Programa Nordeste Criativo - Secretaria de Estado da Cultura

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Transcript Programa Nordeste Criativo - Secretaria de Estado da Cultura

+
Políticas e
Gestão:
o desafio da
sustentabilidade
dos projetos
culturais
Cláudia Sousa Leitão, Dra
+
Tópico 1
Sobre a Cultura e o
Estado em tempos de
globalização.
À guisa de introdução ou reflexão sobre os
significados da cultura

Primeiro significado de Cultura- cultivo, cuidado com a terra, fazer
brotar, frutificar;

Século XVIII: cultura
natureza;

Século. XIX: cultura como um ramo das ciências humanas: a
Antropologia (uma ciência periférica à Economia e à Sociologia;

A Economia, através de sua razão instrumental, descreverá e explicará
o sistema capitalista e a importância do Mercado; A Sociologia justificará
a presença do Estado e da nova sociedade;

Para a Economia a cultura é quase sempre irrelevante (um bem
econômico qualquer ou um fator transversal de produção);

Para a Sociologia, a dimensão cultural, ou seja, a valorização das
diferenças, perde força em nome dos princípios do universalismo e das
promessas emancipatórias do desenvolvimento humano.
como civilização,, como rompimento com a
Os riscos de por o espírito diante da razão: a
diversidade cultural enquanto ameaça ao
pensamento moderno

A modernidade ocidental constrói um meta-modelo universal, O Modelo
Cultural com C maiúsculo para o qual todas as culturas devem convergir.
Logo:
4

Modernização/Ocidentalização/Globalização/Racionalização/Integração
Capitalista passam a constituir conceitos indissociáveis e legitimarão todas
as “missões civilizatórias”, colonialismos etc;

A ideologia moderna é monoteísta, construindo discursos políticos, sociais,
econômicos e organizacionais autoreferentes (a metáfora cristã do “amar
o outro como a si mesmo”, ou seja, “amar a si mesmo no outro”);

A razão instrumental busca, em nome de uma “epistemologia da certeza”
fundamentar-se em parâmetros quantitativos, classificáveis e planificáveis.
Ainda sobre a modernidade e sua razão instrumental...

Ênfase na relações custo/benefício, na racionalização de estruturas,
na hegemonia do conhecimento científico e tecnológico, na
sistematização de quadros reguladores e normativos das relações
sociais e de produção;

Formulação do projeto de modernização determina éticas e estéticas,
assume o evolucionismo darwinista como um dogma, construindo e
institucionalizando sua verdade como “A Verdade”!

“Torno o outro mais igual a mim para colocá-lo a meu serviço” (a
palavra “converter” significa voltar a si);

Reconheço para dominar... A redução das diferenças
legaliza a desigualdade;

Dentre as práticas discursivas de organização social de sentido, o
discurso do Estado/poder governamental é dos mais competentes,
posto que se legitima a partir do Direito.
legitima e
Estado Brasileiro e as tentativas de reforma
-Busca de um novo modelo de reforma administrativa diante do
insucesso de inúmeras iniciativas;
Aspectos estratégicos importantes para uma reforma administrativa:
orientação valorativa (filosofia), componente substantivo (o que
mudará) e componente operativo (como se implantará a mudança);
-Histórico das reformas administrativas brasileiras:
Concepções mecanicistas de administração, escopos imediatistas,
diagnósticos enviesados, tradicionalismos, autoritarismo,
formalismo;
-O que deve orientar uma reforma administrativa?
- Orientação teleológica (que prestigia as atividades-fim da Adm.
Pública);
- Orientação para a solução de problemas (criatividade);
- Orientação valorativa (valores democráticos);
- Orientação cultural (cultura de mudança para a transformação
social)
6
Reformas administrativas devem também levar em conta:
-Complexidade das organizações públicas (multidimensionalidade);
-Relação dialógica entre atos administrativos e atos políticos;
-Necessidade de promover participação, motivação, cultura de
planejamento;
-Melhoria da qualidade dos serviços públicos;
-Necessidade de flexibilidade organizacional;
-Transparência / controle social;
As reformas administrativas devem modernizar o Estado,
combatendo na gestão pública brasileira:
- As práticas tradicionais de clientelismo, patrimonialismo e
assistencialismo;
7
Crises do Estado Brasileiro
segundo Bresser Pereira:
8

Crise fiscal (dívidas)

Crise do Modelo (gestão mecanicista)

Crise do aparelho (estruturas ultrapassadas)

Crise da cultura (autoritarismo)
Concepções do Plano Diretor da Reforma do Estado
concebido por Bresser Pereira em 1990 (do modelo
burocrático ao modelo gerencial)

Núcleo estratégico: poderes executivo (presidente, ministros,
auxiliares e assessores) legislativo, judiciário, Ministério
Público; só pode ser reformado por emenda constitucional

Atividades exclusivas: setor em que são prestados os serviços
que só o Estado pode realizar (cobrança de impostos,
segurança, previdência, educação básica, saúde etc);

Serviços não exclusivos: setor em que o Estado atua
simultaneamente com outras organizações públicas nãoestatais e privadas (atividades que envolvem os direitos
humanos fundamentais (a cultura está aí!);

Produção de bens e serviços para o mercado: corresponde à
área de atuação das empresas (voltadas às atividades
lucrativas como é ocaso da infra-estrutura);
Logo...

