Transcript HGC_A4
Programa Sucinto (1)
1.
História e cultura; civilização e civilizações; a dinâmica
das civilizações.
2.
A civilização ocidental e oriental: da construção do
ocidente e do oriente.
3.
A Europa; história de uma civilização; das origens
greco-romanas ao surgimento e criação da União
Europeia.
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Programa Sucinto (2)
4. A América e a civilização europeia no novo mundo
5. O mundo muçulmano: características e perspectivas.
6. O mundo africano e o mundo asiático: características
e dinâmicas
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Módulo 3
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
Braudel, Fernand (1989). Gramática das Civilizações. Lisboa: Editorial
Teorema.
Le Goff, Jacques (1995). A Velha Europa e a Nossa. Lisboa: Gradiva.
Padgen, Anthony (ed.) (2002). The Idea of Europe. From Antiquity to
the European Union. Cambridge: CPU.
NA INTERNET:
http://europa.eu
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (1)
• A Europa é antiga - foi baptizada há 25 séculos - e,
todavia, continua em fase de projecto.
• O nascimento da Europa foi contado pelos gregos
através dos seus mitos: filha de Agenor, rei da
Fenícia, teria sido raptada por Zeus, metamorfoseado
em touro, que a levou para Creta, onde dos seus
amores com o rei dos deuses nasceu Minos.
• A Europa, assim baptizada pelos geógrafos gregos da
Antiguidade, não está geograficamente apartada do
território Euro-asiático.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (2)
• Os Gregos não definiram os limites da Europa a
Leste: «As estepes da actual Rússia, os altos
planaltos que separam a Anatólia dos vales do
Eufrates e do Tigre, constituem a zona indecisa onde
a Europa emerge da Ásia.» [Le Goff]
• Os Gregos tinham, porém, consciência do
antagonismo entre estes dois continentes e os seus
respectivos habitantes.
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Fig. 1- Mapa físico da Europa
Fonte: www.guiageo-europa.com
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (3)
• Hipócrates (460-377 a. C.), médico grego, a partir de
uma teoria dos climas - que ditaria os humores - traçou a
natureza e o carácter das nações.
• Considerava este pensador que os Europeus eram
corajosos, mas belicosos, ao passo que via nos
Asiáticos sensibilidade e cultura, mas também alguma
inércia.
• Ainda segundo este grego, os Europeus seriam amantes
da liberdade e estariam prontos a lutar por ela. O regime
político preferido deste povo seria a democracia.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (4)
• Os Asiáticos, seriam condescendentes com a servidão
em troca da calma e da prosperidade e conformar-seiam com regimes despóticos.
• Como já vimos, este espírito foi influenciado pela
guerra que opôs as cidades gregas ao Império Persa,
mas conferiu à identidade da Europa a ideia de
democracia.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (5)
• A civilização grega estabeleceu valores essenciais
que na actualidade ainda permanecem como
elementos intelectuais e éticos para os Europeus: a
ideia de Natureza, a ideia de razão, a ideia de ciência,
a ideia de liberdade e a ideia de dúvida e a sua prática.
• O espírito crítico tem sido um dos instrumentos fulcrais
do pensamento e da acção dos Europeus e ainda hoje
é uma arma contra o ritualismo ou o fundamentalismo
que não acolheram a dúvida metódica.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (6)
• Com o Império Romano, a Europa vai desorbitar.
Passa a centrar-se no Mediterrâneo e a compreender
vastas parcelas de África e da Ásia, ainda que o seu
fulcro seja Itália.
• A civilização romana abarca amplas regiões:
Portugal, Espanha, Norte da Inglaterra, Gália, vale do
Reno até Maastricht (Holanda) e vale do Danúbio até
Aquincum, perto da actual Budapeste.
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Fig. 2 – O Império Romano Ocidental e Oriental
Fonte:www.novaroma.org/vici/images/MapEWRomanEmpire.jpg
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (7)
• O Império Romano difunde uma língua, o latim, que
estará na base de um conjunto de línguas românicas.
