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MÚSICA E CANTO NA
LITURGIA
CANTAR NA LITURGIA OU
CANTAR A LITURGIA?
I PARTE
O QUE É CANTO
LITÚRGICO?
Memorial: faz memória dos mistérios
celebrados, canta os mistérios de Cristo.
Orante: constitui uma oração ou experiência
de comunicação com Deus de forma ritual e
comemorativa que torna presente a obra da
salvação da Santíssima Trindade, por Cristo
e em Cristo.
Contemplativo: o canto é litúrgico quando
contempla a obra da Trindade na História da
Salvação.
Trinitário: é dirigido ao Pai pelo Filho no Espírito
Santo.
Crístico ou centrado em Cristo: está centrado
em Jesus Cristo no Mistério Pascal. O Cristo
engloba os seus membros, a Igreja, e toda a
humanidade.
Pascal: pelo canto a igreja anuncia e
testemunha o cerne do Evangelho: O
mistério Pascal. No fundo, são cantos
pascais do Cordeiro Imolado e vitorioso.
Eclesial: em dois sentidos:
a) é a Igreja que celebra e faz memória. A
assembléia que canta;
b) ele canta a Igreja, pois o Mistério de
Cristo, o Mistério Pascal cantado,
compreende os membros de Cristo, seu
corpo todo que é a Igreja.
Eucarístico: no sentido de ter o caráter de
ação de graças. A Igreja dá graças ao Pai,
por Cristo, no Espírito.
Narrativo: A Igreja canta, narrando os fatos,
os benefícios de Deus, as maravilhas de
Deus. Pelo canto, a Igreja narra,proclama as
páscoas dos cristãos, iluminadas pela
palavra de Deus.
Proclamativo: pode ser eucarístico e narrativo,
proclama as maravilhas de Deus na História da
Salvação.
Histórico-salvífico: proclamando a História da
salvação, o canto litúrgico é atualização dessa
salvação.
Profético: por dois motivos:
a) cantando o plano de Deus da Salvação,
denuncia o que se opõe a esse plano.
b) é profético por que o que ele comemora
prefigura o Reino definitivo.
CONCLUSÃO
NÃO HÁ LUGAR PARA MERO SENTIMENTALISMO
RELIGIOSO, OU SHOW ARTISTICO OU DE EXIBIÇÃO.
É CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO PASCAL DE CRISTO,
É
ORAÇÃO,
COMUNICAÇÃO
COM
DEUS,
COMUNICAÇÃO COM O PAI, POR CRISTO, NO
ESPÍRITO SANTO.
II PARTE
OS CANTOS NA
CELEBRAÇÃO
Canto de Abertura
Não é qualquer canto que se pode utilizar para
a abertura de uma celebração. Sua função é
“[...] de criar comunhão. Seu mérito é de
convocar a assembléia e, pela fusão das vozes,
juntar os corações no encontro com o
Ressuscitado.” (CNBB, nº 79, p. 135-6).
O Kyrie e o Hino de Louvor
O Kyrie “é uma aclamação suplicante a Cristo-Senhor [...].
É o Canto da assembléia reunida que invoca e reconhece
a infinita misericórdia do Senhor.” (FONSECA, 2007, p. 18).
O Hino de Louvor segue quase as mesmas orientações.
Também não é uma aclamação trinitária, mas “um hino
doxológico (de louvor/glorificação) que canta a glória do
Pai e do Filho. Porém o Filho se mantém no centro do
louvor da aclamação e da súplica.” (FONSECA, 2007, p.
19).
Salmo Responsorial
O Salmo é uma resposta da comunidade a Palavra
ouvida, ou seja, à primeira leitura. “[...] por dois
motivos: porque é cantado em forma dialogal entre
salmista e assembléia e porque é escolhido para
responder à Palavra de Deus proclamada,
prolongando assim seu sentido teológico-lirtúrgico e
espiritual. (FONSECA, 2007, p. 26).
