Memórias Sentimentais de JOÃO MIRAMAR

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Transcript Memórias Sentimentais de JOÃO MIRAMAR

Memórias
Sentimentais de
JOÃO MIRAMAR
Oswald de Andrade
Memórias Sentimentais de JOÃO MIRAMAR
“A massa ainda comerá do biscoito que eu fabrico”
(Oswald de Andrade)
Memórias Sentimentais de JOÃO MIRAMAR
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Oswald de Andrade é um dos principais
representantes da Primeira Geração do Modernismo
Brasileiro: a fase heróica – que assume uma postura
inovadora, levando para a literatura:
a) um olhar inaugural (“ver com olhos livres”);
b) a oralidade (“os erros de português não são erros
de português”);
c) a valorização da “velocidade” (montagem
cinematográfica), advinda do futurismo; e
d) a fragmentação (e remontagem) de origem
cubista;
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O autor lidera as duas tendências mais
revolucionárias da Primeira Geração, a saber, a
Antropofagia (de 1928) e a
Poesia Pau-Brasil (de 1924, ano de publicação
das Memórias...).
Ambas influenciam a composição de MSJM.
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“... pertencerá à Lírica todo poema de extensão
menor, na medida em que se não cristalizem
personagens nítidos e em que, ao contrário, uma
voz central — quase sempre um “Eu” — nele
exprimir seu próprio estado de alma. Fará parte
da Épica toda obra — poema ou não — de
extensão maior, em que um narrador apresentar
personagens envolvidos em situações e eventos.
Pertencerá à Dramática toda obra dialogada em
que atuarem os próprios personagens sem serem,
em geral, apresentados por um narrador”.
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MIRAMAR É HUMORISTA...
QUE PROCURA KODAKAR A
VIDA IMPERTURBAVELMENTE,
POR MEIO DUMA LINGUAGEM
SINTÉTICA E FULGURANTE,
CHEIA DE SOLDAS
ARROJADAS, DE UMA
CONCISÃO LAPIDAR. GRAÇAS
A ESSA LÍNGUA VIVA E
EXPRESSIVA, APOIADA EM
ELIPSES E SUBENTENDIDOS,
OSWALD DE ANDRADE
CONSEGUE OPERAR UMA
FUSÃO DA PROSA COM A
POESIA.
Antonio Candido de Mello e Souza
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PERSONAGENS PRINCIPAIS
JOÃO MIRAMAR
MÃE
CÉLIA
TIA GABRIELA
NAIR PANTICO
COTITA
JOSÉ CHELININI
ROLAH MADAMA ROCAMBOLA
CELIAZINHA
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PERSONAGENS SECUNDÁRIOS
 DA INFÂNCIA DE MIRAMAR: Gustavo Dalbert (colega de
escola), D. Matilde (a primeira professora), Seu Carvalho
(professor ateu), Monsieur Violet (outro professor), Madô
(filha de Violet, que tirava o sossego de Miramar com as suas
pernas).
 DA VIDA ADULTA: Machado Penumbra (orador, poeta
parnasiano, autor do prefácio das Memórias, Sr. Fíleas (“... um
cosmético de sonetos”, p. 69), apreciador das obras parnasianas,
Dr. Pôncio Pilatos da Glória (primo de Célia, defensor dos
interesses da família), Dr. Pepe Esborracha (o “sempre
solícito” médico da família. Miramar suspeita que ele tinha uma
certa “devoção” à Célia), Dr. Mandarin Pedroso (poeta e
orador), Britinho (homem de negócios, torna-se sócio de
Miramar), Britinhas (vizinhas e amigas de Célia), Bretas (casase com Nair), Minão da Silva (administrador da fazenda que
escrevia cartas cheias de erros gramaticais).
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Escrito entre 1914 e 1924, a obra resulta num
grande trabalho de elaboração estilística e
reconstrução da ficção brasileira, trazendo as
seguintes INOVAÇÕES NO PLANO DA FICÇÃO:
a) DESBARATAMENTO DA SINTAXE NARRATIVA
b) SINTETIZAÇÃO EXTREMA DA SIMULTÂNEA DA
MULTIPLICIDADE DOS FATOS
c) RECORRÊNCIA DO LIRISMO, DE FRASES POÉTICAS
d) ANÁLISE DOS HÁBITOS BURGUESES
e) CRÍTICA AO MUNDO PROVINCIANO E MEDÍOCRE;
DA LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA
g) USO DE UMA LINGUAGEM PRÓXIMA DA POESIA
f)
USO
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TÍTULO: como não há um caráter biográfico na obra, a
palavra “memórias” não pode ser levada a sério, assim
como o adjetivo “sentimentais” – trata-se de uma
brincadeira de Oswald, assim como é jogo/fingimento o
pseudo-prefácio – afinal, escrito por uma personagem da
obra – assinado por Machado Penumbra (cujo estilo
empolado e beletrista contrasta com a prosa de Oswald –
sintética, ágil, telegráfica. Com o prefácio, Oswald faz um
“antimanifesto na paródia lingüística e um manifesto nas
definições de técnica de composição”, na medida em que a
linguagem do manifesto se opõe à do livro (paródia), mas
as idéias de Penumbra dão conta do caráter imagéticovisual do romance
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Composto de um prefácio e 163 curtos capítulos,
cujos títulos são, quase sempre, tão fundamentais
quanto o texto propriamente dito para a
compreensão do enredo, Memórias sentimentais
de João Miramar, apesar de narrativamente
elíptico e extraordinariamente inovador em
termos lingüísticos, tem um enredo bastante
convencional, que não foge, temática e
tecnicamente à, tradição da ficção brasileira e
européia de carárter real-naturalista.