O Estado Gerencial passa a transferir, através de permissões e
concessões, para o privado um maior número de serviços!

Consequência:
Surgem as OS’ s e as OSCIPS’ S (leis federais de 1999)
Organizações Sociais são pessoas jurídicas de direito privado,
sem fins lucrativos; funcionam a partir de contratos de gestão
entre o poder público e a entidade qualificada;

Organizações da Sociedade Civil de Interesse Social também são
pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que são
regidas por estatutos; são qualificadas pelo Ministério da Justiça
podendo celebrar parcerias com o poder público;
10
Em que medida os efeitos da globalização
impactam sobre as políticas e a gestão cultural?
 Somos um mercado consumidor de bens culturais e tecnologias
importados;
 O Relatório da Unesco 1980-1998 afirma que as importações de bens
culturais em nível mundial passaram de US$ 47,8 bilhões em 1980
para US$ 213,7 bilhões em 1998. As exportações passaram de US$
47,5 bilhões para US$ para 174 bilhões. Em 1998 só treze países eram
responsáveis por mais de 80% das importações exportações (EUA,
Japão, China e países da União Européia);
 Presença de forte fluxos migratórios para outros continentes que
afetam e transcendem a “localização” da cultura latino-americana no
mundo que reestruturam estilos de vida, desagregando imaginários
compartilhados;(a maior cidade consumidora de bens culturais
espânicos é Miami);
11
E mais...
12

A exportação dos nossos produtos culturais (músicas,
telenovelas, filmes etc) se dá através da indústria
transnacional (ex: escritores argentinos, colombianos e
chilenos publicam através de editoras de Madri ou
Barcelona, músicos cubanos e jamaicanos gravam nos EUA,
africanos gravam em Paris);

Surgem novas representações culturais em função da
desterritorialização da cultura: o que significa ser argentino,
brasileiro, ou colombiano para a indústria cultural? (ausência
de força global e perda cultural das diversas nacionalidades);

Enquanto alguns produtos culturais vendem aos milhares e
milhões, fecham-se teatros, cinemas, livrarias, bibliotecas.
Por último...
 A expansão econômica e da mídia propiciada pelas indústrias culturais
não beneficia equitativamente a todos os países nem regiões (A
América Latina não consegue se converter numa economia mundial de
escala com forte capacidade exportadora);
 A assimetria da globalização das indústrias culturais gera
desigualdades econômicas mas também desequilíbrios históricos no
acesso á comunicação, à informação e ao entretenimento;
 A hegemonia das indústrias culturais, proprietárias ao mesmo tempo de
redes de telecomunicações, bancos, editoras, canais de televisão,
induzem indivíduos a se tornarem consumidores de produtos culturais
de má qualidade.
13
+
Tópico 2
Gestão pública e
gestão cultural:
As organizações culturais diante das novas dinâmicas do
setor cultural e os significados da sustentabilidade
Sustentabilidade x Cultura
O grande tema do novo milênio surge como um alerta promovido por
ativistas e organismos internacionais para a escassez dos recursos
naturais disponíveis no planeta diante da fúria do capitalismo global. Este,
por sua vez, como se não fosse o grande responsável pela catástrofe
anunciada, tomou a dianteira desse processo e ressignificou, talvez de
maneira irreversível, o próprio conceito de sustentabilidade.
A demanda por desenvolvimento (agora sustentável) abriu novas frentes
de exploração e especulação mercadológica, com base em créditos de
carbono, carteiras de investimento e uma série incontável de produtos,
que anunciam um processo de “comoditização” da sustentabilidade.
Mas quando falamos de responsabilidade ambiental ou social, referimonos, em última análise, a uma necessidade de mudança de
comportamento e atitude em relação a nós mesmos e ao planeta em que
vivemos. Uma questão cultural, portanto.
15
Sustentabilidade x cultura

Por que o mesmo tipo de convergência das agendas sociais não se
efetivou do lado da cultura? Por que o apelo do marketing e do
entretenimento sobrepõe-se às questões de relevância para o
desenvolvimento cultural? Como buscar uma afinidade temática entre
as questões ambientais e as responsabilidades social e cultural?
16

* Trecho do livro O Poder da Cultura.

