SIMONE DE BEAUVOIR E A CERIMÔNIA DO ADEUS

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Transcript SIMONE DE BEAUVOIR E A CERIMÔNIA DO ADEUS

Profª Erika Bataglia
Simone LucieErnestine-Marie
Bertrand de Beauvoir .
PARIS
9.01.1908
14.04.1986
–
Escritora,
Filósofa
Existencialista
e feminista.
 Mais velha das únicas duas
filhas de Georges Bertrand de
Beauvoir, um advogado em
tempo integral e ator amador,
e Françoise Brasseur, uma
jovem mulher.
 Criança
atraente, mimada,
teimosa, centro das atenções
em sua família.
 Em 1909, seu avô materno
presidente do Banco Meuse,
faliu,
jogando toda a sua
família em desonra e pobreza.
 A família teve que se mudar para um
apartamento menor lutou para
manter seu lugar no alta burguesia, e
Georges dizia frequentemente: "Vocês,
meninas, nunca vão se casar, porque
vocês não terão nenhum dote.
 Seu pai afirmava, "Simone pensa
como um homem!“
 Georges de Beauvoir passou seu amor
pelo teatro e pela literatura para sua
filha.
 Ele ficou convencido de que somente o
sucesso acadêmico poderia tirar as
filhas da pobreza.(Hélène tornou-se
uma pintora).
 Aos 10 anos conhece Zazá, sua melhor amiga, e se tornam
inseparáveis, apesar (ou por causa) das personalidades tão
diferentes.
 Adolescente desajeitada, dedicou-se ainda mais aos livros,
apesar de estudar em uma escola católica (que formava
“esposas” ou “freiras”).
 Aos 15 anos decidiu que seria escritora.
 Seu pai aceita que ela se dedique ao
Magistério até se tornar escritora.
Ele vê nela o seu próprio fracasso.
 Formada em Letras ,Matemática e Filosofia
 Na Sorbonne conheceu Merleau-Ponty,
Jean-Paul Sartre e Renê Maheu, que lhe deu o
Apelido de Castor (Beaver, em inglês,mas também
Pelo expírito construtor que o animal simboliza.
Em 1929, com 21 anos, Beauvoir se tornou a pessoa mais jovem a
obter o Agregation ( concurso para professor - titular) na
filosofia, e a nona mulher a obter este grau.
 No exame final, ficou em segundo lugar; Sartre, 24 anos, foi o
primeiro (ele havia sido reprovado em seu primeiro exame).
Simone
logo
uniu-se
estreitamente ao filósofo e
a seu círculo, criando entre
eles uma relação polêmica
e fecunda
 Sartre e Simone se apaixonam mas ele, ao invés de pedi-la
em casamento, lhe propõe um pacto onde monogamia e
mentira não teriam lugar.
 Por serem escritores, eles precisariam conhecer a fundo a
alma humana, multiplicando suas experiências individuais
e contando-as um ao outro, em detalhes. Simone concorda.
 Entre
eles o amor seria
necessário. Com os outros,
contingente.
 É difícil caracterizá-los como
casal, porque viveram longas
relações amorosas cada um com
outras pessoas
 Nestas
épocas,
eles
costumavam sair juntos, cada
um com seu novo par.
 Em 1945 fundam Les Temps
Modernes, revista de resistência
que duraria 25 anos.
SARTRE E SIMONE NO BRASIL,1960
 Sartre e Simone percorreram o Brasil de
norte a sul, entre agosto e novembro de
1960.
 Desembarcaram em Recife, estiveram em
Salvador, Fortaleza, no Pantanal, na
Amazônia, em Porto Alegre, além de São
Paulo e Rio de Janeiro (foto).
 Em Salvador visitaram os terreiros de
Candomblé, com o casal anfitrião Zélia
Gattai e Jorge Amado.
 No interior paulista (Araraquara-SP)
Sartre realizou uma conferência e um
debate com estudantes e intelectuais.
 Por onde passou, o casal Beauvoir e Sartre
atraiu a atenção e a admiração de jovens,
estudantes, intelectuais, trabalhadores e
pessoas de todas as classes sociais.
Simone e Sartre em Cuba
Existencialismo
 Existencialismo
é uma
corrente filosófica surgida
entre os séculos XIX e XX,
que tem por base a
afirmação dos ideais de
liberdade,
responsabilidade
e
subjetividade do ser
humano.
O
homem, segundo o
pensamento filosófico, tem
livre arbítrio e deve
utilizar a razão para fazer
as melhores escolhas.
 Esta
corrente procura
analisar o homem como
indivíduo, e é ele quem
faz sua própria existência.
