O URAGUAI BASÍLIO DA GAMA
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Transcript O URAGUAI BASÍLIO DA GAMA
O URAGUAI
BASÍLIO DA GAMA
O Uraguai
Basílio da Gama
“Pobre Basílio! Tinhas contra ti o
assunto estreito e a língua escusa.”
Machado de Assis
BASILIO DA GAMA
1741 - 1795
José Basílio da
Gama nasceu em
oito de abril, de
1741, no então
arraial de São José
do Rio das Mortes,
hoje cidade de
Tiradentes, em
Minas Gerais.
Biografia de Basílio da Gama
• Aos 16 anos, Basílio ingressa no Colégio dos
Jesuítas no Rio de Janeiro. Concluiu o
noviciado e fez os primeiros votos para ser
padre jesuíta e pertencer ao quadro da
Companhia de Jesus. Pertencer a tal Ordem
significava fazer parte de uma elite intelectual e
política, visto que os jesuítas dominavam a
educação em Portugal.
Biografia de Basílio da Gama
• Em 1759, os jesuítas foram expulsos da pátria
portuguesa, como parte de um processo de
modernização do país protagonizado por
Sebastião José de Carvalho e Melo (o Marquês
do Pombal), e Basílio pode ter-se desligado da
Companhia para evitar problemas.
Biografia de Basílio da Gama
• Entre 1762 e 1764 passa a viver na Itália
(Roma), onde frequentou os mais sofisticados
círculos literários. É admitido, como único
brasileiro, na prestigiosa Arcádia Romana e
adota o pseudônimo pastoril de Termindo
Sipílio.
Biografia de Basílio da Gama
• Em 1768, por decreto, vai para Portugal, onde
é preso, sob a ameaça de exílio em Angola, por
suas antigas ligações com os jesuítas. Para
escapar de tal infortúnio, escreve um poema
(Epitalâmio da excelentíssima senhora dona
Maria Amália), em louvor ao casamento da filha
do todo-poderoso Marquês do Pombal
(primeiro-ministro português entre 1750-1777),
mas com um comentário positivo das virtudes
do pai da noiva e de sua ação renovadora em
Portugal.
Biografia de Basílio da Gama
• Basílio cai nas graças de Pombal e sai da
cadeia. Em 1769 sai à luz seu livro mais
famoso, O Uraguai, poema que tem em suas
entranhas um discurso e uma visão de mundo
totalmente afinados com as diretrizes da
política pombalina.Em 1774, começa a
trabalhar diretamente com o Marquês de
Pombal, na condição de seu secretário e
interlocutor privilegiado.
Biografia de Basílio da Gama
• Mesmo depois da queda de Pombal, em
1777, Basílio continuou servindo aos
principais círculos de poder em Portugal.
Produziu bastante no campo da literatura e
veio a falecer em 1795 em Lisboa.
O Uraguai = o tema histórico
• A região dos Sete Povos das Missões
Orientais foi colocada em pauta nas
disposições do Tratado de Madri, firmado
entre Portugal e Espanha, em 1750, o qual
determinava nova demarcação das
fronteiras de suas colônias na América do
Sul.
O Uraguai = o tema histórico
• A colônia portuguesa do Santíssimo
Sacramento (no sul do atual Uruguai)
ficaria sob os domínios da Espanha e os
Sete Povos das Missões Jesuíticas, os
povoados guaranis catequizados por
jesuítas espanhóis, seriam entregues aos
portugueses.
O Uraguai = o tema histórico
• As fronteiras entre os dois impérios ibéricos na
América:
• Portugal: queria expandir sua fronteira sul ao
máximo, de preferência até o rio da Prata.
• Espanha: queria empurrar Portugal para o
norte, preservando para si o domínio daquele
rio fundamental (O Uruguai).
O Uraguai = o tema histórico
• Missões: reduções (na margem esquerda do rio
Uruguai) que se espraiaram pelo miolo do
território sul-americano e consolidaram-se
como uma verdadeira civilização, organizada,
produtiva, próspera, integrada aos mercados.
Pagavam tributos à Espanha e, embora não
tivessem autonomia política, eram comandadas
por padres jesuítas espanhóis.