• A civilização romana propaga nessa Europa, hábitos
ainda hoje arraigados na Europa: quer se trate de
uma alta cultura baseada na escrita, no livro e na escola
ou práticas quotidianas (e.g. consumo do vinho).
• Porém, mau grado a sua unidade, o Império Romano,
criou uma grande cisão entre o Ocidente latino e o
Oriente grego.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (8)
• O Império Romano do Ocidente sofreu as incursões e a
posterior fixação, dos povos bárbaros, especialmente os
Germânicos, vindos do exterior do limes (fronteira entre o
Império Romano e as tribos germânicas não-conquistadas).
• A crise do Império Romano deveu-se à «desestruturação
de uma economia monetária com largo raio de acção, ao
desenvolvimento de uma crise urbana, à fragmentação da
economia em regiões ruralizadas à pauperização das
massas e à crise de valores do mundo pagão.» [Le Goff]
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Fig. 3 - As invasões bárbaras (378-439 a.C.)
Fonte:http://darkwing.uoregon.edu/~klio/maps/re/EmpireMap5.jpg
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (9)
• O Império Romano do Ocidente foi, assim, uma
prefiguração da Europa.
• No século IV, o cristianismo vai assumir
preponderância religiosa e ideológica e, a breve trecho,
dividir-se-á em duas facções: o cristianismo latino, a
oeste e grego, a leste, o que cavará um fosso ainda
maior entre as partes latina e grega do Império Romano.
• A fronteira actual passa entre a Croácia, católica
romana, a oeste e o que será a Sérvia, ortodoxa a leste.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (10)
• Esta fronteira cultural, que será corroborada por
fronteiras políticas (da Escandinávia à Croácia de um
lado; da Rússia à Grécia de outro), será sancionada
pelo Grande Cisma do Oriente de 1054.
• Este acontecimento retira em definitivo a igreja grega
ao papado romano. E vai opor dois mundos: o
oriental e o ocidental.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (11)
• A Leste está situado o universo bizantino, faustoso,
depositário das tradições antigas, cada vez mais
depauperado pela exploração económica dos
ocidentais, destroçado pelo avanço otomano até que
sucumbe em 1453.
• No mundo bizantino, o rei, basileus, é quem acumula
o poder pontifical e o poder imperial.
• O mundo russo hesita, porém, entre o modelo
ocidental e os atractivos do Oriente asiático.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (12)
• A Oeste, a cristandade latina, um mundo dividido,
barbarizado, bicéfalo; o papa e o imperador; e por estes
unificado debilmente, que vai testemunhar um notável
progresso económico, político e cultural e iniciar uma
agressiva expansão da cristandade.
• Esta cristandade constitui a Europa medieval. «Os povos
instalados no Império Romano formam, com as
populações que aí viviam, Estados colocados sob a
autoridade de um chefe conquistador que toma o título
de rei e instaura uma dinastia reinante (…)» [Le Goff]
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (13)
• Fixam-se, assim, os Godos e posteriormente os
Lombardos em Itália, os Visigodos na Aquitânia e em
Espanha, os Francos na Gália, os Anglo-Saxões
numa miríade de pequenos reinos na Grã-Bretanha.
• Deste modo se define o primeiro esboço da Europa
assente em dois fundamentos:
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (14)
1. A componente comunitária da cristandade
(enformada pela religião e a cultura).
2. A componente plural dos diferentes reinos
baseados em tradições étnicas importadas ou
pluriculturais antigas (e.g. Germanos e Galoromanos na Gália).
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (15)
• O timbre do cristianismo é ainda visível em
instituições que conferem ao conjunto dos Estados
cristãos uma dupla rede: a das dioceses, seguida da
das paróquias e a do mundo monástico.
