o comércio de importação e exportação e ligou Santa Catarina ao resto do país e à Europa.

Ponte Hercílio Luz em 1935 Foto - Wikipédia

Os navios da empresa abriram o Estado para a navegação de passageiros em rotas regulares, interligando os portos de Laguna, Florianópolis, Itajaí e São Francisco do Sul a Paranaguá, Santos e Rio de Janeiro.

“Os passageiros que chegavam a Florianópolis desembarcavam no cais Rita Maria, entre o atual terminal rodoviário e as imediações do antigo hotel Diplomata, área que foi aterrada em meados da década de 1970”.

Instalações da Empresa Hoepcke - Praia e Trapiche Rita Maria – anos de 1950

“Enquanto aguardavam vaga no trapiche da Rita Maria, os navios permaneciam fundeados em volta da antiga ilha do Carvão”. Atualmente apoio de um dos pilares da Ponte Colombo Salles. Pintura do artista catarinense Gilberto Furtado

“Os tripulantes desses navios usavam o trapiche do Miramar para chegar em terra, em algumas ocasiões”.

Miramar e Praça Fernando Machado - anos 1930

“Quando o vento Sul soprava muito forte o embarque e desembarque eram feitos na baía Norte, mais ou menos na frente da atual praça Esteves Júnior”.

Praia de Fora, atual beira mar norte anos 1950 Foto - Theodoro

NAVIOS DA EMPRESA

Foto: Instituto Carl Hoepcke

O navio “MAX” adquirido na Alemanha em 1897, foi o primeiro navio da empresa, servia principalmente a linha Florianópolis Laguna.

Em 1905, a empresa adquire seu segundo vapor o “META”.

Em 1909 integraram se à frota o “ANNA” e o veleiro cútter “ORIENTAL”. O vapor “Anna”, com 57 metros de comprimento e nove metros de boca, transportava passageiros e tinha capacidade para 750 toneladas de carga. O Anna acomodava passageiros em 34 beliches de 1ª classe e 20 de segunda. Em 1913 fez 12 viagens para Laguna e 16 para o Rio de Janeiro.

No início da década de 20 a empresa adquiriu o “Rebocador São Francisco”. Chegou a Florianópolis a bordo de um navio mercante alemão, possuía um motor a querosone que lhe emprestava um ruído peculiar.

Era um rebocador de grande potência para a época, orgulho da empresa, pois conseguia rebocar até 11 chatas de cargas de uma só vez.

Foto: Instituto Carl Hoepcke

Conhecido pela população como “Lancha São Francisco” dava aos navios e embarcações menores, suporte operacional para as chegadas e saídas do porto de Florianópolis.

Muitos serviços prestou na costa junto a Ilha de Santa Catarina, participando de salvamento de navios e resgate de náufragos. Em caso de tempestades ou fortes ventos, seguia em socorro a outras embarcações. Participou também, em 1962, do resgate da aeronave "Douglas", da Cia Aérea Cruzeiro do Sul que caiu na baía Sul.

A empresa já contava com embarcações auxiliares para carga e descarga as “Chatas de Carga” mas em 1912 adquiriu mais dois “Lanchões” para baldeação de mercadorias.

E m 1927 a Cia. de Navegação Hoepcke adquiriu o transatlântico Carl Hoepcke, era mais luxuoso que o Anna e acomodava 50 passageiros de primeira classe e 60 de segunda, possuía dois salões, refeitório e fumadouro. Navio Carl Hoepcke singrando

Construído na Alemanha, em 1926, o navio contava 62,40 metros de comprimento e 10,96 metros de largura e tinha capacidade para 750 toneladas de lastro. O navio chegou ao Brasil em julho de 1927, veio carregado de carvão e levou 27 dias para cruzar o Atlântico.

Rita Maria - Navio Carl Hoepcke atracando - Década de 1920

O transatlântico “Carl Hoepcke” e os vapores "Anna", "Max" e "Meta" faziam a alegria da cidade quando atracavam no Porto Rita Maria, principalmente o navio Carl Hoepcke, que propiciava recitais de piano e oferecia cerveja aos convidados. Porto de Rita Maria com saída de navio de passageiros nos anos de 1950. Foto Theodoro

Junto à base do Monte Rita Maria, na ponta da praia de mesmo nome, onde se acha o Forte de Sant’Ana (construído em 1761), na atual Beira Mar Norte, a Firma Hoepcke construiu, em 1907, o ESTALEIRO ARATACA.

Estaleiro Arataca - antes de 1935

O estaleiro era uma construção rústica composta de varias edificações e de uma "carreira" para a saída de navios, foi construído a fim de proceder a manutenção da frota Hoepcke, estendeu os serviços a outras empresas. Estaleiro Arataca - 1930

Localizava se sob a cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz, a linda ponte pênsil de 821 metros, que liga o continente à ilha de Santa Catarina e que foi inaugurada em 1926.

