Heurísticas e Vieses

Download Report

Transcript Heurísticas e Vieses

XVII Congresso Brasileiro de Engenharia de
Avaliações e Perícias (COBREAP)
Majestic Palace Hotel, Florianópolis-SC, Brasil
14 a 18 de outubro de 2013
Tomada de Decisão Aplicada à Engenharia de Avaliações:
Heurísticas e Vieses
Lutemberg Florencio¹
Abraham Yu²
Fernando Fonseca³
1 Doutorando Eng. Civil (Real Estate) - USP | Eng. Civil (BNB)
2 Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), Brasil
3 Universidade de São Paulo (USP), Brasil
1
Organização do artigo
1. Contextualização, motivação e objetivos
2. Revisão bibliográfica
2.1 Tomada de decisão e o processo decisório racional
2.2 Heurísticas
2.3 Vieses
3. Tomada de decisão aplicada à Engenharia de Avaliações:
influência das heurísticas e dos vieses cognitivos
4. Conclusões e recomendações
2
Contextualização
 Para que serve a Engenharia de Avaliações?
 A Engenharia de Avaliações serve para subsidiar tomadas de decisões a respeito de
valores, custos e alternativas de investimentos, além de seus frutos e direitos.
 Como deve ser realizada uma avaliação?
 Com base em normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
através de metodologia apropriada. A Engenharia de Avaliações moderna preconiza o
tratamento de evidências empíricas pelo uso de metodologia de pesquisa científica, a
fim de conferir um caráter científico ao processo avaliatório e por constituir uma
poderosa ferramenta de convicção.
3
Contextualização
• Decisão tomada;
• Imóvel vendido
com
base no valor proposto
no laudo.
SUCESSO!
ENGENHEIRO DE AVALIAÇÕES
CONTRATANTE
(TOMADOR DE DECISÃO)
4
Contextualização
 De acordo com Dantas (1998), para exercer a Engenharia de Avaliações,
além dos conhecimentos específicos na área de engenharia, se fazem
necessários conhecimentos em outras áreas, entre elas: arquitetura, psicologia,
filosofia, análise de investimentos, análise de balanços, estatística básica,
estatística inferencial, tecnologia da amostragem, matemática aplicada,
matemática financeira, micro e macroeconomia, engenharia econômica,
economia urbana, planejamento urbano, sociologia urbana, pesquisa social,
econometria, teoria das probabilidades, teoria das decisões, pesquisa científica,
pesquisa operacional, álgebra linear, direito imobiliário, marketing, e mercado
de capitais.
 Estudos sobre tomada de decisão conduzidos por
Kahneman & Tversky (1974) mostraram o quanto a crença
de um processo de perfeita racionalidade é ilusória e
como, na realidade, o tomador de decisão está exposto a
influências que podem minar a capacidade de julgar e agir
com clareza.
5
Contextualização
• Decisão tomada;
• Imóvel vendido
com
base no valor proposto
no laudo.
A Engenharia
de Avaliações serve para subsidiar tomadas CONTRATANTE
de decisões a
ENGENHEIRO
DE AVALIAÇÕES
(TOMADOR
respeito de valores, custos e alternativas de investimentos,
além DE
deDECISÃO)
seus
frutos e direitos.
6
Contextualização
Tomador de
decisões
De acordo com Kahneman
(2011), decidir é um processo
influenciado
pelos
vieses
cognitivos e limitado pelos
erros de percepção.
7
Contextualização
8
Contextualização
Um pequeno teste!
Fonte: KAHNEMAN, 2011.
Reflexão: será que o engenheiro de avaliações pode processar todas as etapas
relevantes de um processo avaliatório e analisar todas as dimensões das alternativas
levantadas para uma definição de um valor 100% confiável? Será que o avaliador
consegue ser 100% imparcial?
9
Motivação
 Questionamento da pressuposição dogmática: o processo de avaliação de bens é
racional e lógico (?)
