O sangue é a vida: A representação do vampiro na

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Transcript O sangue é a vida: A representação do vampiro na

O sangue é a vida: A
representação do vampiro
na literatura
Prof. Dr. Alexander Meireles da Silva
Professor Adjunto do Departamento de
Letras do CAC/UFG
O sangue é a vida: A representação do
vampiro na literatura
Pontos abordados:
 As raízes mitológicas
e folclóricas
 As raízes literárias
 Drácula
 O vampiro na pósmodernidade
 O vampiro brasileiro
 O vampiro no cinema
As raízes mitológicas e
folclóricas
 Narrativas sobre criaturas
que se alimentam de
sangue ou da energia
vital dos seres humanos
podem ser encontrados
em vários povos e culturas
ao longo da história da
humanidade como na
Babilônia
antiga,
no
México com os Astecas,
Índia,
Grécia,
Egito,
China, Malásia, Rússia e
em
diversos
países
africanos.
As raízes mitológicas
Lâmia
 O
primeiro registro destes
seres pode ser encontrado
no ano de 125 a.C. na
mitologia grega na forma do
demônio alado feminino
Lâmia. Originalmente ela era
uma mulher cujos filhos
foram mortos pela deusa
Hera devido ao caso de
amor de Lâmia com Zeus.
Enlouquecida
pelo
acontecido ela se deformou
em um monstro e jurou matar
os recém-nascidos de outras
mulheres bebendo o seu
sangue.
As raízes mitológicas
Lilith

No folclore hebreu Lâmia é
representada por Lilith – a
primeira
mulher
de
Adão
segundo o Talmud. Recusandose em se submeter às ordens do
marido, Lilith o abandonou. De
acordo com algumas versões
ela rumou para o Mar Vermelho
– a moradia dos espíritos
malignos na época – e se tornou
a companheira do demônio
Samael. Lilith é a mãe dos
demônios (e dos vampiros) que
assolam a humanidade desde
então. Ela jurou matar todos os
filhos de Adão. Por isso, até a
Idade Média, quando uma
crianca morria dizia-se que Lilith
havia sugado o seu sangue.
As raízes folclóricas
O vampiro no Leste Europeu
 Foi no leste europeu que as
narrativas sobre vampiros
ganharam
uma
enorme
diversidade
através
dos
povos
eslavos
e
tribos
ciganas.
 O próprio termo “vampiro”
deriva da palavra eslava
“vampir” ou “vampyr” e
apareceu pela primeira vez
nos anos de 1660 no Leste
europeu na região dos
Bálcãs. Por sua vez “vampir”
se origina do Russo antigo
“upir” (“fome”).
As raízes folclóricas
O vampiro no Leste Europeu
 De forma geral o vampiro
é um ser decrépito que
não está nem morto e
nem vivo e que na
maioria dos casos foi uma
bruxa, um suicida ou
alguém que teve morte
violenta. Refletir o corpo
de um morto em um
espelho também o torna
um vampiro.
 Ele sai de seu tumulo a
noite
para
beber
o
sangue
dos
vivos,
geralmente o de seus
parentes.
As raízes folclóricas
Peter Poglojowitz e Arnold Paole
 Não é a toa, portanto, que
foi a partir deste local que
o vampiro chegaria aos
principais
países
da
Europa ocidental e a
literatura. Este processo
teve seu inicio no século
dezoito através de dois
casos que despertaram a
curiosidade
científica
própria do Iluminismo:
Peter Poglojowitz no ano
de 1725 na Hungria e
Arnold Paole em 1732 na
Sérvia.
As raízes folclóricas
Peter Poglojowitz e Arnold Paole
 Em ambos os casos os
seguidos
relatos
de
ataques por parte destes
dois
homens
mortos
levaram as autoridades
locais a desenterrarem os
corpos e a constatarem
neles
sinais
de
vampirismo (cabelos e
unhas crescidos, rubor
facial e sangue no canto
da boca e até ereção).
Após isso, estacas foram
enterradas nos corpos, as
cabeças foram cortadas
e os corpos queimados.
As raízes folclóricas
A invasão dos vampiros no século XVIII
 Fascinado pelos casos de
vampirismo no leste europeu
um renomado monge de
nome Dom Augustin Calmet
publicou em 1746 a obra
Dissertations
sur
les
Apparitions des Espirits cuja
intenção
era
explicar
céticamente o fenômeno do
vampiro. Todavia, a obra
apresentava mais dúvidas do
que conclusões levando o
livro a se tornar um best seller
no período.
 Logo,
vários
relatos
semelhantes
apareceram
por toda a Europa. Era como
se
a
Europa
Iluminista
estivesse sendo invadida por
vampiros.
