Transcript aqui
Caso Clínico Reunião SPTDT/PR Simone Ferreira Diéguez R4 Pneumologia HUC 09 de Maio 2012 CASO CLÍNICO • Admissão: 12/05/2011 • Id: MH, 61 anos, solteira, aposentada, trabalhava como balconista em concessionária de veículos, natural e procedente de Curitiba • QP# Tosse • HMA# – Paciente iniciou quadro de tosse seca há 1 mês. O sintoma iniciou logo após ter cortado o cabelo em um salão, em que uma cabeleireira colocou um avental cheio de bolor, e que no momento, começou a apresentar espirros e coriza hialina. – Desde então, mantém tosse seca. Nega febre. – Refere perda ponderal (não sabe quanto), sudorese noturna e dispnéia aos médios esforços. Nega dor torácica. Nega outras queixas. CASO CLÍNICO • Tratada inicialmente com Unasyn, sem melhora. • Após, fez uso de Avalox por 7 dias, sem melhora. • HMP# Rinite alérgica. Nega uso de medicamentos. • CHV# Nega tabagismo. Nega etilismo. CASO CLÍNICO • Exame físico de entrada: – BEG, LOTE, GCS= 15, corada, hidratada, eupneica, afebril – PA: 120/80 mmHg; FC= 108 bpm; FR= 20 rpm; – satO2= 93% ar ambiente, T= 36,3ºC – CPP: MV+ bilateral com estertores finos em região infraescapular direita. – BCRNF sem sopros – Abdome flácido, RHA+s, sem VMG, indolor à palpação – MMII sem edema ou sinais de empastamento Exames complementares de entrada Hemograma Eletrólitos Hb: 10,6/ VG: 31,5% Na+: 141 VHS= 40 Leucócitos: 12.900 K+: 4,1 TSH: 1,98 Bastões: 1% Ur: 34 T4 livre: 28,5 Linfócitos: 6% (774) Creat: 0,47 PCR: 19,1 Eosinófilos: 2% (258) BT: 0,58/ Glicose: 83 TAP: 77% - RNI: 1,17 Neutrófilos: 85% (10.965) TGO: 25/ TGP: 38 KPTT: 24,7s Plaquetas: 507.000 Amilase: 81 Iniciou tratamento com Rocefin + Azitromicina GASOMETRIA ARTERIAL SEM O2 COM O2 CATETER NASAL pH: 7,45 pH: 7,41 pO2: 54 pO2: 135,7 pCO2: 42,6 pCO2: 40,6 HCO3: 29,5 HCO3: 24,9 BE: 5,1 BE: 0,20 satO2: 92,4% satO2: 98,7% Rx de Tórax Espirometria (13/05/11) Predicted Pré-BD Pós-BD % Chg CVF 3,05 2,42 (79%) 2,30 (75%) - 5% VEF1 2,41 1,51 (63%) 1,58 (65%) 4% VEF1/CVF 0,79 0,63 (79%) 0,69 (87%) 10% FEF25-75% 2,28 1,11 (49%) 1,28 (56%) 16% PEFR (L/s) 7,67 1,80 (23%) 1,98 (26%) 10% FEF 25-75/CVF 0,78 0,46 (59%) 0,56 (71%) 22% MET (s) -- 1,09 0,90 -18% T exp (s) -- 6,02 4,76 -21% FIVC 3,05 2,58 (85%) 2,27 (74%) -12% Laudo: Distúrbio Ventilatório Obstrutivo com CVF reduzida Caso Clínico Fatores Reumatológicos FAN: Não Reagente Fator Reumatóide: Não reagente P-ANCA: Não reagente C-ANCA: Não reagente HIV negativo Broncoscopia • Normal • Coletado LBA e BTB Lavado Broncoalveolar Contagem diferencial de leucócitos: 8% neutrófilos, 30% linfócitos, 22% macrófagos, 40% EOSINÓFILOS BAAR: negativo Fungos: Negativo Bacterioscopia pelo GRAM: negativa Cultura para fungos e BAAR: negativa Pesquisa de Pneumocystis carinii: negativa Citologia Líquida de Lavado Broncoalveolar Estrutura geral preservada Paredes alveolares delicadas e espaços alveolares livres Bronquíolo e Vaso Sanguíneo Brônquio Biópsia Transbrônquica (12/05) • 2 fragmentos de parênquima pulmonar, com estrutura geral preservada, com septos finos e interstício delgado, com pequenas estruturas vasculares congestas. Revestimento pneumocítico preservado e plano. Espaços aéreos e estruturas vasculares preservados. Ausência de granulomas ou microabscessos. – LAUDO: • Ausência de sinais de malignidade ou processo específico/micose, no presente material. • Sugere-se repetição da citologia e/ou biópsia bronco-pulmonar, a critério clínico. • Citologia Líquida: – Negativa para malignidade. Rx de Tórax – 17/05 Caso Clínico • Ecocardiograma (20/05/11) – – – – – Câmaras direitas normais Câmaras esquerdas