O vapor “Anna” puxado no Estaleiro Arataca. Foto: Instituto Carl Hoepcke

O estaleiro abrigava também uma “oficina de navios” para reparo e manutenção da frota de embarcações Hoepcke e de outras que necessitassem de serviços. Também construía embarcações de médio porte. Estaleiro do Arataca barco em reparo ao lado do prédio da empresa Hoepcke na década de 1940.

Na década de 40 o estaleiro Arataca produziu os famosos veleiros "Classe Brasil“. Na foto vemos o iate “Annita”, construído no Estaleiro Arataca em 1944, singrando os mares da costa catarinense.

Fonte: Instituto Carl Hoepcke

Rita Maria - Navio puxado no Arataca - anos de 1950.

“A empresa marítima, em 1952, segundo o relatório da ENNH, possuía quase 300 funcionários, a metade em Florianópolis, e outros 150 nos principais portos brasileiros e embarcados na frota da empresa. Contava com 4 navios e 26 embarcações auxiliares”.

Em 1964, o porto de Florianópolis, que desde os anos de 1500 recebia navegadores e que foi um dos principais do Sul do Brasil foi fechado.

Cais Rita Maria - anos de 1950 Foto Theodoro

TODOS OS NAVIOS DA CIA DE NAVEGAÇÃO HOEPCKE FORAM VENDIDOS.

Na foto vemos os navios – Carl Hoepcke, Anna e Max, o rebocador São Francisco e Chatas de Carga

Fonte: Instituto Carl Hoepcke

QUAL SEU DESTINO ?

DESTINO DOS VAPORES DA EMPRESA Desconhecemos o fim dos navios "META" e do festivo "ANNA”.

O vapor “MAX” foi vendido para uma empresa de Porto Alegre que o converteu em um pesqueiro. ANNA Pintura do artista catarinense José Cipriano da Silva

Quanto ao navio "CARL HOEPCKE” sabemos que terminou seus dias como Cargueiro, Navio Boate e Navio Fantasma, mas esta é uma triste história que merece e vai ser contada a parte.

O REBOCADOR SÃO FRANCISCO foi vendido para José Paulo, conhecido como Zé Paraíba, que trabalhava de prático no porto de Itajaí. Zé Paraíba teve um fim trágico, morreu prensado entre sua lancha e um navio que auxiliava para ancorar. Depois desse episódio o "São Francisco" foi vendido e hoje não há notícias da embarcação.

Quanto as CHATAS, barcos de madeira transportadores de carga, a última delas que se teve notícias em Florianópolis terminou os seus dias encalhada nas areias da praia continental ao pés da Ponte Hercílio Luz onde existia uma indústria pesqueira que o povo chamava de “salga”.

Ponte Hercílio Luz - década de 1960

Destino do Estaleiro Arataca

O estaleiro Arataca com o aterro da baia sul foi desativado. O prédio passou a trabalhar como uma pequena oficina de barcos e navios de pequeno porte. Em 1993 a oficina transformou se em um bar dançante o “Scuna Bar”. Atualmente abriga também, desde 1999 o Restaurante Pier 54. Rita Maria - Arataca - Navios na carreira anos de 1940

Florianópolis deixou de ser uma cidade portuária mas é, na atualidade, uma linda cidade voltada à atividade terciária: comércio, governo, turismo, saúde e educação.

Infelizmente, deu suas costas ao mar.

Os saudosistas ainda lembram dos tempos em que o navios da Cia. de Navegação Hoepcke circundavam a baía sul.

Walter Pacheco Jr.

FOTOS:

• Arquivo. • internet, em sua maioria: www.velhobruxo.tns.ufsc.br/FotoAntigas www.floripanasantigas.com.br/fotos.html

MÚSICAS:

•Vals. wav • Flor Amorosa - Chorinho.wav

• Love Story. wav

FONTES : Alguns tripulantes, internet e Jornais

Minhas memórias - observador, amante e interessado no assunto.

Walter Pacheco – Meu pai, telegrafista do Cabo Submarino.

Informações do tripulante chamado Álvaro Ventura das Neves, alcunhado Russinho (já falecido).

Relatos do telegrafista de bordo Brito e do comandante Schneider (já falecidos).

OUTRAS :

Celso Martins - “Ex-marítimo da Cia Hoepcke acompanhou o auge e o declínio da atividade portuária na Capital...”, 2004 www.portoturistico.com.br

Scuna bar www.scunabar.com.br

e Pier 54 www.pier54.com.br

Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Esporte de Florianópolis – “Praia Rita Maria”, 2002 www.pmf.sc.gov.br/turismo/lazer_cultura/praias

Sílvio dos Santos – “Sistema Portuário em SC - Porto de Florianópolis”, 2009 www.portogente.com.br

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