As Raízes Literárias
 O fascinio pelos relatos sobre
vampiros chamou a atenção
dos
artistas
da
época
levando o vampiro para um
novo terreno: a literatura.
 Ao contrário do que possa
pensar, as histórias literárias
sobre
vampiros
não
começaram com Drácula
(1897), de Bram Stoker. Na
verdade este romance se
baseia não apenas no
folclore do leste europeu,
mas também em várias
obras que o precederam.
As raízes literárias
O vampiro literário
 A partir de dados presentes
na obra de 1746 de Calmet o
poeta alemão Heirich August
Ossenfelder publicou em
1748 o poema “Der Vampir”.
Este
é
considerado
o
primeiro poema europeu a
lidar com o tema dos
vampiros.
 Outras obras chaves alemãs
são: “Leonor” (1773), de
Gottfried August Büerger e
“Die Braut von Korinth”
(1797), de Johann Wolfgang
Goethe.
 Na Inglaterra a primeira obra
da literatura inglesa foi o
poema “Cristabel” (1797), de
Samuel
Taylor
Coleridge
enquanto que na França se
destacou o conto “A morte
amorosa”
(1836),
de
Théophile Gautier.
 O primeiro conto a lidar com
vampiros foi “O Vampiro”
(1819), do italiano John
William Polidori. Nele foi
estabelecida
a
imagem
aristocrática do vampiro.
As raízes literárias
O vampiro literário
 O primeiro romance sobre
vampiros na literatura
inglesa foi Varney, o
vampiro; ou, A Festa de
Sangue (1847), de James
Malcolm Rymer.
 É de destaque também a
novela Carmilla (1871), do
irlandês Sheridan Le Fanu
na qual é desenvolvida a
temática
do
homossexualismo
feminino.
 No fim do século dezenove
todas
estas
referências
convergeram para a obra
definitiva sobre vampiros: o
romance
Drácula
,
do
irlandês Bram Stoker.
 Ao mesmo tempo em que
utilizou vários elementos da
literatura
e
do
folclore
europeu na elaboração de
seu
personagem,
Stoker
criou ou modificou outras
características que passaram
a ser parte da tradição
literária sobre vampiros nas
obras posteriores a Drácula.
O vampiro na literatura
Drácula
Dentre
estes
elementos
estão:
 A aversão à luz do dia
 O reflexo no espelho
 A
transformação
em
morcego
 A mordida no pescoço
 Ao lado, uma foto de Vlad
Draculea
(também
conhecido como Vlad
Tepes),
principe
da
Valachia
do
século
quinze. A fonte histórica
do romance
O vampiro na literatura
O vampiro na pós-modernidade
 Após Drácula, apenas no
fim
do
século
vinte
apareceram obras que
promoveram um releitura
da tradição vampírica,
tais como:
 The Dracula Tape (1975),
de
Frederick
Thomas
Saberhagen;
 Hotel Transylvania (1978),
de Chelsea Quinn Yarbro;
 Entrevista com o vampiro
(1976), de Anne Rice.
O vampiro na literatura
O vampiro na pós-modernidade

O século vinte e um apresentou
na serie Crepúsculo o vampiro
do novo milênio como um ser
sensível e angustiado pela sua
condição
por
não
poder
desfrutar plenamente seu amor
por uma mortal. Constituída
pelos
romances
Crepúsculo
(2005), Lua Nova (2006), Eclipse
(2007) e Amanhecer (2008), a
série
de
Stephenie
Meyer
responde
diretamente
aos
anseios de um tempo cujos
jovens nunca antes gozaram de
tanta
liberdade,
mas
que
paradoxalmente é assombrada
pelas
incertezas
da
contemporaneidade.
O vampiro na literatura
O vampiro brasileiro
 O mundo português sempre
deu mais destaque a figura
do lobisomem do que a do
vampiro. Por esta razão na
Portugal do século dezesseis
todos os suspeitos de serem
lobisomens
eram
desmembrados e queimados
vivos para que se evitasse o
seu retorno como vampiro.
 Até 1784
os dicionários
portugueses usavam o termo
inglês
“vampire”
para
designar a criatura, mas em
1815 a grafia mudou para
“vampyro” e finalmente em
1857 para “vampiro”.
O vampiro na literatura
O vampiro brasileiro
 Apenas
traços
do
personagem do vampiro
aparecem na literatura
brasileira
dos
séculos
dezoito e dezenove.
 Uma
da
primeiras
citações ao nome desta
criatura em nosso meio
literário está no poema “A
Noite” do poeta árcade
mineiro
Silva
de
Alvarenga.
