ROMANTISMO (1836-1881) Predomínio da emoção Egocentrismo Subjetivismo Espiritualismo Nacionalismo Maior liberdade formal Comparações, metáforas e adjetivações constantes para dar vazão à fantasia Vocabulário.
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Transcript ROMANTISMO (1836-1881) Predomínio da emoção Egocentrismo Subjetivismo Espiritualismo Nacionalismo Maior liberdade formal Comparações, metáforas e adjetivações constantes para dar vazão à fantasia Vocabulário.
ROMANTISMO (1836-1881)
Predomínio da emoção
Egocentrismo
Subjetivismo
Espiritualismo
Nacionalismo
Maior liberdade formal
Comparações, metáforas e adjetivações
constantes para dar vazão à fantasia
Vocabulário e sintaxe mais brasileiros
Gosto pelas redondilhas
Aspectos medievais
Apego à cultura popular
Natureza que interage com o eu lírico
Cristianismo (Religiosidade)
Mulher idealizada (virgem inacessível ou
sensual)
Gosto pela noite e pelo mistério
GERAÇÕES ROMÂNTICAS
1ª geração: nacionalista, indianista ou
ufanista
2ª geração: byroniana, mal-do-século ou
ultrarromântica
3ª geração: condoreira, hugoana ou social
ROMANTISMO POESIA
GONÇALVES
DIAS
Nascido em Caxias, era filho de uma união não
oficializada entre um comerciante português
com uma mestiça cafuza brasileira (o que muito
o orgulhava de ter o sangue das três raças
formadoras do povo brasileiro: branca, indígena
e negra), e estudou inicialmente por um ano
com o professor José Joaquim de Abreu, quando
começou a trabalhar como caixeiro e a tratar da
escrituração da loja de seu pai, que veio a
falecer em 1837.
Iniciou seus estudos de latim, francês e filosofia em 1835
quando foi matriculado em uma escola particular.
Foi estudar na Europa, em Portugal em 1838 onde
terminou os estudos secundários e ingressou na Faculdade
de Direito da Universidade de Coimbra (1840), retornando
em 1845, após bacharelar-se. Mas antes de retornar, ainda
em Coimbra, participou dos grupos medievistas da Gazeta
Literária e de O Trovador, compartilhando das ideias
românticas de Almeida Garrett, Alexandre Herculano e
Antonio Feliciano de Castilho.
Por se achar tanto tempo fora de sua pátria
inspira-se para escrever a “Canção do exílio” e
parte dos poemas de Primeiros cantos e
Segundos cantos; o drama Patkull; e Beatriz de
Cenci, depois rejeitado por sua condição de
texto "imoral" pelo Conservatório Dramático do
Brasil. Foi ainda neste período que escreveu
fragmentos do romance biográfico Memórias de
Agapito Goiaba, destruído depois pelo próprio
poeta, por conter alusões a pessoas ainda vivas.
No ano seguinte ao seu retorno conheceu
aquela que seria sua grande musa inspiradora:
Ana Amélia Ferreira Vale. Várias de suas peças
românticas, inclusive “Ainda uma vez — Adeus”
foram escritas para ela. Nesse mesmo ano ele
viajou para o Rio de Janeiro, então capital do
Brasil, onde trabalhou como professor de
história e latim do Colégio Pedro II, além de ter
atuado como jornalista, contribuindo para
diversos periódicos: Jornal do Commercio,
Gazeta Oficial, Correio da Tarde e
Sentinela da Monarquia, publicando crônicas,
folhetins teatrais e crítica literária.
Em 1849 fundou com Manuel de Araújo
Porto-alegre e Joaquim Manuel de Macedo
a revista Guanabara, que divulgava o
movimento romântico da época. Em 1851
voltou a São Luís do Maranhão, a pedido
do governo para estudar o problema da
instrução pública naquele estado.
Gonçalves Dias pediu Ana Amélia em casamento
em 1852, mas a família dela, em virtude da
ascendência mestiça do escritor, refutou
veementemente o pedido. No mesmo ano
retornou ao Rio de Janeiro, onde casou-se com
Olímpia da Costa. Logo depois foi nomeado
oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros.
Passou os quatro anos seguintes na Europa
realizando pesquisas em prol da educação
nacional. Voltando ao Brasil foi convidado a
participar da Comissão Científica de Exploração,
pela qual viajou por quase todo o norte do país.