 Percebe-se
assim,
a
preocupação em explicar o
sentido
das vidas humanas de
uma forma subjetiva, ao
invés de se preocupar com
verdades
científicas
relativas ao universo, que
fora o centro de outras
correntes filosóficas
 O existencialismo
foi inspirado nas
obras de:
 Arthur
Schopenhauer
 Soren Kierkegaard
 Fiódor Dostoievski
 Friedrich Nietzsche
 Edmund Husserl
 Martin Heidegger
 Sou um homem doente… Sou mau. Nada tenho
de simpático. Julgo estar doente do fígado,
embora não o perceba nem saiba ao certo onde
reside o meu mal. Não me trato, e nunca me
tratei, por muito que considere a medicina e os
médicos, pois sou altamente supersticioso, pelo
menos o bastante para ter fé na medicina.
(Possuo instrução suficiente para não ser
supersticioso e, no entanto, sou…)
 Não, se não me trato é por pura maldade; é assim
mesmo. O senhor não compreenderá isto, por
acaso? Pois compreendo-o e basta. Não há
dúvida de que eu não conseguiria explicar a
quem prejudico neste caso, com a minha
maldade. Compreendo perfeitamente que, não
me tratando, não prejudico a ninguém, nem
sequer os médicos; sei melhor do que ninguém
que só a mim próprio prejudico.
 Não importa; se não me trato é por maldade.
Tenho o fígado doente? Pois que rebente!
 Fiódor DOSTOIÉVSKI, Notas do Subterrâneo
 Hoje, mamãe morreu. Ou
talvez ontem, não sei bem.
Recebi um telegrama do
asilo: “Sua mãe faleceu.
Enterro amanhã. Sentidos
pêsames.” Isso não esclarece
nada. Talvez tenha sido
ontem.
 Apesar
de sua fama de
pessimista e lúgubre, o
existencialismo, na verdade, é
apenas uma filosofia que não
faz concessões: coloca sobre
o
homem
toda
a
responsabilidade por suas
ações.

Sartre parte do seguinte  Portanto não há uma natureza
princípio:
humana, uma essência universal
compartilhada por todos.
“A existência precede a
essência.”
 Primeiro
 Com isso, quer dizer que o
existimos, e só depois
constituímos
a
essência
por
intermédio de nossas ações no mundo.
homem primeiro existe no
mundo - e depois se realiza,
se define por meio de suas  O existencialismo, desta forma, coloca
no homem a total responsabilidade
ações e pelo que faz com sua
por aquilo que ele é.
vida.
 Se o homem primeiro existe e depois
se faz por suas
um projeto.
ações,
ele
é
 Eu não escolho nascer no Brasil ou
nos EUA, pobre ou rico, branco ou
preto, saudável ou doente: sou
"jogado" no mundo. Existo. Mas o
que eu faço de minha vida,
o significado que dou à minha
existência, é parte da liberdade da
qual não posso me furtar.
 E,
além disso,
tenho total
responsabilidade por aquilo que sou.
Para o existencialista, não há
desculpas. Não há Deus ou natureza
a quem culpar por nosso fracasso.
 A liberdade é incondicional e é isso
que Sartre quer dizer quando afirma
que estamos condenados a sermos
livres:
 "Condenado porque não se criou a si
próprio; e, no entanto, livre, porque
uma vez lançado ao mundo, é
responsável por tudo quanto fizer"
(em O existencialismo é um
humanismo, 1978, p. 9).
 Portanto,
para
um
existencialista, o homem é
condenado a se fazer
homem, a cada instante de
sua vida, pelo conjunto das
decisões que adota no dia-adia.
Principais
Obras
 A convidada (1943), explorou
os dilemas existencialistas da
liberdade, da ação e da
responsabilidade
individual,
 Abordou os mesmos temas
em romances posteriores
como O sangue dos outros
(1944) e Os mandarins
(1954), obra pela qual recebeu
o Prêmio Goncourt e que é
considerada a sua obraprima.
 As teses existencialistas,
segundo as quais cada
pessoa é responsável por
si própria, introduzem-se
também em uma série de
obras autobiográficas:
 Memórias de uma moça
bem-comportada (1958)
 A força das coisas (1963)

 Tudo dito e feito (1972).
 Entre seus ensaios críticos cabe
destacar O Segundo Sexo
(1949), uma profunda análise
sobre o papel das mulheres na
sociedade; O Vaticano o coloca
no Index.
 A
velhice (1970), sobre o
processo de envelhecimento,
onde teceu críticas apaixonadas
sobre a atitude da sociedade para
com os anciãos.
