Lingua(gem) e Identidade: Elementos para uma

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Transcript Lingua(gem) e Identidade: Elementos para uma

Lingua(gem) e Identidade:
Elementos para uma discussão
no campo aplicado
Bianca Murelo da Silva
Carla Araújo Pereira
Janaina Ramos
Lígia Mariz
Luana Vadilleti Pereira
Ludmila Ferreira Guedes de Brito
S
O Livro
S Diversos artigos organizados por Inês Signorini.
S Retoma e aprofunda indagações que surgiram em 1994/95
em colóquios sobre lingua(gem) e identidade.
S Não tem o intuito de responder questões, mas sim trazer
elementos para novas indagações e questionamentos para o
aprofundamento e reflexões.
Agrupamento de temas
S Dividido em 5 partes:
1. Língua, Linguagem e identidade: questões e percepções.
2. Identidade e Comunicação intercultural.
3. Identidade e aprendizagem de língua.
4. Identidade e Interação em sala de aula.
5. Língua, linguagem e identidade em questão.
Etnia, Identidade e
Língua
S
Jacob L. Mey
S Professor de Linguística do Instituto de Comunicação da
Universidade de Odense (Dinamarca);
S Já trabalhou no Brasil como pesquisador e professor visitante;
S Editor da revista Journal of Pragmatics de Encyclopedia of
Languages & Linguistic (1994).
S Trabalhos de pesquisa estão focados na área de Pragmática,
com foco específico nos aspectos sociais do uso da linguagem
(inclusive na interação homem/computador) e no uso
pragmático de recursos literários.
A Dinamarca e seu momento
atual
S Cartazes publicitários, com o rosto do poeta dinamarquês
Hans Christian Andersen: “Na Dinamarca, eu nasci…”
S Dinamarca a minha pátria – vínculo com seu Heimat.
S “Mas os estrangeiros não [nasceram na Dinamarca]”.
S Estabelecimento de uma identidade étnica na Dinamarca.
S Língua como estabelecedora dessa identidade étnica.
A lingua na história…
S Histórias da Bíblia:
1. Vitória dos gileaditas sobre os efraimitas.
S Shibboleth.
S Efraimitas: Língua (pronúncia) questão vital, determinante na identidade
étnica.
2. São Pedro no pátio do Sumo Sacerdote.
S Fala do indivíduo.
S Após Jesus ter sido capturado, São Pedro nega ser um galileu.
S “Ah, sim, você também é: a tua fala o te denuncia.”
A Etnia e a identidade
S Étnico: Ethos (Nação)
S “A língua demonstra seu papel ‘vira-casaca’ nesse ‘conflito de
identidade’ por voluntariamente, se deixar levar de um lado para o
outro do debate.” (p.74)
S Dario Durando: “o sentimento de pertencer a um grupo étnico [é]
uma identificação étnica gerado por um sistema específico de
produção cultural, cimentada por uma língua comum entre os
membros de um grupo étnico.” (p.74)
S Questão do sotaque.
Mas...
S Dinamarca: 5 milhões de falantes;
S Grande diferença linguística;
S Mas existe uma identidade étnica.
A língua e a identidade
S Comunicação da sociedade.
S Mas não é ela apenas que define o indivíduo.
S A língua só pode ser usada em um contexto social, mas
queremos que ela seja só nossa.
S Comparação com o dinheiro.
Descontextualizando a Língua
S Língua comum: medida fictícia do ouro da nossa fala.
S Padrão descontextualizado.
S “[...] língua é o que nós, os usuários, fazemos no contexto
das nossas possibilidades sociais.” (p.81)
S Não existe língua e sim falantes.
A etnia e a Língua
S “Eu sou X!”
S Bíblia: São Paulo – Cidadão romano?
S Não só falava grego como hebraico!
S Já São Pedro... Apenas quando era conveniente.
S Conjunto de racismos/crenças (aparência física, língua,
cultura e outros hábitos).
Conclusões do autor
S “[...] as comunidades étnicas e suas línguas devem suas condições de
subsistência e sobrevivência às condições da sociedade.” (p.86-87)
S “Uma comunidade étnica viável (que é a base para a identidade
étnica) somente pode ser construída sobre uma fundação econômica
viável.” (p.87)
S “O conceito de ‘etnia’, nesses contextos, serve para mascarar as
questões verdadeiras, as da opressão e da dominação.” (p.87)
S Intercâmbio gera possibilidade de identidades distintas e, algumas
vezes, conflitantes.
A língua estrangeira
entre o desejo de um
outro lugar e o risco do
exílio
S
Christine Revuz
S Esse texto foi publicado, originalmente, em francês na revista Education
Permanente, em 1992.