Voltou à Europa em 1862 para um
tratamento de saúde. Não obtendo
resultados retornou ao Brasil em 1864 no
navio Ville de Boulogne, que naufragou na
costa brasileira; salvaram-se todos, exceto
o poeta que foi esquecido agonizando em
seu leito e se afogou. O acidente ocorreu
nos baixios de Atins, perto da vila de
Guimarães no Maranhão.
CARACTERÍSTICAS
LITERÁRIAS
Gonçalves Dias foi um dos poucos poetas que soube dar um
toque realmente brasileiro na sua poesia romântica, mesmo
escrevendo sobre todos os temas mais caros ao Romantismo
europeu, como o amor impossível, a religião, a tristeza e a
melancolia. Suas paixões são reveladas muitas vezes
n u m to m in g ên u o e mel an cól ico, mas mu it o me n os
tempestuosas e depressivas que as dos poetas da segunda
geração romântica. A morte e a fuga do real não lhe são tão
atraentes, principalmente quando esse real inclui
as belezas naturais de sua terra tão amada.
POEMAS
Se se morre de amor! – Não, não se
[morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n’alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve e no que vê prazer alcança!
Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d’amor arrebentar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro
Clarão, que as luzes ao morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D’amor igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração – abertos
Ao grande, ao belo, é ser capaz d’extremos,
D’altas virtudes, té capaz de crimes!
Compreender o infinito, a imensidade
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D’aves, flores,murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre! [...]
ÁLVARES DE
AZEVEDO
Manuel Antônio Álvares de Azevedo, nasceu aos 12 de
setembro de 1831, em São Paulo. Matriculou-se no curso
de Direito em 1848 e deu início à produção literária, ao
passo que começou a sentir os primeiros sintomas de
tuberculose.
Alguns dizem que o autor teve uma vida boêmia e para
outros, uma vida casta. Contudo, suas poesias mostram
uma ideia fixa em sua própria morte, provavelmente por
saber do estado de saúde em que se encontrava.
Entretanto, o poeta também passou pela experiência da
morte prematura do irmão e de seus colegas de
faculdade.
Inspirado pela literatura de Lord Byron e Musset,
Álvares de Azevedo impregnou suas poesias com
ares sarcásticos, irônicos e com ideias de
autodestruição, morte, dor e de uma visão de
amor irreal e idealizado por donzelas virgens.
Além disso, seus poemas de temáticas de
frustração e sofrimento ganham um ar
melancólico por lembranças da infância, da mãe
e da irmã.
Álvares de Azevedo parecia viver uma dualidade
de sentimentos que são transpassadas para sua
literatura: ora é meigo e sentimental, ora é
mordaz e trágico. Por ter o pessimismo como
âncora de seus poemas, foi considerado o
responsável pelo “mal do século”, caracterizado
pelo sentimento melancólico e pelo desencanto.
Em 1851, a ideia de que a morte era certeira em
sua vida, começou a escrever cartas à mãe, à
irmã e aos amigos certificando-os do seu
inevitável destino.
Sua temática voltada à morte pode ser
considerada também como um refúgio, uma
fuga da realidade conturbada que vivia e da
relação com o mundo que o cercava, o qual lhe
dava sensação de impotência.
O poeta desejou tanto a morte que morreu
ainda jovem, aos 20 anos, a 25 de abril de 1852.
Principal
representante do
nosso Byronismo
Poesia lírica (Lira dos vinte
anos – face Ariel e Caliban);
Prosa gótica (Macário; Noite
na taverna)
CASIMIRO
DE ABREU
Casimiro de Abreu (Casimiro José Marques
de Abreu), poeta, nasceu em Barra de São
João, RJ, em 4 de janeiro de 1839, e
faleceu em Nova Friburgo, RJ, em 18 de
outubro de 1860. É o patrono da Cadeira
n. 6 da Academia Brasileira de Letras, por
escolha do fundador Teixeira de Melo.
Era filho natural do abastado comerciante
e fazendeiro português José Joaquim
Marques Abreu e de Luísa Joaquina das
Neves. O pai nunca residiu com a mãe de
modo permanente, acentuando assim o
caráter ilegal de uma origem que pode ter
causado bastante humilhação ao poeta.