O Uraguai = o tema histórico
• Os padres jesuítas das Missões foram
acusados de, a partir da expansão e da
consolidação de suas reduções, querer
fundar um império próprio, independente
tanto da Espanha quanto de Portugal.
• População das Missões: na altura de 1740
= mais de 95 mil pessoas, cada aldeia =
entre mil e seis mil habitantes.
O Uraguai = o tema histórico
• Feito o Tratado de Madri = ordem:
• Os índios guaranis e os padres jesuítas
deveriam abandonar as Missões à
margem esquerda do rio Uruguai.
• Agravante = A Ordem dos jesuítas estava
passando por uma conjuntura especial na
Europa: acusações de conspirações
contra governos = alvo dos iluministas.
O Uraguai = o tema histórico
• TENSÃO = guerra e chacina:
• Lideranças indígenas e padres jesuítas
consideraram um absurdo tal determinação
(via Tratado de Madri), porque implicava
abandonar verdadeiras cidades com toda
uma organização econômica próspera, obtida
com o trabalho de várias gerações.
A guerra guaranítica
A guerra guaranítica
• O espaço missioneiro deveria integrar-se
ao espaço colonial português, não
obstante a demarcação dos limites desse
tratado foi interrompida várias vezes pela
recusa dos índios missioneiros em
entregar as terras, culminando na Guerra
Guaranítica.
O Uraguai = o tema histórico
• Conflito = da parte dos impérios ibéricos:
• 1751: expedição conjunta dos dois exércitos
para demarcação das fronteiras acertadas no
Tratado;
• Líder português: Antônio Gomes Freire de
Andrada (então governador de MG e RJ)
• Desfecho: a expedição luso-espanhola é
barrada pelos índios.
O Uraguai = o tema histórico
• 1754: novamente são enviados exércitos à
região dos Sete Povos, para evacuar aldeias,
desta vez com forte espírito de guerra.
• Dificuldades: atrasos do exército espanhol que
enfrentou uma terrível enchente e muitas
baixas em uma batalha com os índios.
O Uraguai = o tema histórico
• 1755: Nova tentativa de cumprimento do
Tratado:
• Exército português = bem organizado (1.600
militares e uns 200 aventureiros/bandeirantes)
em armas, mais de 6 mil cavalos e grande
poder de fogo, além de 200 escravos;
O Uraguai = o tema histórico
• Exército espanhol = números parecidos com o
exército luso = aspecto diverso: dois terços de
seus 2 mil homens era de “gaúchos” (homens
livres = sem organização militar regular) =
mostraram uma face sanguinária (direito ao
saque) no combate (final) de Caiboaté.
O Uraguai = o tema histórico
• Horizonte complicado dos índios = a resistência
em desvantagem:
• Não tinham muita capacidade guerreira (nunca
haviam se preparado para agredir outros
povos) e uma grande parte, ilusoriamente, tinha
esperança que a diplomacia dos jesuítas, na
Europa, conseguisse reverter as cláusulas do
Tratado.
O Uraguai = o tema histórico
• Janeiro de 1756: as tropas luso-espanholas
encontram-se no atual município de Bagé e
começam a marcha em direção aos Sete
Povos (rumo a batalha de final de Caiboaté).
O Uraguai = o tema histórico
• Reação dos índios: alguns líderes deliberaram
fugir para o outro lado do rio, queimando os
campos e as plantações, mas outras
lideranças indígenas, como Sepé Tiaraju, o
maior líder guerreiro dos guaranis, tentaram
articular resistência e decidiram combater, à
moda guerrilheira, as tropas ibéricas.
SEPÉ TIARAJU
SEPE TIARAJU
• Sepé Tiaraju nasceu entre a segunda e terceira
década do século XVIII, na sociedade missioneira
composta dos trinta povos guaranis. Foi educado com
esmero pelos espanhóis, principalmente no que se
refere ao uso das armas, tornando-se alferes real e
corregedor do povo de São Miguel, o que lhe foi de
muita valia na Guerra Guaranítica pelas suas grandes
habilidades como estrategista, planejando e
executando os movimentos e operações da tropa
missioneira. Comandou o exército guarani de,
aproximadamente, dois mil e quinhentos índios.