 A cerimônia do adeus (1981),
onde evocou a figura de seu
companheiro de tantos anos,
Sartre.
“A separação de
Sartre era
sempre um
choro para
mim.”
 Ela escreveu A cerimônia do Adeus para
homenagear Sartre.
 O livro tem duas partes. Na primeira, Beauvoir comenta
os últimos dez anos de convívio com ele, de 1970 a 1980.
 Na segunda, publica de forma contínua uma série de
entrevistas que fez com Sartre, entre o verão e o outono
de 1974. O livro foi publicado em 1981, um ano após a
morte de Sartre.
 O livro possui belas passagens da entrevista de
Sartre, em que ele fala de Deus, de genialidade,
de suas mil e uma amantes, seus amigos e inimigos,
e, claro, da liberdade, de livros, viagens,cidades,
política.
 A entrevista com o filósofo e literato é uma conversa
interessante até hoje, instigada pela inteligência e a
profunda entrega de Beauvoir, que faz Sartre desenhar seu
mundo e a maneira como ele o via, com toda sua carga de
leitura
e
de
vivência
da
‘alta
cultura’.
Coerente com suas ideias, recusou o Nobel que ganhou. É
bom lembrar que valia cerca de 1 milhão de dólares. Segundo
ele, o Prêmio consiste em classificar os escritores,
hierarquizando a literatura.
 A cerimônia do adeus também vale pelo testemunho de uma
mulher apaixonada, que via o amor como uma coisa burguesa e,
por isso, teve de denominar e direcionar seus sentimentos de outro
jeito.
 Mas era amor o que ela sentia. A recíproca talvez fosse verdadeira.
Eles seguiam a máxima do existencialismo “se você me ama, não me
ame”, com a pretensão de sempre deixar um ao outro livre.
Mas isso não impediu Beauvoir de abrir o prefácio do livro com as
seguintes palavras:
“Eis aqui meu primeiro livro – o único certamente – que você não leu
antes que o imprimissem. Embora todo dedicado a você, ele já não
lhe concerne.
 Quando éramos jovens e, ao final de uma discussão
apaixonada um de nós triunfava ostensivamente, dizia ao
outro: ‘Você está enclausurado!’ Você está
enclausurado; não sairá daí e eu não me juntarei a você:
mesmo que me enterrem ao seu lado, de suas cinzas para
meus restos não haverá nenhuma passagem.
“Esse você que emprego é um engodo, um
artifício retórico. Ninguém me ouve; não falo
com ninguém.”
Trechos d’A Cerimônia do Adeus
 Sobre Deus:
“Penso que houve um tempo em que era normal crer em
Deus, no século XVII, por exemplo. Atualmente,
considerando a maneira pela qual vivemos, o modo pelo
qual tomamos consciência de nossa consciência e pelo qual
percebemos que Deus nos escapa, não há intuição do
divino. Penso que neste momento a noção de Deus é uma
noção anacrônica já, e sempre senti algo de caduco, de
ultrapassado nas pessoas que me falaram de Deus
acreditando
nisso.”
“Não tenho necessidade de Deus para amar meu próximo.”
Trechos d’A Cerimônia do Adeus
 Do
reconhecimento
de
sua
obra
Jean-Paul Sartre: Considero que a maioria das pessoas que nos
cercam ainda são muito sensíveis a uma Legião de Honra, a um
Prêmio Nobel, a coisas tais, quando, em realidade, tudo isso não
corresponde a nada. Isso só corresponde a uma distinção dada na
hierarquia a um ser que somos, mas que corresponde sem
compreender
bem
por
quê.
Simone de Beauvoir: Há, no entanto, reconhecimentos que
você aceita. Você não aceita o reconhecimento por certos
homens, do valor, digamos de sua obra filosófica, de maneira que
lhe deem um Prêmio Nobel, mas aceita o reconhecimento, e até o
deseja, da parte dos leitores, da parte do público.
Trechos d’A Cerimônia do Adeus
 J-PS: Sim, é minha função. Escrevo, portanto desejo
que o público para quem escrevo considere boas as
coisas que escrevo. Não que pense que sejam sempre
boas, longe disso, mas quando por acaso elas podem
ser boas, desejo que sejam imediatamente estimadas
como tais por meu leitor
 Apenas
a
morte
do
companheiro,
em
1980,
separaria o casal que nunca
viveu junto nos 52 anos de
união.
 No prefácio da Cerimônia do
Adeus ela diz:
 “Você está enclausurado; não
sairá daí e eu não me juntarei
a você: mesmo que me
enterrem ao seu lado, de suas
cinzas para os meus restos não
haverá nenhuma passagem”.