FEB Boxer Cap. 2

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FEB: Matriz Portuguesa
A expansão marítima ultramarina
Charles Boxer
O Império Marítimo Português,
Cap. 2
“Época de Vasco da Gama da história asiática”
• “Na história desses quatrocentos anos nada é mais notável do
que o modo como os portugueses conseguiram assegurar e
manter, por quase todo o século XVI, uma posição dominante
no comércio marítimo do oceano Índico e uma parte muito
importante no que se fazia a leste do estreito de Malaca”
• “Os portugueses usavam a expressão ‘Estado da Índia’ para
descrever suas conquistas (...) entre o cabo da Boa Esperança
e o golfo Pérsico, de um lado da Ásia, e Japão e Timor, do
outro.
 Confusamente, os portugueses também usavam o nome
‘Índia’ para referir-se ao subcontinente indiano...”
Expansão marítima no Oriente (I)
Vasco da Gama & outros estabelecem contatos ao longo da costa
oriental da África com povos suaílis -- árabes
muçulmanos que dominavam a região costeira do que é
atualmente Moçambique e Quênia.
 Região cultural & comercialmente próspera
Relações comerciais com o Golfo Pérsico, Mar Vermelho e Índia
- Exportavam escravos, marfim e ouro
- Importavam tecidos & mercadorias diversas
(Semelhante à costa ocidental, que comerciava com europeus)
Expansão marítima no Oriente (II)
- Arábia & Pérsia: prosperidade comercial devida a pedágios
cobrados nas rotas terrestres do comércio de especiarias
asiáticas para a Europa via Golfo Pérsico e Mar Vermelho
- “A cidade de Ormuz era um dos entrepostos mais ricos do
mundo, ainda que situada numa ilha que só produzia sal
e enxofre”.
 Controlava o comércio entre a Pérsia (Irã) e Índia
 Emitia uma moeda internacional de ouro (xerafim)
Expansão marítima no Oriente (III)
- A Índia era dividida entre hindus e muçulmanos, e em vários
sultanatos (europeus sempre exploraram estas
diferenças)
 Em 1498, Vasco da Gama estabeleceu contatos (pouco
amistosos e pouco frutíferos) com Calicute, na costa ocidental
(Malabar), que era então o principal centro comercial da região
 No início do século XVI, Portugal alcançou também outras
cidades de Malabar (costa oriental da Índia), da península da
Indonésia, China, Japão e Timor
O Estado Português da Índia (I)
• Em 1505, Portugal criou o Estado da Índia e enviou um vice-rei
Trecho do Regimento (cf. Sanjay Subrahmanyam: O Império Asiático
Português, 1500-1700):
“E porque nos parece que nenhuma cousa poderia mais importar a nosso
serviço que termos uma fortaleza na boca do Mar Roxo (...)
porquanto por aqui se cerrava não poderem mais passar
nenhuma especiaria à terra do Sultão, e todos os da Índia
perderem a fantasia de mais poderem tratar senão conosco, e
assim por estar aqui perto da terra do Preste João, donde nos parece
que se poderia seguir mui grande proveito, primeiramente à
cristandade dele, e assim a muito acrescentamento de nossa
fazenda, e assim guerra quando se quisesse fazer (...)”
O Estado Português da Índia (II)
“O fato de terem cooperado estreita e cordialmente com os ricos
mercadores hindus (...) consolidou o monopólio
muçulmano do comércio no oceano Índico. Os
portugueses perceberam imediatamente que só
poderiam destruí-lo pela força bruta, e não pela
competição pacífica
E passaram a fazê-lo com crueldade consumada e rapidez
surpreendente”
O Estado Português da Índia (III)
Papel de destaque desempenhado por Afonso de Albuquerque
(1509-1515): conquista Goa (até 1961), Ormuz (até 1622)
e Malaca (até 1641)
• 1507 e 1509, já haviam sido construído feitorias/fortes no
litoral oriental da África (Moçambique, Mombaça, etc.)
