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1° ENCONTRO NACIONAL DE PROFESSORES DA
EDUCAÇÃO BÁSICA DA REDE SINODAL DE EDUCAÇÃO
Compreender, Argumentar
e Solucionar Problemas:
Um compromisso da Educação Infantil ao
Ensino Médio
Profa. Ms. Sabrina Vier
[email protected]
Língua Portuguesa - IENH
Objetivos
a. refletir sobre leitura e possibilidades de
leitura na escola;
b. compartilhar algumas possibilidades de
leitura de textos publicitários.
Linguística de Enunciação

abordar a linguagem a partir da enunciação é ter
condições de observar significados singulares que
determinado sujeito imprime à linguagem no ‘aqui-agora’
de sua manifestação. É poder contemplar não só o
enunciado, mas o próprio ato de enunciar e aquele que
enuncia, através das ‘marcas’ que este deixa no que diz
(Teixeira, 2006).
Autores com os quais trabalho

Benveniste, Bakhtin, Charaudeau, Authier-Revuz, KerbratOrecchioni, Ono, Dessons.
Cidade dos Homens - 1ª Temporada – Episódio
“A coroa do imperador” – 30 min. (adaptado para
esta oficina em 12 min.)
Interpretados por Douglas Silva e Darlan
Cunha, Laranjinha e Acerola, são dois garotos
de 13 anos moradores de um morro no Rio de
Janeiro. De uma maneira esperta e carioca,
vão conseguindo viver na favela.
Cidade dos Homens é uma comédia, com um
toque de drama, sobre uma comunidade no
Rio de Janeiro, e foi exibido na Rede Globo,
com audiência surpreendente, entre 15 e 18
de outubro de 2002.
www.cinemenu.com.br
“Peraí, professora. O que que tem a ver os
romanos com isso daí?”
“Não, não tem romano nenhum”.
“Napoleão é romano, não era?”
“Nããão. Napoleão era francês”
Professora diz “Ele proibiu todos os outros países
de fazerem comércio com os ingleses, inclusive
os portugueses...” e uma aluna, aproveitando
um final de frase, complementa “Inclusive os
romanos também”.
A professora: “Esqueeece os romanos. Não têm
romanos nessa história. Napoleão era francês”.
Leitura na escola
Leitura criptográfica: o sentido estava na decodificação do código
escrito.
Leitura hermenêutica: todo e qualquer sentido, desde que produzido
pelo leitor, seria possível: leitores diferentes, cada um com seus
valores e história de vida, construiriam, de maneiras diferentes,
significados para o mesmo código.
(Dascal, 2006)
Ao possibilitar a leitura em sala de aula, é imprescindível que o
professor aponte marcas linguísticas que levem a pensar como o
texto diz o que diz. A leitura não está no texto nem no aluno.
O sentido em leitura é produzido na ação de dirigir o olhar para o
fato do enunciador ter dito o que disse.
A leitura é um fenômeno complexo e não se
esgota em um olhar.
Pensar a leitura a partir da linguística da
enunciação é pensar em possibilidades de
leitura.
Segundo Bakhtin (2006), os signos linguísticos
refletem e refratam o mundo. E o que é refratar?
Note que a piscina aparenta estar ficando rasa, mas na
realidade não está. Esse efeito é provocado pela
refração da luz na água.
Note como o cano verde parece se quebrar
dentro dos copos.
Com a leitura não somente descrevemos o que estamos
compreendendo, mas construímos – na dinâmica da
história e por decorrência do caráter sempre múltiplo e
heterogêneo das experiências concretas dos grupos
humanos – diversas interpretações (refrações) do
mundo.
Não é possível significar sem refratar!
Isso porque as significações são construídas na dinâmica
da história e estão marcadas pela diversidade de
experiências de nossos alunos, com suas inúmeras
contradições e confrontos de valorações e interesses
sociais (Faraco, 2006).