Leonardo Brandt

Busca de sustentabilidade mas... qual sustentabilidade?
Diante desse quadro... constituem ameaças ao desempenho
dos gestores culturais:
17

A extrema desigualdade social brasileira;

O Estado forte e a sociedade frágil e vulnerável;

Os velhos modelos de desenvolvimento (que não prestigiam o
desenvolvimento humano e sustentável);

A rigidez da administração pública;

A presença ainda pouco representativa de servidores públicos
experts;

A necessidade de reforma administrativa urgente não
somente no poder executivo mas também nos poderes
legislativo e judiciário.
Por outro lado.... É necessário observar as
oportunidades para os gestores culturais:
18

A cultura se encontra cada vez mais presente nos debates
internacionais e nas declarações universais, especialmente quando
se discute desenvolvimento e suas conexões com a diversidade
planetária;

O crescimento da economia do turismo, do lazer e da cultura;

A presença mais eficaz do Ministério da Cultura, a partir do
Governo Lula, na retomada do Estado na formulação de políticas
públicas;

O crescimento da legislação cultural nas esferas federal, estaduais
e municipais;

A maior presença da cultura
“culturalização” da política);

O crescimento das pesquisas no campo cultural;

O crescimento de cursos de formação para o setor.
nos
discursos
políticos
(a
A maior oportunidade:
a emergência da transversalidade das políticas culturais
nas políticas públicas:
Tendência de uma maior presença das políticas culturais nas
demais políticas públicas setoriais:
“No tocante a políticas públicas, o importante seria saber
não somente qual a política pública de uma Secretaria ou de
um Ministério da Cultura para os teatros, a música, o
cinema, a literatura, o patrimônio cultural, os museus e
arquivos, o folclore, a culinária tradicional, o artesanato, o
lazer e os espetáculos , mas qual a dimensão cultural nas
políticas de habitação, de saúde, transportes, política
econômica, administrativa ou previdenciária, assim por
diante...” (Ulpiano Bezerra de Menezes)
19
Gestão Pública e Gestão Cultural: a busca de
modelos e o desenvolvimento de práticas.
1. Gestão descentralizada com ênfase no capital humano
• Não é mera transferência de tarefas;
• Não é uma municipalização selvagem!!
• Não garante a democratização da gestão (atenção à
multiplicação excessiva de conselhos municipais setoriais!!)
Descentralização é sobretudo:
• redistribuição de poder;
• compreensão da diversidade regional / municipal brasileira;
• equilíbrio entre competências e recursos;
• fomento à participação social consciente e qualificada;
2. Gestão Estratégica...mais do que planejar pontualmente
uma organização, ela é um trabalho contínuo capaz de:
• Enfatizar cotidianamente o planejamento e a construção de cenários
(macro-ambiente, mercado, valores);
• Definir objetivos claros e os recursos para atingi-los;
• Construir uma cultura de controle e avaliação;
• Produzir diagnósticos (produção de indicadores, levantamento de dados
etc);
• Pactuar metas que serão perseguidas e analisar os resultados obtidos;
21
Gestão por Resultados e suas características
22

Menos ênfase nos processos e nos produtos e maior priorização dos
resultados obtidos pelas ações governamentais ;

Prioridade ao monitoramento e à avaliação de políticas, programas e
projetos;

Racionalização do uso dos recursos públicos;

Geração de aprendizado/cidadania junto às populações;

Postura empreendedora e busca de padrões de eficiência, eficácia e
efetividade, com ética e transparência;

Diálogo permanente com a sociedade (monitoramento e avaliação
das ações governamentais sob o ponto de vista do cidadão);

Redução e custos e de tempo nos processos;
Fluxograma I- Gestão pública Tradicional

Modelo de Organização-> Modelo de Gestão->
ProcedimentosProdutos/Serviços
Fluxograma II- Gestão pública por resultados

...Identificação do Problema-> Definição de
objetivos/metas/meios e fins->Insumos/Recursos>Atividades/processos->Produtos->Resultados>Impactos-- (retroalimentação do Processo)----
23
Logo:
24

Fim da verticalidade do Estado que decide o que é melhor para
quem e como;

O modelo tradicional privilegia a administração, as atividades-meio
na busca de criar produtos);

O modelo por resultados considera que o produto é um meio para
se alcançar um fim, ou seja, para criar impactos/resultados;

Quando ocorre o impacto?

Quando há o envolvimento de sociedade e governo diante das
políticas, dos programas e projetos (desenvolvimento com
envolvimento)
Para quem e por quem é desenvolvida a GPR?
Quem são os grupos de interesse?
25

Os beneficiários diretos da ação pública (co-responsáveis pela
formulação das políticas);

Gestores e técnicos do setor público (responsáveis pela articulação
com os diversos atores sociais)

Atores indiretamente envolvidos (comunidades e grupos sociais
diversos);

Sistema político (políticos, entidades de classe etc);

Mídia.
A Gestão se culturaliza...

