Jesus - Inspetoria Nossa Senhora Aparecida

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Transcript Jesus - Inspetoria Nossa Senhora Aparecida

Julgar: a iluminação
necessária
MOTIVAÇÃO ECLESIAL
Igreja está intimamente solidária com as pessoas
afetadas pelo tráfico humano: uma causa “divina”...
Comprometida com a defesa da dignidade humana,
dos direitos fundamentais; portanto com a erradicação
da prática criminosa da escravização
Pois é uma negação radical do projeto de Deus para
a humanidade.
A iluminação Bíblica
Do Antigo Testamento
A criação como fundamento da dignidade
humana
Deus liberta e mostra o caminho
Exílio e sofrimento de um Povo
O profetismo da esperança e da Justiça
O Código da Aliança protege os mais vulneráveis
A iluminação do A. T.
A criação e a dignidade do ser humano
1.
“Façamos o homem e
mulher à nossa imagem e
semelhança” (cf. Gn 1,260
O relato da Criação exerce uma função libertadora: um
escudo contra a instrumentalização do outro: (Gn 1,26)
O ser humano é o ponto alto da criação. Cf Sl 8,5: “Que é a pessoa
humana, digo-me então, para pensardes nela? Que são os filhos/as de Adão, para que vos ocupeis com
eles/elas? Entretanto, vós os fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra os coroastes”
A dignidade requer da pessoa viver seus relacionamentos
conforme o plano de Deus: isso garante a paz, o shalom
 Na ruptura das relações,
(Gn 3; Rm 5,12-21; 1Cor 15,22).
há que se buscar a raiz dos males
A iluminação do A. T.
2.
Fio condutor do AT: libertação da pessoa e a
aliança. Deus mostra o caminho
*O Egito era a grande nação para onde tudo convergia; se
enriquecia explorando pessoas.
Abraão e Sara, atingidos por forte seca em Canaã, foram obrigados a descer e residir no Egito
(cf. Gn 12,10). José, filho do patriarca Jacó, a primeira pessoa vendida na Bíblia, foi levado
por mercadores a trabalhar como escravo justamente no Egito (cf. Gn 37,12-28). Esse grande
fluxo migratório para o Egito contribuiu para torná-lo um grande império. O Rei do Egito impõe
extrema exploração ao povo trabalhador, sem se preocupar em lhe conceder os meios
adequados para a execução dos serviços (cf. Ex 1,9-14). A saga das pragas (Deus/dignidade
vs Faraó/opressão) termina com a vitória de Deus: o povo cruz o Mar Vermelho a pé enxuto,
rumo à liberdade e ao mundo novo, sem escravidão nem opressão.
** A libertação do Egito devolveu a dignidade ao povo de Israel;
sem esta, o ser humano não se reconhece a si e nem ao Criador;
perde sua essência de imagem divina.
A celebração da Páscoa é uma grande festa da libertação, mas, principalmente, um alerta para que
Israel não explore e escravize os estrangeiros que migram para sua terra.
A iluminação do A.T.
3.
Exílio e sofrimento do povo
• Os impérios da época costumavam deportar grande parte dos povos que venciam. Além
de fornecer mão de obra para as atividades produtivas e de guerra dos imperialistas, era estratégia de dominação sobre os
povos derrotados, pois fragilizava tanto o grupo deportado como o grupo remanescente.
• Os deportados viviam este processo, no desespero, como exílio da sua terra e suas
tradições: “Na beira dos rios de Babilônia, nós nos sentamos a chorar, com saudades de Sião. (...) Como cantar os cantos
do Senhor em terra estrangeira?” (Sl 137,1;4). Essa mesma dor é ressentida pelas pessoas vitimadas pelo tráfico humano,
pois também são arrancadas violentamente do convívio com os seus em sua terra, e conduzidas à exploração em locais
distantes.
• O povo de Israel passou por exílios, o mais conhecido foi pelo rei Nabucodonozor: 2 Rs
24,13-15; 25,11-14.
• Para sobreviver, o povo exilado vai se adaptando e perde suas referências culturais e
religiosas, e seus valores. As pessoas traficadas de nosso tempo também perdem seus referenciais e para
sobreviverem se adaptam às novas situações, perdendo, com isso, a dignidade e os valores morais e éticos recebidos.
• Mas Deus é fiel: intervém e liberta este povo, que retorna à sua terra. No período do exílio e
no pós-exílio leis são criadas, como desdobramento do Decálogo, para que a essência da relação com Deus não se perca, e
para que a escravidão e a exploração não venham mais a fazer parte da vida daquele povo (cf. Ex 20,2-17; Dt 5,6-21).