SEPÉ TIARAJU
• Depois de muitos atos de bravura, e de
insucessos nos confrontos, no dia 7 de
fevereiro de 1756 Sepé foi morto, na sanga da
Bica, atualmente parte urbana da cidade de
São Gabriel (RS): primeiro, seu cavalo rodou e
o guerreiro guarani foi lanceado por um
soldado português; depois, segundo
testemunho de um padre, foi baleado pelo
governador de Montevidéu, José Joaquim
Viana, que ainda mandou cortar a cabeça ao
cadáver.
SEPÉ TIARAJU
• Com a morte heróica foi elevado à condição de
mito fundador do povo missioneiro e gaúcho.
Qualidade consolidada após duzentos e
cinqüenta anos, através do imaginário popular,
sendo mais conhecido como “São Sepé
Tiaraju, o mártir da terra sem males, o santo
protetor de todos os povos que lutam pela
• terra” .
O Uraguai = o tema histórico
• FIM DA GUERRA:
• Os índios que bravamente resistiram foram
derrotados;
• O exército luso adotou a prática de prender os
inimigos vivos e o exército espanhol preferiu
matá-los.
• Em maio de 1756, o exército luso entrou
triunfante nas Missões.
O Uraguai = o tema histórico
• Números da tragédia:
•
•
•
•
Para os exércitos ibéricos:
1.723 índios mortos;
127 prisioneiros;
326 sobreviventes que fugiram.
O Uraguai = o tema histórico
• Registro demográfico feito pelos jesuítas
acerca dos Sete Povos das Missões em 1753,
antes do processo de expulsão, morte e fuga:
• População: 6.144 famílias, num total de 29.052;
• Menor povoado: São Lourenço: 1.838 pessoas;
• O mais populoso: São Miguel: 6.898 pessoas;
• Em 1780 a mais antiga cidade sulina, Rio
Grande, contava 2.421 habitantes e a aldeia de
Porto Alegre contava 1.312 habitantes.
O URAGUAI (1769)
O URAGUAI (1769)
• Do título: O título do livro de Basílio da Gama é
o nome do rio (o Uruguai) que faz limite entre o
atual noroeste do Rio Grande do Sul, no Brasil,
e o nordeste da Argentina, rio a cuja margem
esquerda se localizavam os Sete Povos. O
nome desse rio era grafado com “a” e com “u”
na segunda sílaba; Basílio optou pela forma
que está consagrada no título.
O URAGUAI (1769)
• Estrutura da obra: Estruturalmente, O Uraguai
quebra com o padrão épico, nos moldes de A
Ilíada, A Odisséia e de Os Lusíadas. O poema,
escrito em decassílabos, possui apenas 1377
versos brancos (sem rima), sem divisão regular
de estrofes. Embora flexíveis, é possível
perceber a sua divisão em partes: proposição,
invocação, dedicatória, narrativa e epílogo.
O URAGUAI (1769)
• Estrutura da obra: Embora Basílio aborde a
temática de uma guerra e de heróis em
combate, conforme a tradição épica, não há um
indivíduo heróico português que assuma um
valor grandioso. É, pois, o índio que se torna
valoroso, apesar de encontrar a morte. Além,
disso a caricaturização satírica dos padres
jesuítas também é um fator dissonante do
épico.
O URAGUAI (1769)
• Uma obra que bajula o poder?
• O poema é dedicado ao irmão de Pombal,
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, e
oferecido ao próprio Sebastião José de
Carvalho e Melo, então Conde de Oeiras,
depois Marquês do Pombal (título de 1769).
Além disso o herói nominal do poema é Gomes
Freire de Andrada, o executor da política
pombalina na campanha contra os Sete Povos.
O Indianismo & o heroísmo em
O Uraguai
• Curiosamente, embora o autor tenha composto
sua obra para ser um hino laudatório ao feito
militar de portugueses, e de seus aliados
espanhóis, na figura de Gomes Freire de
Andrade, o que de fato se lê nos cinco cantos
de seu poema é uma louvação ao índio do
novo mundo com suas virtudes naturais
intrínsecas.