 Também mantiveram feitorias (não fortificadas) em cidades
cujos governantes permitiam formas (limitadas) de
extraterritorialidade
Portugal só não conseguiu tomar a entrada do Mar Vermelho
(cidade de Áden)
Monopólio do comércio asiático (I)
Obtido pela Coroa portuguesa obtido pela força das armas
 Até a chegada dos portugueses, o comércio era relativamente
aberto
- Rei português se autoproclamava “Senhor da conquista,
navegação, comércio da Etiópia, Índia, Arábia e Pérsia”
• Casa da Índia criada em 1503. Sucessora da Casa da Mina,
servia como armazém, local de cobrança de tributos e de
fiscalização de todo comércio com as Índias
• Carreira da Índia: sistema de frotas que partiam anualmente
para as Índias; navios comerciais construídos em Lisboa pela
Coroa; às vezes protegidos por navios de guerra
Monopólio do comércio asiático (II)
Apesar das bulas papais, o monopólio português foi
constantemente combatido pelos asiáticos e por países e
cidades-estados europeus
Na 1ª metade do séc. XVI, Veneza foi a cidade mais afetada e a
que mais lutou para derrubar o monopólio, inclusive
junto ao Papa
Mercadores de toda a Europa passaram a comprar especiarias
em Lisboa
 A partir de meados do séc. XVI, volta a crescer o comércio de
especiarias através de Veneza
Comércio com as Índias (I)
 No entanto a navegação se processava como antes desde que
os mercadores pagassem uma licença (cartaz) e impostos
devidos nas alfândegas de Goa, Malaca ou Ormuz
(As licenças foram introduzidas por Vasco da Gama em 1502
porque os dirigentes de Calicute se recusavam a “aceitar” os
portugueses)
 Sem a licença, os navios podiam ter sua carga confiscada e
serem afundados, principalmente se pertencentes a
muçulmanos
Comércio com as Índias (II)
Debate: declínio após 1550?
Crise econômica em Portugal + queda no preço da pimenta
(cerca de 80% do volume) + retomada do comércio de
especiarias através do Mediterrâneo para Veneza =
dificuldades de financiamento das frotas e aperto fiscal
 A partir de 1570, dificuldades financeiras da Coroa tornaram
mais comuns os arrendamento de negócios a
contratadores (sistema já operante no tráfico de
escravos)
 “Banqueiros” internacionais (Fuggers &) passaram a assumir
um papel mais direto no comércio asiático
Comércio com as Índias (III)
Comércio passou a ser considerado uma atividade menos
digna; daí o incremento das contratações
 forte participação de comerciantes individuais (& de
portugueses que lá se estabeleceram)
Os impostos arrecadados geralmente eram gastos na Ásia
(como acontecia também no Brasil, pelo menos até o
final do séc. 17)
Comércio com as Índias (IV)
• Na 2ª metade do século XVI, a compra de pimenta tinha de
ser feita em ouro
• Diferentemente de Veneza, que tinha de enviar ouro, Portugal
usava ouro arrecadado na África oriental e na China
• Portugal criou uma Casa da Moeda em Goa
 “A pimenta era a principal mercadoria importada do Oriente,
enquanto que a prata em barra era principal produto
exportado para a ‘Goa Dourada’”
Comércio com as Índias (V)
J. H. Saraiva, História concisa de Portugal
“A especiaria mais importante era a pimenta ... Utilizava-se
como condimento, como hoje, mas se podia passar sem
ela... A carne era conservada pelo sal, pelo fumo ... Mas
esses processos rudimentares deixavam os alimentos
intragáveis, e a pimenta era indispensável para lhes
esconder a podridão”
“Veneza e Gênova enriqueceram com o seu comércio... O plano
português foi o de carregar na Índia as especiarias nos
mesmos navios que as transportavam a Lisboa...
[vendendo-as] no mercado europeu a preços muito mais
baixos, visto que eliminavam todos os intermediários...”