Passou a infância sobretudo na
propriedade materna, Fazenda da Prata,
em Correntezas. Recebeu apenas
instrução primária, estudando dos 11 aos
13 anos no Instituto Freeze, em Nova
Friburgo (1849-1852), onde foi colega de
Pedro Luís, seu grande amigo para o resto
da vida.
Em 52 foi para o Rio de Janeiro praticar o
comércio, atividade que lhe desagradava, e a
que se submeteu por vontade do pai, com o
qual viajou para Portugal no ano seguinte. Em
Lisboa iniciou a atividade literária, publicando
um conto e escrevendo a maior parte de suas
poesias, exaltando as belezas do Brasil e
cantando, com inocente ternura e sensibilidade
quase infantil, suas saudades do país. Lá
compôs também o drama Camões e o Jaú,
representado no teatro D. Fernando (1856).
Ele só tinha dezessete anos, e já
colaborava na imprensa portuguesa, ao
lado de Alexandre Herculano, Rebelo da
Silva e outros. Não escrevia apenas
versos. No mesmo ano de 1856, o jornal
O Progresso imprimiu o folhetim
Carolina, e na revista Ilustração LusoBrasileira saíram os primeiros capítulos
de Camila, recriação ficcional de uma
visita ao Minho, terra de seu pai.
Em 1857, voltou ao Rio, onde continuou
residindo a pretexto de continuar os estudos
comerciais. Animava-se em festas carnavalescas
e bailes e frequentava as rodas literárias, nas
quais era bem relacionado. Colaborou em A
Marmota, O Espelho, Revista Popular e no
jornal Correio Mercantil, de Francisco
Otaviano. Nesse jornal, trabalhavam dois moços
igualmente brilhantes: o jornalista Manuel
Antônio de Almeida e o revisor Machado de
Assis, seus companheiros em rodas literárias.
Publicou As primaveras em 1859. Em 60,
morreu o pai, que sempre o amparou e
custeou de bom grado as despesas da sua
vida literária, apesar das queixas
românticas feitas contra a imposição da
carreira. A paixão absorvente que
consagrou à poesia justifica a reação
contra a visão limitada com que o velho
Abreu procurava encaminhá-lo na vida
prática.
Doente de tuberculose, buscou alívio no
clima de Nova Friburgo. Sem obter
melhora, recolhe-se à fazenda de
Indaiaçú, em São João, onde veio a
falecer, seis meses depois do pai, faltando
três meses para completar vinte e dois
anos.
Em As primaveras acham-se os temas
prediletos do poeta e que o identificam
como lírico-romântico: a nostalgia da
infância, a saudade da terra natal, o gosto
da natureza, a religiosidade ingênua, o
pressentimento da morte, a exaltação da
juventude, a devoção pela pátria e a
idealização da mulher amada.
À simplicidade da matéria poética corresponde
amaneiramento paralelo da forma. Casimiro de
Abreu desdenha o verso branco e o soneto,
prefere a estrofe regular, que melhor transmite
a cadência da inspiração “doce e meiga” e o
ritmo mais cantante. Colocado entre os poetas
da segunda geração romântica, expressa,
através de um estilo espontâneo, emoções
simples e ingênuas. Estão ausentes na sua
poesia a surda paixão carnal de Junqueira
Freire, ou os desejos irritados, macerados, do
insone Álvares de Azevedo.
FAGUNDES
VARELA
Fagundes Varela (Luís Nicolau F.V.),
poeta, nasceu em Rio Claro, RJ, em 18 de
agosto de 1841, e faleceu em Niterói, RJ,
em 17 de fevereiro de 1875. É o patrono
da Cadeira nº 11, por escolha do fundador
Lúcio de Mendonça.
Era filho do Dr. Emiliano Fagundes Varela
e de Emília de Andrade, ambos de famílias
fluminenses bem situadas. Passou a
infância na fazenda natal e na vila de S.
João Marcos, de que o pai era juiz.
Depois, residiu em vários locais. Primeiro
em Catalão (Goiás), para onde o
magistrado fora transferido em 1851 e
onde Fagundes Varela teria conhecido o
juiz municipal Bernardo Guimarães.
De volta à terra natal, residiu em Angra
dos Reis e Petrópolis, onde fez os estudos
do primário e secundário. Em 1859, foi
terminar os preparatórios em São Paulo.
