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Arte Paleocristã
O termo arte paleocristã, ou paleocristianismo,
não designa propriamente um estilo, referindo-se
antes a todo o tipo de formas artísticas produzidas
por ou para cristãos, durante a vigência do império
romano do ocidente. As formas mais antigas
remontam ao século III, evoluindo posteriormente
até ao século V d.C..
A sua finalidade é comover o espírito
para levá-lo a Deus.
Enquanto os romanos desenvolviam uma arte colossal
e espalhavam seu estilo por toda a Europa e parte da
Ásia, os cristãos (aqueles que seguiam os
ensinamentos de Jesus Cristo) começaram a criar uma
arte simples e simbólica executada por pessoas que
não eram grandes artistas. Surge a arte cristã primitiva.
Os romanos testemunharam o nascimento de Jesus
Cristo, o qual marcou uma nova era e uma nova
filosofia.Com o surgimento de um "novo reino"
espiritual, o poder romano viu-se extremamente
abalado e teve início um período de perseguição não
só a Jesus, mas também a todos aqueles que
aceitaram sua condição de profeta e acreditaram nos
seus princípios.
Após a morte de Jesus Cristo, seus discípulos
passaram a divulgar seus ensinamentos.
Inicialmente, essa divulgação restringiu-se à
Judéia, província romana onde Jesus viveu e
morreu, mas depois, a comunidade cristã
começou a dispersar-se por várias regiões do
Império Romano.
No ano de 64, no governo do Imperador Nero, deu-se a
primeira grande perseguição aos cristãos. Num espaço de
249 anos, eles foram perseguidos mais nove vezes; a
última e a mais violenta dessas perseguições ocorreu entre
303 e 305, sob o governo de Diocleciano.
Em 476, com a tomada de Roma pelos povos bárbaros,
tem início o período histórico conhecido por Idade Média.
Na Idade Média a arte tem suas raízes na época
conhecida como Paleocristã ou Cristã Primitiva,
trazendo modificações no comportamento humano, com o
Cristianismo a arte se voltou para a valorização do espírito.
Os valores da religião cristã vão impregnar todos os
aspectos da vida medieval. A concepção de mundo
dominada pela figura de Deus proposto pelo cristianismo é
chamada de teocentrismo (teos = Deus). Deus é o centro do
universo e a medida de todas as coisas. A igreja como
representante de Deus na Terra, tinha poderes ilimitados.
A primitiva arte cristã cristalizou-se nas pinturas das
catacumbas, na construção de basílicas e em relevos de
sarcófagos de pedra.
A Arte Primitiva Cristã divide-se em dois
períodos:
Antes e depois do reconhecimento do
Cristianismo como religião oficial do Império
Romano. O reconhecimento do Cristianismo
como religião oficial do Império Romano foi
feito pelo imperador Constantino, no Édito de
Milão no ano 330 da nossa era.
A Fase Catacumbária
A fase anterior ao reconhecimento chama-se Catacumbária,
porque as suas principais manifestações ocorreram nas
catacumbas, cemitérios subterrâneos, nos quais os primeiros
cristãos sepultavam seus mortos e mártires.
Estende-se do século I ao início do século IV. Corresponde,
portanto, à época das perseguições movidas aos cristãos, com
maior ou menor intolerância e crueldade, por imperadores
romanos. A perseguição desenvolvia-se praticamente em todo o
Império, em algumas partes com mais brandura, especialmente
em certas regiões da Ásia Menor, nas quais houve mesmo
tolerância com a nova religião, que se misturava com velhos
cultos pagãos locais, vindos dos egípcios e caldeus. Por isso
mesmo, ali são mais precoces as transformações da primitiva
Arquitetura - Sendo uma
religião perseguida, alvo da
vigilância e repressão das
autoridades, as práticas cristãs se
faziam ocultamente. Desse modo,
na fase catacumbária, não existe
praticamente arquitetura. Pensouse, durante muito tempo, que os
fiéis se reunissem no interior das
catacumbas para celebração do
culto. Está provado hoje, por
investigações arqueológicas, que
faziam dentro de residências, em
Roma e outras cidades, geralmente
à noite, sob o temor da prisão,
tortura e morte. As catacumbas
serviam apenas para o
Deixaram de fazê-lo por dois motivos:
• primeiro porque adotaram a prática da inumação,
contrária à incineração, usada pelos pagãos;
• segundo, porque os pagãos consagravam os
cemitérios ás suas divindades.
