Memorial do Convento

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Transcript Memorial do Convento

Memorial do
Convento
Capa de Memorial do Convento, de José Saramago, na edição especial comemorativa
do vigésimo aniversário da 1ª edição do romance. Lisboa: Caminho, 2002. Ilustrações
de José Santa-Bárbara.
Memorial do
Convento, é uma obra
monumental de José
Saramago, foi
publicada em 1982 e é
das mais importantes
de toda a literatura
contemporânea
portuguesa.
José Saramago nasceu na aldeia ribatejana de Azinhaga,
concelho de Golegã, no dia 16 de Novembro de 1922, embora o
registo oficial mencione o dia 18.
Seus pais emigraram para Lisboa e aí fez estudos secundários
(liceal e técnico) não pôde continuar por dificuldades económicas.
Profissões: foi serralheiro mecânico, desenhador, funcionário da
saúde e da previdência social, editor, tradutor, jornalista.
Publicou o seu primeiro livro, um romance ("Terra do Pecado"),
em 1947, tendo estado depois sem publicar até 1966. Trabalhou
durante doze anos numa editora. Colaborou como crítico literário
na Revista "Seara Nova".
Em 1972 e 1973 fez parte da redacção do Jornal "Diário de
Lisboa" onde foi comentador político, tendo também coordenado,
durante alguns meses, o suplemento cultural daquele vespertino.
Pertenceu à primeira Direcção da Associação Portuguesa de
Escritores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi director-adjunto do
"Diário de Notícias".É membro do Partido Comunista Português.
Desde 1976 vive exclusivamente do seu trabalho literário em
Lanzarote casado com a jornalista Pilar del Rio.
Romance histórico
Em Portugal o interesse pelo passado aparece ligado ao
Romantismo.
O Romance histórico, em Portugal, nasce com Alexandre
Herculano. No sec. XIX vários autores lhe seguiram os
passos e foram publicados alguns romances.
Nas décadas de 80 e 90 o romance situa-se entre o
histórico tradicional e a meta ficção historiográfica.
 Memorial do Convento, apesar da recriação do passado, subverte a
essência do tradicional romance histórico, pois o passado é visto numa
perspectiva do presente, a cujos factos históricos se permite uma crítica.
 Embora este romance não possa ser considerado histórico relaciona-se
com este tipo de texto dada a sua recriação do passado, pela:
 Reconstituição de acontecimentos históricos;
 Referência pormenorizada ao vestuário das personagens;
 Descrição do espaço físico;
 Linguagem das personagens
Contextualização epocal
 Memorial do Convento é uma obra que evoca o reinado de D.João V
(século XVIII), estabelecendo um paralelismo com a situação política de
meados do século XX. Relembra assim uma época de luxo e grandeza da
corte portuguesa, que procurava imitar a corte francesa do Rei Sol, Luís
XIV.
 D. João V fazia-se rodear por diplomatas intelectuais estrangeirados, e
deixava-se influenciar pela riqueza vinda do Brasil, ultrapassando os
problemas financeiros do país que o levam a “investir” no luxo das Igrejas
e dos palácios.
 Enquanto o rei se ocupa com luxos e com fugas sentimentais, a Inquisição
preocupa-se em manter a ordem religiosa e moral, alargando a sua acção
aos campos culturais, sociais e políticos. Assim, para além de perseguir
hereges e cristãos novos, também perseguia intelectuais que fugiam para
a Europa culta.
 O povo vivia de modo miserável.
Nas exportações destaque para o vinho do Porto e o
sal.
O rei revelou-se sensível às novas ideias e criou a Real
Academia Portuguesa de História.
O Romance
Principais linhas de acção
• A intriga do romance gira à volta da construção do Convento de Mafra que poderemos designar como acção principal - e das personagens
referenciais e/ou ficcionais ligadas a essa construção, mas dela derivam
outras linhas de acção, como a relação entre Baltasar e Blimunda, a
construção da passarola e a epopeia dos trabalhadores.