Aclamação ao Evangelho
É uma introdução, preparando a assembléia para o
que será proclamado. “Em outras palavras, o canto
que precede a Proclamação do Evangelho nada mais
é do que um “viva” pascal ao verbo de Deus, que nos
tirou das trevas da morte, introduzindo-nos no reino
da vida.” (FONSECA, 2007, p. 32).
Preparação das Oferendas
É um canto que acompanha a procissão dos dons e
“[...] o texto do canto [...] não precisa falar [...] de pão
e de vinho e muito menos de oferecimento ou
oblação.” (FONSECA, 2007, p. 34). Outro dado
importante: tudo o que for apresentado como oferta
não poderá voltar ao dono. Precisa ser partilhado ou
doado. Caso retorne, não tem sentido ser ofertado.
Exemplo disso é a sandália como símbolo da missão.
Santo
A letra do Santo é constituída de duas partes: “a
primeira parte Santo, Santo,Santo, Senhor Deus do
universo, o céu e terra proclamam vossa glória...,
reproduz o louvor celeste dos Serafins conforme o
relato de Isaías 6, 3 [...]. a segunda parte: Bendito o
que vem em nome do Senhor..., expressa o brado de
triunfo do povo de Deus que acolhe e aclama o
Messias, o Salvador. (FONSECA, 2007, p. 41).
Cordeiro de Deus
O Cordeiro tem uma particularidade especial. O bom
seria que tivesse um solista que cantasse a primeira
parte e a assembléia respondesse a segunda. “O
“Cordeiro de Deus” é uma prece litânica. Após cada
invocação entoada pelo(a) cantor(a), a assembléia
responde com o “tende piedade de nós” e no final
com o “daí-nos a paz” (FONSECA, 2007, p. 58).
Canto de Comunhão
Uma grande dificuldade encontrada no canto de
comunhão é no sentido que muitas composições
falam de um subjetivismo excessivo. Deve-se tomar
cuidado a esse respeito. Equivocadamente
entoamos canto individual – e, pior ainda, sem
sentido teológico – para expressar um ato
comunitário. O Missal Romano é muito claro quanto
a isso. No nº 56, letra i, reza: “enquanto o sacerdote
e os fiéis recebem o Sacramento, entoa-se o canto
da comunhão que exprime, pela unidade das vozes,
a união espiritual dos comungantes demonstra a
alegria dos corações e torna mais fraternal a
procissão dos que vão receber o corpo de Cristo.”
(IGMR, 1992, p. 45). O bom seria que estivesse de
acordo com o Evangelho proclamado.
III PARTE
O CANTO NO
ANO LITÚRGICO
Advento
“A Igreja entoa um canto de esperança, àquele
que está por chegar, o Príncipe da Paz, o
Emanuel, Deus-conosco.” (FONSECA, LM, 2007,
p. 201) É um tempo de espera e esperança, que
vai preparando nosso espírito para celebrar o
Nascimento do Verbo de Deus. As leituras da
Sagrada Escritura e os textos das orações já
tratam disso. Cabe ao Ministério de Música
escolher os cantos apropriados para ajudar na
integridade da oração.
Natal
“Cantemos o nascimento do Príncipe da Paz,
com a euforia dos profetas e evangelistas de
todos os tempos”. (FONSECA, LM, 2007, p. 201)
A grande revelação do nascimento do Verbo de
Deus se dá, primeiramente aos pobres, pois
quem acolhe o Filho de Deus no mundo são
humildes e simples, pois ele nasce na morado
dos animais, e seu primeiro berço é a uma
manjedoura, local de colocar alimento aos
animais. É tempo de grande alegria. O canto
tem de expressar essa dimensão.