S Psicóloga e psicanalista, é professora de psicologia do trabalho no
CNAM (Conservatoire National des Arts et Métiers) em Paris.
S Foi professora de comunicação da Universidade de Lille.
S Foi editora associada da revista “Education Permanente” entre 1988 e
1994.
S Estudos a respeito das situações no ambiente de trabalho,
relacionamentos e formação profissional.
S A aprendizagem de línguas estrangeiras: facilidade ou
dificuldade?
S Primeira língua e língua primeira (língua materna e
primeira língua estrangeira).
S Aprendizagem de língua estrangeira – laço específico com a
nossa língua.
S Método x Desejo
Língua como objeto (complexo)
S Prática de expressão – relacionamento com os outros e com
o mundo.
S Prática corporal – aparelho fonador.
S Expressão do eu – ritmos, sons, entonação e análise e
memorização de estruturas linguísticas.
S A relação com a língua materna é fator fundamental na
maneira que se dará a aprendizagem da língua estrangeira.
A língua não é um instrumento
S Mesmo antes de poder se expressar verbalmente, as crianças
já estão imersas em um universo de palavras dotadas de
significação.
S A mãe é o maior dos significados.
S O sistema linguístico ocupa um terceiro espaço entre a
relação adulto/criança.
S A língua estrangeira incide na relação que mantemos com a
língua mãe.
Ao acaso dos sons
S Começar o estudo de uma língua estrangeira é retornar ao
estágio de bebê, de não saber falar e se expressar.
S Pronunciar alguns sons específicos de uma determinada
língua (ex. “th” do inglês) trás ao aparelho fonador novos
movimentos e novas sensações.
S Por não ser “natural”, alguns se negam energicamente a
alcançar essa habilidade (ameaça inconsciente de
“afogamento”) e outros passam a produzir longas “frases”
de acordo com a musicalidade da língua (efeito comum às
crianças).
As palavras não são mais aquilo
que elas eram
S A língua materna recorta o real, a estrangeira não.
S O uso da tradução “ao pé da letra” causa descontentamento
aos aprendizes e muitos deles ficarão fiéis as diferenças de
gênero e sintaxe.
S “Aquilo que é verdadeiro na relação de um nível de língua
ao outro, no interior da língua materna, o é ainda mais na
relação desta com a língua estrangeira.” (pg. 224)
Quem é o eu que fala
estrangeiro?
S Cada um desenvolve uma relação com a língua materna de
acordo com a dramaticidade dos discursos dos pais e a
relação que eles têm com a facilidade da criança conquistar
sua posição de sujeito.
S É comum ver algumas pessoas estabelecerem melhores
relações com os outros em língua estrangeira do que em
língua materna.
S Por outro lado, alguns não conseguem superar traumas com
a língua estrangeira (ou com a língua mãe) e não são
capazes de se expressarem na segunda língua.
O falar estrangeiro
S “Aprender uma língua é sempre, um pouco, tornar-se o outro.”
(pg.227)
S Exemplo do engenheiro.
S “Quanto melhor se fala uma língua, mais se desenvolve o
sentimento de pertencer à cultura, à comunidade acolhida, e
mais se experimenta um sentimento de deslocamento em
relação à comunidade de origem.” (idem)
Conclusões da autora
S Viver as diferenças – respeitar a língua do outro e o
significado cultural que ela carrega.
S Aprimorar os métodos de aprendizagem e incrementar os
estágios no exterior fará evoluir as coisas, mas se faz
igualmente necessário superar a concepção puramente
instrumental da língua para distinguir o ponto de bloqueio
dos aprendizes.
S “A aprendizagem de língua estrangeira esbarra na
dificuldade que há para cada um de nós, não somente de
aceitar a diferença, mas de explorá-la, de fazê-la sua (...)”
(pg.230)
(Des) Construindo
Bordas e Fronteiras:
Letramento e Identidade
Social
S
Ignes Signorini
S Doutora em Letras Modernas pela Université Paul Valéry
(França).
S Professora de Linguística Aplicada da UNICAMP.
S Pesquisas na área de comunicação intercultural em língua
materna, envolvendo escolarizados e não escolarizados,
acadêmicos e não acadêmicos.
S O artigo: comunicação na esfera pública e (des)construção
de identidades sociais.
S Não escolarizados na câmara.
Situações de comunicação na
chamada esfera pública
S Diversidade sociocultural e econômica do
Brasil e oportunidades criadas pelo regime
democrático.