 Tradeoff entre o caráter científico da engenharia de avaliações, em que pese a
racionalidade do processo, e a propensão do engenheiro de avaliações em ser
influenciado por percepções intuitivas e vieses cognitivos nas suas decisões
(racionalidade limitada);
 A decisão comportamental, no seu sentido clássico, tem sido largamente explorada
na literatura e há muito pouco a acrescentar aos bons textos existentes. Todavia, como
de costume, ínfimos são os textos que tratam das particularidades do real estate,
especificamente as avaliações de bens. Na literatura nacional não foram identificados
artigos sobre o assunto; na literatura internacional o foco é em Administração de
Empresas (finanças empresariais na produção seriada), para a qual se derivam quase
todas as publicações no campo da chamada “Teoria Comportamental”.
10
Objetivos
 Apresentar e discutir as heurísticas – e os vieses delas
resultantes – as quais se defronta o engenheiro de avaliações
no âmbito do processo de avaliação de bens;
 Alertar o engenheiro de avaliações quanto aos erros de
percepção e de julgamento a que está sujeito, os quais,
quando não identificados e devidamente tratados, podem
resultar em tomadas de decisões que se desviam
sistematicamente da racionalidade e, consequentemente,
tornam-se mal fundamentadas;
 Melhorar a qualidade da decisão do engenheiro de
avaliações;
 Contribuir com o desenvolvimento da pesquisa sobre
decisão comportamental na área de Engenharia de Avaliações
e, ao mesmo tempo, suprir algumas lacunas da literatura.
11
Heurísticas
 São regras práticas, atalhos ou modelos mentais utilizados pelo ser humano para
simplificar o processo de tomada de decisões;
 As heurísticas tendem a ocorrer de forma automática e intuitiva, sem
conscientização deliberada;
 As heurísticas produzem boas decisões em uma proporção significativa do tempo,
mas podem levar a julgamentos sistematicamente enviesados e induzirem a erros
graves, principalmente quando utilizadas além de seu escopo e inconscientemente;
 A maioria de nós não está consciente da existência das heurísticas e dos seus
impactos constantes sobre o nosso processo de decisão.
12
Heurísticas
Heurística da disponibilidade
Heurística da representatividade
Heurística da confirmação
13
Heurísticas e vieses
 Vieses relacionados:
Heurística da
disponibilidade
Viés 1: facilidade da lembrança (baseada em vividez e recenticidade)
Viés 2: recuperabilidade (baseada em estruturas da memória,
estratégias de busca)
Heurística da
representatividade
Viés 3: Insensibilidade aos índices básicos
Viés 4: Insensibilidade ao tamanho da amostra
Viés 5: Interpretações erradas de chance
Viés 6: Regressão à média
Viés 7: A falácia da conjunção
Heurística da
confirmação
Viés 8: Armadilha da confirmação
Viés 9: Ancoragem
Viés 10: Vieses de eventos conjuntivos e disjuntivos
Viés 11: Excesso de confiança
Viés 12: Previsão retrospectiva e a maldição do conhecimento
14
Heurística da confirmação
 Viés da ancoragem e ajustamento
Tversky & Kahneman (1974) solicitaram aos participantes que estimassem a
porcentagem de países africanos nas Organizações das Nações Unidas (ONU). Porém,
antes de estimar, cada participante recebeu um número sorteado “aleatoriamente”
obtido por uma rodada de roleta.
De posse dos números, solicitou-se que os sujeitos
declarassem se a quantidade de países era mais
alta ou mais baixa do que o valor “aleatório”
recebido e que a partir daí fosse desenvolvida a
estimativa que eles considerassem melhor.
Tversky & Kahneman (1974) detectaram que mesmo tendo conhecimento que a
âncora recebida era aleatória, ela teve um impacto substancial sobre as
estimativas, já que para aqueles que receberam os valores 10 e 65 como valor
inicial, a mediana das estimativas foram de 25% e 45%, respectivamente.