Quaresma
Cantemos “a dor que se sente pelo pecado do
mundo, que, em todos os tempos e de tantas
maneiras, crucifica os filhos de Deus e prolonga,
assim, a Paixão de Cristo...”. (FONSECA, LM, 2007,
p. 201). A quaresma é um tempo penitencial. A
oração convida a reflexão e a perceber os sinais de
pecado no mundo e em cada ser humano, ou seja,
aquilo que rompe com a graça de Deus na vida. O
canto, melodias suaves, deve levar a reflexão.
Páscoa do Senhor
“Ressuscitados com Cristo, cantemos sua glória,
sua vitória sobre a morte.” (FONSECA, LM, 2007, p.
202). A experiência humana de Jesus na morte,
causada pelos poderes opressores e por sua
experiência de abandono, não é para sempre, mas
para remeter a humanidade à graça de também
experimentar a Ressurreição. Nesse tempo o canto
expressa a alegria da Ressurreição do Senhor, que
também é ressurreição da humanidade.
Tempo Comum
A comunidade de fé “disfruta de outros
aspectos da vida e da missão de Jesus e seus
discípulos que não contemplados nos ciclos do
Natal e da Páscoa.” (FONSECA, LM, 2007, p.
202). Os domingos do Tempo Comum dão sabor
de uma Páscoa Semanal. É a pregação de
Jesus sobre o Reino de Deus. Cada domingo o
tema difere. As equipes que pensam a
celebração precisam estar atentas para os
cantos estarem em sintonia com o tema e o
mistério celebrado.
IV PARTE
CRITÉRIO PARA
A ESCOLHA DOS
CANTOS
O ser humano é constitutivamente um ser
celebrante, e o ritmo da semana é um dado
cultural de inúmeros povos. Todo domingo
chega, assim, com sabor de novidade, com
apelo ao reencontro da família, da
comunidade, na fé, na alegria da esperança,
desabrochando no louvor, num "cântico novo".
Novo porque brota da vida que é sempre
inédita e inspiradora... Porque estamos sempre
em processo de morte-ressurreição, em
comunhão com Aquele, que, pelo seu Espírito,
faz novas todas as coisas, convertendo-nos
cada semana.
O Guia Litúrgico Pastoral da CNBB nos aponta
algumas dicas importantes para a escolha dos
cantos, porém ressaltando a importância do
uso dos cantos do Hinário Litúrgico da CNBB,
pois esses foram pensados cuidadosamente
para que música e ação ritual caminhem
juntas formando uma unidade celebrativa.
Os textos dos cantos sejam tirados da Sagrada
Escritura ou inspirados nela e das fontes
litúrgicas (d. SC 121); sejam poéticos, evitando
explicitações desnecessárias, moralismos,
intimismos, chavões;
As melodias sejam acessíveis à grande maioria
da assembléia, porém, belas e inspiradas;
Sejam evitados melodias e textos adaptados
de canções populares, trilhas sonoras de
filmes e de novelas;
Seja levado em conta o tipo de celebração, o
momento ritual em que o canto será executado
(d. SC 112) e as características da assembléia;
Sejam respeitados os tempos do ano litúrgico e
suas festas (d. SC 107);
Seja considerada a cultura do povo do lugar (
d. SC 3840)'
Sejam levadas em conta as dimensões
comunitária, dialogal e orante nos textos e nas
melodias.
Texto extraído do Guia Litúrgico-Pastoral da CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil) Brasília, Edições CNBB, p. 78-79, 2ª Ed,
Não tem sentido, por exemplo, escolher os
cantos de uma celebração em função de
alguns que se apegam a um repertório
tradicional, ou ainda de outros que cantam
somente as músicas próprias de seu grupo ou
movimento, nem de outros que querem cantar
exclusivamente cantos ligados à realidade
sócio-política, se isto vai provocar rejeição de
parte da assembléia.
Pois todos têm o direito de compreender e
participar com gosto, sobretudo os mais
desprovidos. É preciso que se pense em todos,
e em cada um na comunhão com os demais.
Por isso a utilização dos cantos do Hinário
Litúrgico onde sua função primeira é a estrita
ligação à Palavra anunciada e celebrada em
cada Domingo.