 Durante
o Romantismo o
poeta
byroniano
João
Cardoso
de
Menezes
escreveu o poema “Octavio
e Branca ou A Maldição
Materna”
no
qual
o
vampirismo é um dos temas
tratados.
 Dentre os grandes poetas
brasileiros – Álvares de
Azevedo, Teixeira de Melo,
Casimiro de Abreu e Castro
Alves
–
o
vampirismo
aparece de maneira quase
imperceptível,
em
comparações destinadas a
enfatizar seu discurso lírico.
O vampiro na literatura
O vampiro brasileiro
 Já no fim do século vinte
e um o poeta Teófilo Dias
voltou a flertar com o
tema no poema “Os
seios” seguido do soneto
“Nêmesis”, de Carvalho
Dias.
 Destaca-se
nesta
escassez
literária
brasileira
o
soneto
simbolista “Bondade”, de
Cruz e Souza onde o
poeta se prontifica a
defender a sua dama de
“vampirismos”.
 Apenas no começo do
século vinte e um o
vampirismo encontraria o
seu desenvolvimento na
prosa brasileira através do
escritor André Vianco em
obras como Os Sete e O
Sétimo.
O vampiro no cinema
 Apesar
da sua longa
trajetória literária, foi no
cinema que o vampiro se
tornou parte da cultura
contemporânea
assumindo
diferentes
representações desde o
seu aparecimento em
1922 com o filme mudo
alemão Nosferatu, Uma
Sinfonia
de
Horror
(imagem ao lado).
 Este filme, até hoje, foi o
único que apresentou o
vampiro como o mesmo é
descrito no folclore.
O vampiro no cinema
 Outros
filmes
que
contribuíram
para
a
imagem
atual
do
vampiro, especialmente a
do personagem Drácula,
foram:
 Drácula (1931);
 O Vampiro
da Noite
(1958);
 Drácula, de Bram Stoker
(1992).
O vampiro no cinema
 Drácula (1931);
 Este filme
introduziu a
imagem da
tradicional capa,
parte da
indumentária
aristocrática, e os
modos
cavaleirísticos.
O vampiro no cinema
 O Vampiro da
Noite (1958);
 Este filme
impactou pela
fotografia por ter
sido o primeiro a
mostrar o ataque
do vampiro em
cores e o seu
comportamento
sedutor.
O vampiro no cinema
 Drácula, de Bram
Stoker (1992).
 Alinhado com o
ambiente fim-deséculo e a
paranóia da AIDS,
o filme mostrou o
vampiro como um
dândi, angustiado
pela sua
condição.
O vampiro no cinema
 A partir da década de 90
o vampiro passou a ser
associado as doencas do
sangue e aos perigos da
sexualidade exacerbada.
Esta, por exemplo, é a
leitura encontrada na
trilogia
Blade
(1998),
Ultravioleta (2006) e a
série televisiva True Blood
(2008).
Fontes para consulta
AIDAR, José Luiz, MACIEL Márcia. O que é vampiro? São Paulo: Editora
Brasiliense.
COHEN, Jeffrey Jerome. A cultura dos monstros: sete teses. ? In: SILVA,
Tomaz Tadeu. Da (Org.). Pedagogia dos monstros: os prazeres e os
perigos da confusão de fronteiras. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p.
23-59. (Coleção Estudos Culturais; 3).
 DONALD, James. Pedagogia dos monstros: O que está em jogo nos
filmes de vampiro? In: SILVA, Tomaz Tadeu. Da (Org.). Pedagogia dos
monstros: os prazeres e os perigos da confusão de fronteiras. Belo
Horizonte: Autêntica, 2000, p. 105-136. (Coleção Estudos Culturais; 3).
FERREIRA, Cid Vale (Org.) Voivode: estudos sobre os vampiros. São
Paulo: Pandemonium, 2002.
MCNALLY, Raymond T, FLORESCU, Radu. Em busca de Drácula e outros
vampiros. Trad. Luiz Carlos Lisboa. São Paulo: Mercúrio, 1995.
MELTON, J. Gordon. O livro dos vampiros: a enciclopédia dos mortosvivos. São Paulo: Editora Makron Books, 1995.
SILVA, Alexander Meireles da Silva. Introdução. COSTA, Bruno (Org.).
Contos clássico de vampiro: Byron, Stoker e outros. Trad. Marta
Chiarelli. São Paulo: Hedra, 2010, p. 9-40.
STOKER, Bram. Drácula. Trad. Maria Luísa Lago Bittencourt. São Paulo:
Editora Martin Claret, 2003.
www.ensinosuper.com