MALDADE E RESSENTIMENTOS: O AVESSO DO

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IARA L. CAMARATTA ANTON Psicóloga – CRP 07/0370 Psicoterapeuta Individual e de Casais Escritora., com 5 livros publicados.

E.mail: [email protected]

Site: www.iaracamaratta.com.br

Facebook: Iara Camaratta Anton Colunista de “Tempo de Mulher”

RESSENTIMENTO

Há pessoas que passam a vida olhando para trás.

Algumas saudosistas, incapazes de viverem o presente, como se tudo de bom já tivesse passado, esquecem que, possivelmente, o dia de hoje também virá a ser lembrado como “naqueles bons tempos...”, sem que o “aqui e agora” jamais tenha valor algum.

SAUDOSISTAS

Iara L. Camaratta Anton

Outras, pelo contrário, lastimam-se e odeiam o já vivido, mas não permitem que o passado ocupe seu verdadeiro lugar.

O que passou não passou, de tal modo que todas as dores permanecem vivas, dando à vida um colorido escuro, sombrio, de tal modo que a própria vida se desvitaliza...

DESVITALIZANDO À PRÓPRIA VIDA Iara L. Camaratta Anton

Segundo Kancyper, “a palavra ressentimento define-se como a amarga e arraigada lembrança de uma injúria particular, da qual se deseja tirar satisfações.”

“Seu sinônimo é rancor”, cuja origem latina significa “queixa, querela, demanda” (p. 7).

RESSENTIMENTO SEGUNDO KANCYPER

Iara L. Camaratta Anton

Há, ainda, aqueles cujo “retrovisor” registra única e exclusivamente o que doeu, gerou mágoas e ressentimentos.

O prefixo “re” diz muito. Onde há “re”, há “repetição”.

Assim, as pessoas que cultivam “re-sentimentos” vivem no passado e, mais do que isto, atribuem ao presente e ao futuro um único e maléfico objetivo: o exercício da vingança.

RESSENTIMENTO

Iara L. Camaratta Anton

“Ressentir-se (segundo Kehl) significa atribuir a um outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer. (...) Ressentimento não é um conceito da psicanálise; é uma categoria do senso comum que nomeia a impossibilidade de se esquecer ou superar um agravo. (...) O ressentido não é alguém incapaz de se esquecer ou de perdoar; é um que não quer se esquecer , ou que não quer perdoar, não deixar barato o mal que o vitimou” (pp. 11/12).

RESSENTIMENTO SEGUNDO KEHL Iara L. Camaratta Anton

“A partir do ressentimento, surge a vingança, mediante uma ação reiterada, torturante, compulsivamente repetitiva, na fantasia e/ou na atuação.”

O sujeito se transforma em uma “vítima privilegiada. Desde esse lugar, adquire “direitos de represália, desforra e revanche, contra aqueles que perturbaram a ilusão de perfeição”.

“É na vingança que se reverte a relação. O sujeito ressentido, na sua possibilidade de inversão de papéis, passa de um objeto anterior humilhado a um sujeito agora torturador” (p. 8).

RESSENTIMENTO E VINGANÇA SEGUNDO KANCYPER Iara L. Camaratta Anton

“O ressentimento seria (...) o avesso do arrependimento; é uma cobrança indireta de um bem cedido ao outro por submissão ou covardia. Instalado no lugar de queixoso, o ressentido não se arrepende: acusa.

Sua reinvindicação não é clara: ele não luta para recuperar aquilo que cedeu e sim para que o outro reconheça o mal que lhe fez.

No entanto, não espera obter reparação: o que ele quer é uma espécie de vingança. Uma vingança imaginária (..) sempre adiada, que ele prefere gozar na fantasia a executar” (pp. 20/21).

RESSENTIMENTO E VINGANÇA SEGUNDO KEHL Iara L. Camaratta Anton

É mediante o ressentimento que o sujeito bloqueia sua afetividade, anulando também a percepção subjetiva da passagem do tempo e da discriminação dos espaços, com o que imobiliza seus objetos e seu ego numa agressividade vingativa a serviço de povoar um mundo imaginário sinistro” (p. 8).

“O impulso ressentido (...) não visa destruir o objeto, mas sim castigá-lo” (p. 14).

RESSENTIMENTO E BLOQUEIO DA AFETIVIDADE SEGUNDO KANCYPER Iara L. Camaratta Anton

Anula a passagem do tempo e adia o processo de vingança (“Vingança é um prato que se come frio...”), ocupando-se disso ao longo de toda a vida.

“Para consegui-lo, a relação objetal que sustenta o ressentimento apresenta uma configuração que se singulariza por:

A) Imobilização do objeto;

B) Maus-tratos ao objeto;

C) Preservação do objeto, evitando seu desaparecimento” (p. 15).