• De qualquer forma, costuma apontar-se a existência de três linhas de
acção centrais em Memorial do Convento:
• A construção do Convento de Mafra, resultante da promessa feita
por D. João V aos frades franciscanos, segundo a qual um convento
seria edificado caso a rainha desse à luz, no prazo de um ano, um
herdeiro para o trono português. Esta linha de acção, por outro
lado, serve os intuitos críticos do narrador, que aproveita para
denunciar o sacrifício e a morte de inúmeros trabalhadores muitos deles fizeram-no contra a sua vontade - durante a realização
das obras. E tudo isto para satisfazer a vaidade do rei.
• A relação de amor entre Baltasar e Blimunda, personagens que se
envolveram quer nas obras do Convento quer na construção da
passarola, através, respectivamente, do seu esforço muscular e dos
seus poderes mágicos.
• A construção da passarola pelo padre Bartolomeu de Gusmão,
símbolo do desejo eterno do Homem de voar.
Acção
Momentos da acção
Podemos considerar a existência de quatro momentos na acção do Memorial do
Convento:
1.ª parte - Capítulos I a VIII (ano de 1711):
•
•
•
•
•
A promessa de construção do convento;
A gravidez da rainha da futura princesa D. Maria Francisca Bárbara;
A apresentação de Baltasar, Blimunda e Bartolomeu de Gusmão;
A menção ao projecto da passarola;
O nascimento do segundo filho do casal real, o infante D. Pedro, que
morrerá com dois anos de idade;
• O cumprimento da promessa real, com a escolha do local de construção
do convento.
2.ª parte - Capítulos IX a XVI (anos de 1713 a 1722):
• A construção da passarola;
• A construção do Convento de Mafra, na qual participa a família de
Baltasar Mateus;
• A voo da passarola;
• A doença de Blimunda e os poderes curativos da música do cravo de
Domenico Scarlatti:
• A tentativa de destruição da passarola pelo seu criador;
• O desaparecimento do padre Bartolomeu de Gusmão.
3.ª parte - Capítulos XVII a XXIV (anos de 1723 a 1730):
• Baltasar participa na construção do convento;
• Morte de Bartolomeu de Gusmão, anunciada por Domenico Scarlatti;
• Sagração do convento (22 de Outubro de 1730, data do quadragésimo
primeiro aniversário do rei);
• Desaparecimento de Baltasar na passarola.
4.ª parte - Epílogo (capítulo XXV):
• Errância de Blimunda em busca de Baltasar, que acaba por encontrar,
passados nove anos, num auto-de-fé.
Personagens
D. João V
-
Representa o poder real absoluto, condenando o povo a servir a sua
religiosidade fanática e a sua vaidade.
-
Amante dos prazeres, a sua figura é construída através do olhar crítico do
narrador: fanático religioso assiste aos autos-de-fé.
-
Como marido não tem qualquer sentimento de amor pela rainha.
-
Megalómano e vaidoso, vive dominado pelo luxo e pelo fausto.
D. Maria Ana Josefa
•A rainha representa a mulher que só através do sonho se liberta
da sua condição aristocrática para assumir a sua feminilidade.
•D. Maria Ana é caracterizada como uma mulher :
-passiva;
-insatisfeita, que vive um casamento baseado na aparência, na
sexualidade reprimida e num falso código ético, moral e religioso.
•A transgressão onírica é a única expressão da rainha que
sucumbe, posteriormente, ao sentimento de culpa. A pecaminosa
atracção incestuosa que sente por D. Francisco, seu cunhado,
conduzem-na a uma busca constante de redenção através da
oração e da confissão. - COMPLEXO DE CULPA.
Baltazar Sete - Sóis e Blimunda Sete - Luas
A utopia…
Passarola voadora
Padre Bartolomeu de Gusmão
•O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão representa
as novas ideias que causavam estranheza na inculta
sociedade portuguesa.
•Estrangeirado, Bartolomeu de Gusmão tornou-se um
alvo apetecido do chacota da corte e da Inquisição,
apesar da protecção real.