Cf. Charaudeau, 2008
Situação de comunicação
circuito interno - dizer
EU e
Locutor
TU d
Enunciador
EU c
Destinatário
(seres de fala)
(sujeito comunicante -
Receptor
TU c
(sujeito interpretante–
ser social)
ser social)
circuito externo - fazer
(finalidade)
(projeto de fala)
Para Charaudeau (2008), comunicar é
proceder a uma encenação. Assim como,
numa peça de teatro, o diretor usa o
espaço cênico, os cenários, a luz, a
sonorização, os atores, o texto, para
produzir efeitos de sentido visando a
um público imaginado por ele, o locutor –
seja ao falar ou ao escrever – utiliza
componentes do dispositivo da
comunicação em função dos efeitos que
pretende produzir em seu interlocutor.
Argumentação
 uma proposta sobre o mundo,
 um sujeito argumentante e
 um sujeito alvo.
Ou seja,
 uma proposta que provoque um questionamento em alguém,
quanto à sua legitimidade;

um sujeito que assuma tal questionamento e, através do
desenvolvimento de um raciocínio, busque estabelecer uma
verdade sobre essa proposta;

um outro sujeito (alvo da argumentação) que também se
relaciona com a mesma proposta, questionamento e verdade; e
que se constitui como sujeito alvo da argumentação: pessoa que
se dirige o sujeito que argumenta na esperança de conduzi-la a
compartilhar a mesma verdade.
(Charaudeau, 2008)
Figura 1 – Elementos da cena argumentativa e suas relações
(Charaudeau, 2008)
Texto publicitário
Na propaganda, como o publicitário sabe que não estará
diante do interlocutor e tampouco poderá forçá-lo à
compra, precisa fabricar uma imagem sedutora e
persuasiva do sujeito comunicante, a fim de que o
interlocutor se identifique com ela e acabe sendo
conquistado.
No texto publicitário, há a presença de um emissor
onisciente e onipotente, representando
dissimuladamente a figura do publicitário – verdadeiro
emissor, o qual permanece ausente do circuito da fala.
Esse emissor (EUc) confere a um receptor (TUi), o
consumidor, a solução para obter determinado atributo,
que ele, consumidor, ainda não possui.
(Viegas, 2008)
circuito interno – Dizer
EU e
TU d
anunciante
EU c
interlocutor virtual
(seres da fala)
publicitário
TU c
Leitor real
(sujeito interpretante –
(sujeito comunicante–
ser social)
ser social)
circuito externo – Fazer
(Viegas, 2008)
Conforme Charaudeau (2006, 2008), podemos ler os textos
publicitários a partir de alguns pontos de vista:
P = produto
P = objeto de busca
P = auxiliar eficaz
P = aliado
P = agente da busca
P = objeto único/ singular; “o melhor”, “o irresistível”
em relação a y, de uma outra Marca
P = imagem do destinatário da qual ele próprio não
pode fugir
Revista Veja, maio de 2011
“O novo rei na terra da rainha
Eleito o carro mais confiável pelos ingleses
entre todos os modelos de todas as
marcas.
Mais de 23.000 consumidores ingleses
votaram na pesquisa de satisfação da
Revista Auto Express, uma das mais
conceituadas do mundo, e elegeram o i30”.
“Eleito o carro mais confiável pelos ingleses
entre todos os modelos de todas as
marcas.
Mais de 23.000 consumidores ingleses
votaram na pesquisa de satisfação da
Revista Auto Express, uma das mais
conceituadas do mundo, e elegeram o i30”.
“Eleito o carro confiável pelos ingleses entre todos os modelos de todas
as marcas.
23.000 consumidores ingleses votaram na pesquisa de satisfação da
Revista Auto Express, uma das [revistas] conceituadas do mundo, e
elegeram o i30”.
“Eleito o carro mais confiável pelos ingleses entre todos os modelos de
todas as marcas.
Mais de 23.000 consumidores ingleses votaram na pesquisa de
satisfação da Revista Auto Express, uma das mais conceituadas do
mundo, e elegeram o i30”.
“Eleito o carro mais confiável pelos ingleses
entre todos os modelos de todas as
marcas.
