BOÉCIO (c. 480-524/5) As Escrituras propõem uma salvação mediante a Fé.

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BOÉCIO (c. 480-524/5)
As Escrituras propõem uma salvação mediante a Fé. Porém
Agostinho cria a tese de que para se alcançar a fé é necessário
antes um trabalho da razão. Com este pensamento surge a
grande questão Razão e Fé, questão esta, que se prolongaria
por centenas de anos, chegando até aos nossos dias com a
mesma força de antes.
Essa discussão nada mais era do que a tentativa de unir o
pensamento grego ao princípio de vida cristã. E em meio a toda
esta “era de superstição e misticismo”, eis que a Antigüidade nos
presenteia com um pensador brilhante em sua habilidade de usar a
racionalidade desinteressada do pensamento grego, um
verdadeiro Amante da Sabedoria: Boécio.
Filósofo cristão. Ancius Manlius Torquatus Severinus Boetius nasceu
em Roma, filho de família aristocrática. Ocupou vários cargos
políticos de importância na corte de Teodorico, rei dos Visigodos.
Caiu em desgraça acusado injustamente de traição. Em Paiva, foi
encarcerado e executado.
Boécio é considerado pela História da Filosofia o último pensador romano
e, simultaneamente, o primeiro escolástico. Boécio tomou para si a tarefa
de traduzir para o latim toda a obra de Platão e Aristóteles, na tentativa de
preservar para o futuro o que parecia em vias de ser destruído.
Infelizmente, este trabalho não chegou a completar-se. Boécio apenas
pôde traduzir e comentar as Categorias e Da Interpretação, escritos de
Aristóteles, e a Isagoge, do neoplatônico Porfírio. Além disso, sua obra
consiste em escritos sobre lógica, aritmética, música e teologia. Seu
último escrito, redigido na prisão e considerado sua mais importante obra
filosófica, é De Consolatione Philosophiae, um diálogo entre um homem
encarcerado e a Filosofia, que lhe vem visitar.
Em De Consolatione Philosophiae Boécio se
intitula discípulo da bela Filosofia, sua musa e
protetora. Somente a filosofia era capaz de
consolá-lo e conduzi-lo à verdadeira felicidade.
A filosofia é o amor à Sabedoria. Por sabedoria não entende Boécio
uma habilidade prática, nem o domínio das artes técnicas, mas uma
realidade: aquele pensamento vivo, causa de todas as coisas, que
subsiste em si mesmo e de nada necessita além de si mesmo. A
filosofia é uma iluminação procedente desta sabedoria pura, pela qual
esta atrai amorosamente a si o espírito do homem. Por este motivo o
amor à sabedoria, ou filosofia, pode ser considerada também como a
busca de Deus e até mesmo como o amor de deus.
A visitante de Boécio tinha vestes de delicadíssimos fios, que ela
mesmo teceu, nestas vestes estava escrito um Pi e logo acima
estava um Theta. E entre estas letras havia uma escada que ligava
uma letra à outra. Mas, “mãos violentas rasgaram sua veste e cada
uma tomou um pedaço dela”.
O Theta era um símbolo que os condenados à morte recebiam
impressos em sua carne, distinguindo-os dos outros prisioneiros e
Boécio recebeu esta queimadura. Com esta alegoria Boécio mostra
que o Theta, a marca da morte, significa o ponto de partida para a
ascensão espiritual, simbolizada por Pi. O Theta é a marca que está
em todos os homens, porém estes não o sabem. A musa visitante
vem a seu encontro justamente para lhe trazer o consolo,
convertendo-o e preparando seu espírito para liberdade.
A Existência de Deus
Para Boécio o conhecimento do Intelectível (Deus) nasce
com o homem. Deus é o Bem Supremo, e com base nisso
Boécio transmite uma prova da existência desse Bem.
Deus é um ser perfeito e não pode existir outro tão
perfeito. O Bem Supremo e a perfeição “moram” em
Deus. Se não existisse, outro ser infinitamente Bom
deveria antecedê-lo. Este argumento de Boécio é
claramente baseado na Bondade.
Além disso, Boécio afirma uma segunda prova baseando-se na
perfeição e harmonia do mundo.
Somente Deus seria capaz de governar o mundo com tamanha ordem.
Deus é a ordem e perfeição, portanto, é feliz, logo, para alcançarmos
esta felicidade devemos nos voltar para Deus. Mesmo com essa
participação na felicidade continuamos sendo Criaturas distintas do
Criador. Po Deus ser o Bem Supremo Ele só pode dar impulso aos
seres humanos em direção ao Bem, o Mal seria portanto, a privação de
Ser, o não-ser, o nada.