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Ao longo de capítulos revolucionariamente
curtos, repassa os principais fatos que marcaram
sua existência. As impressões deixadas pela: a)
infância; b) viagem ao exterior; c) retorno ao
Brasil; d) 1ª Guerra Mundial; e) namoro com
Célia; f) casamento; g) nascimento de sua
única
filha
(Celiazinha);
h)
o
caso
extraconjugal; i) a falência; j) divórcio
motivado pelo insucesso financeiro; k) morte da
ex-esposa; l) recuperação da guarda da filha e
da fortuna.
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A história do narrador é banal. Não tem nada de
especial. Nem acontecimentos bombásticos que
orientam para um final que exprima a vitória do
verdadeiro amor, nem conseqüências necessárias
resultantes de um determinismo psico-social. Já
aí vemos o quanto Oswald distancia-se de toda
literatura que o precedeu tanto na escolha
quanto no tratamento do tema.
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A grande inovação é o trabalho de Oswald
com a linguagem. Ao longo da obra o que mais
chama atenção não é a narrativa mas a maneira
que o narrador emprega para sugerir sua
trajetória pessoal.
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A linguagem empregada nesta obra é telegráfica.
O autor não narra, mas sugere através de
capítulos curtos uma história com começo meio
e fim. Contudo, cada capítulo é uma unidade que
até pode ser lida independente das demais. O
sentido de cada parte não se perde fora do
contexto geral da obra.
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Seu estilo opõe-se de um lado aos exageros
científico-detalhistas da escola Realista e à
passionalidade-emotiva da narrativa da escola
Romântica. Em cada um dos capítulos o trabalho
essencial do autor foi com a linguagem. Não se
deixou envolver nem pela ciência nem pela
emoção, filtrou a ambas procurando dar uma
nova conformação a literatura.
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Ao longo da obra Oswald abusa de recursos de
linguagem, muitas vezes misturando-os com um
poder de síntese invejável.
METONÍMIA - "... de geografia aberta sobre a
mesa..." (Cap. 79) = mapa
ONOMATOPÉIA - "...No silêncio tique-taque..."
(Cap. 8) (Antítese:- silêncio/barulho)
"Dez horas da noite, o relógio farto batia dão!
dão! dão! dão! dão! dão! dão! dão! dão! dão!
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HIPÉRBATO - "... mapas do secreto Mundo."
(Cap. 9) ao invés de "...mapas do Mundo secreto."
ALITERAÇÃO - "...punha patetismos pretos..."
(Cap. 22)
PARADOXO - "...Companhia Industrial e
Segurista de Imóveis Móveis..." (Cap. 119)
PROSOPOPÉIA - "... Depois casas baixas
desanimaram a planície cansada." (Cap. 113)
SINESTESIA - "...de janelas cerradas e acesos
silêncios." (Cap. 153)
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A exemplo de outros escritores, Oswald também
realiza
diálogos
intertextuais,
fazendo
referência aos seguintes autores, personagens e
obras:
- O primo Basílio (Eça de Queiroz) Cap. 100
-Herodes (Bíblia) Cap. 98
-Lord Byron (poeta romântico) Cap. 155
-Virgílio (poeta latino) Cap. 163
Faz referência à vanguarda artística européia (
Cap. 51, Cap. 47).
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Também é marcante o emprego de vocábulos e
expressões em línguas estrangeiras: - Inglês
Francês Espanhol Italiano: dancing habitué
encuentro de ustedes si sinhore / It is very
beautiful! Mademoiselle / board-house tour du
monde / Albany Street goudron-citron / Latim /
Res non verba!
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A obra registra também uma variante do
português resultante da influência da migração
árabe:- "- Aqui nong teng acordo. Teng
pagamento! (Cap. 148)
Há um momento que Oswald recorre as todas as
línguas e língua nenhuma:- "...Os Estados Unidos
é cotuba. All right. Knock Out! I and my sisters
speak french. Moi et ma soer nos savons paletre
bien le Français. Eu e a minha ermam sabemos
falal o francês..." (Cap. 68)
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O maior recurso expressivo empregado pelo
autor é a criação de vocábulos.
Verbos Substantivos Adjetivos: Vagamundear,
norte-americava,
tombadilhavam,
automobilizados, fazendeiral, ourinóis, paisajal,
mulatava,
respeitabundos,
sentinelando,
gondolamos, turcavam, guardanapando, mulatal,
boulevardearam
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