A iluminação do A. T.
4. O
profetismo da justiça e da esperança
* A prática semelhante ao que hoje denominamos tráfico humano
encontrou oposição nos profetas de Israel. Em uma época em que o tráfico de pessoas para esse
fim era prática aceita, os profetas denunciavam tais práticas como desumanas e idolátricas. Os escravos reduzidos a essa condição
pela guerra eram comercializados e traficados em todo o Antigo Oriente. Gaza (Am, 1,6) e Tiro (Ez 27, 12-13, Jl 4,6) eram cidades
que controlavam este comércio e tráfico. Essa situação de idolatria (cf. Ez 28,6) também estava presente em Israel, como denuncia
Amós: “Vendem o justo por dinheiro e o indigente por um par de sandálias” (Am 2,6). Em Jr 34,12-22, o Senhor cobra dos patrões a
quebra da aliança, pois estes não libertaram os compatriotas hebreus que compraram por dívida, descumprindo assim a Lei do Ano
Sabático.
** Oprimir o pobre é o maior de todos os pecados (Am 4,1). Colocar a justiça
a serviço dos ricos é perverter o direito e destruir a sociedade(Am 5,12). O profeta
Isaías (Is 40-55) consola e leva esperança, pois o fim do exílio está próximo e o povo retornará à terra prometida e os dispersos serão
reunidos; um novo êxodo ocorrerá. Os “Cânticos do Servo do Senhor” (Is 42,1-14; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53) descrevem a vocação do
Servo: pregador, mediador da salvação, que sofre e morre para que outros sejam libertos e salvos.
*** Segundo os profetas, uma sociedade indiferente à compra e venda de
pessoas está condenada à destruição. “Rifaram o meu povo, deram meninos para pagar prostitutas,
deram meninas em troca de vinho para se embriagarem” (Jl 4,3). O mecanismo de exploração denunciado pelos profetas alavanca a
expansão dos mercados atuais, atingindo pessoas e até nações inteiras. O tráfico humano é uma forma extrema dessa
exploração, cujas vítimas são feitas entre os mais pobres. Por isso, os profetas anunciam que Deus mesmo irá exigir a justiça e a
fidelidade ao seu plano.
A iluminação do A. T.
5. O
Código da Aliança protege os mais vulneráveis
•O Decálogo reflete um projeto social de liberdade e
aponta um caminho para uma convivência livre de
opressões. Os códigos do AT levam em conta a exploração do trabalho de pessoas e mesmo a escravidão
que ocorriam naquele tempo, mas visam minar as bases destas práticas. (Ex 20,2-17; Dt 5,6-21).
•A Lei se preocupa em defender o direito do pobre (Dt
15, 7-8) e a dignidade do estrangeiro, lembrando que
Israel esteve na mesma condição. O desamparo do estrangeiro é equiparado
ao dos órfãos e das viúvas (Dt 24,19-22).
•Para a Torá, roubar uma pessoa para lucrar com sua
venda é uma ofensa à Aliança com Deus. A lei é inapelável: “Quem
sequestrar uma pessoa, quer a tenha vendido ou ainda a tenha em seu poder, será punido de morte” (Ex 21,16).
Israel desenvolveu leis que procuravam preservar a vida e a dignidade das pessoas, especialmente das
desprotegidas pelos aparatos sociopolíticos. Eis uma palavra profética para nossas sociedades sob a égide do
mercado.
A iluminação bíblica
Do Novo Testamento
Jesus anuncia a liberdade aos cativos
Gestos de Jesus a favor da dignidade humana e da
liberdade
Compaixão e misericórdia
Jesus resgata a dignidade da mulher
Jesus acolhe as crianças
“Fostes chamados para a liberdade” (Gal 5,13)
Tráfico humano, consequência de um sistema idolátrico
Novo Testamento
A iluminação do N. T.
1. Jesus
anuncia a liberdade aos cativos
 Em Jesus Cristo cumpre-se o evento decisivo da ação
libertadora de Deus. ”O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu,
para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos
e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um
ano de graça da parte do Senhor” (Lc 4,18-19).
A Boa Nova implica a libertação de qualquer tipo de exploração e
injustiça contra os pobres: Jesus começou a ensinar: Felizes os pobres no espírito,
porque deles é o Reino dos Céus. Felizes os que choram, porque serão consolados” (Mt
5,1-4; cf. Mc 10,21-25; Lc 6,20). É uma boa notícia para os explorados e submetidos ao
poder do tráfico humano.
