Religião do povo

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Transcript Religião do povo

O que você entende por Liturgia?
O que você entende
por povo?
O que você entende por
Religiosidade?
O que você entende por
religião do povo?
Religiosidade
Comporta aquela atitude
fundamental que procura
relacionar-se com o
divino.
Povo Compreende-se
como o conjunto das
Classes oprimidas.
Opõe-se a grupos
dominantes
Liturgia
Corresponde a povo
em ação
Religião do Povo ou
religião popular
Entende-se como aquele
catolicismo vivido e praticado
pelas classes populares, ou
seja, pelo conjunto das
classes pobres e oprimida.
O termo já possui em si um significado diferenciador – “popular” referese àquelas pessoas pertencentes as camadas mais pobres, com menos
instrução e poder de decisão. Demonstra preconceito, pois nunca se fala
em “religiosidade das elites”. O que sugere que alguns têm religião e
outros têm religiosidade.
Então, “Religiosidade Popular” seria a atitude que
origina formas de culturas popular, dos pobres e
simples, que procuram relacionar-se com o divino
de forma mais simples, mais diretas e mais
rentáveis.
Mais simples – na tentativa de superar o
intelectualismo e a abstração dando lugar ao
sentimento e a imaginação.
Mais diretas – como forma de rejeição de
mediações clericais que seriam sentidas mais
como obstáculo do que como mediação.
A expressão mais rentáveis dirige-se a satisfação de
desejos utilitários (magia, superstição), que podem
adulterar a religiosidade popular.
Elementos Históricos
Catolicismo Tradicional
Chega com os colonizadores.
•
Desde o séc. XVI até o séc. XIX o papado estabeleceu com as
monarquias de Portugal e Espanha o “Padroado”. A evangelização foi
reforçada por este particular regime de colaboração entre Estado e
Igreja. Junto com o catecismo oficial, chegou o catolicismo popular
com o colono pobre sendo depois assimilado pelos escravos,
mestiços e índios civilizados. Com a Proclamação da República (1889)
tal instituição foi extinta; nesse período, a grande maioria da
população era católica. No início da República, o catolicismo
brasileiro estava marcado por uma polarização, desenvolvendo-se sob
dois enfoques: um de caráter clerical, doutrinal e outro de caráter
popular, devocional.
•
Sem o apoio doutrinal, o culto dos santos passou a ocupar a primazia
na vida religiosa do povo. O grande veículo de transmissão deste
catolicismo foi a família. O centro era a devoção aos santos. Os
próprios devotos organizavam suas práticas religiosas. Nas casas
havia oratórios domésticos. Nas vilas e povoados, havia capelas,
pessoas que lideravam as orações. A missa e os sacramentos eram
uma complementação e não o núcleo desse catolicismo.
Catolicismo Romanizado
Segunda metade do séc. XIX.
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Inicia-se uma mudança liderada por bispos reformadores, padres e
Irmãs vindos da Europa. O centro do catolicismo brasileiro desloca-se
dos santos para os sacramentos e de um catolicismo leigo para um
catolicismo clerical.
Caracterizou-se também pela substituição das antigas devoções por
novas trazidas pelas congregações masculinas e femininas – Sagrado
Coração de Jesus, Nossa Sra. do Perpétuo Socorro..., ligadas à
práticas dos sacramentos. As Irmandades foram substituídas pelas
Pias-Uniões, Apostolado da Oração... onde os leigos estão
subordinados ao clero. Os centros de Romarias são confiados aos
padres (Redentoristas). Nas capelas os fiéis só podem rezar com
licença do padre. A guarda das imagens passa para as paróquias
saindo das mãos dos leigos. Toda a espiritualidade converge para os
sacramentos.
É um catolicismo dirigido para o leigo mas não tem a expressão
própria das classes populares. Como reação à romanização o povo
reelabora suas expressões religiosas e surge a forma privatizada do
catolicismo.
Catolicismo Privatizado
• Esta forma do catolicismo é uma reação à romanização, onde antes
as devoções tinham caráter comunitário, agora passam a ter um
caráter privado. O centro ainda são os santos, mas com uma prática
suplementar de alguns sacramentos como batismo, casamento,
funerais e algumas festas de santo, romaria e participação na
Semana Santa.
• Os santos cultuados podem ser inclusive santos não canonizados;
ou são individualizados (almas). É sempre uma relação pessoal e
individual, transitória ou permanente; promessas, novenas e
invocações; o fiel estabelece uma aliança que não deve ser
rompida..