RESSENTIMENTO & ANULAÇÃO DA PASSAGEM DO TEMPO SEGUNDO KANCYPER Iara L. Camaratta Anton

“A sedução cria uma situação propícia ao ressentimento. O seduzido não sente que agiu por conta de seu desejo, mas por efeito dos poderes de encantamento do sedutor que fez dele seu objeto, seu brinquedo. O seduzido é, por definição, inocente; se for abandonado, estará feita a cama para o ressentimento” (p. 21).

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SEDUÇÃO E RESSENTIMENTO SEGUNDO KEHL Iara L. Camaratta Anton

Quando somos procuramos por pessoas que cultivam ressentimentos, é muito provável que possamos identificar, com bastante brevidade, que este é um estado de espírito, uma “atitude”, uma característica vital da pessoa em questão.

Esta posição usualmente vem se desenvolvendo ao longo de toda a história do indivíduo, entrelaçando-se à dinâmica familiar e à passagem de gerações.

RESSENTIMENTOS E HISTÓRIA PREGRESSA Iara L. Camaratta Anton

A escolha do cônjuge e o “contrato secreto do casamento” tendem a possibilitar o deslocamento de antigas mágoas, rancores, cobranças e ressentimentos, de modo que o cônjuge, além de ser quem ele é, passa a funcionar como representante de alguém presente em um passado remoto.

Neste caso, passado, presente e futuro são costurados com fios extremamente resistentes e dificilmente desfeitos.

Geralmente, nestes casos, a busca de terapia atende a motivações de caráter não-terapêutico, de modo que o terapeuta, de uma ou de outra forma, é permanentemente desafiado.

RESSENTIMENTOS E ESCOLHAS AMOROSAS Iara L. Camaratta Anton

Os quadros caracterizados por ressentimentos implicam em reativação contínua de antigos rancores, tendo em vista uma vingança sem fim.

Estes rancores, esta busca incessante de pequenas e grandes vinganças, podem coincidir com relações sadomasoquistas, onde imperam o mal e a maldade. RESSENTIMENTOS & MAL/DADES Iara L. Camaratta Anton

O Bem, por definição, implica em afeição, austeridade moral, utilidade, vantagem... Suas definições podem, muitas vezes, serem ambíguas e tendenciosas.

O Mal opõe-se ao bem, à honra; tem a ver com angústia, sofrimento, doença, desvantagens. Suas definições também se prestam a ambiguidades e tendenciosidades.

O BEM E O MAL Iara L. Camaratta Anton

Bondade é benevolência, clemência, doçura, predisposição a fazer o bem.

Maldade refere à mordacidade, crueldade, perversidade e, por vezes, a simples traquinagens.

Aqui, porém, estamos referindo exclusivamente ao prazer em maltratar, próprio de pessoas sádicas; mas, especialmente, ao maltratar eternamente insaciável, interminável, próprio dos quadros dominados por ressentimentos BONDADE E MALDADE Iara L. Camaratta Anton

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1. Sedutor cativa e explora a vítima vulnerável.

2.O malvado usa de uma suposta bondade para atraí-la.

3. Cria-se um espaço potencial falso, estimulando esperanças e ambições.

4. A vítima aceita o oferecimento, cegada pela tentação, tornando-se dependente por excelência.

5. Ocorre alguma escandalosa traição das expectativas criadas.

6. Vítima passa por uma desilusão catastrófica e infantilização radical.

7. Morte psíquica: a vítima vivencia o assassinato de seu próprio ser.

8. Experimenta uma dor interminável, irrecuperável (Outeiral, pp. 40/41).

O PROCESSO DA MALDADE EM 8 PASSOS SEGUNDO BOLLAS Iara L. Camaratta Anton

Em condições adequadas, uma pessoa que se encontra psiquicamente “bem” dificilmente vai jogar este jogo maligno; menos sujeita à ingenuidade, não se coloca na posição de vítima em potencial.

Caso se engane, rompe o jogo, ainda que com muita dor e, então, pune o maldoso agressor de uma vez por todas, e/ou afasta-se definitiva e radicalmente da relação.

QUANDO A VÍTIMA DE MALDADES TAMBÉM É VÍTIMA DE SI MESMA Iara L. Camaratta Anton

Quando a pessoa se submete, é provável que esteja subjugada por sentimentos de culpa inconscientes.

Por vezes, a opção por uma escolha que implica em crueldades, em sofrimentos sem fim, pode estar a serviço de antigos ressentimentos, que se justificam na aliança presente, dando margem à perpetuação de um estado de ressentimentos CULPAS INCONSCIENTES E CULPAS PROJETADAS Iara L. Camaratta Anton

Existem diferenças importantes entre as maldades praticadas por prazer, de caráter sádico, e as praticadas por ressentimentos, embora ambas correspondam a um narcisismo patológico.