A revelação em Cristo do mistério de Deus é também a revelação da
vocação da pessoa humana à liberdade: como o de Jesus, nosso
ministério é um ministério de libertação.
A iluminação do N. T.
2. Gestos de Jesus a favor da dignidade humana
e da liberdade
 Os pobres são aqueles para quem a vida é uma carga pesada nos níveis
primários do sobreviver com um mínimo de dignidade. Se não bastasse,
são as maiores vítimas de situações de lesa humanidade, tais como o TH.
 Jesus realizou muitos sinais da presença do Reino (Mt 4,17). Percorreu
cidades e aldeias pregando nas sinagogas, expulsando demônios (Mc 1,39),
curando doentes (Mt 8,16), cegos, mudos, aleijados e leprosos (Lc 7,22). Passou
fazendo o bem e libertando os oprimidos do mal que os afligia (At 10,38).
 E Jesus amou a cada um de forma concreta, com preferência pelos
marginalizados e submetidos a explorações na sociedade daquele tempo.
 Libertar alguém de um grande mal, como o do tráfico humano, é devolver
a alegria de viver e a esperança de que é possível libertar o mundo do
domínio de poderes que atentam contra a vida.
 Em Jesus, Deus realmente estava derrubando os poderosos de seus
tronos e elevando os humilhados (Lc 1,52).
A iluminação do N. T.
 3. Compaixão e
misericórdia
 Jesus era atento ao clamor dos sofredores: “tem compaixão de nós” (Mt
20,30; Lc 17,13). Não permaneceu indiferente ao sofrimento do outro: curou a sogra
de Pedro (Mt 8,14-15); ao homem da mão seca disse: “Levanta-te! Vem para o meio!” (Mc
3,3); à mulher doente assim falou: “Mulher, estás livre da tua doença” (Lc 13,12); percebendo a
comoção que se seguiu à morte de Lázaro, “Jesus teve lágrimas” (Jo 11,35).
 Indignou-se com a indiferença e dureza de coração daqueles que
ignoravam o sofrimento alheio: “Passando sobre eles um olhar irado, e
entristecido pela dureza de seus corações, disse ao homem: ‘Estende a mão!’”
(Mc 3,5; Mc 10,5; Lc 13,15-16).
 No trato das pessoas em seus sofrimentos e necessidades, Jesus é movido
pela compaixão. Nele vemos que a compaixão não é mero sentimento, mas
reação firme e eficaz diante da dor alheia. (Lc 10,33 & 15,20).
 Compaixão e misericórdia, expressões maiores da nossa imagem e
semelhança com Deus: “Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso” (Lc
6,36).
A iluminação do N. T.
 4. Jesus resgata a dignidade da
mulher
 Em uma época marcada pelo machismo e discriminação, a prática de Jesus
foi decisiva para ressaltar a dignidade da mulher e seu valor indiscutível. Jesus
falava com elas: “ficaram admirados ao ver Jesus conversando com uma mulher” (Jo 4,27), teve
singular misericórdia com as pecadoras (Lc 7,36-50), curou-as (Mc 5,25-34), reivindicou sua
dignidade (Jo 8,1-11), escolheu-as como primeiras testemunhas da ressurreição (Mt 28,9-10) e
incorporou-as ao grupo de pessoas que eram mais próximas a ele (Lc 8,1-3).
 Jesus, em suas obras e palavras, é contra tudo quanto ofende a dignidade
da mulher, e exprime sempre o respeito e a honra devida à mulher.
 O tráfico humano torna a mulher mero objeto de exploração sexual. O
valor e a dignidade da mulher precisam ser ressaltados no mundo
contemporâneo em virtude de realidades que os atingem, como o tráfico
humano.
A iluminação do N. T.
 5. Jesus acolhe as crianças
 As crianças têm um lugar privilegiado no pequeno rebanho de
Jesus. Ele as considera como pessoas que Deus guarda no coração. Por
isso o Reino de Deus é para elas e para os que são como elas (cf. Mt 19,13-15;
Lc 18,15-17) elas merecem o mesmo acolhimento que é dado a Jesus e ao Pai.
 A ambiguidade humana e sua fragilidade são os principais elementos
que fundamentam a exploração das pessoas.
 Por isso que a criança precisa ser acolhida. Somente assim, acolher
as crianças como Jesus as acolhia é a melhor prevenção contra o tráfico
infantil.
 Jesus nos deixa claro que quando estamos acolhendo uma criança,
estamos acolhendo o Reino de Deus.
A iluminação do N. T.