Crescimento dos estudos sobre cultura organizacional dentro dos
modelos teóricos de Administração (haveria uma cultura
organizacional brasileira?);

Gestão das organizações culturais são influenciadas pelas formas
tradicionais de gestão mas não poderíamos construir a partir da
gestão cultural novas alternativas para a gestão pública
brasileira?
26
Mitos organizacionais x mitos da cultura
Mitos organizacionais/ mitos da cultura:

Cultura é tudo (somatório de todas as realizações humanas);

Cultura é saber erudito, produto das elites;

A cultura é frágil e está sempre preste a se extinguir;

A cultura rouba recursos das economias pobres (quanto
menos cultura mais recursos para o Estado);

O fomento público ou privado ‘a cultura necessariamente
produz dirigismo cultural ( o combate ao mecenato).
27
Mitos da Cultura e do Desenvolvimento
 Culturalistas | associação entre desenvolvimento e cultura equivaleria a
pregar uma doutrina de predestinação à pobreza ou á riqueza das
sociedades e nações (culturas ativas abertas ao desenvolvimento x
culturas passivas fechadas ao desenvolvimento, associadas ao “Terceiro
Mundo”);
PNUD | substitui os indicadores de desenvolvimento estritamente
econômicos por seu indicador de desenvolvimento humano (IDHrenda,educação e expectativa de vida); Fórum sobre Desenvolvimento e
Cultura em 1999 proposto pelo BID; Conferência em 1998 sobre Cultura e
Desenvolvimento Sustentável proposta pelo BID e UNESCO;
James Wolfenson, presidente do BID | “Temos que respeitar as raízes
das pessoas em seu próprio contexto social. Temos que proteger a
herança do passado. Mas também temos que estimular e promover a
cultura viva em todas as suas múltiplas formas”.
Palavras de ordem | participação e capital social.
28
 Nova percepção da Cultura | passa a ser percebida como matriz
dinâmica dos sentimentos e percepções comunitárias; protagonistas
passam a solicitar subsídios para a preservação de suas expressões
culturais; a diversidade cultural abole a representação hierarquizada do
desenvolvimento;
 Novos significados para o Desenvolvimento | passa a não significar
unicamente o enriquecimento econômico, as obras de infra-estrutura
(saneamentos, estradas, habitação etc) ou a capacidade de
industrialização ou de modernização das cidades, mas, sobretudo, a
capacidade da reação das comunidades a estas intervenções;
 Combate ao desenvolvimentismo | aposta na industrialização, proteção
do Estado a determinadas áreas econômicas (monopólios), dirigismo
econômico;
 E às conseqüências do desenvolvimentismo | populações excluídas
de participação, concentração de renda, endividamento do Estado,
populismos etc.
29
Tendência para o século XXI:
 Atores culturais passam a ser reconhecidos como agentes do
desenvolvimento | patrimônio cultural percebido como capital social;
manifestações culturais e patrimônio edificado percebidos como motores
de desenvolvimento; crescimento das indústrias culturais (risco dos
produtos chamados por Ortiz de “folclore internacional popular”) e o papel
das políticas públicas:
 controle dos conteúdos das indústrias culturais;
 presença de políticas claras para a cultura (risco dos sistemas
paralelos de governança) pois o Estado deve ser referência das
políticas de desenvolvimento ; (municipalização da cultura)
 Gestores públicos experts (quadros técnicos de qualidade)
 Obstáculos/dilemas | Planos de ajuste estrutural dos Estados que levam
a restringir drasticamente o gasto público, especialmente às custas dos
orçamentos de saúde e educação; imposições do BIRD e do Banco
Mundial à vinculação de recursos!
30
Pressupostos de uma gestão estratégica da cultura:

Reconhecimento do ambiente externo;

Reconhecimento do campo cultural Bourdieu );
Campo Intelectual (Bourdieu): Espaço estruturado a partir das
posições ocupadas pelos atores na dinâmica que estabelecem com
os outros campos constitutivos da vida social. É marcado pelos jogos
de poder, por sua vinculação direta com o campo político, este último
estruturante das posições que os intelectuais ocupam no seu próprio
espaço de atuação (define hegemonias, polêmicas, ritos que afirmam
ou marginalizam ‘lugares de fala’;
31

Reconhecimento dos arranjos produtivos das artes e da cultura;

Formação de profissionais para a gestão e para o campo cultural;

Compreensão dos significados da criatividade e da inovação para as
organizações culturais .
A gestão cultural deve levar em conta:
32

A especificidade dos bens culturais

A compreensão do caráter efêmero e aleatório da produção artística ;

A compreensão de que produtos e serviços culturais não
correspondem à velha lógica da oferta e da procura ,mas que os
mesmos induzem o surgimento de novos consumidores (primado da
oferta sobre a procura);

A fragmentação da oferta (cada produto oferecido é único e embora
se controle o processo produtivo não se pode garantir o sucesso do
consumo;

O efeito assinatura (a marca do autor e seu peso simbólico).
Logo:
33

Os bens culturais é que devem formatar as bases de uma
gestão das organizações culturais e não a gestão deve
formatar os bens culturais;

No campo da cultura trata-se de organizar a ação estratégica
não somente a partir da lógica da demanda, mas também da
oferta.