O Indianismo & o heroísmo em
O Uraguai
• O índio acaba superando, no seu espírito, o
guerreiro português, que era preciso exaltar, e
o jesuíta, que era preciso desmoralizar. Como
filho da “simples natureza”, ele aparece como
um elemento esteticamente mais sugestivo.
O Indianismo & o heroísmo em
O Uraguai
• Assim, enquanto o herói europeu busca
cumprir a ordem que lhe foi dada, se possível
sem que haja conflito, o herói indígena
contrapõe-se não por um caráter maldoso ou
vil. Sepé quer apenas ficar em sua terra,
reivindicando o direito natural de nativo da
terra, e manter ali as reduções e os padres que
as administram juntamente com os índios.
O Indianismo & o heroísmo em
O Uraguai
• Basílio não ignora a legitimidade dos motivos
de Sepé, apenas atribui estes motivos à
manipulação dos jesuítas, estes sim, os
verdadeiros vilões da história. Estes vilões,
porém, são elementos menores dentro da
narrativa, e são quase totalmente reduzidos a
uma figura, a do padre Balda.
O Indianismo & o heroísmo em
O Uraguai
• Toda a corrupção e maldade dos jesuítas
resume-se às atitudes do pérfido padre, o que
pessoaliza o pólo negativo tornando-o, assim,
pouco representativo. Mais do que uma batalha
entre heróis e vilões, o que temos no poema é
o embate e o questionamento dos valores
civilizados e primitivos, um choque entre a
cultura européia e a cultura primitiva e
autêntica dos reais “donos” do território.
O Indianismo & o heroísmo em
O Uraguai
• Segundo Sergius Gonzaga, “o choque entre a visão
racionalista européia e o primitivismo americano
torna-se melancólico – e, portanto, não-épico –
quando o general Gomes Freire dialoga com os
chefes indígenas, Cacambo e Sepé”. O ponto de vista
de Basílio da Gama diante da conversa entre os
inimigos revela-se, conforme o crítico, paradoxal: “em
termos ideológicos, ele é favorável aos europeus,
mas, em termos sentimentais, simpatiza com os
índios.”
O Indianismo & o heroísmo em
O Uraguai
• Enfim, para perceber tal ambigüidade, basta que se
observe a hipocrisia do discurso imperialista do
general português em confronto com as razões muitos
mais convincentes e naturais do discurso do chefe
indígena Cacambo. Assim, a contradição de Basílio
da Gama que pretende, por força de suas
conveniências políticas, glorificar tanto o conquistador
quanto o índio missioneiro, é equacionada pela crítica
feroz a um terceiro elemento: os jesuítas.
RESUMO DOS CANTOS
CANTO I
• Nos primeiros
versos do poema, o
leitor é colocado
diante dos campos
devastados e cheios
de cadáveres onde
se deu a batalha
entre os exércitos
português e
espanhol e o dos
índios guaranis.
CANTO I
• Conta Gomes Freire que depois de firmado o
“Tratado de Madri”, por D. João V (de Portugal)
e D. Fernando VI (da Espanha), a fim de
resolver os problemas de limites territoriais
entre os dois impérios, foram enviados para a
região das Missões o exército espanhol e o
exército português a fim de juntos demarcarem
as terras, para garantir o acordo entre os
países, já que o cumprimento do tratado
interessava a ambos os estados.
CANTO I
• Porém, antes da união dos exércitos, os
jesuítas induziram os índios a atacar um forte
lusitano em Rio Pardo. Houve luta, os índios
perdem o combate e alguns são feitos
prisioneiros. Depois disso, o general português
parte em busca dos Sete Povos, sempre na
espera da junção com o aliado (Espanha).
CANTO I
• Depois de caminhar muitos dias, o exército
português enfrenta a travessia do rio Jacuí.
Nessa altura, Gomes Freire recebe a notícia de
que o general espanhol não viria mais, porque
os índios tinham esterilizado os campos dos
quais se alimentariam os seus cavalos e o
gado.
CANTO I
• O general espanhol, então, aconselha que
Gomes Freire também se retire. Mas, Andrade,
indignado, não aceita “dar passos para trás,
retirando-se do campo de batalha”, e dispõese a esperar o aliado às margens do Jacuí.