Mais de 23.000 consumidores ingleses
votaram na pesquisa de satisfação da
Revista Auto Express, uma das mais
conceituadas do mundo, e elegeram o i30”.
P= singularização
Revista Veja, maio de 2011
Revista Cláudia, maio de 2011
“Um dia quero chegar lá.
Mas quero chegar linda”.
“Um dia quero chegar lá.
Mas quero chegar linda”.
“Um dia quero chegar lá.
Mas quero chegar linda”.
“Um dia quero chegar lá.
Mas quero chegar linda”.
Pressuposto 1 – quem chega lá não é linda
Pressuposto 2 – as lindas não chegam lá
Pressuposto 3 – as feias chegam lá
P = auxiliar eficaz
Revista Cláudia, maio de 2011
Revista Capricho, maio de 2011
“Seu namorado pega você beijando a foto
do gato da próxima página.
E aí, como você se vira?
A @LigiaNunes se virou assim:
‘Eu amo essa revista! Amoooo!’.
QUEM SE VIRA SE DÁ BEM”.
“Seu namorado pega você beijando a foto
do gato da próxima página.
E aí, como você se vira?
A @LigiaNunes se virou assim:
‘Eu amo essa revista! Amoooo!’.
QUEM SE VIRA, na verdade,
SE DÁ BEM”.
P = auxiliar eficaz
ou
P = aliado?
Revista Capricho, maio de 2011
propaganda para crianças:
Pampili
(You Tube)
“Entendo tudo de fofura.
Tudo aqui é fofo: meu tênis é fofo; minha
sapatilha é fofa. É da Pampili, tem sistema
feet care: sistema avançado de fofura.
Protege o meu pezinho, é uma delícia. O
coração eu ganhei: não é fofo? Entre no
site da Pampili e participe da promoção.
Tá, você também é fofa e pode ganhar o
seu”.
“Entendo tudo de fofura.
Tudo aqui é fofo: meu tênis é fofo; minha
sapatilha é fofa. É da Pampili, tem sistema
feet care: sistema avançado de fofura.
Protege o meu pezinho, é uma delícia. O
coração eu ganhei: não é fofo? Entre no
site da Pampili e participe da promoção.
Tá, você também é fofa e pode ganhar o
seu”.
“Entendo tudo de fofura.
Tudo aqui é fofo: meu tênis é fofo; minha
sapatilha é fofa. É da Pampili, tem sistema
feet care: sistema avançado de fofura.
Protege o meu pezinho, é uma delícia. O
coração eu ganhei: não é fofo? Entre no
site da Pampili e participe da promoção.
Tá, você também é fofa e pode ganhar o
seu”.
“Entendo tudo de fofura.
Tudo aqui é fofo: meu tênis é fofo; minha
sapatilha é fofa. É da Pampili, tem sistema
feet care: sistema avançado de fofura.
Protege o meu pezinho, é uma delícia. O
coração eu ganhei: não é fofo? Entre no
site da Pampili e participe da promoção.
Tá, você também é fofa e pode ganhar o
seu”.
P = objeto de busca
propaganda para crianças:
Mc Donalds
(You Tube)
“ - Eu também tive uma infância muito gostosa. A
gente brincava de peão, era muito divertido. Não
era bem a minha especialidade, não. Em
compensação, na bolinha de gude não tinha para
ninguém. Às vezes eu ia pescar com meu pai.
Aquela pescaria era só uma desculpa pra gente
ficar junto. E futebol de botão? Tinha até torcida.
Qualquer dia vou te ensinar a jogar botão, viu?
- Vô, quando você era pequeno tinha Mc Donalds?
- Não.
- (careta)”.
GOSTOSO COMO A VIDA DEVE SER
“ - Eu também tive uma infância muito gostosa. A
gente brincava de peão, era muito divertido. Não
era bem a minha especialidade, não. Em
compensação, na bolinha de gude não tinha para
ninguém. Às vezes eu ia pescar com meu pai.
Aquela pescaria era só uma desculpa pra gente
ficar junto. E futebol de botão? Tinha até torcida.