• A partir dos anos 60 inicia-se no Brasil uma nova prática pastoral
denominada Pastoral Popular e dela surgiu novas formas de
catolicismo superando o catolicismo privatizado; surgem as CEB’s.
Catolicismo das Comunidades
Eclesiais de Base
• Tal catolicismo caracteriza-se por seu aspecto comunitário e sua
preocupação com a libertação integral da pessoa. Trata-se de um
catolicismo praticado pelo povo e elaborado por este. Há uma
superação do clericalismo da Romanização sem que se perca a
unidade e o respeito para com o padre e o bispo. Surgem novos
ministérios complementando os ministérios ordenados. Uma
superação do catolicismo privatizado, pois se recupera o aspecto
comunitário. Os sacramentos têm lugar importante como também a
Palavra de Deus que é lida e meditada em pequenos grupos, com a
intenção de ligar fé e vida. A grande preocupação é a libertação
integral da pessoa. Essa posição foi assumida em Medellín e
Puebla e é hoje uma opção do Episcopado Latino Americano.
Porém, temos hoje ainda a sobrevivência tradicional, ao lado do
romanizado, do privatizado e das CEB’s
Tradicional
Romanizado
Privatizado
CEBs
A PASTORAL POPULAR DIANTE DO
CATOLICISMO DO POVO
Basicamente há três formas de relacionamento:
1) O Catolicismo do povo é visto como superstição,
magia, ignorância e alienação – a intenção é substituílo pelo das CEB’s, o único autêntico. Para os agentes
de pastoral que têm esta visão, o único, autêntico e
libertador catolicismo é o das CEB’s. Esses agentes
percebem os limites e falhas da catolicismo do povo, e
que é preciso passar para um catolicismo mais
comprometido com a comunidade. Porém, há o risco
de repetir aquilo que fizeram os agentes
romanizadores, pois não percebem o que há de
positivo no catolicismo popular.
Posturas
• 2) Vê como bom tudo o que vem do povo. É uma maneira
ingênua de perceber o catolicismo do povo, pois acham que a
passagem do Tradicional, Romanizado ou Privatizado ao
catolicismo das CEB’s se faça de maneira espontânea. O valor
desta posição é o de perceber o catolicismo do povo como
parte essencial da cultura popular e de denunciar atitudes que
em nome da liberdade são dominadoras. Seu limite é o de
achar que a cultura popular sozinha caminha para a libertação,
sem perceber que nem todas as práticas do catolicismo
popular são igualmente cristãs.
• 3) Percebe no catolicismo do povo valores e problemas – então
a pastoral deve ajudar a desenvolver o que for valor e superar
os problemas. É uma visão de respeito mas não ingênua. Esta
atitude encontra-se fundamentada na Evangelli Nuntiandi 48 e
em Puebla n 444 a 469 e 910 914.
A fé do povo pobre
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Sempre existiu uma grande diferença entre a fé oficial da Igreja, expressa em
seus dogmas, credos e liturgia, e a fé do povo simples e pobre, que se manifesta
através de suas festas e devoções da religiosidade popular.
O povo pobre não tem acesso fácil aos colégios católicos particulares;
A formação catequética é deficiente;
Ainda existe maior presença dos religiosos(as) nos bairros centrais da cidade;
São ainda poucos os pobres que começam a ter acesso a Bíblia e participar
ativamente da liturgia da Igreja;
Observa-se uma distância entre a fé e a moral oficiais e a do cidadão comum
Ainda entre o povo pobre e simples é grande o número dos analfabetos. Os que
sabem ler não dispõe de meios econômicos para comprar livros, não tem tempo
para ler nem , no caso de fazê-lo, possuem uma base teológica suficiente para
entender os documentos eclesiais ou teológicos.
Quem do Setor popular conseguiu ler e compreender os principais
documentos do Vaticanos II?
Quem leu o texto completo de Medellín, Puebla e Santo Domingo? Ou
ainda, quem conhece a Teologia de Jon Sobrino, Leonardo Boff, Vitor
Codina e outros?...