Ocorre, então, uma enchente tão grande que
deixa alagada toda a região. Contudo, o
general não abandonou o local, instalando o
seu exército por dois meses no alto das
árvores.
CANTO I
• Finalmente, obrigado pelas dificuldades,
impostas pela natureza, e pela demora do
aliado, o general teve de abandonar o ponto a
que chegara e retirar-se. Destaca-se, portanto,
neste episódio, o caráter oportunista dos
jesuítas, a bravura dos índios, a perseverança
do general português, que não resultou quase
em nada, devido enchente do rio Jacuí.
Canto II
• No canto II, enfim, as tropas lusoespanholas começam a marchar rumo
ao Sete Povos das Missões. Depois de
muitos dias andando, chegam a um
lugar onde está o exército guarani.
Canto II
• Gomes Freire de Andrade lamenta a grande
probabilidade de um conflito e, a fim de tentar
uma saída diplomática, manda soltar os índios
prisioneiros, que, pelo bom tratamento recebido
no cárcere, despende-se calorosamente do
general e depois, já entre os seus, falam sobre
a nobreza de Andrade.
Canto II
• Com a chegada de dois embaixadores índios, o
general tenta negociar uma solução pacífica com os
dois líderes, Sepé e seu companheiro Cacambo. No
diálogo, são apresentados fortes argumentos das
duas partes. Não há julgamento de valor por parte do
narrador: as razões do general e dos índios são
colocadas em pé de igualdade. Sepé é o mais
inflexível, não quer negociação, não reconhece o
poder do rei português nem aceita seu domínio sobre
o território.
Canto II
• O discurso de Cacambo denuncia a crueldade do
branco em sua invasão ao índio. Apesar disso, ele
acredita que a paz seja possível, desde que a razão
supere o braço armado, pensamento típico do ideário
iluminista. Dizendo que se o rei de Espanha
desejasse dar terras a Portugal, que desse outras (as
Buenos Aires ou Corrientes), pois aquelas tinham
dono. Além disso, Sacramento, em termos
estratégicos, era mais importante do que as Missões
e os portugueses estavam prestes a fazer um
péssimo negócio.
Canto II
• Cacambo demonstra que possui plena consciência
do destino de seu povo, que é ser talvez destruído,
pela astúcia da política européia. A razão de seu
argumento pode demonstrar, também, que os
aliados ainda são verdadeiros inimigos entre si, e
que os índios não passam de vítimas de um conflito
mal resolvido entre eles. Assim, a sua fala parece
indicar a superação de seu estado natural, porque
representa a conquista de uma abstração lógica ou
pensamento civilizado - capaz, em princípio, de
reacender a discórdia entre os aliados e evitar, com
isso, o massacre de seu povo.
Canto II
• Percebe-se, portanto, a diferença do caráter
de Cacambo e a do seu companheiro, Sepé,
que é menos racional e mais agressivo.
Poderíamos dizer que Cacambo foi um
diplomata e Cepé foi um guerreiro, tanto que
tiveram mortes “diferentes”. Sepé na batalha e
Cacambo através das mãos vis do egoísta
padre Balda.
Canto II
• Também nesse canto, nos deparamos com o
discurso persuasivo e hipócrita do general
Andrade tentando convencer os índios de que
estavam sendo explorados pelos jesuítas, que
haviam construído um “império tirânico”, e que
a sua missão ali era de libertá-los e torná-los
felizes como ele.
Canto II
• A fala de Sepé, mais curta e agressiva, salienta
o direito natural dos índios pelas terras onde
vivem, pois como herança de seus
antepassados, deveriam ofertá-las aos seus
descendentes. Trata-se, pois, de uma
lamentação em reação a invasão dos
europeus ao continente americano. Invasão
essa que pretende desalojá-los e apoderar-se
de forma bárbara de seus recursos naturais.
Canto II
• E o bravo guerreiro encerra seu curto discurso
esclarecendo que se os europeus queriam a
guerra, então a teriam. O general português
também acaba por admitir que a guerra era
inevitável e permite a partida dos dois
embaixadores índios, depois de presenteá-los.
Então, depois de fracassada a tentativa
diplomática de um acordo de paz, todos
começam a preparar-se para o confronto.
Canto II
• Apesar da valentia do índio, o poderio bélico do
europeu impera, sem contudo desmerecer o índio.