• No séc. IX, impõem-se uma mesma regra no mundo
monástico: a de S. Bento. O monaquismo beneditino
vai acostumar os Europeus a «práticas do tempo» [Le
Goff] que ainda hoje se mantêm na gestão quotidiana.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (16)
• Trata-se da divisão entre um tempo de oração e um
tempo de trabalho, que introduz uma cisão entre o
que continuará e se afirmará como um tempo do
trabalho e o que evoluirá para um tempo de descanso,
do lazer e da festa.
• O toque dos sinos, antepassado do relógio (sinal do
tempo), impõe-se a todos.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (17)
• O tempo regular (i.e. relativo a uma regra religiosa)
fraccionado de acordo com as horas canónicas do dia
e da noite – «ensinando aos Europeus os benefícios
de uma gestão racional do tempo, triunfo económico
e moral que aproveitará à Europa.» [Le Goff]
• Organização do tempo individual e colectivo será
substituído nos sécs. XIV e XV por um tempo dos
burgueses e mercadores.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (18)
•
Esta reorganização do Império Romano do Ocidente
resulta em dois fenómenos:
1. A recusa do poder teocrático, ao contrário do
que acontece no Oriente bizantino, no Ocidente o
poder religioso está nas mãos da Igreja e do papa
e o poder político está sob a égide do rei.
→ «A Europa vai escapar ao monolitismo teocrático
que paralisou Bizâncio e, sobretudo o Islão, depois
de ter favorecido a sua expansão» [Le Goff].
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (19)
2. A amálgama étnica que sobrevém ao
estabelecimento da cristandade e dos reinos
cristãos: aos Celtas, Germanos, Galo-Romanos,
Anglo-Romanos, Italo-Romanos, Ibero-Romanos
e Judeus juntam-se os Árabes, Normandos,
Eslavos e Húngaros.
→ Na Idade Média, os termos utilizados para
designar a Europa são Cristandade ou Ocidente.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (20)
• Por outro lado, com Carlos Magno, rei dos Francos,
(coroado imperador pelo papa em Roma 800) e Otão I
(igualmente coroado pelo papa em Roma em 962),
sucede um movimento de unificação política da
cristandade ocidental.
• Esta ressurgimento imperial levou à criação de uma
instituição mais teórica e simbólica do que real – o
Sacro Império Romano-Germânico, de que Roma
era a capital ideal. Porém, os países, como a Itália,
em breve se emanciparam.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (21)
• O Império - que «foi uma forma vazia na Europa» [Le Goff]
- iniciou as relações problemáticas pela supremacia do
poder espiritual sobre o poder temporal e ao invés.
• As partilhas do império carolíngio, no século IX, criaram
uma importante secessão entre a Francia ocidental (a
futura França) e a Francia oriental (a futura Alemanha).
• Ficando entre a França e a Alemanha uma zona indecisa,
a Lotaríngia (incluía a actual Benelux, a Renânia o Sarre e
a Alsácia e Lorena), este último pomo de uma discórdia
secular entre os dois países.
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Fig. 4 – A partilha do Tratado de Verdun e
Meersen (843 e 870)
Fonte: wikipédia
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (22)
• Os Alemães, aliados ao Estado Pontifício, impuseram à
Itália um jugo parcial. A Itália será cobiçada por Alemães na
Idade Média, pela França na Renascença e pelos grandes
Estados europeus até à sua unificação da Itália no séc. XIX.
• No começo do séc. VIII, a grande vaga de conquista árabe
chega à Europa Ocidental. A presença muçulmana atinge
superficialmente a Provença e de forma mais relevante e
duradoura na Sicília, ainda que limitada.
• Os muçulmanos estabelecem-se na Península Ibérica até
que no séc. XII e sobretudo no séc. XIII são rechaçados.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (23)
• Os reinos do Norte peninsular – Castela, Astúrias,
Portugal, Galiza e Aragão – fazem os muçulmanos
recuar. Portugal expulsa-os do seu território (Silves)
em 1249, Espanha em 1492 (expulsão dos mouros do
reino de Granada).