Só em 1862 matricula-se na Faculdade de
Direito, que nunca terminou, preferindo a
literatura e dissipando-se na boemia. Em
1861, publicara o primeiro livro de
poesias, Noturnas.
Contraiu matrimônio com a artista de circo
Alice Guilhermina Luande, de Sorocaba,
que provocou escândalo na família e
agravou-lhe a penúria financeira. O
primeiro filho, Emiliano, morto aos três
meses de idade, inspirou-lhe um dos mais
belos poemas, “Cântico do Calvário”.
A partir daí, acentuam-se nele a tendência
ambulatória e o alcoolismo, mas também a
inspiração criadora. Publicou Vozes da América
em 1864 e a sua obra-prima Cantos e fantasias,
em 1865. Nesse ano, ou em 66, durante uma
viagem prolongada a Recife, faleceu-lhe a
mulher, que não o acompanhara ao Norte. Ele
voltou a São Paulo, matriculando-se em 1867 no
4º ano do curso de Direito. Abandonou de vez o
curso e recolheu-se à casa paterna, na fazenda
onde nascera, em Rio Claro, onde permaneceu
até 1870, poetando e vagando pelos campos.
Deixou-se sempre ficar na vida indefinível de
boêmio, sem rumo, sem destino determinado.
Casou-se pela segunda vez com a prima Maria
Belisária de Brito Lambert, com quem teve duas
filhas e um filho, este também falecido
prematuramente. Em 1870, mudou-se com o pai
para Niterói, onde viveu até o fim da vida, com
largas estadas nas fazendas dos parentes e
certa frequência nas rodas da boemia intelectual
do Rio.
Vivendo na última fase do Romantismo, a sua poesia
revela um hábil poeta do verso. Em “Arquétipo”, um dos
primeiros poemas, faz profissão de fé de tédio
romântico, em versos brancos. Embora o preponderante
em sua poesia seja a angústia e o sofrimento,
evidenciam-se outros aspectos importantes: o patriótico,
em O estandarte auriverde (1863) e Vozes da América
(1864); o amoroso, na fase lírica, dos poemas ligados à
natureza, e, por fim, o místico e religioso. O poeta não
deixa de lado, também, os problemas sociais, como o
abolicionismo. Por isso, considerado um precursor da
Condoreirismo (antecessor de Castro Alves).
CASTRO
ALVES
Antônio Frederico de Castro Alves, poeta, nasceu
em Muritiba, BA, em 14 de março de 1847, e
faleceu em Salvador, BA, em 6 de julho de 1871. É
o patrono da Cadeira nº 7 da Academia Brasileira
de Letras, por escolha do fundador Valentim
Magalhães.
Era filho do médico Antônio José Alves, mais tarde
professor na Faculdade de Medicina de Salvador, e
de Clélia Brasília da Silva Castro, falecida quando o
poeta tinha 12 anos.
Por volta de 1853, ao mudar-se com a família
para a capital, estudou no colégio de Abílio
César Borges, futuro barão de Macaúbas, onde
foi colega de Rui Barbosa, demonstrando
vocação apaixonada e precoce para a poesia.
Mudou-se em 1862 para o Recife, onde concluiu
os preparatórios e, depois de duas vezes
reprovado, matriculou-se na Faculdade de
Direito em 1864. Cursou o 1º ano em 65, na
mesma turma que Tobias Barreto. Logo
integrado na vida literária acadêmica e admirado
graças aos seus versos, cuidou mais deles e dos
amores que dos estudos.
Em 66, perdeu o pai e, pouco depois, iniciou a
apaixonada ligação amorosa com Eugênia
Câmara, que desempenhou importante papel em
sua lírica e em sua vida.
Nessa época Castro Alves entrou numa fase de
grande inspiração e tomou consciência do seu
papel de poeta social. Escreveu o drama
Gonzaga ou a Revolução de Minas e, em 68, vai
para o Sul em companhia da amada,
matriculando-se no 3º ano da Faculdade de
Direito de São Paulo, na mesma turma de Rui
Barbosa.
No fim do ano o drama é representado com êxito
enorme, mas o seu espírito se abate pela ruptura com
Eugênia Câmara. Durante uma caçada, a descarga
acidental de uma espingarda lhe feriu o pé esquerdo,
que, sob ameaça de gangrena, foi afinal amputado no
Rio, em meados de 69. De volta à Bahia, passou grande
parte do ano de 70 em fazendas de parentes, à busca de
melhoras para a saúde comprometida pela tuberculose.