Qualquer dia vou te ensinar a jogar botão, viu?
- Vô, quando você era pequeno tinha Mc Donalds?
- Não.
- (careta)”.
GOSTOSO COMO A VIDA DEVE SER
“ - Eu também tive uma infância muito gostosa. A
gente brincava de peão, era muito divertido. Não
era bem a minha especialidade, não. Em
compensação, na bolinha de gude não tinha para
ninguém. Às vezes eu ia pescar com meu pai.
Aquela pescaria era só uma desculpa pra gente
ficar junto. E futebol de botão? Tinha até torcida.
Qualquer dia vou te ensinar a jogar botão, viu?
- Vô, quando você era pequeno tinha Mc Donalds?
- Não.
- (careta)”.
GOSTOSO COMO A VIDA DEVE SER
“ - Eu também tive uma infância muito gostosa. A
gente brincava de peão, era muito divertido. Não
era bem a minha especialidade, não. Em
compensação, na bolinha de gude não tinha para
ninguém. Às vezes eu ia pescar com meu pai.
Aquela pescaria era só uma desculpa pra gente
ficar junto. E futebol de botão? Tinha até torcida.
Qualquer dia vou te ensinar a jogar botão, viu?
- Vô, quando você era pequeno tinha Mc Donalds?
- Não.
- (careta)”.
P = agente da busca
GOSTOSO COMO A VIDA DEVE SER
Atividade em pequenos grupos
Pensar em propostas de atividades – possibilidades
de leituras - em sala de aula para trabalhar com
uma das duas propagandas:
Pampili ou Mc Donalds.
Público-alvo: séries iniciais
Convidando o aluno a ser co-enunciador, a ser leitor de um texto,
o professor está convidando-o a preencher as formas “eu” e “tu”,
convidando-o a ser sujeito.
A operacionalização do que aqui sumariamente apresentei
em relação à leitura requer que se auxilie
o aluno a observar o modo como as palavras circulam
pelo enunciado, inter-relacionando-se com outras para a
expressão da ideia do enunciador.
Assim, ele poderá passar à condição de dialogante com o texto,
instituindo- se como o outro da escritura. Oferecendo escuta ao
texto, colocando-se na posição daquele a quem se fala, o alunoleitor poderá experimentar sua própria presença, ou seja,
instituir-se como quem fala, como aquele que, por sua
intervenção singular, entreabre possibilidades de novos
sentidos.
(Teixeira e Ferreira, 2008; Teixeira e Di Fanti,
Referências
• BAKHTIN, M. [Volochínov]. Marxismo e filosofia da linguagem. 12.
ed. São Paulo: Hucitec, 2006.
• CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: modos de organização.
São Paulo: Contexto, 2008.
• DASCAL, M. Interpretação e compreensão. São Leopoldo:Editora
Unisinos, 2006.
• FARACO, C. A. Linguagem & diálogo: as idéias linguísticas do círculo
de Bakhtin. Curitiba: Criar Edições, 2006.
• FLORES, V. N.; TEIXEIRA, M. Introdução à linguística da
enunciação. São Paulo: Contexto, 2005.
• TEIXEIRA, M. É possível a leitura?. Nonada: leitura em revista. ano 8.
n. 8. Porto Alegre: UniRitter, nov. 2005. p. 195-204.
• ______; DI FANTI, M. da G. O texto como objeto de ensino: um olhar
enunciativo. In: GOMES, L. da S.; GOMES, N. M. T. (orgs.).
Aprendizagem de língua e literatura: gêneros & vivências de
linguagem. Porto Alegre: Uniritter, 2006. p. 95-146.
Referências
• TEIXEIRA, M; FERREIRA, S. Leitura na escola: um barco à deriva?
Letras de Hoje. v. 43. n. 1. Porto Alegre: jan/mar 2008. p. 63-68.
• VIEGAS, Ilana da S. R. A força da linguagem publicitária. Cadernos
do CNFL. Rio de Janeiro: CIFEFIL, 2008. p. 30-42.