Consequência:

Os produtos e serviços culturais criam uma nova demanda ou
novos consumidores!!!
Gestores culturais... Quem eram, quem são e
quem serão?
Primeira Geração: os intelectuais;
Segunda Geração: os autodidatas;
Terceira Geração: rumo à profissionalização;
34
Principais desafios para a sustentabilidade dos projetos
culturais
 1. Impasse do Estado na definição das instituições que conduzam
as atividades culturais:
Exemplo: Itália - atividades cinematográficas e teatrais ligadas ao
Ministério do Turismo e Espetáculos; Brasil- gestão do segmento áudio
visual diluída na Casa Civil da Presidência da República, Ministério das
Comunicações, MINC.
 2. Os produtos culturais ao serviço das ideologias do Estado (“A
imprensa, o rádio, a literatura, a música, o cinema e o teatro são aguçadas
armas ideológicas de nosso partido. E ele faz com que estas armas
estejam sempre de prontidão para a luta e que atinjam o inimigo sem errar.
O partido não permitirá a ninguém cegar essas armas ou enfraquecer seus
efeitos”(Nikita Kruschev) (o exemplo das tevês educativas)
 3. Indefinição normativa dos subsistemas culturais (normas advindas
do Estado x normas advindas do campo cultural)
35
Quais seriam os papéis dos gestores públicos brasileiros na
busca de sustentabilidade dos projetos culturais?
 Identificar áreas estratégicas do nosso desenvolvimento a partir da
ênfase nas pessoas, comunidades e grupos sociais e culturais (que
produtos culturais -monumentos, sítios históricos, artesanatos, línguas,
tradições podem melhorar as condições de vida das populações? De
que forma poderemos utilizar nossas riquezas culturais a serviço do
desenvolvimento que desejamos?)
 Identificar nosso capital social e cultural no mundo
 Intermediar e facilitar as relações do Estado e da Sociedade na
formulação das políticas públicas de cultura ;
36
Políticas Públicas de Cultura: desafios e perspectivas do
gestor para a sustentabilidade dos projetos culturais
1. Criação de condições para o desenvolvimento da criação, da produção e da
transmissão cultural e artística (investimento em formação, apoio à inovação)
2. Democratização da Cultura ( criação de infra-estrutura e da base tecnológica
para a descentralização e o acesso universal aos bens e serviços culturais);
3. Qualificação da gestão cultural necessária para a formulação, a execução, o
controle e a avaliação das políticas culturais públicas;
4. Criação e atualização permanente de uma base de dados da cultura (criação
de indicadores, levantamento do PIB da Cultura, conhecimento dos arranjos
produtivos da cultura, do mercado de trabalho dos profissionais da cultura);
5. Garantia da diversidade cultural, da interculturalidade e da pluralidade de
conteúdos culturais e artísticos;
6. Criação de redes entre diversos atores políticos e sociais capazes de produzir
sinergias e ações transversais de desenvolvimento a partir e através da
cultura;
7. Criação de um leito institucional (sistemas, leis, regulamentos etc) capaz de
garantir uma base legal para o campo cultural;
8. Criação de instâncias de formulação e gestão compartilhada das políticas
culturais entre Estado e Sociedade.
37
Desafios das políticas e da gestão pública de cultura no
Brasil.
• Ainda é reduzida a atenção dada por políticos em geral e cientistas
sociais às políticas públicas da área cultural, sejam elas oriundas de
órgãos federais, estaduais ou municipais (políticas de cultura não estão
presentes nos discursos dos candidatos ao legislativo ou ao executivo,
embora todos se refiram à importância e à riqueza de nossas expressões
culturais).
• Se o país adotou alguns princípios para sua política econômica, os quais
