Análise de um dos melhores textos

Download Report

Transcript Análise de um dos melhores textos

Revisão Segundas Fases
Análise redações da FUVEST
CASDVest 2012
Proposta de redação de 2007
Em primeiro lugar (...), pode-se realmente “viver a vida” sem conhecer a felicidade
de encontrar num amigo os mesmos sentimentos? Que haverá de mais doce que
poder falar a alguém como falarias a ti mesmo? De que nos valeria a felicidade se não
tivéssemos quem com ela se alegrasse tanto quanto nós próprios? Bem difícil seria
suportar adversidades sem um companheiro que as sofresse mais ainda. (....)
Os que suprimem a amizade da vida parecem-me privar o mundo do sol: os deus
imortais nada nos deram de melhor, nem de mais agradável.
Cícero, Da Amizade
Aprecio no mais alto grau a resposta daquele jovem soldado, a quem Ciro
perguntava quanto queria pelo cavalo com o qual acabara de ganhar uma corrida, e se
o trocaria por um reino: “Seguramente não, senhor, e no entanto eu o daria de bom
grado se com isso obtivesse a amizade de um homem que eu considerasse dignos de
ser meu amigo”. E estava certo ao dizer se, pois se encontramos facilmente homens
aptos a travar conosco relações superficiais, o mesmo não acontece quando
procuramos uma intimidade sem reservas. Nesse caso, é preciso que tudo seja límpido
e ofereça completa segurança.
Montaigne, “Da amizade” (adaptado).
Proposta de redação de 2007
Amigo é coisa pra se guardar,
Debaixo de sete chaves,
Dentro do coração...
Assim falava a canção
Que na América ouvi...
Mas quem cantava chorou,
Ao ver seu amigo partir...
Mas quem ficou,
No pensamento voou,
Com seu canto que o outro lembrou.
(...)
(...)
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
(...)
Caetano Veloso, “Língua”
Fernando Brant/Milton Nascimento,
“Canção da América”
Considere os textos e as instruções abaixo:
Instrução: A amizade tem sido objeto de reflexões e elogios de pensadores e artistas de todas as
épocas. Os trecho sobre esse tema, aqui reproduzidos, pertencem a um pensador da Antiguidade
Clássica (Cícero) , a um pensador do século XVI (Montaigne) e a compositores de música popular
brasileira contemporânea. Você considera adequada as ideias neles expressas? Elas são atuais, isto é,
você julga que elas têm validade no mundo de hoje? O que sua própria experiência lhe diz sobre esse
assunto? Tendo em conta tais questões, além de outras que você julgue pertinentes, redija uma
DISSERTAÇÃO EM PROSA, argumentando de modo a expor seu ponto de vista sobre o assunto.
Proposta de redação de 2007
Em primeiro lugar (...), pode-se realmente “viver a vida” sem conhecer a felicidade
de encontrar num amigo os mesmos sentimentos? Que haverá de mais doce que
poder falar a alguém como falarias a ti mesmo? De que nos valeria a felicidade se não
tivéssemos quem com ela se alegrasse tanto quanto nós próprios? Bem difícil seria
suportar adversidades sem um companheiro que as sofresse mais ainda. (....)
Os que suprimem a amizade da vida parecem-me privar o mundo do sol: os deus
imortais nada nos deram de melhor, nem de mais agradável.
Cícero, Da Amizade
Aprecio no mais alto grau a resposta daquele jovem soldado, a quem Ciro
perguntava quanto queria pelo cavalo com o qual acabara de ganhar uma corrida, e se
o trocaria por um reino: “Seguramente não, senhor, e no entanto eu o daria de bom
grado se com isso obtivesse a amizade de um homem que eu considerasse dignos de
ser meu amigo”. E estava certo ao dizer se, pois se encontramos facilmente homens
aptos a travar conosco relações superficiais, o mesmo não acontece quando
procuramos uma intimidade sem reservas. Nesse caso, é preciso que tudo seja límpido
e ofereça completa segurança.
Montaigne, “Da amizade” (adaptado).
Proposta de redação de 2007
Amigo é coisa pra se guardar,
Debaixo de sete chaves,
Dentro do coração...
Assim falava a canção
Que na América ouvi...
Mas quem cantava chorou,
Ao ver seu amigo partir...
Mas quem ficou,
No pensamento voou,
Com seu canto que o outro lembrou.
(...)
(...)
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
(...)
Caetano Veloso, “Língua”
Fernando Brant/Milton Nascimento,
“Canção da América”
Considere os textos e as instruções abaixo:
Instrução: A amizade tem sido objeto de reflexões e elogios de pensadores e artistas de todas as
épocas. Os trecho sobre esse tema, aqui reproduzidos, pertencem a um pensador da Antiguidade
Clássica (Cícero) , a um pensador do século XVI (Montaigne) e a compositores de música popular
brasileira contemporânea. Você considera adequada as ideias neles expressas? Elas são atuais, isto é,
