A Pata nada, mas será que ainda brinca?

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A Pata nada, mas será que ainda brinca?

O mundo está mudando! A rapidez das alterações é tão inédita que, por exemplo, aluno que entrou agora no 1º ano do Ensino Fundamental, antes mesmo de ele botar o pezinho para ser alfabetizado por nós na escola, antes de ter contato mais intenso conosco, educadores educadoras, já tinha assistido a mais de 5.000 horas de televisão. Calcula-se que uma criança assista, em média, 3 horas de TV por dia (1.000 horas por ano!), a partir dos dois anos de idade; portanto dos dois anos aos seis anos, quando ela entra no Ensino Fundamental, teve contato com milhares e milhares de informações e estímulos. E é assim que ela chega na escola, senta no primeiro dia de aula e fica esperando...E nós, quantas vezes, começamos a aula dizendo: “A pata nada”. Não se confunda conhecimento com informação. Conhecimento é seletivo, informação é cumulativa. A nossa escola, de maneira geral, principalmente a escola mais atrasada, nos passou fortemente a ideia de que informação era conhecimento. E não é. Informação, repita-se, é cumulativa enquanto que conhecimento é seletivo. Por isso uma das tarefas fundamentais da família e da escola é ajudar as crianças e jovens a desenvolverem critérios de seleção, em vez de soterrá-los com informações. Velocidade, movimento, correria... As crianças também são induzidas a viverem turbinadas; a cada dia se tem menos tempo, levanta-se mais cedo e vai-se deitar mais tarde. E vai-se deitar com débito, achando que deveria estar acordado ainda, fazendo coisas... A ciência nos prometeu, há cem anos, no início do século XX, que, quanto mais tecnologia, mais tempo livre, e nós estamos numa explosão tecnológica, quase sem tempo nenhum... Hoje há crianças de seis anos que não têm tempo para nada. Elas têm agenda de executivo! Você olha, essa criança já está neurótica... Não pode ficar parada, brincando: a família tem que preencher o tempo dela com tarefas, a escola também tem que dar tarefas... Tem escola, inclusive, que enche a criança de tarefa na sexta-feira, para trazer na segunda. É um crime contra a infância! Sabe o que faz o aluno? Passa o final de semana preocupado com aquilo, não faz, vai fazer somente no domingo à noite depois que está cansado, quase dormindo em cima do caderno; e vai criar raiva em relação ao nosso trabalho. Nós dizemos assim: “Ah, mas é preciso...” É preciso ou será que é questão de planejamento? Nenhum de nós, professor ou professora, gosta de levar trabalho para casa, por que o aluno gostaria? Nós levamos, temos que levar trabalho para corrigir, planejamento etc. Mas, se pudéssemos, não levaríamos!

Quem confunde os conceitos, sufoca os alunos com informação, achando que eles precisam saber tudo o que está programado e, como nunca dá tempo de cumprir o programa, eles, discentes, não sentem prazer com aquilo que fazem e ficam o tempo todo atarefados com tantas lições (que a família até acha que isso é um sinal de uma escola boa). Existe algum erro de planejamento da escola ou da família quando a criança não tem tempo para brincar. Criança tem que brincar. É assim que também se aprende. Aprende-se com o outro, com a imaginação, com o lúdico. A pata brinca, além de nadar... Autor: Mário Sérgio Cortella