Transcript cultura um conceito antropolotico sintese
CULTURA: UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO
Síntese da obra de Roque de Barros Laraia
Como conciliar a unidade biológica com a grande diversidade cultural da espécie humana.
Confúcio Heródoto Tácito Marco Polo José de Anchieta Montaigne Marcus V. Pollio
Desde a Antiguidade, foram comuns as tentativas de explicar as diferenças de comportamento entre os homens, a partir das variações dos ambientes físicos.
As diferenças de comportamento entre os homens não podem ser explicadas através das diversidades somatológicas ou mesológicas. O determinismo biológico e o determinismo geográfico foram incapazes de resolver o dilema.
1. O Determinismo Biológico
Algumas teorias atribuem capacidades específicas a “raças” ou a outros grupos humanos.
Os antropólogos estão convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais.
UNESCO
Os dados científicos de que dispomos atualmente não confirmam a teoria segundo a qual as diferenças genéticas hereditárias constituiriam um fator de importância primordial entre as causas das diferenças que se manifestam entre as culturas e as obras das civilizações dos diversos povos ou grupos étnicos.
Eles nos informam, pelo contrário, que essas diferenças se explicam, antes de tudo, pela história cultural de cada grupo. Os fatores que tiveram um papel preponderante na evolução do homem são a sua faculdade de aprender e a sua plasticidade. Esta dupla aptidão é o apanágio de todos os seres humanos. Ela constitui, de fato, uma das características específicas do Homo Sapiens.
No estado atual de nossos conhecimentos, não foi ainda provada a validade da tese segundo a qual os grupos humanos diferem uns dos outros pelos traços psicologicamente inatos, quer se trate de inteligência ou temperamento. As pesquisas cientificas revelam que o nível das aptidões mentais é quase o mesmo em todos os grupos étnicos.
Nem as diferenças biológicas entre homens e mulheres podem explicar as diferenças comportamentais. A divisão de tarefas é determinada culturalmente.
O comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo: endoculturação.
2. O determinismo geográfico
Segundo esta teoria, as diferenças de ambiente físico condicionam a diversidade cultural (Huntington, 1914 – Civilization and Climate – o clima foi apontado como relevante na definição do progresso).
A partir de 1920 – Franz Boas, Wissler Kroeber, entre outros, refutaram este tipo de determinismo: a) a influência geográfica é limitada b) pode haver uma grande diversidade cultural no mesmo ambiente geográfico.
Hoje a ciência rejeita a tese da “ação mecânica das forças naturais sobre uma humanidade puramente receptiva.
“A cultura age seletivamente”, e não casualmente sobre seu meio ambiente, “explorando determinadas possibilidades e limites ao desenvolvimento, para o qual as forças decisivas estão na própria cultura e na história da cultura”.
A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores porque possui cultura.
3. Antecedentes Históricos do Conceito de Cultura ALEMANHA - Kultur simbolizava todos os aspectos espirituais de uma comunidade FRANÇA - Civilization realizações materiais de um povo
Edward Tylor (1832-1917) – sintetizou os dois conceitos no vocábulo inglês - Culture
Conceito:
Conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
Todas as possibilidades de realização humana Cultura se aprende, não é uma aquisição inata.
3. Antecedentes Históricos do Conceito de Cultura
John Locke (1632-1704) Jacques Turgot (1727-1781) Jean Jacques Rosseau (1712-1778) Tylor (1871): “Todo o comportamento aprendido” Hoje “Tudo aquilo que independe de uma transmissão genética” “O homem diferencia-se dos demais animais por ter a seu dispor duas notáveis propriedades: a possibilidade de comunicação oral e a capacidade de fabricação de instrumentos, capazes de tornar mais eficiente o seu aparato biológico”.
4. O desenvolvimento do conceito de Cultura
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Edward Tylor Formulou o conceito de cultura do ponto de vista antropológico Cultura pode ser objeto de um estudo sistemático, objetivo e uma análise capazes de proporcionar a formulação de leis sobre o processo cultural e a evolução Afirma a igualdade da natureza humana Explica a diversidade como resultado da desigualdade de estágios existentes no processo da evolução (em sua época a Europa sofria o impacto da “Origem das espécies” de Darwin.
Outros antropólogos evolucionistas
Maine – desenvolvimento das instituições jurídicas Bachofen – instituição do matriarcado e promiscuidade primitiva McLennan – estuda a instituição do matrimônio a partir dos casamentos por rapto.
ETNOCENTRISMO
Cultura se desenvolve de maneira uniforme de tal maneira que cada sociedade percorresse as etapas que já tinham sido percorridas pelas sociedades “mais avançadas”.