vêm se mantendo, apesar das mudanças de governo, não temos notícia no
país de uma política cultural capaz de manter-se ao longo do tempo e
consolidar-se através de planos, indicadores, avaliação de metas e
aferição de resultados.
38
• No Brasil, as ações de cultura mantiveram-se tradicionalmente dispersas
em diversos órgãos federais, estaduais e municipais, órgãos
desvinculados do Ministério e das Secretarias Estaduais e Municipais de
Cultura. Vale, nesse caso, ressaltar que a pobreza dos orçamentos
destinados à área cultural simboliza o desprestígio e a invisibilidade das
políticas públicas para a cultura no país.
• Ausência de diretrizes claras sobre os limites da intervenção do Estado
na área cultural provoca, em muitos casos, ou um confronto aberto de
posições radicalmente antagônicas levando à paralisia decisória, ou uma
certa tendência a evitar projetos mais ousados e a privilegiar um grande
número de pequenas ações...
• Atuação clientelista e assistencialista das agências de fomento cultural ,
clientelista porque se restringe a atender, de maneira geralmente
passiva, as demandas da clientela própria da área artística em geral. O
objetivo dessas demandas é sempre o mesmo: recursos financeiros para
um determinado projeto cultural; assistencialista porque tende a apoiar as
atividades culturais compreendendo-as como processos de socialização.
39
+
Tópico 3
O desafio da
sustentabilidade dos
projetos culturais :
O caso das Indústrias Criativas
Plano Nacional de Cultura
Ministério da Cultura
Simbólica
Dimensões
Culturais
Cidadã
Econômica
Programa Mais Cultura
Indicadores de exclusão
• Apenas 13% dos brasileiros freqüentam cinema alguma vez por ano;
• 92% dos brasileiros nunca freqüentaram museus;
• 93,4% dos brasileiros jamais freqüentaram alguma exposição de
arte;
• 78% dos brasileiros nunca assistiram a espetáculo de dança,
embora 28,8% saiam para dançar;
• Mais de 90% dos municípios não possuem salas de cinema, teatro,
museus e espaços culturais multiuso;
Programa Mais Cultura
Indicadores de exclusão
• O brasileiro lê em média 1,8 livros per capita/ano (contra 2,4 na
Colômbia e 7 na França, por exemplo);
• 73% dos livros estão concentrados
nas
mãos
de
apenas 16%
da população;
• O preço médio do
livro
elevadíssimo
se compara
quando
de
leitura
com
corrente é
de R$ 25,00,
a renda do brasileiro nas
classes C/D/E;
• Dos cerca de 600 municípios brasileiros que nunca receberam
uma biblioteca, 405 ficam no Nordeste, e apenas dois no Sudeste;
Programa Mais Cultura
Indicadores de exclusão
• 82% dos brasileiros não possuem computador em casa, e 70% não
tem qualquer acesso a internet (nem no trabalho, nem na escola);
• 56,7% da população ocupada na área de cultura não têm carteira
assinada ou trabalha por conta própria;
• A média brasileira de despesa mensal com cultura por família é
de 4,4% do total de rendimentos, acima da educação (3,5%), não
variando em razão da classe social, ocupando a 6ª posição dos gastos
mensais da família brasileira.
Programa Mais Cultura
Diretrizes
• Garantir o acesso aos bens culturais e meios necessários para a
expressão simbólica e artística;
• Promover a diversidade cultural e social, a auto-estima, o sentimento
de pertencimento, a cidadania, a liberdade dos indivíduos, o protagonismo
e a emancipação social;
• Qualificar o ambiente social das cidades, ampliando a oferta de
equipamentos e os espaços que permitem o acesso à produção e à
expressão cultural;
• Gerar oportunidades de emprego e renda para trabalhadores das
micro, pequenas e médias empresas, assim como empreendimentos de
economia solidária no mercado cultural brasileiro.
Dados da Indústria Cultural
MUNIC (2006): Pesquisa do IBGE
ESTUDOS ACERCA DAS INDÚSTRIAS CRIATIVAS