Heurísticas da representatividade e
confirmação
 Challenger foi um ônibus espacial da NASA. Foi a primeira
vez ao espaço em 1983. Em 28 de Janeiro de 1986, depois de
ser lançada na temperatura mais baixa em sua história, um
defeito nos tanques de combustível causou a explosão da
Challenger, matando todos os seis ocupantes;
 A investigação sobre o acidente com o ônibus espacial
descobriu uma falha nos anéis de borracha que serviam para
a vedação das partes do tanque de combustíveis, que
apresentava anomalias na expansão quando a temperatura
chegava aos 0°C (ou 32°F);
 Viés da Insensibilidade ao tamanho da amostra;
 Viés da armadilha da confirmação.
Tomada de decisão aplicada à Engenharia de
Avaliações: influência das heurísticas e dos vieses
cognitivos
 Mapear das etapas inerentes ao processo avaliatório – ênfase no método
comparativo de dados de mercado -- em que pese a decisão do engenheiro de
avaliações. Por exemplo: coleta de dados, tratamento dos dados, entre outras;
 Verificar as heurísticas (e vieses resultantes) passíveis de ocorrência em cada etapa
mapeada. Por exemplo: armadilha da confirmação, excesso de confiança, entre
outras.
 Apresentar sugestões para aprimorar o julgamento e melhorar a qualidade da
decisão do planejador.
17
Tomada de decisão aplicada à Engenharia de
Avaliações: influência das heurísticas e dos vieses
cognitivos
 Decisão (etapa): Identificação preliminar das possíveis variáveis regressoras
responsáveis pela formação dos preços dos imóveis
• Heurística: disponibilidade
• Viés: facilidade de lembrança
• Exemplo prático: quando da seleção das variáveis regressoras, o avaliador se utiliza
das experiências vivenciadas de forma positiva por último, razão pela qual deixa de
contemplar ou analisar covariáveis importantes na formação do valor de mercado do
bem. Neste sentido, covariáveis que se mostraram “irrelevantes” (estatisticamente
não significantes) em avaliações pretéritas são menos lembradas em novas (atuais)
avaliações.
18
Tomada de decisão aplicada à Engenharia de
Avaliações: influência das heurísticas e dos vieses
cognitivos
 Decisão (etapa): Coleta de dados de mercado de imóveis com características
semelhantes as do avaliando
• Heurística: confirmação
• Viés: armadilha da confirmação
• Exemplo prático 1: o avaliador coleta apenas dados de imóveis que “contribuem”
para embasar o pré-julgamento que possui sobre o valor do bem ou busca por
informações confirmatórias sobre os elementos pesquisados quando da entrevista
com corretores
• Exemplo prático 2: principalmente no tratamento por inferência estatística, ocorre
uma busca indiscriminada e arbitrária por modelos que se ajustem bem aos dados e
que ratifiquem o que o avaliador entende por verdadeiro, sem que haja uma busca
por evidências contrárias.
19
Tomada de decisão aplicada à Engenharia de
Avaliações: influência das heurísticas e dos vieses
cognitivos
Decisão (etapa): Estimativa do valor
• Heurística: ancoragem e ajustamento
• Viés: excesso de confiança
• Exemplo prático: O avaliador se veste, de forma pretensiosa, da capacidade de
imputar certeza aos resultados do modelo estimado, ignorando as imperfeições do
mercado imobiliário.
 Decisão (etapa): Estimativa do valor
• Heurística: ancoragem e ajustamento
• Viés: ajuste insuficiente da âncora
• Exemplo prático: em avaliações para fins de empréstimo bancário, o avaliador ajusta
o valor da avaliação com base nos limites e condições de crédito estabelecidos pelas
instituições financeiras, por exemplo: “um imóvel oferecido em garantia deve ter o
valor de mercado estimado em, no mínimo, 120% do crédito pleiteado”. Situação
semelhante seria a avaliação ajustada em função do limite da capacidade de
endividamento do proponente ao crédito.