 6. “Fostes chamados para a liberdade”
(Gal 5,13)
 Cristo é a Verdade que liberta (cf. Jo 8,32). Liberdade oferecida a todos
indiscriminadamente. “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1)
 A liberdade de Cristo é liberdade para o serviço (Rm 6,22) e para o compromisso
com a justiça do Reino (Rm 6,16).
 “Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17). A
universalidade da liberdade do Espírito vincula a relação da pessoa com Deus e
sua responsabilidade para com o próximo.
 A liberdade cristã visa, em primeiro lugar, o amor ao próximo (cf. Gl 5,13). Ao
inaugurar a lei da liberdade (Gal 4,7; Rm 8,14ss), Cristo inaugura também a lei do
Amor (Jo 15,12).
 Todos são responsáveis pelo bem de todos, pois a liberdade oferecida em
Cristo diz respeito à pessoa humana em todas as suas dimensões: pessoal e social,
espiritual e corpórea.
 O reto exercício da liberdade exige precisas condições de ordem econômica,
social, política e cultural: “Não vos torneis, pois, escravos de seres humanos”
(1Cor 7,23). Sem condições de dignas, as pessoas tornam-se vulneráveis à ação dos
criminosos do tráfico humano.
A iluminação bíblica
 7. Tráfico humano, consequência de
um sistema idolátrico
 O Tráfico Humano remete a mecanismos globais derivados de uma estrutura
política e econômica apoiada na injustiça e na desigualdade.
 O tráfico humano é um pecado concreto feito de mentira, exploração e assassinato
(cf. Jo 8,44), opressão da verdade pela injustiça e pela soberba diante de Deus (cf. Rm 1,1819). Consequência da idolatria do dinheiro: “Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt
6,24b). Ídolo era aquele objeto, fruto de mãos humanas, incapaz de dar vida e ao qual
se sacrificavam vidas humanas (2Rs 17,16-17).
 A adoração do não adorável (absolutização do relativo) leva à violação do mais
íntimo da pessoa humana. Eis aqui a palavra libertadora por excelência: “Somente ao
Senhor Deus adorarás e prestarás culto” (cf. Mt 4,10).
 TH é um problema de Deus e é um problema da Igreja, porque nas vítimas está
em jogo a causa do Deus revelado em Jesus: Eu e o Pai somos Um (Jo 10, 30). E tudo o que
a Igreja fizer a um destes pequenos, estará fazendo a Jesus (Mt 25, 31-46).
 Todo cristão é ungido no batismo para ser abolicionista como Jesus. Ungido para
proclamar e defender a liberdade e levar a Boa Notícia da libertação para todas as
vítimas da escravidão. É missão divina!
A iluminação bíblica
DEUS ENVIOU SEU FILHO ÚNICO, A FIM DE QUE “O
CARRASCO NÃO TRIUNFE SOBRE A VÍTIMA”
• A comunidade que se reúne em torno da memória de Jesus comunga
com Jesus. Tomar consciência dos atos de Deus na história implica
viver em conformidade com eles. A eucaristia é a expressão maior do
compromisso pessoal e comunitário. Tomai e comei, tomai e bebei são
normas de vida. Deus tanto amou o mundo que enviou seu Filho
Único, a fim de que “o carrasco não triunfe sobre a vítima”. A
celebração da Eucaristia não permite que as vítimas dos poderes
deste mundo caiam no esquecimento.
• Fazer em memória de Jesus e recapitular Sua auto-doação. É memorial
sacramental do ministério libertador de Jesus (Lc 4, 16). O combate
ao trabalho escravo e ao tráfico de seres humanos expressa a
eficácia salvífica deste memorial da pessoa de Jesus celebrado na
eucaristia. Faz da vida um culto agradável a Deus (Heb 13, 16; Rom 12,
1).
A DIGNIDADE E
OS DIREITOS
HUMANOS
Dignidade e Direitos Humanos
A compreensão atual da dignidade e dos direitos
humanos é uma referência fundamental para o
enfrentamento das situações de injustiça que atentam
contra a vida das pessoas, a exemplo do tráfico humano e
trabalho escravo.
Antiguidade: dignidade dependia da posição social que a
pessoa ocupava;
Dignidade e Direitos Humanos
 A Grécia antiga considerava cidadãos
somente quem pertencia à “polis”, com
exceção dos escravos e das mulheres. No
Direito romano a Lei das doze Tábuas pode
ser considerada a origem da proteção do
cidadão, da liberdade e da propriedade.