S Interlocutores diversificados ligados às
instituições e aos grupos sociais, se encontram
em audiências, negociações, entrevistas,
debates: (representantes comunitários e
burocratas).
Diversificação e seus inúmeros
efeitos
S Explicitação das relações estabelecidas pelos
grupos urbanos e instituições de maior
prestígio na sociedade;
S uso da língua, o nível de escolarização do
falante, sua identidade social;
S capacidade cognitiva e sua competência na
esfera pública.
Exemplos
S Exemplos que permitem verificar os modos mais
usados nessa explicitação e suas implicações de ordem
política e ideológica.
S Todos os exemplos têm foco na “falta” ou “déficit”,
crença que as categorias mais intelectualizadas como
estudiosos compreendem mais adequadamente a fala,
escrita contrapondo-se as menos intelectualizadas
como a de trabalhadores e seus representantes diretos.
O artigo e sua proposta
S Examinar como se dá as práticas comunicativas relevantes
na esfera pública, a luta de natureza política ideológica,
entre as diferentes “lógicas”,
S que são confrontadas nesse movimento de configuração da
ordem social instituída,
S de construção e desconstrução das bordas e fronteiras que
constituem as identidades sociais,
S Categorias necessárias ao mapeamento simbólico, dos
modos de organização da sociedade.
Em foco, o terceiro exemplo
S Vereadores não ou pouco escolarizados da zona rural
tentam desempenhar adequadamente suas funções ao
mesmo tempo em que são desqualificados como membros
legítimos da instituição.
S distinção letrado/não letrado
S escolarizado/analfabeto
S Representantes da comunidade rural e urbana do município.
Embate sociopragmático e
linguístico
S Dados etnográficos e análise de depoimentos.
S Depoimentos de representantes da comunidade
sobre a ruptura causada pela chegada dos não
escolarizados à câmara.
Identificação social e
legitimidade na comunicação
S Segundo Topf (1992), “ o sucesso na comunicação
institucional requer que ela seja percebida como
legítima, e é crucial para a legitimidade da
comunicação o engajamento na gramática da
instituição, que é o contexto comunicativo.”
Nesse sentido, comunicar legitimidade é reafirmar uma
presumida visão de mundo, própria de determinado grupo
social.
Gramática da instituição
S Conjunto de regras e códigos que balizam o campo de
atuação e os limites para a validade das ações;
S Define parâmetros de relevância nas estratégias de produção
e compreensão do discurso institucional.
Deliberação democrática
S
Modelo tradicional ocidental, segundo Gastil: um grupo
com certo grau de autonomia, com raciocínio discursivo,
igual distribuição de poder na tomada de decisões e espírito
de grupo.
S
Mitos = Axiomas
1) Da autonomia do ator social;
2) Da transparência e universalidade da linguagem como
instrumento mediador de sentido, ligado às noções de
correção, racionalidade e clareza promulgadas pela tradição
letrada escolarizada de estilo ocidental que prestigia o
modelo textual ensaístico;
Deliberação democrática
3) Do letramento – justifica o fato de o letrado escolarizado ser
visto como pessoa mais esclarecida, que opina com
propriedade e independência. (capaz de exercer o poder
legislativo com maior competência e, portanto, com maior
legitimidade.)
S
Na sociedade democrática se traduz nas ações, eventos
sociais e sentidos sociais legais, é função das instituições
legais e seus representantes.
Comunicação social
Conceito moderno de conhecimento e progresso, ilustrado pelo
discurso científico ocidental.
S Formas textuais de raciocínio, são como os modelos das
práticas escolares, tidas como ações comunicativas
desinteressadas (ou neutras) de esclarecimento – fazer saber,
explicar / ser capaz de falar/agir/raciocinar
adequadamente;
S No caso da câmara municipal, o texto de referência é o
regimento interno que, para um dos advogados do prefeito,
é a síntese da ordem política do município: “o que um
vereador deve conhecê é o regimento da casa/e realmente
(...) eles num têm condição culturais pra conhecê o
regimento”.
Disputa da legitimidade
S Na discussão das emendas é pressuposto a igualdade de condições dos
interlocutores na qualidade de porta-vozes, porém, há dois mundos em
um só: o mundo em que são porta-vozes legitimados (vereadores eleitos)
e o mundo em que são destituídos de voz (agricultores “analfabetos”).
S De um lado os que permanecem sentados e em silêncio x os outros que
apresentam documentos escritos (por terceiros) e se levantam para falar.
E entre os que falam, os agressivos (ou “ignorantes”) e os “normais” (ou
“mais civilizados”).