•Homem curioso e grande orador sacro (a sua fama
aproxima-o do padre António Vieira).
• Evidenciou, ao longo da obra, uma profunda crise de
fé, a que as leituras diversificadas e a postura
"antidogmática" não serão alheios, numa busca
incessante do saber.
•Era conhecido por "Voador" - torna-o elemento
catalisador do voo do passarola, conjuntamente com
Baltasar e Blimunda.
•A tríade corporiza o sonho e o empenho tornados
realidade, a par da desgraça, também ela, partilhada
(loucura e morte, em Toledo, de Bartolomeu de Gusmão,
morte de Baltasar Sete-Sóis no auto-de-fé e solidão de
Blimunda).
Domenico Scarlatti
- Italiano, nascido em Nápoles há
35 anos é uma figura completa,
rosto comprido, boca larga e firme,
olhos afastados.
-Representa a arte que,
aliada ao sonho,
permite a cura de Blimunda e
possibilita a conclusão e o voo da
passarola.
O Povo
O verdadeiro protagonista de Memorial do
Convento é o povo trabalhador. Espoliado,
rude, violento, o povo atravessa toda a
narrativa, numa construção de figuras que,
embora corporizadas por Baltasar e
Blimunda, tipificam a massa colectiva e
anónima que construiu, de facto, o
convento.
A crítica e o olhar mordaz do narrador
enfatizam a escravidão a que foram
sujeitos quarenta mil portugueses, para
alimentar o sonho de um rei
megalómano ao qual se atribui a
edificação do Convento de Mafra.
A necessidade de individualizar personagens que representam
a força motriz que erigiu o palácio-convento, sob um
regime opressivo, é a verdadeira elegia de Saramago para
todos aqueles que, embora ficcionais, traduzem a essência de
ser português:
GRANDES FEITOS, COM GRANDE ESFORÇO E
CAPACIDADE DE SOFRIMENTO
O Clero
-A crítica subjacente a todo o discurso
narrativo enfatiza a hipocrisia e a
violência dos representantes do
espiritualismo convencional, da
religiosidade vazia, baseada em
rituais que, em vez de elevarem o
espírito, originam desregramento,
corrupção e degradação moral.
- o papel do clero na Inquisição é uma
marca negativa.
Autos-de-fé
Espaço
• São dois os espaços físicos nos quais se desenrola a acção:
Lisboa e Mafra.
• Lisboa, enquanto macro - espaço, integra outros espaços:
 TERREIRO DO PAÇO;
 ROSSIO;
 SÃO SEBASTIÃO DA PEDREIRA.
Lisboa
Terreiro do Paço
Local onde Baltazar
trabalha num
açougue após a sua
chegada a Lisboa.
Mafra
Alto da Vela
Local
escolhido para
a construção
do convento
“Ilha da
Madeira”
Onde
começaram por
se alojar mil
trabalhadores,
chegando depois
a quatro mil.
Rossio
Local onde
decorre o
auto- de -fé
S. Sebastião
da Pedreira
Relacionado
com a
passarola e
com o
carácter
místico da
máquina
voadora
Outros
espaços
Pêro
Pinheiro
Serra do
Barregudo
Alentejo
Monte
Junto
Torres
Vedras
Espaço Físico
Mafra
Lisboa
O espaço social
• O espaço social é construído, na obra, através do relato de determinados
momentos (ou episódios) e do percurso de personagens que tipificam um
determinado grupo social, caracterizando-o.
• Ao nível da construção do espaço social, destacam-se os seguintes
momentos:
–
–
–
–
–
PROCISSÃO DA QUARESMA;
AUTOS-DE-FÉ;
A TOURADA;
PROCISSÃO DO CORPO DE DEUS;
O TRABALHO NO CONVENTO.