• Por outro lado, os Turcos (Império Otomano), no
século XV, conquistam uma porção da Europa no seu
extremo sueste: nos Balcãs, Albânia, Bulgária e
Tessalónica.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (24)
• Como já vimos, os contactos com os muçulmanos não
foram sempre belicosos. Houve igualmente uma
relação pacífica que beneficiou a Europa.
• Pela Sicília e pela Espanha foram introduzidos na
Europa, na Idade Média, a ciência, as técnicas e a
filosofia que os árabes haviam herdado dos
Gregos, dos Indianos, dos Iranianos, dos Egípcios e
dos Judeus.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (25)
• A Europa (ver módulo 2) assimilou, adaptou e recriou
estes recursos, inovando também. A extraordinária
expansão europeia levou a que a Europa igualasse e
ultrapassasse as civilizações chinesa, indiana,
muçulmana e bizantina.
• Na Baixa Idade Média, de acordo com Le Goff, houve
um amplo desenvolvimento tecnológico, até aí tíbio.
Aumenta o uso do ferro e da pedra (a madeira ainda
continua a ser utilizada). A partir do séc. XIII, começouse a explorar minas de ferro, chumbo, cobre e hulha.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (26)
• No que diz respeito às forças motrizes, neste época
assiste-se à difusão do moinho de água, tanto no campo
como na cidade com as suas aplicações industriais – moinho
para ferro, para calcar, para curtumes, cerveja, papel,…e a
serra hidráulica – e no séc. X do moinho de vento.
• Os transportes terrestres também sofreram
melhoramentos: conservação e manutenção das estradas,
construção de pontes e novas vias, maior protecção dos
mercadores e dos comboios comerciais.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (27)
• A partir do séc. XIII, os transportes marítimos
registaram progressos. A construção de navios de
maior tonelagem (naves mediterrânicas, cogges
hanseáticas), velame de qualidade superior (difusão
da vela latina).
•
O aperfeiçoamento do astrolábio e das medidas
astronómicas, difusão da bússola e meios
cartográficos mais precisos conferiram à Europa os
meios técnicos para «descobrir e conquistar o
mundo» a partir séc. XV [Le Goff].
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (28)
• A China também detinha estes instrumentos, mas
não se serviu deles. Para Le Goff, este fenómeno é
explicado devido a um menor apego ritual à tradição,
a uma mobilidade social superior e a uma cultura e
mentalidade diversas dos Europeus.
• No domínio agrícola, existe uma maior utilização do
ferro nas ferramentas, uma difusão de novos
instrumentos (o arado de roda e aiveca assimétrica e
a grade), novo sistema de atrelagem ao ombro dos
bois e cavalos.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (29)
• Os progressos no afolhamento trienal, levam a um
aumento da superfície cultivada. Reaparecem no séc.
XIII e XIV tratados agrícolas que consubstanciam uma
tendência para racionalizar a exploração agrícola.
• A nível artesanal e industrial surge o tear vertical a
pedais e a roda de fiar. Nos estaleiros de construção
aparece o carrinho de mão e são incrementados os
aparelhos de levantamento.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (30)
• Com o impulso da artilharia, no séc. XV, há um efeito de
contágio na metalurgia, sobretudo na Lombardia e nas
regiões germânicas.
• Neste tempo procede-se a amplos novos arroteamentos,
que conquistam novas terras.
• De outra forma, uma combinação de rotas marítimas e
terrestres faz surgir uma economia-mundo europeia
controlada pelos Italianos e Hanseáticos.
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Comércio e peregrinações sécs. XI-XIII
Fonte: http://www.esfcastro.pt:8079/users/franciscosilva/Feiras_de_Champagne.html
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (31)
• Do que foi exposto em cima e de um aumento de
produtos e redução dos tempos de trajecto decorre um
crescimento material dos sécs. XI e XIII.