Em se tratando de escolhas ditas “amorosas”, o “malvado” identifica sua vítima, através de microssinais, predominantemente não-verbais.

Ferenczi refere a uma ação hipnótica, exercida sobre a pessoa escolhida como vítima, que passa a agir como se estivesse num estado de transe.

A AÇÃO HIPNÓTICA DAS SEDUÇÕES MALIGNAS Iara L. Camaratta Anton

Moura denomina “efeito-isca”, descrevendo através de contos de fadas o funcionamento do “radar do abusador” (que comete a sedução e a agressão malignas) “tocando de forma magistral, detectando a ambição específica, mas que tem por detrás uma necessidade” (p. 52).

A mim faz lembrar o bote das serpentes sobre pequenos pássaros que se paralisam diante de sua aproximação. As serpentes não o fazem, porém, por maldade. O ser dito “humano”, faz.

O “EFEITO-ISCA” (SEGUNDO MOURA) ou “O BOTE DA SERPENTE” Iara L. Camaratta Anton

A maldade pura e simples inclui o prazer em conquistar, em dominar, em humilhar, em fazer sofrer. Ela representa, por si só, o mal, conforme o conceituamos.

Existem, porém, pseudo-bondades, quando as pessoas também conquistam, dominam, humilham e fazem sofrer, encobrindo suas maldades pessoais através de comportamentos aparentemente amorosos, que geram dívidas impagáveis, estabelecendo entre um e outro uma relação de duplo-vínculo e de poder.

MALDADES E PSEUDO-BONDADES EM RELAÇÕES DITAS “AMOROSAS” Iara L. Camaratta Anton

Mas o fato é que relações marcadas por ressentimentos também podem ser consideradas maldosas, por excelência.

Nestes casos, o outro torna-se devedor para sempre, sem quaisquer possibilidades de evasão.

O sujeito ressentido não quer compreender, nem perdoar e, muito menos, esquecer.

Dedica sua vida ao exercício da vingança.

RESSENTIMENTO E MALDADE Iara L. Camaratta Anton

De um modo geral, não se pode falar em prazer nesse modelo de maldade, pois nele se cultiva permanentemente a dor, no intuito de perpetuá-la.

O cônjuge é, simultaneamente, o suposto culpado e o representante de sofrimentos muito antigos por parte de seu parceiro. Está estigmatizado.

De suposto agressor, passa à vítima, enquanto que o ressentido, de suposta vítima passa a agressor.

PRAZERES DESPERDIÇADOS Iara L. Camaratta Anton

Quando existe amor, pelo contrário, existe respeito pela alteridade, pelos sentimentos, crenças e valores do parceiro.

Impossível amar, se não existir um amor-próprio sadio.

Impossível cultivar uma saudável autoestima, se não tiver havido, em tenra infância, a experiência de ser bem-amado.

AMOR E ALTERIDADE Iara L. Camaratta Anton

Quando se ama, não há espaço para ofensas e para ressentimentos.

Quando mal-entendidos, desentendimentos e mágoas se apresentarem, amar e ser amado permite o reencontro, o entendimento mútuo e o perdão.

AMOR E SUPERAÇÃO DE CONFLITOS Iara L. Camaratta Anton

Na verdade e em síntese

MALDADE E RESSENTIMENTOS

MERECEM SER CONSIDERADOS

O LADO AVESSO DO AMOR.

MALDADE E RESSENTIMENTOS: O AVESSO DO AMOR Iara L. Camaratta Anton

Muito obrigada por sua atenção!

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BIBLIOGRAFIA: ANTON, IARA L. CAMARATTA: A escolha do cônjuge – um entendimento sistêmico e psicodinâmico. ARTMED/Grupo A.

___; Homem e Mulher – seus vínculos secretos. ARTMED/Grupo A.

BOLLAS, CH: The work of unconscious experience. Hill and Wang.

____: A estrutura da maldade. Simpósio da Assocoação Psicanalítica Uruguaia.

FERENCZI, SANDOR: Obras completas. Martins Fontes.

KANCYPER, LUIS: Ressentimento e remorso. Casa do Psicólogo.

KEHL, MARIA RITA: Ressentimento. Casa do Psicólogo.

MOURA, LUIZÂ: A sedução maligna .In: OUTEIRAL, JOSÉ: Breve ensaio sobre a maldade.. Revinter.

OUTEIRAL, JOSÉ: Breve ensaio sobre a maldade.. Revinter.

____: Recortes sobre a maldade. In: OUTEIRAL, JOSÉ: Breve ensaio sobre a maldade. Revinter.