normais Função sistólica e diastólica preservadas Refluxo mitral discreto PsAP estimada em 28 mmHg • Ecografia de Abdome (19/05/11) – Derrame pleural D. Aumento do lobo esquerdo hepático Biópsia a céu aberto (20/05/11) Segmentectomia pulmonar Videoassistida – LID e LM Parênquima pulmonar com áreas hipoaeradas , espessamento fibroso septal interlobular Material fibrinoso eosinófilo, em espaços alveolares, entremeado por macrófagos, histiócitos e linfócitos – Alveolite Fibrinosa em Organização Alargamento intersticial septal com proliferação conjuntiva e infiltrado inflamatório misto Infiltrado eosinofílico septal Infiltrado eosinofílico septal Hiperplasia de pneumócitos tipo II e macrófagos intra-alveolares Antracose discreta Hiperplasia de pneumócitos tipo II Bronquiolite Obliterante / Pneumonia em organização - Padrão BOOP Biópsia a céu aberto (20/05/11) • Hiperplasia septal inflamatória e eosinofilia acentuados • Distribuição homogênea em todo o lóbulo pulmonar • Hiperplasia reacional de células alveolares • Exuberante acúmulo de eosinófilos em meio a áreas de organização • Descamação celular intra-alveolar com células gigantes • Espessamento axial e septal por fibroplasia • Obliteração de ácinos e pequenas vias aéreas por pneumonia organizante – Compatível com Pneumonia Eosinofílica Crônica Radiografia de Tórax 24/05 Pneumonia Eosinofílica Crônica Pneumonia Eosinofílica Crônica • A pneumonia eosinofílica crônica é reconhecida como um grupo heterogêno de desordens caracterizados por variáveis graus de eosinofilia pulmonar ou no sangue periférico. – Am J Respir Crit Care Med 181;2010:A3862 Reconhecimento da doença - 1969 • Charles B. Carrington – Achados de biópsia à céu aberto de 9 pacientes femininas, com doença subaguda, caracterizada por sintomas respiratórios e sistêmicos, infiltrado pulmonar de configuração periférica ao Rx de tórax e com acentuada melhora clínica e radiológica após o tratamento com corticóide. – De 9 pacientes • 3 apresentavam eosinofilia periférica • 6 apresentavam histórico de asma • 5 apresentavam rinite alérgica Carrington CB, Addington WW, Goff AM, et al. Chronic eosinophilic pneumonia. N Engl J Med 1969;280:787–798 Pneumonia Eosinofílica Crônica Incidência: • Rara • 0,1 casos/100.000 habitantes • 2,5% DPPD • Predomínio em mulheres João BENTO et al, Pneumonia eosinofílica crónica, Acta Med Port. 2010 Pneumonia Eosinofílica Crônica Etiologia: • Desconhecida • Qualquer faixa etária (45anos) • Não fumantes • Forte associação com história pessoal de asma, RA, polipose nasal ou atopia – 28 a 64% – Fator ambiental? João BENTO et al, Pneumonia eosinofílica crónica, Acta Med Port. 2010 Fisiopatologia da CEP Pneumonia Eosinofílica Crônica • Apresentação clínica subaguda ou crônica – Sintomas Respiratórios: • Tosse, expectoração, dispnéia progressiva – Sintomas sistêmicos: • Febre, sudorese noturna, mal estar, astenia, emagrecimento – Ausculta pulmonar: • Estertores inspiratórios (20%) • Sibilos expiratórios (23,3%) – Sintomas ou Sinais Extrapulmonares: • Pensar em outras causas!! – Churg Strauss – Síndrome Hipereosinofílica Idiopática João BENTO et al, Pneumonia eosinofílica crónica, Acta Med Port. 2010 Pneumonia Eosinofílica Crônica Espirometria: • Distúrbio restritivo( 36%) • Obstrutivo (32%) • Normal: 1/3 dos casos • Alteração difusional (25%) uptodate.com emedicine.medscape.com Pneumonia Eosinofílica Crônica • Critérios diagnósticos para CEP – Sintomas respiratórios > 2 semanas – Eosinofilia alveolar (≥40% LBA) ou periférica (≥ 1.000 mm3) – Rx: Infiltrado pulmonar com predomínio periférico – Exclusão