20
Tomada de decisão aplicada à Engenharia de
Avaliações: influência das heurísticas e dos vieses
cognitivos
 Os vieses destacados estão relacionados às irracionalidades sistemáticas que
podem ocorrer no julgamento do engenheiro de avaliações quando não há
consciência dessa tendência. Infelizmente, há uma propensão de utilização excessiva
dessas heurísticas ao tomar decisões;
 Como tentativa de melhorar a tomada de decisão do engenheiro de avaliações e
evitar o efeito danoso dos vieses, listamos algumas sugestões para aprimorar o
julgamento:
1.
2.
3.
4.
Aplicar a capacidade de raciocínio analítico;
Desenvolver o senso probabilístico/estatístico;
Buscar alternativas impensadas (“pensar fora da caixa”);
Refletir antes de consultar outras pessoas, evitando âncoras que poderão ser
representadas pelas ideias alheias;
5. Ao questionar outras pessoas, não fazer perguntas capciosas, que convidem a
respostas que apoiem suas próprias ideias;
6. Buscar identificar e compreender os possíveis erros de julgamento dos outros.
21
Conclusões
 O processo de tomada de decisão do engenheiro de avaliações é afetado por um
comportamento decisório não puramente racional (modelo de racionalidade limitada),
afligido pelas heurísticas, que constituem ferramentas cognitivas utilizadas para
simplificar a tomada de decisão;
 Os engenheiros de avaliações são profissionais inteligentes que, em geral, têm sido
bem-sucedidos, mas cujas decisões sofrem vieses que podem comprometer
seriamente o seu potencial. A extinção do viés não pode ser regulamentada ou
legislada. Entretanto, há formas de mitigar os seus efeitos;
Almeja-se com essa pesquisa que o engenheiro de avaliações possa aprimorar a sua
capacidade de julgamento, conscientizando-se e prevenindo-se dos erros sistemáticos
que provavelmente afetarão a sua decisão. Se o engenheiro de avaliações aprender a
reconhecer e controlar o uso de tais vieses, existe uma grande chance de melhoria da
qualidade de suas decisões e, consequentemente, da confiabilidade da sua
análise/estudo.
22
Recomendações
 A fim de contribuir com o aprimoramento do processo da tomada de decisão pelo
engenheiro de avaliações, sugerimos que estudos futuros contemplem pesquisas
empíricas acerca do processo de tomada de decisão pelo engenheiro de avaliações,
possibilitando uma maior compreensão da racionalidade limitada e estendendo a
presente abordagem.
“Às vezes, o progresso científico nos deixa mais confusos do que
estávamos antes” (KAHNEMAN, D).
23
Referências Bibliográficas
• APPRAISAL INSTITUTE. (2001). The Appraisal of Real Estate. 12th Edition. Chicago, IL: Appraisal
Institute.
• BAZERMAN, M. H; MOORE, D. (2010). Processo decisório. 7ª ed. Rio de Janeiro: Campus.
•GRAASKAMP, J. A. (1991). The Failure of the Universities to Teach the Real Estate Process as an
Interdisciplinary Art Form. In Jarchow, S.P. (Ed.), Graaskamp on Real Estate. Washington D.C.: ULI The Urban Land Institute.
•MACEDO, M. A. S.; ALYRIO, R. D; OLIVEIRA, M. A.; ANDRADE, R. O. B. (2003). Heuristics and
Biases of Decision: the limited rationality in decision making. In: Anais do III Congresso
Internacional do Ibero-American of Management. São Paulo, Brasil.
• TVERSKY, A.; KAHNEMAN, D. (1974). Judgment under uncertainty: Heuristics and biases. Science,
185, 1124-1131.
• YU, A. S. O. (Org.); LIMA, A. C. (Org.); NASCIMENTO, P. T. S. (Org.); RUSSO, R. F. S. M. (Org.);
SOUSA, W. H. (Org.). (2011). Tomada de decisão nas organizações: uma visão multidisciplinar. São
Paulo: Saraiva.
24
Obrigado!
Lutemberg Florencio
[email protected]
25
Heurística da confirmação
 Viés da facilidade de lembrança (baseado em vividez e recenticidade)
1
Tabaco
Acidente com
veículo a motor
3
Dieta pobre e inatividade física2
Armas de fogo
4
Uso ilícito de drogas5
26