Procissão da Quaresma
• Excessos praticados durante o Entrudo (satisfação dos
prazeres carnais) e brincadeiras carnavalescas - as pessoas
comiam e bebiam demasiado, davam "umbigadas pelas
esquinas", atiravam água à cara umas das outras, batiam nas
mais desprevenidas, tocavam gaitas, espojavam-se nas ruas.
• Penitência física e mortificação da alma após os
desregramentos durante o Entrudo (é tempo de "mortificar a
alma para que o corpo finja arrepender-se”)
Autos-de-fé (Rossio)
Neste relato, são de salientar os seguintes aspectos:
• O Rossio está novamente cheio de assistência; a população está
duplamente em festa, porque é domingo e porque vai assistir a um
auto-defé (passaram dois anos após o último evento deste tipo).
• O narrador revela a sua dificuldade em perceber se o povo gosta mais
de autos-de-fé ou de touradas, evidenciando com esta afirmação a sua
ironia crítica perante um povo que revela um gosto sanguinário e
procura nas emoções fortes uma forma de preencher o vazio da sua
existência.
Tourada (Terreiro do Paço)
• O espectáculo começa e o narrador enfatiza a
forma como os touros são torturados, exibindo
o sangue, as feridas, as "tripas“ ao público que,
em exaltação, se liberta de inibições ("os
homens
em
delírio
apalpam
as
mulheres
delirantes, e elas esfregam-se por eles sem
disfarce” .
Espaço psicológico
O espaço psicológico é constituído
pelo conjunto de elementos que
traduz
a
interioridade
das
personagens.
•O sonho – a rainha sonha diversas vezes com o cunhado, D.
Francisco. Ao longo do romance, são descritos com alguma
insistência os sonhos de diversas personagens, dando conta dos
seus mais íntimos desejos, ansiedades e inquietações…
•A imaginação – por exemplo, a peregrinação em busca de
Baltasar, durante nove anos, Quantas vezes imaginou Blimunda
que estando sentada na praça de uma vila, a pedir esmola, um
homem se aproximaria… (Cap. XXV)
•A memória – Quando Baltasar, por exemplo, relembra o momento
em que perdeu a sua mão esquerda na guerra. (VIII)
•A reflexão – nomeadamente, a conversa entre a infanta D. Maria
Bárbara e sua mãe durante o cortejo nupcial .(XXII)
O tempo
Tempo diegético ( da história)
Trata-se do tempo em que decorre a acção.
• O tempo da história é constituído por algumas datas
fundamentais.
• A acção inicia-se em 1711. D. João V ainda não fizera vinte e
dois anos e D. Maria Ana Josefa chegara há mais de dois anos
da Áustria.
• O fluir do tempo, mais do que através da recorrência a
marcos cronológicos específicos, é sugerido pelas
transformações sofridas pelas personagens e por alguns
espaços e objectos ao longo da obra.
• Logo no início do romance, podemos inferir que a acção tem
início no ano de 1711, através da seguinte referência do
narrador:
• "(. ..) S. Francisco andava pelo mundo, precisamente há
quinhentos anos, em mil duzentos e onze (. . .)"
Referências cronológicas
• As referências cronológicas mais importantes são as seguintes:
• em 1716, tem lugar a bênção da primeira pedra do Convento de Mafra;
• em 1717, Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa para trabalhar na
passarola do padre Bartolomeu de Gusmão;
• em 1719, celebra-se o casamento de D. José com Mariana Vitória e de
Maria Bárbara com o príncipe D. Fernando (VI de Espanha);
• em 1730, mais propriamente no dia 22 de Outubro, o dia do
quadragésimo primeiro aniversário do rei, realiza-se a sagração do
Convento de Mafra;
• a acção termina em 1739, no momento em que Blimunda vê Baltasar a
ser queimado em Lisboa, num auto-de-fé.
O tempo do discurso
As analepses (recuos no tempo)
• As analepses explicam, geralmente, acontecimentos
anteriores, contribuindo para a coesão da narrativa.
• É de assinalar, anteriormente ao ano do início da acção (1711
), a analepse que explica, em parte, a construção do convento
como consequência do desejo expresso, em 1624, pelos
franciscanos, de possuírem um convento em Mafra.