de outras causas de doenças eosinofílicas pulmonares Orphanet Journal of Rare diseases – 2006 1:11 Pneumonia Eosinofílica Crônica • Critérios Laboratoriais – Eosinofilia periférica: > 1.000/m3 – IgE elevado – Gasometria com hipoxemia – Aumento de VHS, PCR – Trombocitose – Anemia ferropriva – Contagem diferencial de células no LBA: • Predomínio de eosinófilos (>40%) João BENTO et al, Pneumonia eosinofílica crónica, Acta Med Port. 2010 Pneumonia Eosinofílica Crônica • Achados radiológicos – Infiltrados parenquimatosos periféricos • • • • • • Predomínio subpleural 50-75% bilaterais Migratórios em 25,5% dos casos Opacidades em vidro fosco Consolidações com broncograma aéreo Achado de imagem negativa do Edema Agudo de Pulmão Orphanet Journal of Rare Diseases 2006, 1:11 Radiografia de Tórax Imagem Negativa do Edema Agudo de Pulmão Pneumonia Eosinofílica Crônica • Tomografia de Tórax – Consolidação uni ou bilateral, desigual, predominantemente periféricas – Áreas de atenuação em vidro fosco • + em lobo médio e lobos superiores – Atenuações em banda subpleurais – Alargamento de linfonodos mediastinais Radiology; Johkon et al - September 2000 - Volume 216 Number 3 Tomografia de Tórax Radiology; Johkon et al - September 2000 - Volume 216 Number 3 Pneumonia Eosinofílica Crônica • Histologia – Infiltrados intersticiais e alveolares com predomínio franco de eosinófilos em várias fases de desgranulação. – Pode ocorrer infiltração vascular pulmonar por eosinófilos, sem que haja alterações de vasculite necrotizante ou granulomatosas – Fibrose pulmonar mínima. – Focos de pneumonia organizativa e reações focais do tipo Pneumonia Intersticial Descamativa João BENTO et al, Pneumonia eosinofílica crónica, Acta Med Port. 2010; 23(6) Pneumonia Eosinofílica Crônica • Tratamento – Excelente resposta ao corticóide sistêmico • Regressão imediata dos sintomas • Redução da eosinofilia sérica em 48 horas em 82% dos pacientes • Redução da imagem radiológica em poucos dias – Recidivas em até 50% dos casos após redução da dose ou suspensão da corticoterapia • João BENTO et al - Acta Med Port. 2010; 23(6):1133-1140 Pneumonia Eosinofílica Crônica • O corticóide inalatório isolado é ineficaz no tratamento da CEP. • No entanto, em doses elevadas, pode estar associado a uma redução da dose de corticóide sistêmico ou mesmo permitir a sua suspensão, com diminuição do risco de recidiva. ▫ Lavandier M, Carre P: Effectiveness of inhaled high-dose corticosteroid therapy in chronic eosinophlic pneumonia. Chest 1994;107:1913–1914. ▫ Respiration 2003;70:362–366 Pneumonia Eosinofílica Crônica Tratamento: • Prednisona 40 a 60mg/dia por 02 semanas. (0.5mg/kg/dia) • Após remissão dos sintomas - 4 a 6 semanas – Redução da dose ½ e mantém por 8 semanas • Manter uma dose de manutenção • Manutenção por 3 a 6 meses – Recidivas Comuns - até 50% • Seqüelas parenquimatosas e fibrose em < 5% dos casos • Morte secundária é extremamente rara emedicine.medscape.com uptodate.com Pneumonia Eosinofílica Crônica Tratamento: • Grave: Metilprednisolona 250mg 06/06h Controle do Tratamento: • Declínio da eosinofilia • Melhora clínica • Melhora radiológica • Melhora da função pulmonar uptodate.com Diagnósticos Diferenciais pelo AP • O padrão histológicos pode corresponder ao “Pulmão na Síndrome Eosinofílica” – 1) Parasitoses de ciclo pulmonar ou Sd de Loefler – 2) Síndrome de Churg Strauss – 3) Aspergilose broncopulmonar alérgica – 4) Efeito Tóxico-Medicamentoso (Nitrofurantoína) – 5) Inalação crônica de tintura para cabelo – 6) Idiopática Radiology, September 2000 - Johkon et al Volume 216 Number 3