Nas residências, utilizavam salas, com altares
improvisados, para os ofícios divinos, os ágapes ou
banquetas de amor, como se chamavam, depois
transformados na cerimônia da missa. Algumas casas
mais ricas chegaram a possuir uma espécie de templo,
com disposição e instalação adequadas. Não podem
ser consideradas obras de arquitetura os trabalhos,
muitas vezes toscos, de sustentação de paredes e tetos
Catacumbas - constituíam de
galerias subterrâneas que se cruzam e
entrecruzam, em diferentes níveis,
superponde-se, constantemente, em
extensões consideráveis de centenas
de quilômetros. As galerias de
circulação, estreitos corredores,
denominam-se ambulacra ou
ambulatórios. Os corpos eram
depositados em nichos retangulares,
chamados loculi, abertos na parede se
superpostos em fila. Uma placa de
mármore ou de pedra, com o nome do
morto acompanhado de piedosa
invocação, fechava a abertura. Quando
se reuniam diversos loculi em
Os loculi maiores possuíam um arco, às vezes sobre
colunas. Era o arcosolium, continham geralmente um
sarcófago de mármore. Algumas galerias recebiam
aeração e luz por aberturas superiores, lucerna. Em
algumas catacumbas, construíam-se criptas, para
deposição de ossos de mártires ou despojos de papas,
muitas das quais no primeiro século do reconhecimento.
Nas catacumbas de Santa Priscilla, existe a capela grega,
e nas de São Calixto, a Cripta dos Papas, ambas de
Roma. São pequenos recintos, tetos abobadados ou
planos, sustentados por arcos e colunas, decorados de
pinturas e com vestígios de escultura em estuque.
As maiores catacumbas e mais famosas são as de Roma, ao longo
das grandes e históricas vias imperiais, pois as leis romanas proibiam
o sepultamento no interior dos recintos das cidades. Evocam a
memória de santos e mártires, chamando-se São Pretextato, São
Sebastião, São Calisto e Santa Domitila. Não serviram como
celebração de culto. Foram cemitérios e locais de reunião e refúgio,
nas épocas de maiores perseguições. Em Roma, são hoje locais de
visitação turística e peregrinação. Para construí-las, os cristãos
escolhiam terrenos apropriados ou aproveitavas as escavações
deixadas pela exploração das jazidas de pozzolana, que é uma rocha
vulcânica porosa, que se triturava para obter uma espécie de
cimento, utilizado no preparo da argamassa de construção.
Transformadas em catacumbas, as antigas galerias de pozzolana
foram ampliadas e solidificadas.
Quanto aos terrenos, preferiam os de tufo, tufa
granolare, camadas do subsolo constituídas
de sedimentos e depósitos de matérias
pulverulentas, acumuladas pela água, que
formam uma pedra compacta, também porosa,
utilizada em construção. O capricho do
traçado das catacumbas resulta da resistência
ou impropriedade do subsolo que os operários
cavadores,
chamados
fossores,
iam
encontrando. Nas pinturas catacumbárias
aparecem ingênuas e tocantes homenagens a
esses
trabalhadores.
Depois
do
reconhecimento, ou da paz oficial da Igreja, os
cristãos foram abandonando-as como locais
de sepultamento. Preferiam enterrar os mortos
nos terrenos das igrejas e conventos ou
cemitérios públicos. Entre os séculos IV e VII,
transformaram-se em locais de peregrinação.
Receberam decorações, altares e criptas. Os
peregrinos retiravam e levavam relíquias de
santos e mártires, em tamanha quantidade,
Imagem do cubículo de la "velatio" das catacumbas de Priscila (Roma)
Tumbas de família, chamadas cubículos de
los Sacramentos, importantes especialmente
pelos afrescos sobre suas paredes de
pedra.
Escultura - Um traço geral
observa-se nas criações dos
primeiros tempos catacumbários: o
rudimentarismo da técnica e a
pobreza de expressão. São obras de
inspiração popular, elementares de
execução e ingênuas de sentimento,
reveladoras de suas origens entre
artesãos ou artistas improvisados,
senão autodidatas. Explica-se o fato
pela difusão inicial do Cristianismo ter
sido feita entre as camadas sociais
inferiores do Império, homens e
mulheres do povo, trabalhadores,
escravos e bárbaros, sem os
requintes de técnicas e expressão dos
Só mais tarde, quando a nova crença começa a difundirse também entre as camadas sociais elevadas, capazes
de mobilizar artistas profissionalmente formados e
capazes, por sua vez, de exprimir os ideais estéticos,
passa-se a observar melhor nível técnico e expressivo,
sobretudo no século anterior ao reconhecimento. Mas,
de uma forma ou de outra, não se encontram muitas
esculturas nos primeiros tempos. Os cristãos eram
tomados de natural prevenção contra a estatuária,
temerosos do pecado da idolatria, que condenavam e
denunciavam nos pagãos. As estátuas das divindades
mitológicas, nuas, regulares e de belas formas que
falavam aos sentidos, eram encarnações do mal aos
olhos cristãos, sugestões do demônio, tentações da
carne, que cumpria evitar e destruir.