O tempo do discurso
•
A antecipação de alguns acontecimentos serve os seguintes propósitos :
 a crítica social - é o caso das prolepses que dão a conhecer as mortes do
sobrinho de Baltasar e do infante D. Pedro, de modo a estabelecer o contraste
entre os dois funerais, ou a morte de Álvaro Diogo, que viria a cair de uma
parede, durante a construção do convento, assim como a informação sobre os
bastardos que o rei iria gerar, filhos das freiras que seduzia;

a visão globalizante de tempos distintos por parte do narrador (o tempo
da história e, num tempo futuro, o do momento da escrita) - cabem aqui as
referências aos cravos (outrora, nas pontas das varas dos capelães; muito mais
tarde, símbolos da revolução do 25 de Abril), a associação entre os possíveis voos
da passarola e o facto de os homens terem ido à Lua, no século XX, a alusão ao
tipo de diversões que se vivia no século XVII e ao cinema, entre outras.
Narrador
• É a entidade responsável pelo discurso narrativo, através do
qual uma "história" é contada. O narrador nunca se identifica
com o autor: este é um ser real, enquanto aquele é um ser de
ficção, uma "personagem de papel" que só existe na
narrativa. Pode ser exterior à "história" que narra ou
identificar-se com as personagens (presença) e só pode
contar aquilo de que teve conhecimento (ciência).
 O narrador em “Memorial do Convento” assume, por vezes um
estatuto de narrador omnisciente que lhe permite:
• Antecipar acontecimentos (“...se tal palavra já se diz nestas
épocas...” ;
• Reinterpretar a História, comentar e criticar (“... Embora estes
sejam ordinariamente tão estúpidos...”;
• Reflectir sobre a sua própria escrita;
• Reconstruir, no seu texto, textos de outros autores Portugueses
Consagrados (“...Ó glória de mandar, ó vã cobiça, ó rei infame, ó
pátria sem justiça...”);
• Recurso ao tom moralístico (“... A pobre não emprestes, a rico não
devas , a frade não prometas...”)
Presença
 NARRADOR PARTICIPANTE
• Autodiegético
O narrador identifica-se com a personagem principal. A narração é feita na 1ª
pessoa.
• Homodiegético
O narrador identifica-se com uma personagem secundária. A narração é feita na 1ª
pessoa.
 NARRADOR NÃO PARTICIPANTE
• Heterodiegético
O narrador é totalmente alheio aos acontecimentos que narra. A narração é
feita na 3ª pessoa.
Focalização/ Ponto de Vista
 Focalização omnisciente
O narrador revela um conhecimento absoluto, quer dos
acontecimentos, quer das motivações. É capaz de penetrar no íntimo
das personagens, revelando os seus pensamentos e as suas emoções.
 Focalização externa
O narrador é um mero observador, exterior aos acontecimentos. Narra
aquilo que pode apreender através dos sentidos: descreve os espaços,
narra os acontecimentos, mas não penetra no interior das personagens.
 Focalização interna
Este tipo de focalização distingue-se da "focalização externa, porque o
narrador adopta o ponto de vista de uma personagem, narrando os
acontecimentos tal como eles foram vistos por essa personagem.
Autodiegético
Participante
Participação
Narrador
1ª pessoa
Não
Participante
(3ª pessoa)
omnisciente
Focalização
(ponto de vista)
interno
externo
(Personagem
principal )
Homodiegético
(Person.
Secundária)
Heterodiegético
• ...Regra geral, poderíamos apontar que o narrador
transmuta-se das terceiras pessoas em:
• primeira do plural quando se refere ao colectivo cuja história está
narrando, assim provando que está dentro dela ou é dela;
•
primeira do singular quando quer evidenciar uma forma de marca
ontológica que orientará as personagens ou definirá a verdade da própria
humanidade.