Visto que, apesar da adversidade, o índio não se
intimidou, lutando até não poder mais. Sepé, depois
de lutar como um bravo, e de matar inúmeros
brancos, acaba ferido mortalmente com um tiro no
peito e tomba morto. Então, na ausência do grande
comandante e guerreiro, Cacambo, ao lado de Caitutu
e Tatu-Guaçu, reúne os índios restantes e foge.
CANTO III
• O terceiro canto inicia-se com uma
imagem alegórica de uma povoação
destruída pela ambição do injusto império
europeu. Contudo, o general desta
investida não se rejubila com a vitória.
Pelo contrário, ele se compadece dos
habitantes daquele chão.
CANTO III
• Depois de vencida a batalha, o general luso
conduz suas tropas para as Missões. Depois
de dias caminhando pelos campos, acampam
às margens do Rio Uruguai, próximo ao
território a ser ocupado. Cacambo dormia na
margem oposta do rio a espreita dos europeus,
e, sem conseguir dormir, vê a imagem
fantástica (ou talvez ilusória) e triste de Sepé,
exortando-o vingar a sua morte e defender a
pátria:
CANTO III
• Cacambo tenta incendiar o acampamento europeu e
consegue atravessar o profundo e irado rio sem, no
entanto, provocar algum barulho que pudesse acordar
o exército de Andrade. Conseguindo, assim,
“concretizar” a missão a ele incumbida por Sepé:
incendiar o acampamento português, voltando, em
seguida, para as Missões para dar a notícia ao padre
Balda. Porém, essa empreitada foi debalde, visto que
não provocou grandes problemas ao exército de
Gomes. Já que o fogo foi rapidamente controlado, sob
a autoridade do general.
CANTO III
• O narrador, então, lamenta o destino que
aguarda Cacambo nas Missões. O heróico
índio era o cacique da tribo e havia casado com
Lindóia, também altiva e nobre. E, voltando de
forma antecipada para o seu povo, é preso,
numa escura prisão, como traidor e
envenenado pelo padre Balda, sem receber as
honras fúnebres com pouca terra cobrindo seus
nobres ossos, e sem ter visto novamente sua
amada esposa antes de seu injusto fim.
CANTO III
• O padre Balda, jesuíta e grande vilão da
história, pretendia com o assassinato de
Cacambo, colocar seu filho bastardo, Baldetta,
no comando da tribo. E obrigar a esposa e
precoce viúva do generoso índio a se casar
com seu “afilhado”.
CANTO III
• Assassinado Cacambo, Lindóia decide se matar ao
em vez de se entregar ao Baldetta, o filho do padre
assassino. Recorre, então, à velha feiticeira Tanajura
na esperança de ela pudesse fazer alguma magia
que a fizesse encontrar Cacambo. A velha leva a
jovem viúva à gruta e lá elabora um feitiço. E num
pote ferrugento com água da fonte, a feiticeira fez a
nobre índia ver a vingança do assassinato de
Cacambo, a destruição de Portugal por um terremoto
(1755), a expulsão dos jesuítas e a reconstrução de
Portugal pelo Marquês de Pombal.
Canto IV
• Sempre lamentando a devastação que vê diante de si,
Gomes Freire aproxima-se, com seu exército, da
missão jesuítica. E depois de vencer a última
resistência nos grandes montes da serra, enfim
alcança o cimo da montanha, de onde pode ver toda a
beleza da região: as longas campinas, os riachos e
fontes claras, os arvoredos frondosos, as plantações
e o vagaroso gado do território das Missões.
Enquanto isso, o pérfido padre Balda prepara o
casamento de Lindóia e Baldetta com um curioso
desfile militar.
Canto IV
• Para que se iniciasse a estranha festa de
casamento, no meio de uma guerra e
ignorando totalmente o luto pela morte de
Cacambo, faltava a noiva: a mísera Lindóia.
Tanajura, um tanto irritada, informa a todos que
resolveram procurar por Lindóia que a tinha
visto entrar sozinha no jardim, triste e chorosa,
sem deixar que ninguém fosse com ela.