• Houve igualmente um renascimento urbano – as
cidades prosperaram mais rápido de que os Estados
territoriais, que só no séc. XV adoptaram características
modernas e se tornam uma ameaça às primeiras.
• Afirmam-se em Itália (país à época mais avançado do
Ocidente) e nos Países Baixos grandes cidades livres.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (32)
• Veneza, Génova, Florença, Milão, Gand, Bruges são já
cidades modernas numa época de realeza medieval.
Estas cidades são governadas por duques, doges ou
cônsules.
• Ao lado destas cidades outras de menor monta obtêm,
não sem pelejar, o direito a se auto-administrarem,
superintendendo as suas finanças, justiça e território.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (33)
• Todas as cidades são independentes e livres graças ao
comércio e à actividade dos mercadores-empresários
(que trabalham simultaneamente para o mercado local e o
comércio longínquo.)
• Os campos que rodeiam as cidades estão-lhes amiúde
submetidos, o camponês que nunca é cidadão tem de
vender o seu cereal em exclusivo nos mercados da
cidade.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (34)
• Algumas urbes são tão prósperas que atingem um
estatuto de cidades-estados o que lhes permite
«assegurarem a sua vida económica tal como a sua
segurança externa.» [Braudel]
• As cidades hanseáticas (urbes mercantes
disseminadas do Báltico até o Reno, das quais
Lubeck é a mais relevante), bem como Veneza,
Génova, Florença ou Barcelona mantêm, no séc. XV
relações com todo o mundo então conhecido.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (35)
• Este ímpeto económico escora-se numa dupla rede de
mercados locais e de grandes feiras. Destas últimas
avultam, do século XII ao século XIV, as de Champanhe.
As práticas monetárias são desenvolvidas:
• Há um «controle das moedas pelas cidades e pelos
príncipes, criação de fundos monetários adaptados às
novas transacções comerciais, multiplicação dos
cambistas e aparecimento dos banqueiros, primeiro na
Itália, depois no Sul da Alemanha» [Le Goff].
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (36)
• A feudalidade compreende uma «decomposição de
um grande corpo político» [Braudel], foi o que ocorreu
quando ruiu o império carolíngio (Caroli, i.e Carlos
Magno).
• O feudalismo é simultaneamente uma situação de
defesa e uma reacção local: o castelo alcandorado,
rodeado pelas aldeias a quem oferece protecção.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (37)
• Na Idade Média, a terra é o sustentáculo da economia,
do poder e do prestígio. No feudalismo ela é também um
meio de pagar serviços.
• O elemento capital do sistema feudal europeu radica nas
relações entre homens, i.e. na fidelidade e numa cadeia
de dependência.
• O senhor recebeu do rei, seu suserano, ou de um dos
senhores de estatuto superior ao seu, um feudo, um
senhorio na condição de lhe prestar um conjunto de
serviços (e.g. ajuda quando o senhor parte para a cruzada).
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (38)
• O senhor, por sua vez, cedia parcelas do senhorio a
outros senhores mais modestos ou em alternativa
camponeses.
• A estes entregava uma terra que cada camponês devia
cultivar contra o pagamento de uma prestação em
dinheiro (a renda), de uma quota parte das colheitas (a
dízima), de prestações de trabalho (corveias). Em
contrapartida o senhor estava incumbido de os proteger.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (39)
• A partir do século X, ocorre uma 2ª vaga de
cristianização responsável pela evangelização
Escandinavos e Eslavos. Em 1291 é criada a
Confederação Helvética pela reunião de 3 cantões:
Uri, Schwyz e Unterwald.