Em novembro, saiu seu primeiro livro, Espumas
flutuantes, único que chegou a publicar em vida,
recebido muito favoravelmente pelos leitores.
Daí por diante, apesar do declínio físico, produziu alguns
dos seus mais belos versos, animado por um derradeiro
amor, este platônico, pela cantora Agnese Murri. Faleceu
em 1871, aos 24 anos, sem ter podido acabar a maior
empresa que se propusera, o poema Os escravos, uma
série de poesias em torno do tema da escravidão. Ainda
em 70, numa das fazendas em que repousava, havia
completado A cascata de Paulo Afonso, que saiu em 76
com o título A cachoeira de Paulo, e que é parte do
empreendimento, como se vê pelo esclarecimento do
poeta: "Continuação do poema Os escravos, sob título
de Manuscritos de Stênio."
CARACTERÍSTICAS
LITERÁRIAS
Duas vertentes se distinguem na poesia
de Castro Alves: a feição lírico-amorosa,
mesclada da sensualidade de um
autêntico filho dos trópicos, e a feição
social e humanitária, em que alcança
momentos de fulgurante eloquência épica.
Como poeta lírico, caracteriza-se pelo
vigor da paixão, a intensidade com que
exprime o amor, como desejo, frêmito,
encantamento da alma e do corpo.
A grande e fecundante paixão por Eugênia
Câmara percorreu-o como corrente
elétrica, reorganizando-lhe a
personalidade, inspirando alguns dos seus
mais belos poemas de esperança, euforia,
desespero, saudade. Outros amores e
encantamentos constituem o ponto de
partida igualmente concreto de outros
poemas.
Enquanto poeta social, extremamente
sensível às inspirações revolucionárias e
liberais do século XIX, Castro Alves viveu
com intensidade os grandes episódios
históricos do seu tempo e foi, no Brasil, o
anunciador da Abolição e da República,
devotando-se apaixonadamente à causa
abolicionista, o que lhe valeu a
antonomásia de "Cantor dos escravos".
A sua poesia se aproxima da retórica,
incorporando a ênfase oratória à sua
magia. No seu tempo, mais do que hoje, o
orador exprimia o gosto ambiente, cujas
necessidades estéticas e espirituais se
encontram na eloquência dos poetas. Em
Castro Alves, a embriaguez verbal
encontra o apogeu, dando à sua poesia
poder excepcional de comunicabilidade.
POEMAS
O ADEUS DE
TERESA
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala...
E ela, corando, murmurou-me: "adeus."
Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa...
E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"
Passaram tempos... sec'los de delírio
Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse — "Voltarei!...
[descansa!...
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"
Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d'Ela e de um homem lá na
[orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
QUEM DÁ AOS
POBRES
EMPRESTA A DEUS
Eu, Que a pobreza de meus pobres cantos
Dei aos heróis—aos miseráveis grandes—,
Eu, que sou cego, —mas só peço luzes...
Que sou pequeno, — mas só fito os
[Andes....
Canto nest'hora, como o bardo antigo
Das priscas eras, que bem longe vão,
O grande nada dos heróis, que dormem
Do vasto pampa no funéreo chão...
Duas grandezas neste instante cruzam-se!
Duas realezas hoje aqui se abraçam!...
Uma — é um livro laureado em luzes...
Outra — uma espada, onde os lauréis se
[enlaçam.
Nem cora o livro de ombrear coto sabre...
Nem cora o sabre de chamá-lo irmão...
Quando em loureiros se biparte o gládio
Do vasto pampa no funéreo chão.
[…]
Ai! quantas vezes a criança loura
Seu pai procura pequenina e nua,
E vai, brincando co'o vetusto sabre,
Sentar-se à espera no portal da rua...
Mísera mãe, sobre teu peito aquece
Esta avezinha, que não tem mais pão!...
Seu pai descansa — fulminado cedro —
Do vasto pampa no funéreo chão.
Mas, já que as águias lá no sul tombaram
E os filhos d'águias o Poder esquece...
"'É grande, é nobre, é gigantesco, é
[santo!...
Lançai — a esmola, e colhereis — a prece!
Oh! dai a esmola... que do infante lindo
Por entre os dedos da pequena mão,
Ela transborda... e vai cair nas tumbas
Do vasto pampa no funéreo chão [...]