Contos de Machado de Assis II

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Transcript Contos de Machado de Assis II

Contos

de

Machado

de

Assis

“Pai contra mãe” “O caso da vara” “Capítulo dos chapéus”

“Pai contra mãe”

“Pai contra mãe”

O narrador do texto, é um elemento importante para a construção da ironia nesta narrativa. Em terceira pessoa , a sua perspectiva aproxima o leitor do tempo e do espaço através de relatos históricos sobre os fatos que envolviam a escravidão, como na descrição das crueldades das quais os escravos eram vítimas.

“Pai contra mãe”

Os escravos pareciam ser transformados em coisas, deixando de ser humanos. Por exemplo, quando fugiam “grande parte era apenas repreendida; havia alguém em casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, por que dinheiro também dói” .

“Pai contra mãe”

O escravo , essa coisa, objeto, mesmo quando fugisse, não poderia sofrer muitos castigos, já que estes poderiam impedi-lo de prestar os serviços necessários a seu senhor, inutilizando-o, causando assim, grande prejuízo.

“Pai contra mãe”

Quando o narrador gostavam da escravidão” de apanhar pancadas”, comenta e “nem todos “nem todos gostavam qual pessoa gostaria de viver em completa escravidão, à mercê dos mandos e desmandos de alguém e, ainda por cima, levar algumas pancadas? Com sua ironia, parece que é ele (o narrador), quem dá uma pancada nesse sistema de escravatura.

“Pai contra mãe”

No conto “Pai contra mãe”, Machado pelo caminho da análise social aventura-se . Sem oratória e redundância, quer mostrar-nos como a miséria torna o pobre inimigo da sua própria classe e como, dramaticamente, o desumaniza.

“Pai contra mãe”

“Pai contra mãe” quer ensinar-nos o que é o horror da escravatura, mas para chegar a isso utiliza o que há de mais chocante para o leitor: a apresentação do horror como normalidade.

“Pai contra mãe”

Arminda está grávida e suplica ao rapaz que a deixe ir ou que a guarde como escrava. que tem culpa, responde Candinho, quem lhe manda fazer filhos e fugir depois?”.

entre lutas desesperadas, até à casa do patrão. Arminda cai no corredor e, enquanto o patrão paga o prêmio a Candinho luta a escrava abortou”. , “Você é E arrasta-a, “no chão, onde jazia, levada do medo e da dor, e após algum tempo de

“Pai contra mãe”

Candinho Candinho volta para casa com o dinheiro na mão, o filho já não será abandonado.

“Cândido Neves, beijando o filho, entre lágrimas verdadeiras, abençoava a fuga e não se lhe dava do aborto. — vingam, bateu-lhe o coração”.

Nem todas as crianças O frio bom senso de e a sensação de normalidade criada pelo final feliz contrastam violentamente com a sensação de horror que constitui, em última análise, a verdadeira característica do conto.

“O caso da vara”

“O caso da vara”

Narrado em vara terceira pessoa , o conto suas mazelas morais.

O caso da , evidencia, em sua crítica social, o aspecto sórdido e desumano da escravidão e

“O caso da vara”

Neste conto, querela doméstica sem importância para ilustrar a detesta) Machado questão do favor e do apadrinhamento (deixar de vez o seminário que ele tanto Damião se utiliza de uma . Para conseguir seu objetivo faz uso dos recursos de que dispõe.

“O caso da vara”

Não conseguindo mobilizar o Carneiro , ele recorre a “padrinho” João Sinhá Rita , cujo poder sobre o padrinho de se que Sinhá Rita porque sentiu-se Damião . Novamente inversão dos usar tal poder.

Damião é conhecido. Note somente decidiu apadrinhá-lo “lisonjeada com as súplicas” Machado valores tradicionais : de trabalha com a Sinhá Rita tem poder e, apenas por isso, pode ou não querer

“O caso da vara”

A dialética entre força e desejo será romanticamente invertida por Damião ao se compadecer da escrava Lucrécia, pela vara . Damião ameaçada acredita que a comoção (pena, compaixão, solidariedade) ou o senso de justiça são argumentos suficientes o bastante para exercer o favor.

“O caso da vara”

Sabe-se o quanto ele (Damião) está enganado.

Tanto que, na hora fatal, momento em que precisa escolher o lado, Damião acaba colaborando para o castigo de Lucrécia .

sentiu-se compungido; mas ele precisava tanto sair do machadiano.

seminário”, relata o “Damião narrador

“O caso da vara”

Dividido a Lei, entre a auto-preservação consideração do outro, manobra política de fala Maquiavel.

Damião Damião e a coloca-se ao lado das instituições, que neste caso é o Direito, (no conto, simbolizada pela vara).