Dignidade e Direitos Humanos
 Nos séculos XVII e XVIII a dignidade passou
a ser compreendida como direito natural de
todos os membros do gênero humano.
 Kant (1724-1804), entende por dignidade o
inestimável, que não pode ter preço e nem
servir como moeda de troca
Dignidade e Direitos Humanos
 No século XX houve o reconhecimento definitivo
desta concepção da dignidade humana com a
Declaração dos Direitos Humanos, em 1948, cujo
artigo primeiro diz: Todos os homens nascem livres e
iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão
e consciência e devem agir em relação uns aos outros
com espírito de fraternidade.
 São universais, invioláveis e inalienáveis
Dignidade e Direitos Humanos
Reconhecimento por parte da Igreja da declaração
pois volta-se para o humano.
 A Dignidade humana chega ao início do século XXI
como patrimônio universal, expressão da consciência
coletiva da humanidade.
 É reconhecida como qualidade intrínseca e
inseparável de todo e qualquer ser humano.
Dignidade e Direitos Humanos
Toda pessoa exige um respeito que supõe um
compromisso de toda sociedade na proteção e no
desenvolvimento integral da sua dignidade.
Dizer que a dignidade é inerente a cada pessoa
significa que todos têm sua dignidade garantida
individualmente, e implica no respeito à dignidade
do outro.
ter capacidade de
.
in: Passaporte para Liberdade, um guia para as brasileiras no exterior – OIT Brasil, 2007
=
DIREITOS HUMANOS
•
in: Passaporte para Liberdade, um guia para as brasileiras no exterior – OIT Brasil, 2007
DIREITOS HUMANOS
.
Dignidade/Liberdade
Escravizar não se limita a constranger nem a coagir a pessoa
limitando sua liberdade. Escravizar é tornar o ser humano uma
coisa, é retirar-lhe a humanidade, a condição de igual e a
dignidade.
A redução à condição análoga à de escravo atinge a liberdade do
ser humano em sua acepção mais essencial e também mais
abrangente: a de poder ser.
A essência da liberdade é o livre arbítrio, é poder definir seu
destino, tomar decisões, fazer escolhas, optar, negar, recusar.
Usar todas as suas faculdades.
O escravo perde o domínio sobre si, porque há outro que decide
por ele. A negativa de salário e a desnutrição calculadas, no
contexto de supressão da liberdade de escolha, são sinais desta
atitude.
Raquel Dodge
.
ENSINO SOCIAL
DA IGREJA E
TRÁFICO
HUMANO
O Ens. Social e o Tráfico
Humano
 O Ensino social da Igreja
adotou a dignidade humana
como uma de suas matizes
fundamentais, considerando-a
sob a ótica da experiência cristã
de fraternidade.
O Ensino Social da Igreja
e o Tráfico Humano
BASES
A criação: fonte da dignidade e igualdade humanas
A dignidade do corpo e da sexualidade
As agressões à dignidade humana são agressões a
Cristo
O tráfico humano é agressão à minha pessoa - Jesus
O Ensino Social da Igreja
e o Tráfico Humano
BASES
 A dignidade a e a liberdade da pessoa humana
 Reino de Deus, evangelização e compromisso social
 Proclamar a força libertadora do amor
AGIR profético/pastotral
O conhecer a realidade do tráfico humano e suas
finalidades & o julgar esta situação sob a luz da
Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja
convidam ao terceiro passo: nosso compromisso de
ação.
Nossa missão é agir para que a sociedade se estruture
em termos de conscientização, mobilização e
prevenção; denúncia e (re)inserção social; e de
incidência política, como eixos integrantes do
processo de enfrentamento ao tráfico.
Metodologias
de ação
 Conscientização e prevenção
 Denúncia e mobilização
 (re)Inserção social
 Incidência política
Ações voltadas para as dimensões
estruturantes da missão
evangelizadora da Igreja
 a pessoa
 a comunidade
 a sociedade
Princípio: ajudar as pessoas a superar a
condição de Lázaro, para assumir a
condição de Bartimeu
7 atitudes concretas
1.
ATENÇÃO & VIGILÂNCIA: DE OLHOS E BRAÇOS ABERTOS – ACOLHER
2.
DOCUMENTAR SITUAÇÕES DE TRÁFICO HUMANO EM NOSSO MEIO -
CONHECER
3.
ELABORAR DIAGNÓSTICO LOCAL – REGIONAL – NACIONAL -
ENTENDER
4.
PRODUZIR E LEVAR INFORMAÇÃO PARA A COMUNIDADE - DIVULGAR
5.