Escala evolutiva = processo discriminatório
Franz Boas – Reação ao Evolucionismo
Duas tarefas para a Antropologia 1.
A reconstrução histórica de povos ou regiões particulares; 2.
A comparação da vida social de diferentes povos cujo desenvolvimento segue as mesmas leis.
“São as investigações históricas o que convém para descobrir a origem deste ou daquele traço cultural e para interpretar a maneira pela qual toma lugar num dado conjunto sociocultural.” Cada cultura segue seus próprios caminhos em função dos diferentes eventos históricos que enfrentou (Particularismo Histórico – Escola Cultural Americana).
STOCKING (1968)
Critica Tylor por deixar de lado toda a questão do relativismo cultural e tornar impossível o moderno conceito de cultura.
Reconhece que a ideia de relativismo cultural está implicitamente associada à de evolução multilinear O mérito de Tylor está no fato de ter superado os demais cientistas de gabinete, através de uma crítica arguta e exaustiva dos relatos dos viajantes. Recusou-se a acreditar que as tribos eram desprovidas de religião.
Alfred Kroeber (1876-1960)
Mostrou como a cultura atua sobre o homem Superorgânico – sua principal obra (graças a cultura, a humanidade distanciou-se do mundo animal; o homem é um ser que está acima de suas limitações orgânicas) Se preocupou com a discussão de uma série de pontos controvertidos, pois suas explicações contrariam um conjunto de crenças populares – distinção entre o que é orgânico e o que é cultural
Alfred Kroeber (1876-1960)
Preocupação em evitar a confusão entre o orgânico e o cultural.
O homem depende muito do seu equipamento biológico (satisfação das funções vitais). Entretanto, mesmo a maneira de satisfazê-las varia muito de cultura para cultura.
Homem é um ser predominantemente cultural. Os comportamentos não são determinados biologicamente.
Para dominar o ar como um pássaro, inventa-se o avião.
Para dominar o mar como um peixe, inventa-se o barco (homem criou seu próprio processo evolutivo).
Alfred Kroeber (1876-1960)
Ao adquirir cultura o homem perdeu a propriedade animal, geneticamente determinada, de repetir os atos de seus antepassados sem a necessidade de copiá-los ou de se submeter a um processo de aprendizado (p.42).
Cesare Lombroso (1835-1909) – criminalista italiano – identificava correlacionava certa aparência física com tendência para comportamentos criminosos.
Alfred Kroeber (1876-1960)
Um adolescente sabe mais que Aristóteles Aristóteles habitando as cavernas – pouca contribuição; Bach, nascido no Congo, talvez tocasse outra música Natureza cria indivíduos inteligentes, mas é necessário que se coloque o material adequado em suas mãos.
Resumo da página 48 - ler
Alfred Kroeber (1876-1960)
• A) A cultura ofuscou o instinto humano instinto de sobrevivência instinto de preservação instinto materno instinto filial instinto sexual B) A cultura é cumulativa graças ao sistema articulado de comunicação oral
IDEIA SOBRE A ORIGEM DA CULTURA (cap. 5)
Homem produziu cultura pela primeira vez a partir do momento em que seu cérebro foi modificado pelo processo evolutivo dos primatas.
Para Richard LeackeyEsta mudança no cérebro teria ocorrido ainda na árvore, com a eclosão da visão estereoscópica e a utilização das mãos permitiu que se pegasse um objeto e lhe atribuísse um significado.
Para David Pilbeam - bipedismo
IDEIA SOBRE A ORIGEM DA CULTURA (cap. 5)
Claude Lévi-Strauss – Cultura surge quando o homem convencionou a primeira norma = proibição do incesto, comum a todas as culturas (mãe, filha, irmã)
IDEIA SOBRE A ORIGEM DA CULTURA (cap. 5)
Para Kroeber, a cultura apareceu como um acontecimento súbito, uma alteração orgânica.
Para a Igreja, o homem adquiriu cultura quando recebeu do Criador uma alma imortal Cultura se desenvolveu simultaneamente com o próprio equipamento biológico (bipedismo e desenvolvimento cerebral
Teorias Modernas sobre Cultura 6
Roger Keesing - Considera a cultura como um sistema adaptativo.
CONSENSO Cultura são sistemas (de padrões de comportamentos transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos.
Mudança cultural é primariamente um processo de adaptação equivalente à seleção natural – o homem é um animal.
Teorias Modernas sobre Cultura 6
3. O domínio mais adaptativo da cultura são as tecnologias, economias de subsistência e elementos de organização social.
4. Componentes ideológicos dos sistemas culturais podem ter consequências adaptativas no controle da população, subsistência e manutenção do ecossistema.