Transposta, pois, para o âmbito familiar, a é um exemplo contundente da teoria da ação humana, de que

“O caso da vara”

Outro fator chama a atenção nos contos de Machado vida.

. Trata-se da eterna sensação de insuficiência (dependência), do sujeito diante da Suas personagens parecem sempre marcadas por esta ausência de auto-suficiência, ou seja, surgem sempre desprovidas de liberdade para prescindir das instituições . Sem o apoio destas, o homem nada consegue.

“O caso da vara”

Os contos segundo O caso da vara Alfredo Bosi vilania dos protagonistas quanto da lógica que rege os seus atos. As “cálculos da vida” e Pai contra mãe , , dão testemunho tanto da “tendências da alma” e os somam-se na luta pela autoconservação. Ambos têm em comum a situação do homem juridicamente livre, mas pobre e dependente, ou meramente dependente, que está um degrau, mas só um degrau, acima do escravo.

“O caso da vara”

A essa condição ainda lhe resta usar do escravo, não diretamente, pois não pode comprá-lo, mas por vias transversas, entregando-o à fúria, ou posse do senhor, delatando-o ou capturando-o quando se rebela e foge. O poder do senhor desdobra-se em duas frentes: ele não é só o dono do cativo, é também dono do pobre livre na medida em que o reduz a polícia de escravo.

“Capítulo dos chapéus”

“Capítulo dos chapeús”

Narrado em dominado pelas figuras de duas mulheres: Mariana próximos e Sofia terceira pessoa representam dois mundos diferentes, mas entre . Personalidades opostas, elas si, , o conto é presentes na nova configuração da realidade segunda metade do século XIX.

brasileira da

“Capítulo dos chapeús”

Mariana é a mulher infantilizada e alienada num ambiente doméstico e seus objetos: Móveis, cortinas, ornatos supriam-lhe os filhos; tinha-lhes um amor de mãe; e tal era a concordância da pessoa com o meio que ela saboreava os trastes na posição ocupada, as cortinas com as dobras do costume, e assim o resto. ; sua vida resume-se a casa

“Capítulo dos chapeús”

Sua caracterização evidencia o quanto está de acordo com os ideais de feminilidade de um mundo marcado pela figura do patriarca : era uma criatura passiva, meiga, de uma plasticidade de encomenda, capaz de usar com a mesma divina indiferença tanto um diadema régio como uma touca.

“Capítulo dos chapeús”

Ou seja, é uma servem para reafirmar o oposto, a virilidade masculina. Sua vida estreita, concorda com suas leituras: Os hábitos mentais seguiam a mesma uniformidade.

criatura feita de clichês Mariana que dispunha de mui poucas noções, e nunca lera senão os mesmos livros: a Moreninha , de Macedo, sete vezes; Ivanhoé Pirata , de Walter Scott, dez vezes; e e o Mot de l´enigme , de Madame Craven, onze vezes.

“Capítulo dos chapeús”

Em oposição à sua figura, há se para a rua: Sofia Sofia , uma mulher da nova sociedade: independente, resoluta, seus limites vão além da vida doméstica, estendendo , prática daqueles mares, transpunha, rasgava ou contornava as gentes com muita perícia e tranqüilidade.

“Capítulo dos chapeús”

Mais ainda, Sofia era honesta, mas namoradeira: o termo é cru e não há tempo de compor um mais brando. Namorava a torto e a direito, por necessidade natural, um costume de solteira. A relação das duas mulheres com os maridos segue esse caráter de oposição. Sofia domina o marido:

“Capítulo dos chapeús”

“Olhe eu cá vivo, muito bem com o meu Ricardo; temos muita harmonia. Não lhe peço coisa que ele não faça logo; mesmo quando não tem vontade nenhuma, basta que eu feche a cara, obedece logo. Não era ele que teimaria assim por causa de um chapéu! Pois não! Onde iria ele parar! Mudava de chapéu, quer quisesse, quer não.”

“Capítulo dos chapeús”

A típica dialética machadiana da aparência x essência , aparece em algumas passagens desse conto: 1) Na atitude do que transmite à filha a idéia de que o chapéu usado pelo seu marido pai de Mariana rebaixava sua verdadeira pessoa.

“Capítulo dos chapeús”

2) Na fala de Conrado , quando considera o chapéu como prolongamento da cabeça, um complemento decretado a integração do homem, um ab eterno; sem mutilação”.

ninguém o pode trocar

“Capítulo dos chapeús”

3) No dilema de Mariana , que se divide entre a atmosfera organizada de sua casa, em seu mundo fechado, e o passeio pelo Rua do Ouvidor, a cuidar a variedade dos chapéus.