S Considerados menos “analfabetos” os que se aventuram a falar, mesmo
que de forma grotesca e caricatural como: “ a emenda de V. Exa. é de
grande valentia [validade]/mas entrou em contrariedade [contradição]
com o projeto”
(Des)identificação
S
No caso do líder do prefeito, ele assume o papel de vereador, inclusive fora do
plenário, pois tem a preocupação em sinalizar, através de indexicais, sobretudo
lexicais, sua condição de membro de uma classe política (uso do jargão) e do grupo
dos escolarizados (nível de linguagem).
S
Ele acredita que o tipo de conhecimento necessário ao exercício da função é o
escolar, mas ao falar de habilidades que julgava possuir, relacionava-as sempre com
atividades e situações de aprendizagem não-escolares.
S
No seu reiterado esforço de apropriar-se dos padrões discursivos e de
comportamento dos grupos urbanos, na busca pela identificação como membro
legítimo do grupo, acarreta na desidentificação como representante do seu grupo de
origem, que o faz operar como que nas bordas, no limite traçado pela divisão entre
letrado/não letrado. Por essa razão, é o intermediário entre a burocracia urbana
constituída e os representantes da zona rural, entre os guardiões da “lógica” de
funcionamento do texto e os “analfabetos”.
Considerações finais da autora
S Os vereadores não escolarizados diante do conflito de ser
destituídos de poder e controle sobre o que justifica e sustenta a
instituição, tendem adotar uma das seguintes estratégias:
S
aprovar calado;
S permanecer sentado;
S agressão ou apropriação de um código indexicalizado utilizável
para a comunicação pública.
S Ou ainda, os que não se deixam silenciar, mantendo-se fiéis à
linguagem e aos interesses de seu grupo de origem, mesmo sendo
tachados de ignorantes e/ou agressivos.
Considerações finais da autora
S A cena da câmara exibe um lugar polêmico:
-
O dos inexistentes que falam (vereadores “analfabetos”) x
os existentes que não têm voz (agricultores “analfabetos);
-
Letrado x não-letrado;
-
os que manobram x os que são manobrados ;
-
Os que querem/podem/sabem falar x os que calam, ou só
fazem ruídos.
Reportagem
S http://g1.globo.com/jornal-
nacional/noticia/2011/05/mec-defende-que-aluno-naoprecisa-seguir-algumas-regras-da-gramatica-para-falar-deforma-correta.html
Indicação de leitura
S “Cultura e Identidade: Discursos”;
S Organizado por Helenice Roque-Faria e Marieta P. de Lima
Dias;
S Editora da Universidade do Estado de Mato Grosso;
S Identificação pela nossa (in)stabilidade linguística;
S Busca da língua estrangeira para nos conhecer e conhecer o
outro.
Música
S Samba do Approach – Zeca Balero e Zeca Pagodinho
S http://youtu.be/pa9_8wxW1a8
Questões para reflexão
S Posso pretender ser um(a) filho(a) verdadeiro(a) de uma
nação se não falo a língua?
S E ao contrário: se não falo a língua, posso, então, pretender
fazer parte do grupo étnico cuja língua eu falo?
S Quem é o dono da minha língua, quem pode defini-la, e me
definir, através dela?
Questões para reflexão
S Quem decidiu que o inglês é o veículo inevitável de comunicação
internacional?
S É realmente a língua natural de uma comunidade social ou é um código
construído a partir do princípio do menor denominador comum para
usos tecnicamente, socialmente ou culturalmente delimitados?
S Aprender inglês é concordar com as diferenças dos próprios falantes
nativos ou é um meio de partilhar com um grande número de pessoas
os lugares comuns que criam, além de diferenças nacionais, uma
semelhança ancorada na hegemonia de um sistema econômico?
Questões para reflexão
Bibliografia
S MEY, Jacob M. Etnia, Identidade e Língua. In: SIGNORINI, Inês (org.).
Lingua(gem) e Identidade: elementos para uma discussão no campo
aplicado. Campinas: Mercado das Letras. São Paulo: Fapesp, 1998. p.69-88.
S REVUZ, Christine, A língua estrangeira entre o desejo de um lugar e o risco
do exílio. In: SIGNORINI, Inês (org.). Lingua(gem) e Identidade: elementos
para uma discussão no campo aplicado. Campinas: Mercado das Letras. São
Paulo: Fapesp, 1998.
S SIGNORINI, Inês. (Des) Construindo Bordas e Fronteiras: Letramento e
Identidade Social. In: SIGNORINI, Inês (org.). Lingua(gem) e Identidade:
elementos para uma discussão no campo aplicado. Campinas: Mercado das
Letras. São Paulo: Fapesp, 1998.