Canto IV
• Caitutu, irmão da índia, parte a sua procura e entra,
enfim, na mais remota e interna parte de antigo
bosque, escuro e negro, onde ao pé de uma lapa
(gruta) cavernosa, havia uma rouca fonte que
murmurava, coberta por uma melancólica parreira de
jasmins e rosas. Este lugar delicioso e triste, cansada
de viver, tinha escolhido para morrer a mísera Lindóia.
A encontra adormecida e enrolada em seu corpo, uma
serpente. Caitutu consegue matar a cobra, mas já era
tarde: Lindóia havia sido picada e morre nos braços
do irmão que contempla a morte que se faz bela em
seu rosto (MORTE = ROMÂNTICA)
Canto IV
• A MORTE DE LINDÓIA: Esta passagem,
certamente a mais famosa do poema,
conhecida como “a morte de Lindóia” é uma
das mais belas do texto, denunciando o lirismo
indianista e pré-romântico de Basílio da Gama,
através da atitude heróica da índia que prefere
a morte em vez de trair a memória de seu
marido, revelando, assim, altivez e nobreza de
caráter.
Canto IV
• Ao ver frustrados seus planos maquiavélicos, com o
suicídio de Lindóia, o padre Balda proíbe os ritos
fúnebres e manda deixar seu corpo exposto às feras.
Em seguida, culpa a feiticeira Tanajura e incita os
índios a matá-la, condenando-a em um auto de fé.
Neste momento, chega um mensageiro avisando que
o exército ibérico se aproxima. Balda manda incendiar
a redução, amarra Tanajura em um tronco e começa
por ela o fogo. Os jesuítas – além de Balda, há mais
dois, pouco expressivos: Tedeu e Patusca – fogem
para uma redução vizinha.
Canto IV
• Gomes Freire de Andrade entra, triunfalmente, na
redução, contém o incêndio iniciado por Balda, e
mais uma vez lamenta toda aquela destruição. Os
soldados se impressionam com o tamanho e a
riqueza do lugar, que ainda pode ser percebido em
meio às ruínas. Andrade indigna-se com a atitude
dos padres de não pouparem sequer o altar e os
símbolos sacros destruídos pelo incêndio. A
sugestão é de que são justamente aqueles que
deveriam representar a igreja os seus corruptores,
que não respeitam os símbolos máximos da fé que
deveriam pregar.
CANTO V
• No início do quinto canto o narrador descreve
o teto da catedral, onde os jesuítas tinham
feito pintar vilas, cidades, províncias e reinos.
Tais pinturas ostentavam a representação do
poder da Companhia de Jesus, seus planos
de conquista do mundo e as ações já
realizadas, incluindo uma série de atentados e
assassinatos, heresias e práticas de
corrupção.
CANTO V
• O canto quinto, que é mais político, apresenta
algumas insinuações de Basílio da Gama sobre
a “mão suja” dos jesuítas na morte de alguns
reis na Europa, tais como as mortes de
Henrique III e Henrique IV, da França.
Mostrando assim o grande poder que a
Companhia exercia não só no Brasil, mas
também na Europa.
CANTO V
• Enfim, o general Andrade, depois de
contemplar todas as pinturas, enquanto os
seus soldados ainda admiravam embevecidos
o grandioso afresco, decide, meditando
consigo mesmo, uma estratégia inédita de
guerra. Assim, espera o cair da noite e volta a
marchar com seu exército, a fim de
surpreender os índios e jesuítas em outra
aldeia.
CANTO V
• Então, quando o exército de Andrade chega ao local
destinado, surpreende os padres abandonando os
índios à própria sorte, depois de tê-los exposto à
guerra. Mas, os soldados prendem os padres,
divertindo-se com o guloso Patusca que tentava fugir
com presuntos europeus e lingüiças saborosas. O
general português se mostra benevolente para com
os índios vencidos. Rendidos, os nativos se colocam
de joelhos frente à Andrade e, humilhados com a
derrota, adoram a imagem de seu rei que lhe
apresentam.
CANTO V
• Enfim, o poeta encerra obra prometendo
que sua obra terá o reconhecimento da
Arcádia Romana, o que equivaleria a
garantir a posteridade do poema.
Sugestão: ver o filme A Missão de
Rolland Joffé