• A Europa medieval cria novos modelos culturais
diversos do herói guerreiro e do orador da
Antiguidade.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (40)
• O cristianismo cria o modelo do santo («presente na
arte e na literatura, presente numa ideia de perfeição
humana, presente através do calendário das festas e
da colecção de nomes próprios que são ainda os de
muitos europeus».[Le Goff])
• O homem cortês é o outro modelo, mas laico, ele
não é somente um guerreiro que realiza proezas, mas
também um cavalheiro, bem educado e obsequioso
para as mulheres «que espalha à sua volta os
comportamentos refinados da corte» [Le Goff].
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (41)
• Esta cortesia, aliada à urbanidade (os bons costumes
adquiridos na cidade) forma até à actualidade um
código de valores especificamente europeu.
• A difusão do garfo, no séc. XI, vindo de Bizâncio para
Veneza, constitui uma evolução na etiqueta europeia.
«A cristandade europeia é ainda um conjunto de grupos
onde todos comem da mesma malga e do mesmo prato
e onde todos bebem do mesmo copo.» [Le Goff]
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (42)
• A Europa assimilou o garfo, em oposição ao pauzinho
do Extremo Oriente, sendo natural que na Europa
haja um consumo alimentar de grandes peças de
carne ou peixe e no mundo asiático prevaleça o
consumo do arroz e de pequenos pedaços de comida.
• Com o fim das escolas da antiguidade grega e
romana, o ensino tinha ficado a cargo das escolas
monásticas e acessoriamente as escolas catedrais,
que ministravam um ensino essencialmente religioso
somente para eclesiásticos.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (43)
• Sem se furtar por completo ao mundo eclesiástico,
uma nova corrente escolar e intelectual aparece no
séc. XII. As escolas catedrais asseguram agora uma
alfabetização mais geral.
• A prática do comércio, a aplicação crescente do
direito e o desenvolvimento da escrita favorecem o
ensino de três disciplinas nucleares: ler, escrever,
contar.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (44)
• Como já vimos, aparecem, em determinadas cidades,
no final do séc. XII e no século seguinte, as
universidades de Bolonha, Paris e Oxford. E
posteriormente surgem em toda a Europa do séc. XIII
a finais do séc. XV.
• São instituições formadas por «corporações de
mestres e estudantes, com estatutos, programas,
manuais e exames (…) São também centros de
promoção social assentes na passagem de exames e
não no nascimento.» [Le Goff]
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (45)
• As universidades criam, a partir do séc. XIII, um método
científico racional, a escolástica. «O escolasticismo foi
essencialmente um movimento que tentou uma
demonstração metodológica e filosófica da teologia cristã
como sendo intrinsecamente racional e coerente*.»
• Este método tentou a integração das ideias
aristotélicas no âmbito do cristianismo e o uso do
scholium ou comentário textual como método de
integração e compreensão de textos*.
(*) Price, B.B.(1996). Introdução ao pensamento medieval, Porto, Edições Asa
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (46)
• O cristianismo medieval valorizou o trabalho. Como já
vimos, «o trabalho era até então desprezado como
uma consequência do pecado original e ligado à
servidão.» [Le Goff]
• Assim, os utensílios passam a ser venerados como
sendo atributos dos santos. As corporações de
ofícios alcançam prestígio nesta época.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (47)
• «As corporações são associações de mercadores e
artífices de uma cidade, que por meio de estatutos
regulavam os pormenores das respectivas
actividades: os horários de trabalho, a qualidade dos
produtos, a repressão das fraudes.**»
• «Eram cartéis que tinham como objectivo a eliminação
da concorrência no interior da cidade e a manutenção
do monopólio de uma minoria de mestres no mercado
urbano.**»
(**) Le Goff, Jacques (1983) A Civilização do Ocidente Medieval, Lisboa, Edições Estampa, Vol. II.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (48)
• Estas associações «organizam uma estrita
hierarquia dos seus membros:
• À cabeça, os artesãos-mestres, proprietários das
ferramentas e apetrechos e fornecedores das
matérias-primas;
• os oficiais, sujeitos aos mestres e sem esperança de
ascender à mestrança;
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (49)
• Finalmente, no escalão inferior, os aprendizes (…),
expostos ao licenciamento imediato***»
• Os trabalhadores passam a ser vistos como
elementos fundamentais para a sociedade - «o
homem no trabalho pode ser um colaborador da
criação realizada pelo primeiro grande trabalhador,
Deus.» [Le Goff]
(***)Balard, Michel, et al. (1994). A Idade Média no Ocidente, Lisboa, Publicações D. Quixote.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (50)
• Contudo, o sistema das artes mecânicas - conceito
nascido no século IX e desenvolvido no século XII –
que define artes executadas tanto de forma manual
por pintores, escultores e arquitectos como com o uso
de máquinas, são ainda tidas como inferiores às artes
liberais****.