Assim temos:
ELE/S
Nós
Eu
Narrador:
Narrador:
Narrador:
-Heterodiegético e
-Homodiegético e
intradiegético;
-Autodiegético:
extradiegético ao
discurso;
-Descrição;
-Sentença;
-Profecia.
-Discurso
colectivo, o
impessoal como
totalidade.
-Discurso
Ontológico como
expressão de
objectividade
marcante.
Excertos…
 Narrador Autodiegético:
 “(...) por toda a vida, e esta sou eu, Sebastiana Maria
de Jesus, um quarto de Cristã-nova que tenho visões
e revelações, mas disseram-me no tribunal que era
fingimento, que ouço vozes do céu, mas explicaramme que era efeito demoníaco, que sei que posso ser
Santa como os Santos o são, ou ainda melhor, pois
não alcanço diferença entre mim e eles (...)”
 Narrador Heterodiegético
 “Já se deitaram. Esta é a cama que veio da Holanda quando a
rainha veio da Áustria, mandada fazer de propósito pelo rei, a
cama, a quem custou setenta e cinco mil cruzados (...)
 Narrador Homodiegético:
 “Domingo é o dia do Senhor, verdade trivial, porque dele são
todos os dias, e a nós nos vêm gastando os dias se em nome
do mesmo senhor não nos gastaram mais depressa as
labaredas (...)“
 “(...) que pagar a Santo Aleixo cinquenta réis por ano, a ver se
livra a rainha e a nós todos da praga e da coceira”
Linguagem
•
•
•
O autor utiliza, em maior ou menor grau, o registo de língua familiar e
popular com sentido irónico e crítico ou como forma de traduzir o estatuto
social das personagens.
Popular: "de boca à banda"
Familiar: "Meu querido filho, como foi isso, quem te fez isto..."
Cuidado: "não havendo portanto mediano termo entre a papada pletórica e o
pescoço engelhado, entre o nariz rubicundo e o outro heréctico“
• As principais figuras de estilo:
- metáfora
-ironia
-hipálage
-aforismo
-oposições (antonímia)
• Formas verbais
- o gerúndio ( para traduzir movimento, duração,…)
- o presente do indicativo( transporta o leitor para o tempo da narrativa)
- O modo imperativo( como reminiscência da oratória barroca, liga-se à ironia)
• Construção frásica
- Frases longas - aproximação ao discurso oral ou tradução do monólogo
interior e da rapidez do pensamento;
- Paralelismo de construção;
- Utilização do polissíndeto;
- Ausência de sinais gráficos indicadores do diálogo ( a fuga à gramática
normativa, criando uma aproximação ao registo oral);
- A vírgula separa a fala das personagens;
- Sem pontos de interrogação e exclamação;
- Hibridismo discursivo ( discurso directo, indirecto e indirecto livre sem
demarcação gráfica e lexical);
- O tom simultaneamente cómico, trágico e épico;
- O uso subversivo da maiúscula no interior da frase.
Interacção com a literatura portuguesa
• Quadras populares: "Aqui me traz minha pena com bastante sobressalto,
porque quer voar mais alto, a mais queda se condena".
• Contos tradicionais: "Era uma vez uma rainha que vivia com o seu real
marido em palácio...".
• Luís de Camões, Os Lusíadas: "O homem, bicho da terra" .
• Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes: "Estão
parados diante do último pano da história de Tobias, aquele onde o
amargo fel do peixe restitui a vista ao cego. A amargura é o olhar dos
videntes, senhor Domenico Scarlatti,...".
• Fernando Pessoa, Mensagem: "Em seu trono entre o brilho das estrelas,
com seu manto de noite. solidão, tem aos seus pés o mar novo e as
mortas eras, o único imperador que tem, deveras, o globo mundo em
sua mão, este tal foi o infante D. Henrique, consoante o louvará o
poeta por ora ainda não nascido... “.
• Estilo barroco: "Parece apenas um gracioso jogo de palavras,
um brincar com os sentidos que elas têm, como nesta época se
usa, sem que extrema mente importe o entendimento ou
propositadamente o escurecendo."
