Meningites e Encefalites Vivian Gabrielle B. Amorim Coordenação: Elisa de Carvalho Internato em Saúde da Criança – HRAS Escola Superior de CIÊNCIAS DA Saúde/SES/DF.
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Meningites e Encefalites Vivian Gabrielle B. Amorim Coordenação: Elisa de Carvalho Internato em Saúde da Criança – HRAS Escola Superior de CIÊNCIAS DA Saúde/SES/DF CASO CLÍNICO I - IDENTIFICAÇÃO: IVAD, 2 anos, natural da Paraíba, procedente de Planaltina –DF II – QP: “Sonolência há 05 d”. III – HDA: Mãe relata que no final de dez/05, a criança começou a ter febre alta (38-39°C), e convulsões (crises tônicas). Levado ao hospital de Planaltina, evoluiu c/ rebaixamento do nível de consciência e rigidez de MMSS. Encaminhado ao HRAS, permaneceu 28 dias internado, sendo 14 dias em UTI (coma – Glasgow 7-8). CASO CLÍNICO Tratado c/ Aciclovir (8d), ceftriaxone (8d), fenitoína (11d) e manitol (2d) Recebeu alta c/ recuperação parcial, mas ao chegar em casa, tornou a apresentar febre e sonolência, não sendo mais possível a alimentação VO - trazido novamente ao serviço, foi internado na DIP em 30/01/06. VII – Antecedentes pessoais: nada digno de nota VIII – Antecedentes familiares: nada digno de nota Caso clínico Exame físico: Ectoscopia – REG, hidratado, hipocorado +/4+, acianótico, anictérico, febril (37,8°C). Irresponsivo, prostrado no leito. ACP – BNF, RCR 2t, s/ sopros. MV rude bilateral, c/ roncos esparsos – de transmissão. Abdomen – Plano, s/ VMG, algo distendido, timpânico, RHA +. Extremidades – bem perfundidas, sem edema. SN – Torporoso, gemente. Não obedece a comandos nem se comunica com o examinador. Sem sinais meníngeos. Pupilas isocóricas e fotorreagentes. Hipertonia (flexão) de MSD e hipotonia de MSE (extensão). Caso clínico Exames complementares – HC e bioquímica 29/01 31/01 01/02 09/02 14/02 Hb 7,1 7,1 7,0 7,1 6,6 Hto 23,8 23,6 24,2 24,7 23,3 Leu 7200 9200 10100 11600 16700 Seg 60% 63 72 68 52 Bast 02 01 0 0 0 Linf 29 30 26 27 42 Mono 07 02 01 4 3 Eos 02 04 01 0 2 Plaq 21000 170000 208000 507000 329000 VHS - 25 23 - - Gran. tóxicas Caso clínico 29/01 31/01 01/02 09/02 14/02 Glicose 112 - 114 - 79 Uréia 11 - 12 26 27 Creatinin a 0,4 - 0,4 0,4 0,3 Ca++ 9,7 - 10 14,6 10,5 Na+ 134 - 143 135 134 K+ 2,8 - 4,5 5,3 5,2 Cl- 98 - 109 99 98 TGO/TGP 38/14 - 29/20 - - PCR - - - 2,47 2,93 Caso clínico EAS (09/02) – dens = 1010, pH= 8, Hb = +++, céls. raras, leucócitos – 3 p/c, hemácias: numerosas, bact. + Rx tórax (02/02) - normal Hemocultura (19/01/06) – Staphilococcus epidermidis Gasometrias 08/02/06 09/02/06 pH = 7,17 7,48 pCO2 = 18 29 pO2 = 137 128 Sat O2 = 98% 99% HCO3 - = 6 21 RM do encéfalo de um indivíduo com meningoencefalite herpética. O padrão é altamente sugestivo de herpes devido à distribuição da lesão na região têmporoinsular. Há aumento do volume das regiões acometidas que também apresentam tênue impregnação meníngea e pequenos focos de hemorragia superficial. Observe ainda o comprometimento menos intenso do lobo temporal contra-lateral. CASO CLÍNICO Evolução – picos febris diários, melhora da hipertonia – persiste rebaixamento do sensório; TC em 13\02 compatível com seqüela de AVC isquêmico, bilateral - lobos parietais Laudo EEG (19\02\06) Ritmos do sono ausentes (em sono induzido) Acentuada desorganização difusa da atividade de base Depressão de ritmos