MOBILIZAR E ORGANIZAR A VIGILÂNCIA DE TODOS - PREVENIR
6.
DENUNCIAR, COBRAR, CONTROLAR A AÇÃO PÚBLICA: COMITÊS,
POLÍTICAS, PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA: ALERTAR
7.
CONVERTER NOSSO AGIR COTIDIANO: NO TRABALHO, NO CONSUMO, NO
VOTO, etc. – MUDAR/TRANSFORMAR
Compromisso da
Igreja no Brasil
Compromisso da
Igreja no Brasil
 Já existe um histórico de mobilização das
pastorais da Igreja, atuando em
diferentes vertentes no enfrentamento ao
Trafico Humano (TP e TE)
 Desde sua criação, em 1975, a CPT,
presença solidária entre os pobres do
campo, foi se dedicando crescentemente
a combater o trabalho escravo no campo.
Compromisso da
Igreja no Brasil
Entre outras Iniciativas:
CPT - Campanha “De Olho Aberto para não
Virar Escravo”, desde 1997 & CDVDH/CB
(Açailândia, MA)
 Pastoral da Mulher Marginalizada - PMM
Ações do Setor da Mobilidade Humana, e
Pastoral do Migrante
Rede Um Grito pela Vida
Rede internacional da Vida consagrada contra
o Tráfico de Pessoas: “Thalita Kum”
Compromisso
da Igreja no Brasil
Outras Iniciativas
CBJP – Regional Norte 2;
 Unidades Diocesanas da
Cáritas, de Centros de
Direitos Humanos, da
Pastoral do Menor
 Grupos de Trabalho na CNBB
 Mutirão Pastoral contra o
Trabalho Escavo.

Propostas concretas de
enfrentamento ao tráfico humano
Propostas de Enfrentamento
Abrir o olho – Denunciar - Mobilizar a
comunidade para prevenir o tráfico
humano e erradicar a escravidão do
nosso meio.
Propostas de Enfrentamento
Enquanto cristãos, somos desafiados a nos
comprometer com a erradicação do tráfico humano
em suas várias expressões, nos 3 níveis de atuação:
Pessoal
Comunitário/eclesial
 Sócio Político
Agir pessoal
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Nosso encontro pessoal com Deus ser sempre confrontado à experiência
comunitária, verificando as opções concretas assumidas.
Compreender que Deus nos liberta pessoalmente e comunitariamente:
animados por sua presença, testemunhar que seu Reino já está entre nós.
Pedir sabedoria e discernimento diante das situações de vulnerabilidade
social e de potenciais vítimas do tráfico humano.
Tal o bom samaritano, aceitarmos mudar nossos planos e acolher situações
emergenciais postas pelo tráfico: prevenção, atendimento e apoio às vítimas.
Acolher e cuidar das vítimas do TH, como Jesus: sem reservas, nem condição:
presença que consola e ajuda na retomada de um caminho de dignidade.
Tornarmo-nos próximos de quem sofreu ou está em risco de ter sua
dignidade humana violada, apoiá-los e socorrê-los inclusive economicamente.
Vítima do tráfico é sempre uma pessoa, com vários aspectos psicológicos a
ser acolhidos: sonhos, apelos de consumo, amor, perspectivas de vida melhor.
Agir comunitário 1
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Trabalhar com adolescentes e jovens as noções de direitos humanos e de
centralidade da vida, a partir de situações concretas, próximas a eles.
Iniciar ou consolidar ações que para superar a vulnerabilidade social, a
exclusão social, valorizando articulações entre pastorais, organismos da Igreja
e sociedade civil.
Promover conscientização sobre tráfico humano: participação em campanhas
já existentes, promovidas pela Igreja, Estado, Ongs.
Propor atividades que abram os olhos sobre realidades e ilusões de nossa
época, onde a mercadoria e o capital econômico andam livres enquanto
prendem as pessoas, tolhendo-lhes dignidade e liberdade.
Expandir junto nas dioceses e Regionais da CNBB a Campanha da CPT “De
olho aberto para não virar escravo”.
Divulgar materiais de campanha e iniciativas da rede “Um Grito pela Vida” e
outras instituições pela erradicação de toda e qualquer forma de tráfico.
Agir comunitário 2
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
Reforçar nosso compromisso no cuidado com as crianças, principalmente
aquelas mais vulneráveis a adoção inescrupulosa.
Ampliar iniciativas pastorais como: Pastoral da Mulher Marginalizada (PMM),
Rede Um Grito pela Vida, CPT, Casa do Migrante, Casa de Acolhida.