• As artes liberais era um conceito aplicado às
disciplinas chamadas trivium (gramática, retórica
e lógica) e quadrivium (aritmética, geometria, música
e astronomia) exercidas por membros livres e nobres,
que gozam de honras, distinções e privilégios****.
(****) www.itaucultural.org.br
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (51)
• Na Idade Média, a Igreja ajudou a eliminar os
escolhos que impediam o desenvolvimento
económico.
• Tal foi possível ao serem permitidos certos lucros e a
cobrança de uma taxa de juro moderada, ao se
isentar certas práticas comerciais da condenação por
usura e ao ser alterada a concepção do dinheiro
como objecto indigno (i.e. mefistofélico).
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (52)
• É no século XIII, que a Igreja introduz o processo
inquisitorial, «confiando a juízes especiais a tarefa de
obterem a confissão dos acusados», utilizando a tortura.
• Concomitantemente, o IV Concílio de Latrão de 1215,
impõe a obrigação para todos os fiéis de se
confessarem, de forma privada, a um padre pelo
menos anualmente.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (53)
• À medida que a sociedade e a economia evoluíam
recrudesciam as críticas à ligação entre Igreja e
sistema feudal.
• Como resposta, a Igreja recorreu à Inquisição também
porque estava ameaçada pelas heresias que
contestavam o cristianismo.
• Entre elas o catarismo, religião semelhante ao
maniqueísmo e ao zoroastrismo orientais que se
propaga pelo Norte de Itália, Sul de França, Flandres
e Baixa Renânia.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (54)
• Acossada por oposições internas e externas e pelos
riscos que constituiu a sua abertura económica a
Europa experimentou um movimento antagónico: de
fechamento por um lado e expansão pelo outro.
• O primeiro movimento é retracção, de exclusão, de
repressão e purificação interna: luta contra os
hereges, recrudescimento das perseguições aos
Judeus e aos feiticeiros, sobretudo feiticeiras.
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (55)
• O outro movimento é a expansão para fora das
fronteiras europeias.
• É o caso da expansão comercial de Veneza e Génova
que «constituem verdadeiros impérios de além-mar» [Le
Goff].
• É o caso das cruzadas, que se apresentam como uma
reconquista dos lugares santos, da Sicília e da Espanha.
A partir do século XIII, a Europa cristã renuncia à Europa
ultramarina que as cruzadas nos sécs. XII e XIII tinham
almejado. As cruzadas passam a ser de cariz utópico.
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Fig. 5 – Mapa das Cruzadas
Fonte: http://www.timboucher.com
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A Europa da Antiguidade à Idade Média (56)
• As fronteiras da cristandade passam a coincidir
grosso modo com as da Europa, quando em 1492 o
reino de Granada é reconquistado pelos cristãos.
• Finalmente consuma-se uma expansão a leste, em
aparência pacífica, «feita da conversão ao cristianismo,
da fixação de colonos que fazem entrar a Europa
Oriental na (…) [Economia Mundo] europeia através
do arroteamento e da urbanização.» [Le Goff]
• A expansão para Leste é conduzida pelos Alemães à
custa dos Eslavos, fonte de um conflito secular.
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