você julga que elas têm validade no mundo de hoje? O que sua própria experiência lhe diz sobre esse
assunto? Tendo em conta tais questões, além de outras que você julgue pertinentes, redija uma
DISSERTAÇÃO EM PROSA, argumentando de modo a expor seu ponto de vista sobre o assunto.
A cultura da amizade
redação escolhida como uma das melhores
A amizade tem sido eleita por pensadores e artistas de diversos tempos como uma
das coisas mais importantes da vida. Há quem lhe atribua importância maior que o
amor.
Em nosso mundo contemporâneo não faltam produções escritas ou audiovisuais que
coloquem a amizade no mais alto patamar. Porém, tanto nas produções de tempos
passados como nas de tempos atuais, a amizade é tratada como um ideal, no sentido de
que é algo difícil de ser obtido
Na Antiguidade Clássica, Cícero já apontava a existência daqueles que suprimem a
amizade de suas vidas ao comentar que os que assim o faziam pareciam-no privar o
mundo do sol. Se há um amplo conhecimento de sua importância, por que a amizade é
vista e apresentada como algo difícil e raro?
Montaigne, em suas reflexões, oferece alguns elementos que nos permitem abordar
melhor a questão. Ao apresentar a amizade como um tipo de relacionamento no qual se
busca intimidade sem reservas, Montaigne põe o foco em um aspecto das relações
pessoais que, se foi complexo em seu tempo, seguramente é problemático na sociedade
ocidental contemporânea.
É uma característica de seus dias atuais o crescente individualismo, que alguns
pensadores preferem qualificar como narcisista. Vive-se em um ambiente no qual,
mais do que ser, é preciso parecer. A criação da atividade de consultor de imagem
nos dá a dimensão da separação cada vez maior entre o que efetivamente somos e a
imagem que buscamos transmitir.
A nossa aparência não busca refletir o que somos mas, em uma inversão do
significado da palavra “imagem”, é ela quem nos define para os outros. Em tal
contexto, como construir intimidade? E, em consequência, como cultivar amizades?
Se tem sido benéfico para o sistema econômico, o individualismo narcisista tem
transformado, no plano das relações pessoais, campos aráveis em terrenos arenosos.
Milhares de anos atrás, a humanidade foi desfiada e deu uma resposta em um
salto qualitativo ao aprender a cultivar a terra. Hoje, novo desafio é colocado e,
novamente, a alternativa pode estar no desenvolvimento do cultivo, da cultura da
amizade.
Sim ao livro, não à catraca
redação escolhida como uma das melhores
(adaptado)
A catraca é metáfora para toda forma de controle social que enfrentamos
diariamente e representa não só o controle material – câmeras filmadoras, pontos de
entrada e saída do trabalho, notas escolares, número de identificação –, mas também o
invisível, como o exercido pelos preceitos morais e religiosos e pelas normas vindas do
desenvolvimento da ciência moderna, de longe, as formas de controle mais eficazes e
prejudiciais – que “enquadram” sem que percebamos.
Já disse o filósofo francês Michel Foucault que muito mais eficiente que o controle é
a autodisciplina. As religiões, por exemplo, instituíram valores morais que determinam
como devemos viver. Como somos educados desde a infância dessa forma, esses valores
são tão fortes que acabam sendo fiscalizados por nossa própria culpa, um elemento de
disciplina interno que nos impede de ir contra a corrente. Apesar de muitas dessas
regras facilitarem a vida coletiva, elas nos condenam a repressões internas que causam
sofrimento, como mostra Sigmund Freud no livro “O mal-estar da civilização”. Um único
preceito moral, como “não fazer mal aos outros”, talvez pudesse regular a vida social
sem oprimir tanto os cidadãos.
Outra forma de controle ainda disfarçada é aquela que se mascara no saber científico
que dita que se deve buscar saúde, vida longa, felicidade e sucesso. Essas instruções têm
cada vez mais penetração social, vide a frequência com que aparecem na mídia ou o
sucesso de venda dos livros de autoajuda e gestão empresarial. São fórmulas que nos
parecem dizer: “sejam disciplinados, não é preciso ter arrebatamentos de alegria e
liberdade, apenas sejam medianamente e controladamente felizes, saudáveis e
produtivos”. Típica estratégia capitalista para manter as pessoas trabalhando muito, em
acordo com a ideologia política vigente, mas satisfeitas por estarem praticando hábitos
saudáveis, serenos.
Há quem diga que tantas regras religiosas e de autoajuda aquietam as pessoas e
promovem o bem-estar social. São os covardes, os tiranos. Aqueles que ignoram os
efeitos da educação e da cultura como civilizadoras, mas com a vantagem de
estimularem o bom senso e a autonomia.