Simbolismo
• A História, em Memorial do Convento, torna-se matéria
simbólica para reflectir sobre o presente , na perspectiva da
denúncia para dela se extrair uma moralidade que sirva de
lição para o futuro
O que representam, na obra, Baltasar e Blimunda?

Representam a capacidade humana de lutar
contra a repressão; a capacidade de libertação de
todo um povo oprimido.

Sete-Sóis e Sete-Luas simbolizam, juntos, uma
totalidade e isto por dois motivos:
– porque são Sol e Lua, astros que complementam a
unidade do tempo, feito de dia (Sol) e de noite (Lua);
– mas também porque o número sete representa, na
simbologia hebraica, a totalidade humana,
simultaneamente masculina e feminina.
- criam a passarola da liberdade tal como Ícaro.
Bartolomeu de Gusmão
Representa o ser fragmentário, dividido entre a religião e a
alquimia.
Simboliza a aspiração humana
( voo da passarola)
Scarlatti
Ligado à música simboliza a ascensão de um homem através da
música.
Elementos simbólicos
 Sete – representa a totalidade do universo
( 4 pontos cardeais + santíssima trindade).
Está presente no nome do par amoroso para representar a
harmonia cósmica.
Nove – representa a gestação, a renovação e o renascimento.
Passarola – é o elo de ligação entre o céu e a Terra, na ânsia
da realização e da libertação.
A mãe da pedra - Uma outra situação-acontecimento de cariz
mítico constitui-se como a gesta heróica, epopeica, do
transporte da pedra gigante de mármore. Anuncia os
"trabalhos" fabulosos.
Sol -
identifica-se com fonte de vida, com a própria vida - o que faz
corresponder Sete-Sóis a Sete Vidas, que, por sua vez, significaria que
Baltasar encarna simbolicamente a vida de todos os homens do povo, sempre
labutando e sempre perdendo o fruto do seu trabalho, independentemente
de épocas históricas e de regiões geográficas.
Lua - como não tem luz própria, é o princípio passivo do Sol. Porém, na
intriga romanesca da obra, o narrador histórico revoluciona este princípio
simbólico da passividade feminina e atribui a Blimunda capacidades
intuitivas e visionárias, dependentes das fases da Lua, que a tornam, como
elemento activo, tão importante quanto Baltasar.
Visão Crítica
•
O autor serve-se das personagens, do espaço e do tempo, retratando a
realidade portuguesa do séc. XVIII para estabelecer uma ponte com os
meados do sé. XX.
• Usa:
- a Ironia e o sarcasmo;
- as reflexões;
- os juízos valorativos.
Como :
- Romance histórico – faz a descrição crítica da sociedade portuguesa do séc.
XVIII;
- Romance social – dentro da linha neo- realista sobressai o operariado
oprimido e explorado;
- Romance de intervenção - visa a história repressiva do séc. XX,
- Romance da espaço – pretende cruzar o ambiente histórico com os quadros
sociais.
Os temas
O ver/ olhar
«…porque este é o dia de ver não o de olhar, que esse pouco é o que fazem
os que, olhos tendo, são outra qualidade de cegos.»
A opulência dos ricos / a extrema pobreza do povo
«Esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um
lado e de escasso para o outro.»
 A religião repressiva e degradação dos costumes
-«entre duas igrejas, foi encontrar-se com um homem.»
-«alivia-se a necessidade, na peniqueira ou no ventre das madres»
A plenitude do amor / o casamento de conveniência
«Baltasar Mateus, o Sete-Sóis, está calado, apenas olha fixamente Blimunda,
e de cada vez que ela o olha a ele sente um aperto na boca do estômago…»
Elogio do Sonho/Utopia
A história do sonho de voar, personificado na figura do padre--cientista
Bartolomeu Lourenço de Gusmão (poder do sonho e da vontade)
Ânsia de liberdade/ repressão da Inquisição
 Direitos Humanos
Condição humana
-(…)
FIM
Paula A.