V PARTE
MINISTÉRIO DO
SALMISTA
É importante valorizar a função do Salmista,
com seu ministério específico. O Salmista
canta o texto principal, cabendo à assembléia
responder com o refrão.
Algumas normas que o salmista deve observar:
Uma formação bíblico-litúrgica: aprofundar o
sentido literal e cristológico dos salmos;
estudar cada salmo em sua relação com a
primeira leitura e com o projeto de salvação de
Deus.
Uma formação espiritual: saber orar com o
salmo, saboreá-lo como Palavra de Deus para
nossa vida atual; saber cantar de forma orante
Uma formação musical: saber usar a voz de
forma adequada, com boa dicção; se for o
caso, até saber ler uma partitura simples;
aprender as melodias dos salmos de resposta;
saber entrosar-se com os instrumentos
musicais que eventualmente acompanham o
canto do salmo.
Uma formação prática: saber manusear o
Lecionário e o "Hinário Litúrgico"; saber em que
momento subir à estante; como comunicar-se
com a assembléia; como usar o microfone; conhecer os vários modos de se cantar o salmo.
VI PARTE
INSTRUMETISTAS
Assim como a voz, o instrumento musical,
como prolongamento da ação humana, não
pode ser classificado como sacro ou profano.
Os documentos da Igreja abriram espaço para
urna inculturação dos instrumentos musicais,
levando-se em conta o gênio, a tradição e a
cultura de cada povo, integrando-se à liturgia e
ao contexto no qual se insere a comunidade
celebrante.
O recurso de "fundo musical" é inoportuno
durante a proclamação das leituras e durante
a oração eucarística. Quando acompanha o
canto, não deve abafar as vozes. As
introduções soladas são adequadas para
facilitar a entrada uniforme dos cantores e da
assembléia.
Muitas vezes participamos de celebrações que
mais parecem shows porque o grupo de cantos
não está nem aí com a assembléia. Para eles o
povo nada mais é de que mero espectador que
vem para assistir seu show.
As vozes são estridentes que doe o ouvido. Os
instrumentos, nem falar! E o pior, quando tem
bateria, como diz o dito popular: é um Deus
nos acuda.
Os instrumentos são ótimos para ajudar na
sacramentalidade do canto, porém jamais
devem se sobressair a voz humana, pois “a
sacramentalidade da voz humana está acima
de qualquer aparato externo[...].”(FONSECA,
2008, p. 29)
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
SACROSANTUM CONCILIUM, nº 10. In: Compêndio do
Vaticano II, Petrópolis, RJ, Editora Vozes, 1978.
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL.
Guia Litúrgico-Pastoral. Brasília, edições CNBB. 2ª Ed.
BUYST, Ione. O Espírito canta em nós. In: Liturgia em
Mutirão: subsídios para a formação. CONFERÊNCIA
NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Liturgia em
Mutirão. Subsídios para a formação. Brasília, edições
CNBB. 2007.
FONSECA, Joaquim. O canto e música no
tempo do ano Litúrgico. In: Liturgia em Mutirão:
subsídios para a formação. CONFERÊNCIA
NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Liturgia em
Mutirão. Subsídios para a formação. Brasília,
edições CNBB. 2007.
FONSECA, Joaquim. Quem canta? O que
cantar na liturgia? São Paulo: Paulinas, 2008.
FONSECA, Joaquim. Cantando a Missa e o
Ofício Divino. São Paulo: Paulus, 2007. 3ª Ed.
CNBB. A música litúrgica no Brasil. São Paulo:
Paulus, 1999. (Estudos da CNBB, nº 79).
FONSECA, Joaquim. Cantando a Missa e o
Ofício Divino. São Paulo: Paulus, 2007. 3ª Ed.
CNBB. A música litúrgica no Brasil. São Paulo:
Paulus, 2002, 4ª Ed. (Estudos da CNBB, nº 79)