Aonde é forte a migração, formar estruturas de acompanhamento aos
migrantes e refugiados. Cobrar política migratória apropriada.
Cobrar e monitorar implementação de políticas públicas voltadas à acolhida,
prevenção e inserção social das vítimas do tráfico humano.
Elaborar subsídios de formação humana, política, bíblica, catequética,
teológica, em defesa da dignidade humana e tráfico humano
Pautar o tema em todos os espaços possíveis: igrejas, escolas, hospitais, obras
e projetos sociais, com sugestões de intervenção na realidade.
Realizar cursos de capacitação de multiplicadores para a prevenção ao tráfico
humano.
Agir comunitário 3
14. Identificar e denunciar as formas concretas do tráfico humano em nosso
meio, alertando para seus mecanismos enganosos e exploradores, com
atenção especial aos locais de possível aliciamento: pensões peoneiras,
agências (falsas) de turismo, boates, danceterias, casas de massagem,
restaurantes; agências de modelos, ensaios fotográficos, vídeos; “agências” de
emprego (acompanhantes, dançarinas, enfermeiras, baby sitter); agências de
casamento, de tele-sexo; taxistas, spas, resorts.
15. Capacitar pessoas na comunidade para a correta elaboração das denúncias e
seu devido encaminhamento para as autoridades, e para levantar dados e
informações relevantes sobre o tráfico humano.
16. Constituir comissões comunitárias de vigilância atentas às situações de
possível tráfico, migração de risco, aliciamento, e aptas a orientar as pessoas
17. Aprofundar as reflexões da Semana Social Brasileira sobre os efeitos da
globalização e dos grandes projetos de desenvolvimento.
Agir sócio político 1
1.
2.
3.
4.
Garantir a implantação em cada Estado das Comissões estaduais para a
Erradicação do TE (COETRAE) e dos Comitês de Enfrentamento ao TH, com
vistas aos três “P”: prevenção, punição e proteção/inserção.
Desenvolver tividaades públicas em datas significativas: 28 de janeiro – Dia
Nacional de Combate ao Trabalho Escravo; 8 de março – Dia Internacional da
Mulher; 1º de maio – Dia do/a Trabalhador/a; 18 de maio – Dia Nacional de
Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes; 23
de setembro - Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de
Mulheres e Crianças; 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra.
Aprimorar a coleta de dados sobre o Tráfico de Pessoas.
Cobrar especificamente essa meta do III PNDH: “Estruturar sistema nacional
de atendimento às vítimas do tráfico de pessoas, de reintegração e
diminuição da vulnerabilidade, especialmente de crianças, adolescentes,
mulheres, transexuais e travestis.”
Agir sócio político 2
5) Fortalecer e/ou contribuir na articulação nacional de uma rede de entidades
e organizações da sociedade civil para enfrentar ao tráfico humano.
6) Enquanto Igreja, cobrar do poder público efetividade das políticas públicas
(saúde, educação, desenvolvimento social, moradia, reforma agrária e
urbana).
7) Cobrar dos governos a efetivação do Plano Nacional de Erradicação do
Trabalho Escravo e do II Plano de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, com
recursos adequados e elaboração de planos na área estadual e municipal
8) Atuar para defender e aprimorar a legislação existente relativa ao Tráfico de
Pessoas e ao Trabalho Escravo.
9) Denunciar e enfrentar as causas estruturais que geram vulnerabilidade e
exclusão: desemprego, subemprego, concentração de terras, grandes
projetos, práticas discriminatórias por razões étnicas e de gênero.
10) Instar o poder público a investigar e responsabilizar os operadores do TH.
Agir sócio político 3
11) Identificar situações e cobrar do Estado investigações sobre pessoas
desaparecidas, com possibilidade de ter ocorrido tráfico humano. Divulgar
essas situações em aeroportos, rodoviárias, transportes públicos.
12) Cobrar maior e melhor atuação do Estado em relação às adoções ilegais, no
país ou no exterior, pois são formas de tráfico de pessoas.
13) Atuar enquanto Igreja junto a outras instâncias da sociedade, na discussão de
nova lei de migrações (PL 5655-2009), centrada nos princípios dos direitos
humanos e coerente com a devida proteção das pessoas contra o tráfico
humano.
Conclusão
• Nas vítimas do tráfico humano, podemos ver
rostos dos novos pobres que a globalização faz
emergir.
• O sistema socioeconômico atual descarta
muitas pessoas. São excluídas ou têm que se
virar com as migalhas do banquete dos ricos.