fisiológicos em região temporal posterior e parieto occipital bilateralmente Paroxismos epileptiformes bifrontais independentes, predominando à direita CASO CLÍNICO Hipóteses diagnósticas 1a internação: Encefalite herpética 2a internação: ECNP pós encefalite herpética AVE isquêmico - vasculite pós-infecciosa Condutas Dieta por SNE Fenobarbital mantido. Pesquisa de foco infeccioso Em 06/02 – iniciado baclofeno + diazepam Ibuprofeno e dipirona em caso de febre Acidose em 08/02 – iniciado cefepime em 09/02 14/02 – Meropenem - Programada alta Meningites e Encefalites Meningite: infecção ou inflamação aguda das meninges. Quase sempre há um certo grau de acometimento do cérebro e vasos meningoencefalites; Encefalite: infecção/ inflamação do parênquima cerebral com disfunção local ou difusa – geralmente têm etiologia viral; Meningites e Encefalites Meningites Bacterianas Virais Encefalites Granulomatosas TB e Fungos (imunossuprimidos) Outros (CA, química, por cisticercose) Toxoplasmose Meningites No Brasil, em 1992, as meningites bacterianas agudas de causa determinada tinham como agentes mais comuns Haemophilus influenzae (20,3%), Neisseria meningitidis (20,2%) e Streptococcus pneumoniae (11,6%) O haemophilus teve grande redução c/ a vacinação. O pneumococo é o agente mais comum fora das epidemias A taxa de letalidade é bastante variável no mundo. Alguns autores descrevem taxas de 5% a 40%, dependendo da etiologia. Com a terapêutica antibiótica, a letalidade decresceu de cerca de 90% para 15% a 30%. Meningites O sistema nervoso central possui um sistema protetor eficiente contra patógenos invasivos, composto pela caixa craniana, meninges e a barreira hematoliquórica. A infecção pode ocorrer por três mecanismos: propagação direta (contigüidade): infecção dos ossos, vasos sangüíneos, sistema nervoso, traumatismo craniano ou fístula liquórica; via hematogênica (primária ou secundária a foco de infecção a distância); bainha dos nervos - olfativo, em conseqüência de traumatismo da região. RN: aspiração do LA, penetração de germes pela pele ou mucosa, e principalmente por processos infecciosos do TGI. Meningites Quadro clínico: Febre+Cefaléia+Irritabilidade Sinais de irritação meníngea Sinais de HIC (vômito em jato, abaulamento de fontanela, paralisia de abducente e oculomotor, PA - FC ...) Sinais focais (convulsão/ estrabismo) Pneumococo: + freqüencia de UTI Meningococcemia: Petéquias – equimoses que crescem e coalescem – necrose, risco de choque Meningites Idade Etiologia + provável ATB 0–2m E. coli, Klebsiella, Proteus, Aerobacter, Pseudomonas, Strepto (B), Salmonella, Listeria -Cefotaxima/ceftriaxona - Ampicilina p/ Listeria - Ampi + Genta 2m – 5a Pneumococo Haemophilus Neisseria meningitidis -Ceftriaxona Meningococo Pneumococo - Penicilina cristalina - Ampicilina Pseudomonas, S. aureus, Stafilococos coagulase – Salmonella, Listeria, fungos - Ceftazidime + ampicilina > 5a Imunodepressão Derivação ou trauma Pneumococo, stafilococos - Ceftazidime + vancomicina Meningites Diagnóstico (confirmação) – LCR Normal Citometria Predomínio 0-5 cel/ml Linfomonócitos 45-85 Meningite bacteriana 200 – 20.000 PMN Meningite 10 – 2000 parcialmente tratada Meningite viral 10 – 2000 Gli < 40 PTN 15-45 > 150 Linfomonócitos Normal a baixa < 100 Linfomonócitos Normal < 100 Meningites Exames Complementares: Líquor – bioquímica (Gil, PTN, Cl-), cultura e bacterioscopia, citologia e citometria. HC e hemocultura, EAS, Rx tórax. Contra-indicações para a punção lombar: Absolutas – instabilidade hemodinâmica, infecção cutânea no local da punção, trombocitopenia abaixo de 10.000/mm3 Relativas – suspeita de HIC, Obs: Leucograma não distingue bacterianas de virais. Meningococcemia pode figurar com HC normal e hipoglicorraquia. Mau prognóstico se LCR pouco alterado (!) Meningites Tratamento Suporte hidroeletrolítico e analgesia Controle das convulsões e febre meningococo Antibioticoterapia empírica Quimioprofilaxia – contatos íntimos: rifampicina 10 mg/kg/dose, duas doses, via oral, por dois dias e 600 mg para adultos a cada 12 horas, por 2 dias. Complicações – iniciais e tardias Devido à destruição inflamatória de célular cerebrais, injúrias vasculares ou gliose 2ária. Déficits motores/ sensoriais focais, hidrocefalia, SIHAD, epilepsia. Hipoacusia é a seqüela + freqüente Encefalites Extremamente raras (e de difícil prevenção) Acometimento primário do encéfalo; Repercussões vão depender da área atingida e concentração de neurônios lesados; Instalação pode ser súbita ou gradual, com pródromos inespecíficos acompanhando ou precedendo quadro neurológico (febre, calafrios, mal-estar geral e cefaléia). Quase sempre virais – em geral com evolução benigna – exceto a forma herpética Encefalites virais Etiologias 50% dos casos – não identificado HSV Zoster Arboviroses (fáscies típica – amímica, letárgica) Sarampo, poliomielite, rubéola Encefalites virais Quadro clínico: Período de incubação variável – na de etiologia herpética. Comprometimento encéfálico - febre, ataxia, apatia, hiper-reflexia, reflexos patológicos, paresias, confusão, delírio e coma. Sinais meníngeos + convulsões também presentes. Encefalites virais Diagnóstico Clínica LCR em geral, turvo (em “água de côco”), c/ pleocitose (40 a 3500 cel/mm3 - monócitos), aumento de PTN, glicose e cloretos normais EEG – lesões difusas, alteração bilateral em surtos (lateral-anterior) TC / RM Diferenciar: meningite tuberculosa, S. de Reye, tumores ou abcessos, intoxicação – saturnismo Encefalites virais Tratamento Específico: Aciclovir Na suspeita de encefalite herpética: iniciar dexametasona aciclovir por 10 dias Suporte Sedativos Manitol Anticonvulsivantes – fenobarbital Hidratação Antitérmicos Complicações Epilepsia ECNP, paralisia Outras meningoencefalites Causas mais raras: TB Sífilis Cisticercose Toxoplasmose Fungos criptococose Referências GOLDMAN, L. BENNETT, J.C. et cols – Cecil - Tratado de Medicina Interna. vol1, 21a edição. Guanabara Koogan - Rio de Janeiro, 2001. COTRAN, R. KUMAR, V. COOLINS,T. Robbins - Patologia Estrutural e Funcional. 6a ed. Guanabara Koogan – Rio de Janeiro, 2000. VERONESI, R. FOCACCIA, R. Tratado de Infectologia, 2ª ed., Atheneu, São Paulo 2002. Meningites em geral cap. 520:1-9. in: Guia de vigilância epidemiológica Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, Centro Nacional de Epidemiologia, Brasília 1998. LONGO JC, PEREIRA, CAP. Meningites bacterianas agudas. 221224 in: Prado FC, Ramos J, Valle JR. Atualização terapêutica, 20ª ed., Artes Médicas, São Paulo 2001. NELSON – Tratado de pediatria. 2000 STEFANI, Stephen Doral. BARROS, Elvino. Clínica Médica: consulta rápida – 2a ed. - Porto Alegre: Artmed, 2002