Teorias Modernas sobre Cultura 6
Teorias Idealistas de Cultura: Cultura como sistema cognitivo (sistema de conhecimento) Cultura como sistemas estruturais – Claude Lévis-Strauss – “Cultura como sistema simbólico que é criação cumulativa da mente humana”.
Estruturação dos domínios culturais: Mito, Arte, Parentesco, Linguagem
Teorias Modernas sobre Cultura 6
Cultura como sistema simbólico Cultura não é complexo de comportamentos concretos, mas um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções, para governar o comportamento.
Todos os homens são geneticamente aptos para receber um programa, mas poderia receber mil programas.
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COMO OPERA A CULTURA
“A Cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo”. Ruth Benedict Reagimos de forma depreciativa em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Discriminamos o comportamento desviante.
O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura.
COMO OPERA A CULTURA
Etnocentrismo
(fenômeno universal) O homem vê o mundo através de sua cultura e considera o seu modo de vida mais correto e mais natural.
Ocorrência de numerosos conflitos sociais
COMO OPERA A CULTURA
Meu povo é o centro do Universo Povo eleito, predestinado.
RACISMO, INTOLERÂNCIA, VIOLÊNCIA, XENOFOBIA
COMO OPERA A CULTURA
O ponto de referência não é a humanidade, mas o grupo.
O estranho quebra a ordem social e sobrenatural.
A CULTURA INTERFERE NO PLANO BIOLÓGIO
Reações ao Etnocentrismo
Apatia
Abandonar crenças e valores de sua sociedade Africanos Perder a motivação que os mantém unidos Kaingang
DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS
Resultado de um padrão cultural:
Leite com manga Dores no fígado Sensação de fome (pelos horários)
CURA PELA CULTURA
Resultado de um padrão cultural:
Fé na eficácia do remédio Fé nos agentes culturais Pagé
Participação na cultura
Homem
participa mais da cultura Mulher participa menos Também varia por faixa etária – limite Ninguém pode dominar todos os aspectos de uma cultura Quem não maneja bem as regras de uma cultura tem dificuldades enormes.
Lógica cultural
Toda cultura tem uma lógica própria. Não existem sistemas culturais pré-lógicos (irracionais ou mágicos) Toda cultura forma um sistema bem articulado, independente de outro sistema: o sistema mágico pode conviver com o sistema da ciência em uma mesma sociedade (sistemas simultâneos).
Lógica cultural
Relações de causa e efeito percebidas de forma diferente, mas sempre existe uma lógica: Ilhas Trobriand: não há relação entre o ato sexual e a concepção, e não existe a figura do pai.
Indios Jê: são necessárias várias relações sexuais para gerar uma criança. Caso a mãe tenha tido relações com mais de um homem, todos serão considerados pais da criança.
IndiosTupi: a criança tem apenas pai que introduz uma semente sua no interior da mãe.
Lógica cultural
Cada cultura ordenou a seu modo o mundo que a circunscreve e que esta ordenação dá um sentido cultural à aparente confusão das coisas naturais – sistema de classificação.
Todas as sociedades humanas dispõem de um sistema de classificação para o mundo natural. Estes sistemas divergem entre si porque a natureza não tem meios de determinar ao homem um só tipo taxionômico.
Entender a lógica de um sistema cultural depende da compreensão das categorias (princípios de juízos e raciocínios) constituídas pelo mesmo.
A CULTURA É DINÂMICA
As chamadas sociedades simples dão a impressão de estaticidade.
Os ritos são o que menos se altera em uma sociedade, mas também mudam (missa católica) A cultura muda porque os homens têm a capacidade de questionar os seus próprios hábitos e modificá-los. Entretanto, as sociedades simples têm uma velocidade menor para estas mudanças (menos tecnologia que a sociedade complexa).
Sociedades simples estão mais satisfeitas com as respostas dadas pela tradição, mas se abrem para algo que venha a melhorar (machado).
A CULTURA É DINÂMICA
“Qualquer sistema cultural está num contínuo processo de modificação. Assim sendo, a mudança que é inculcada pelo contato não representa um salto de um estado estático para um dinâmico mas, antes, a passagem de uma espécie de mudança para outra. O contato, muitas vezes, estimula a mudança mais brusca, geral e rápida do que as forças internas”.
Existe a mudança interna (resultante da dinâmica do próprio sistema cultural) e outra que vem pelo contato de um sistema com outro.
A CULTURA É DINÂMICA
A mudança através do contato pode representar uma catástrofe (grandes traumas), mas é a mais estudada e a mais atuante na maior parte das sociedades humanas.
Praticamente todas as sociedades sofreram e sofrem mudanças oriundas do contato. Daí surgiu o conceito de aculturação.