O que são indústrias criativas?

São os ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços
que usam criatividade e capital intelectual como insumos primários”
(UNCTAD)

A indústria criativa possui um núcleo ( que envolve a produção direta de
bens e serviços criativos) e as indústrias relacionadas (fornecedoras de
materiais e elementos para o funcionamento do núcleo).
UNCTAD - Classificação das Indústrias Criativas (2008)
Sítios
Culturais
Manifestaçõe
s Tradicionais
Artes
Visuais
Publicações
e Mídias
Impressas
Indústrias
Criativas
Patrimônio
Artes
Performáticas
Artes
Audiovisual
Mídias
Novas
Mídias
Design
Serviços
Criativos
Criações
Funcionais
+
Creative Industries Precinct
Brisbane – Queensland - Australia
O Creative Industries Precinct é o
primeiro local da Austrália dedicado à
experimentação e ao desenvolvimento
comercial das indústrias criativas. Ele
proporciona uma oportunidade única para
designers, artistas, pesquisadores,
educadores e empreendedores para se
conectarem facilmente e colaborarem uns
com os outros para criarem novos
trabalhos, desenvolverem novas idéias e
alavancarem o setor das indústrias criativas
em Queensland.
+
Creative Industries Precinct
Universidade – Governo – Iniciativa Privada
Trabalhando de forma integrada
com parceiros do governo e do
empresariado, a QUT – Queensland
University of technology é líder
nacional no desenvolvimento das
indústrias criativas em Queensland
na Austrália e está se tornando um
grande eixo internacional de
empresas criativas.
+
1. Incubadora de empresas
2. Centro de aceleração das indústrias criativas (Kelvin Grove Urban
Village)
3. Consultoria em negócios criativos
4. Fomento aos negócios criativos em estágio inicial
5. Programa de conexões criativas (capacitações e outros eventos de
transferência de conhecimento)
+
Creative Industries Precinct
Kelvin Grove Urban Village
Kelvin Grove Urban Village é
uma comunidade diversificada
da cidade, associando a
aprendizagem
com
as
empresas,
as
indústrias
criativas com a comunidade. O
resultado é uma nova parte de
Brisbane que oferece soluções
únicas de vida.
+
1.Serviços de comunicação e marketing
2.Comunidade e Cultura
3.Novas mídias
4.Legislação, regulamentações e assessorias
5.Audiovisual
6.Mídia Impressa
7.Música e radiodifusão
http://www.brisbanemediamap.com.au/
Indústrias Criativas
A experiência australiana

•
•
Queensland University of Technology
•
Precinct – Espaço para difusão e desenvolvimento de
negócios criativos.
•
Creative Enterprise Australia - Incubadora
•
CCI / ICI – Centros de pesquisa
•
Creative Equipments – Equipamentos criativos
•
QUT Law – Faculdade de direito da QUT
Governo Local
•
Brisbane City Council – Prefeitura de Brisbane
•
Brisbane Marketing – Convention Bureau
Governo do Estado
•
Arts Queensland – Secretária de Cultura
Indústrias Criativas:
Dados do Brasil
Dados do Brasil
Indústrias Criativas

638.000 trabalhadores, isto é 1,8% da força de trabalho brasileira,
atuam em empresas/ negócios criativos;

Arquitetura, moda e design são os principais mercados de trabalho das
indústrias criativas no Brasil;

US$ 60.2 bilhões, cerca de 2,6%, do PIB nacional é produzido por
atividades das indústrias criativas;