8. Enquanto os ricos entram no campo da técnica e da informática, alguns
pobres não tem lápis, caderno ou ficam sem escola. A medicina moderna goza
dos últimos avanços da ciência, nos setores pobres morre-se de diarréia e de
cólera e não há água potável, esgoto, nem eletricidade;
9. Enquanto na Europa e América do Norte a Teologia acadêmica produz
constantes progressos exegéticos e hermenêuticos... O povo pobre continua
totalmente distante das novas correntes teológicas, das novas interpretações
bíblicas: o povo segue batizando seus filhos, enterrando seus mortos,
colocando velas diante dos seus santos e peregrinando nos santuários
marianos, como tem feito há séculos.
Onde fica a Igreja dos pobres?
• Esta situação de pobreza não somente econômica, mas
também eclesial, teológica e pastoral, contrastam com o
Evangelho de Jesus e com as afirmações oficiais da
Igreja.
• Jesus veio sobretudo e prioritariamente para evangelizar
os pobres (Lc 4, 18; 7,22)
• Também a Igreja, desde João XIII, proclamou que quer
ser de todos, porém deseja ser especialmente a Igreja
dos pobres.
Evangelli Nuntiandi
Reflete uma sede de Deus que somente os pobres e os
simples podem conhecer. Torna capaz de generosidade
e sacrifício até o heroísmo, quando se trata de
manifestar a fé. Comparta um profundo sentido dos
insondáveis atributos de Deus: a paternidade, a
providência e a presença amorosa e constante.
Engendra atitudes interiores que raramente podem ser
observados no mesmo grau em quem não possui esta
religiosidade: paciência, sentido da cruz na vida
cotidiana, desapego, aceitação dos outros e devoção
(EN 48).
Igreja Latino Americana
A proximidade da Igreja da América Latina do povo fez
com que os documentos refletissem uma preocupação
por esse tema.
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Puebla 444-469
Medellín 6, 2-4
Santo Domingo
36-39
Fides Rudim
A doutrina pontifícia está de acordo com a
mais genuína Tradição Patristica, que
falava da fé do povo simples fides rudim
e considerava os pobres seus grandes
mestres, e com a tradição evangélica:
Jesus não despreza a fé do povo simples,
abençoa as crianças e se deixa tocar pela
hemorroíssa e pela mulher pecadora.
(Ver LG 12)
Como se traduzem na prática estas
belas declarações de princípios?
Alguns desafios
1.
Evangelizar os pobres não consiste simplesmente em ensinar-lhes o
catecismo e sim “fazer o que fez Jesus”, oferecer sinais concretos de
libertação da sua pobreza e, neste sentido, “a passagem de
condições de vida menos humanas para condições de vida mais
humanas” é evangelização e boa notícia do Reino. (SD 178, 180, 296,
302). Onde existe defesa da vida, ali começa a existir Evangelho e
presença do Reino. A Igreja, ao defender a vida do povo, evangeliza
os pobres.
2.
Se a maioria dos membros da Igreja são pobres e, certamente, entre
eles, as mulheres são as mais numerosas e as mais pobres, de que
serve fazer teologia e pastoral para maiorias brancas, ricas e
seculares do primeiro mundo ou escrever documentos somente para
clérigos e leigos especialistas?
3.
A opção pelos pobres leva a uma presença solidária juntos aos
pobres em suas lutas pela vida, pela justiça e por uma evangelização
libertadora. Isso supõe uma pastoral renovada que tenha em conta a
localização das paróquias e das comunidades religiosas e uma
revisão da metodologia pastoral, de seu enfoque e de suas
prioridades.
4. Devolver a Bíblia ao povo, para formar catequistas,
preparar para os sacramentos e dar à vida cristã uma
orientação evangélica libertadora;
5. Ajudar a criar uma Igreja onde os pobres sejam sujeito e
centro da comunidade, sem considerar os pobres que crêem
como membros de segunda categoria eclesial.
6. Acreditar na CEBs como células eclesiais básicas e
núcleos de evangelização, inculturação e transformação da
realidade;
7. Partir da própria pobreza e dos meios pobres do povo, para
edificar uma Igreja que seja realmente dos pobres, popular e
libertadora, sem populismos nem manipulações, com
discernimento e em comunhão com as demais igrejas e com
a grande Igreja católica e seus pastores, seguindo, porém, um
caminho próprio, alternativo e profético, que certamente pode
trazer muito proveito para as demais Igrejas.
Mistério e Bem-aventurança
“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu
e da terra, porque ocultaste estas
coisas aos sábios e entendidos, e
as revelaste aos pequeninos. Sim,
ó Pai, porque assim foi do seu
agrado” (Lc 10, 21).