• É um sistema baseado no mercado e na sua
constante expansão: isso se faz privilegiando o
lucro em detrimento das pessoas e da vida, em
todas as suas expressões.
Conclusão
• Diante de um crime que clama aos céus, como
o tráfico humano, não se pode permanecer
indiferente, sobretudo enquanto discípulosmissionários.
• A Conferência de Aparecida reafirmou à Igreja
latino-americana que sua missão implica
necessariamente advogar pela justiça e
defender os pobres, especialmente em relação
às situações que produzem morte.
Conclusão
• Que esta Campanha da Fraternidade suscite, com as
luzes do Espírito de Deus, muitas ações e parcerias
que contribuam para a erradicação dessa chaga
desumanizante, que impede pessoas de trilharem
seus caminhos e crescerem como filhos e filhas de
Deus. Afinal, “foi para a liberdade que Cristo nos
libertou”.
• A Virgem das Dores, que amparou seu Filho
crucificado, faça crescer entre os cristãos e pessoas
de boa vontade a solicitude pelos irmãos e irmãs
cruelmente explorados no tráfico humano.
Missa contra o tráfico humano, Buenos Aires, 25 de setembro de 2012
http://www.youtube.com/watch?v=413bOylvQdo#t=222 – Homilia: “onde está teu irmão?”, 8’11’’
ORAÇÃO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE
Ó Deus,
Sempre ouvis o clamor do vosso povo
E vos compadeceis dos oprimidos e escravizados.
Fazei que experimentem a libertação da cruz
e a ressurreição de Jesus.
Nós vos pedimos pelos que sofrem
o flagelo do tráfico humano.
Convertei-nos pela força do vosso Espírito,
e tornai-nos sensíveis às dores destes nossos irmãos.
Comprometidos na superação deste mal,
vivamos como vossos filhos e filhas,
na liberdade e na paz.
Por Cristo nosso Senhor.
Amém!
O jejum que
eu quero
O sofrimento e humilhação das vítimas é a chave de leitura para a
oração, a reflexão e a ação. Na esperança da sua libertação, a fé cristã
pode convergir com a fé das vítimas. Então, na solidariedade com as
vítimas, apoiando-se mutuamente na fé, abrem-se os olhos das nãovítimas para verem as coisas de outra maneira. As vítimas oferecem uma
luz específica para “ver” os conteúdos da fé. O Ressuscitado aparece
com as chagas do torturado e crucificado. Elas trazem a luz para que os
conteúdos da fé possam ser compreendidos adequadamente. Mais ainda:
ajudam a ler o seguimento de Jesus, o Reino de Deus, o amor ao próximo,
a vida da Igreja. Elas entendem melhor o que significa esperança,
redenção, vida nova, nascer de novo.
O contexto atual exige esse testemunho de fé. Enfrentar, denunciar e
combater o tráfico de pessoas é confessar a fé no verdadeiro Deus.
Chegamos ao século XXI com níveis críticos de egoísmo e indiferença para
com os Abéis e Josés da vida. Diante de tanta indiferença, o cristão tem
uma tarefa crucial: revelar ao mundo que Abel e José existem e que seu
sofrimento é real! A ética cristã é essencialmente profética.
Pe Élio Gasda, sj
“Onde está o teu irmão?
A voz do seu sangue clama até Mim”, diz o Senhor Deus. Esta
não é uma pergunta posta a outrem; é uma pergunta posta a
mim, a ti, a cada um de nós. Estes nossos irmãos e irmãs
procuravam sair de situações difíceis, para encontrarem um
pouco de serenidade e de paz; procuravam um lugar melhor para
si e suas famílias, mas encontraram a morte. Quantas vezes
outros que procuram o mesmo não encontram compreensão, não
encontram acolhimento, não encontram solidariedade! E as suas
vozes sobem até Deus!
Uma vez mais vos agradeço, habitantes de Lampedusa, pela solidariedade.
Recentemente falei com um destes irmãos. Antes de chegar aqui, passaram
pelas mãos dos traficantes, daqueles que exploram a pobreza dos outros,
daquelas pessoas para quem a pobreza dos outros é uma fonte de lucro.
Quanto sofreram! E alguns não conseguiram chegar!
Papa Francisco
O jejum que eu quero, diz
o Senhor, é este: acabar
com as prisões injustas,
desfazer as correntes da
escravidão, pôr em
liberdade os oprimidos e
derrubar qualquer jugo,
repartir a comida com
quem passa fome, ... e não
te recusar diante daquele
que é tua própria carne.
Isaias, profeta. Cap.58, v.6-7