52.300 dos negócios criativos estão registrados.
Fonte: RAIS (2006)
Programa Nordeste Criativo
Universidade
Estadual
do Ceará
Programa Nordeste Criativo
Bacia
Cultural
Bacia
Criativa
Criativa
Bureau
Bureau
de Negócios
Criativos
Programa Nordeste Criativo
Conceito de “Bacia Criativa”
Chamamos de “bacia criativa” a unidade territorial em que, a partir
da criatividade, éticas e estéticas se entrelaçam para produzir
vivências e sobrevivências humanas, ou seja, um espaço
privilegiado de articulação entre cultura, ciência e tecnologia,
meio ambiente e desenvolvimento local/regional.
Programa Nordeste Criativo
Objetivo Geral
Implementar o Programa Nordeste Criativo como estratégia de fomento às
Indústrias Criativas da região nordeste do Brasil, a partir dos seguintes
projetos: 1) o Observatório das Indústrias Criativas do Nordeste, para o
desenvolvimento de pesquisas de mapeamento da oferta e do consumo relativos
à economia criativa, além da geração e difusão de conhecimento relativo aos
mercados e tendências deste segmento econômico; 2) o Birô de Negócios
Criativos, para a estruturação de ambientes de promoção e fortalecimento da
cadeia produtiva das indústrias criativas destinados a contribuir para o fomento
de empreendimentos criativos sustentáveis.
Programa Nordeste Criativo
Observatório das Indústrias
Criativas do Nordeste
Bureau de Negócios
Criativos
Programa Nordeste Criativo
Objetivos específicos
Observatório das Indústrias Criativas
1. Estabelecer um Sistema de Informações com dados estatísticos sobre
as indústrias criativas da região nordeste;
2. Realizar e difundir análises quantitativas e qualitativas sobre este
segmento econômico;
3. Articular parcerias com outros observatórios e demais instituições de
pesquisa voltados à economia criativa;
4. Analisar as problemáticas específicas de cada categoria de atividades
desta economia (patrimônio, artes, novas mídias e criações funcionais);
5. Analisar a demanda e o consumo de bens e serviços criativos;
6. Realizar mapeamentos das indústrias criativas na região nordeste;
7. Realizar cartografia das “bacias criativas” da região Nordeste.
Observatório das Indústrias
Criativas do Nordeste
Escopo Cartográfico
1. Densidade populacional (hab/km²)
2. Densidade de produção ou circulação ou consumo de bens
e serviços criativos:
•
Festivais ou mostras (dança, gastronomia, música, teatro, circo, artes
plásticas e visuais, manifestações tradicionais, outros)
•
Festas (religiosas, cívicas, culturais / artísticas)
•
Feiras (artes, música, artesanato, livros, agropecuária, moda, outros)
•
Sítios culturais / naturais: arqueológicas, urbanos, paisagísticos,
naturais / ambientais / ecológicos / paleontológicos, arquitetônicos
•
Grupos artísticos (teatro, manifestação tradicional popular, cineclube,
dança, musical, orquestra, banda, coral, associação literária, capoeira,
circo, escola de samba, bloco carnavalesco, desenho e pintura, artes
plásticas e visuais, artesanato)
•
Atividades artesanais
Observatório das Indústrias
Criativas do Nordeste
Escopo Cartográfico
•
Atividades artesanais
•
Número de meios de comunicação (jornal impresso, revista impressa,
rádio, TV, provedor de internet)
•
Equipamentos culturais (bibliotecas públicas, arquivos, museus, galerias,
teatro ou salas de espetáculos, centro cultural, estádios ou ginásios
poliesportivos, cinemas);
•
Pólos criativos (gastronômicos, artesanais, religiosos, e de lazer /
desportivos)
•
Bens e serviços criativos associados ao Design e suas modalidades –
interior, gráfico, moda, jóias, brinquedos e produtos especiais;
•
Serviços criativos relacionados à arquitetura, publicidade, pesquisa e
desenvolvimento criativos, lazer, entretenimento e gastronomia;
•
Produtos e serviços das novas mídias como softwares empresariais,
jogos educacionais e /ou de entretenimento eletrônicos, jogos virtuais,
conteúdos criativos digitais (web sites)
Observatório das Indústrias
Criativas do Nordeste
Escopo Cartográfico
3. Densidade institucional
•
Educação - Presença de universidades / faculdades, instituições de
formação profissional, ong’s, centros tecnológicos, institutos de educação
tecnológica e outros;
•
Experiência de governança regional – pactos de gestão compartilhada
estabelecidos entre as diversas instituições publicas, privadas e
sociedade civil com ações no território.
4. Densidade sócio-econômica
•
Quantidade e diversidade de empreendimentos privados baseados no
território
•
Nível educacional médio da população
•
Índice do Desenvolvimento Humano – IDH dos municípios que compõem
os territórios
•
Renda familiar
5. Sede de agências do BNB
TERRITÓRIOS CRIATIVOS
Cidades / Macroterritórios:
Construídos a partir de grandes
pólos urbanos/ metropolitanos.
• São Luís
• Fortaleza (*)
• Recife
• Salvador / Recôncavo Baiano
Sub-regiões interestaduais:
Construídas a partir das sinergias
entre os Estados.
• CE/ PI/ MA
• PI/ MA (Espaço Pedro II)
• CE/PI/PE/PB – Araripe
• RN/PB/PE
• AL/SE
• PE/ BA - Pólo Petrolina e
Juazeiro
(*) Projeto-piloto
Programa Nordeste Criativo
Objetivos Específicos
Birô de Negócios Criativos
1. Promover o desenvolvimento de competências empreendedoras e
profissionais dos agentes econômicos envolvidos com as indústrias
criativas;
2. Apoiar a elaboração e o desenvolvimento de projetos de acesso à crédito e
de planos de negócios destinados a empreendimentos criativos e
inovadores;
3. Assessorar a implantação de novos negócios criativos;
4. Democratizar o acesso a informações sobre os diversos mecanismos de
financiamento do setor;
5. Promover articulações institucionais com entidades públicas e privadas
para o desenvolvimento da economia criativa do Nordeste;
Programa Nordeste Criativo
Objetivos Específicos
Birô de Negócios Criativos
6. Apoiar a divulgação e a circulação de bens e serviços criativos;
7. Estimular o uso da internet e de novas mídias como ferramentas
estratégicas para os negócios criativos;
8. Articular a integração dos elos das cadeias produtivas da economia criativa
do Nordeste;
9. Divulgar e disponibilizar estudos, relatórios, documentos, periódicos e
publicações resultantes das pesquisas desenvolvidas pelo Observatório
das Indústrias Criativas do Nordeste.
Birô de Negócios Criativos
Linhas de Ação
•
Empreendedorismo Criativo
•
Articulações Institucionais
•
Difusão e Circulação de Produtos e Serviços Criativos
•
Geração e Disseminação de Informações
“No momento cultural que atravessamos, em que se sente um desejo
imperioso, uma aspiração coletiva por uma afirmação categórica de
independência política e econômica da nação, devemos produzir
estudos capazes de fundamentar políticas identificadas com as
aspirações regionais de nosso povo... Política que se pressente para
os próximos dias como uma benéfica e irremovível contingência do
impulso criador de nossa cultura”
Josué de Castro (1932)