Resumo do Movimento da Carreira da Índia ( 1497-1700 )
(Paulo J A Guinote: Ascenção e declínio da Carreira da Índia)
Período
Perdas
Retornos
Perda (%)
Retornos (%)
1497-1525
Saídas de
Lisboa
310
51
151
16,5
48,7
1526-1550
184
29
112
15,8
60,9
1551-1575
127
24
89
18,9
70,1
1576-1600
133
39
77
29,3
57,9
1601-1625
179
48
59
26,8
33,0
1626-1650
100
25
40
25,0
40,0
1651-1700
121
13
61
10,7
50,4
TOTAL
1154
229
589
19,8
51,0
Carreira da Índia: saídas de Lisboa
(Subrahmanyan & Thomas: Evolution of empire, in J. Tracy (ed.))
Nº de Navios
Tonelagem
1501-10
151
42,8
1511-20
96
38,7
1521-30
81
37,7
1531-40
80
44,7
1541-50
68
40,8
1551-60
58
39,6
1561-70
50
37,0
1571-80
50
42,9
1581-90
59
55,4
1591-1600
43
49,2
Em resumo
“A característica mais espantosa do império marítimo
português, ao ser estabelecido em meados do século
XVI, foi sua extrema dispersão. No Oriente, estava
representado por uma cadeia de fortes e feitorias (...)
Estendia-se igualmente do outro lado do mundo, possuindo
praças-fortes no Marrocos, algumas feitorias entre
Cabo Verde e Luanda (...) e alguns assentamentos
militares ao longo do litoral brasileiro
Lisboa tinha ligações marítimas com Antuérpia, importante
centro distribuidor de especiarias asiáticas e outros
produtos coloniais”
Fatores que explicam a manutenção do Império
Asiático no séc. XVI
• Superioridade militar: navios dos mercadores muçulmanos
eram menores e geralmente desarmados
• Tenacidade: primeiros ataques para tomar Goa, Malaca e
Ormuz fracassaram: papel de destaque para Afonso de
Albuquerque
• Portugal explorou as rivalidades entre as diversas cidades &
forças políticas locais
Fatores que dificultavam a manutenção do Império
Asiático no séc. XVI (I)
População portuguesa era reduzida (mas 2.400 pessoas saíam de
Portugal por ano, comparados com menos de mil
espanhóis)
As regiões ocupadas por Portugal eram muito inóspitas
(assoladas por febres e malária  elevado índice de
mortalidade)
No auge (1536), Portugal chegou a ter mais de 300 navios nos
oceanos  número elevado para um país tão pequeno,
mas insuficiente para manter o domínio comercial com
ramificações em (praticamente) todo o mundo
Fatores que dificultaram a manutenção do Império
Asiático no séc. XVI (II)
Principalmente a partir de 1580, portugueses foram atacados
por navios das Companhias das Índias Orientais da
Holanda e da Inglaterra, em parte por causa da União
Ibérica (Espanha em guerra com os dois países)
Em meados do século XVII, o comércio asiático já tinha perdido
importância para Portugal, e o Brasil já passava a ser
considerado a “vaca sagrada” do império português
Impactos sobre a economia do reino
J.H. Saraiva, idem
• “Tudo se comprava no exterior, porque não se produzia em
Portugal. E tudo se comprava a crédito, para pagar com o
produto do carregamento, quando a armada voltasse...
• Ora, o crédito era então muito mais caro do que hoje, porque
o dinheiro era menos e os riscos maiores... A dívida
amontoava.
• Em 1524 ... Já se deviam três milhões de cruzados, o que era
pouco menos do que o valor de três anos de
carregamento”
Impactos sobre a economia do reino (II)
J.H. Saraiva, idem
“Os negócios da Índia fizeram enriquecer muita gente, e o
consumo subia. Para o satisfazer, importava-se tudo...
Não há, nos cem anos que durou o monopólio oriental, notícia
de qualquer fabricação nova introduzida no País...
Ao terminar o século XVI, a produção artesanal portuguesa
não diferia muito da do século XIII: oficinas de ferreiro,
fornos de telha, tecidos grosseiros, calçado, arreios,
fiação de linho, construção naval. Ainda era a produção
destinada ao complemento da vida rural e à vida das
aldeias.
O homem da cidade consumia outras coisas, mas essas
obtinha-se por importação”