Sabe-se que, nessa fase e, principalmente, depois do
reconhecimento, os cristãos lançaram-se, num zelo
fanático e cego, insuflados pelos sacerdotes, à destruição
de ídolos pagãos. Desapareceram assim,
irreparavelmente, numerosas obras de arte da
Antigüidade clássica greco-romana. Os crentes da
religião, agora perseguida procuravam salva-las por todos
os meios, enterrando-as muitas vezes e legando-as,
involuntariamente, aos nossos dias. Quando se
amortecem os extremismos doutrinários dos primeiros
tempos e os perigos da idolatria parecem atenuados,
como também as prevenções com o naturalismo
sensualista da escultura pagã, surgem os escultores
cristãos primitivos, mesmo nas catacumbas e durante as
perseguições.
Esses artistas voltam-se, natural e compreensivelmente
para tipos humanos e os temas ornamentais da
escultura helenística pagã. O Cristianismo ainda não
criara os seus tipos ou a sua iconografia, valendo-se
dos modelos existentes que jaziam no subconsciente
coletivo e da experiência de artistas formados dentro
das tradições greco-romanas. Os escultores dedicamse, de modo especial, à execução de sarcófagos de
mármore, numa literal imitação dos modelos romanos.
Na técnica e na expressão, esses sarcófagos são
pagãos, transposições dos baixos relevos peculiares da
decadência da escultura romana.
As figuras são bem proporcionadas e realistas, tocadas de
sentimento helenístico na representação de cenas do Velho e do
Novo Testamento. Na face lateral, um medalhão, um busto do
morto, geralmente marido e mulher, numa reminiscência dos
usos funerários etruscos. Apresentam naturalmente variações de
técnica e de estilo através dos tempos. Na categoria de
escultura, podem ser mencionadas figurinhas em cerâmica de
animais e pássaros simbólicos, a pomba, o peixe, o leão, a
águia, o pavão, o cavalo, assim como lâmpadas funerárias,
geralmente de barro. Há também numerosos vasos de cerâmica.
Acreditava-se tivesse contido sangue de mártires, por vestígios
de coloração avermelhada. Numerosos autores os consideram,
porém, recipientes de perfumes e óleos aromáticos.
Pintura - Desde os
movimentos iniciais da propagação
da nova fé, os cristãos defrontaramse com o problema de criar a sua
imaginária, em outras palavras, a
representação de Deus e de Cristo,
da Virgem e das cenas das
Escrituras Sagradas, ao lado das
verdades e dogmas da fé.
Como representar, por exemplo, a
Anunciação, a Natividade, o
Batismo e a Eucaristia, conforme os
sentimentos e as idéias dos
cristãos? Esses problemas de
simbologia e de plástica foram
sendo solucionados através dos
As primeiras decorações catacumbárias, figurativas ou
ornamentais, são ingênuas e simples, obras de
verdadeiros autodidatas. Tendem inicialmente ao
simbólico e abstrato, revelam depois influências do
modelo greco-romanos, que estavam aos olhos de
todos. Muitas vezes são desenhos de incisão,
executados afresco sobre uma camada de estuque,
desaparecidos em grande parte ou apenas visíveis hoje,
nos traços gerais. No desenho e no colorido, os autores
são frustros, sem maior segurança técnica e poder de
expressão.
Com o passar do tempo, adquirem maior destreza e
melhores recursos de expressão. São agora sensíveis
às influências da pintura romana erudita, particularmente
a pompeiana de finalidades decorativas. Os pintores
aplicam o claro-escuro, combinam com maior variedade
as cores e proporcionam bem as figuras humanas.
Aparecem
os
primeiros
mosaicos
coloridos
catacumbários, que mostram influências orientais e
sugestões dos desenhos de manuscritos.
Os artistas usam símbolos
variados, há símbolos abstratos,
como um círculo, que representaria
Cristo, por associação com o disco
solar. O disco aposto numa cruz
poderia ser simbolicamente a
Crucificação, cena cuja
representação foi evitada nos
primeiros séculos.
A simbologia cristã primitiva é muito
rica, sendo melhor, resumir dizendo
que, ao lado dos abstratos,
multiplicam-se os símbolos
figurativos.
Inicialmente essas pinturas limitavam-se a representações dos
símbolos cristãos: a cruz - símbolo do sacrifício de Cristo; a
palma - símbolo do martírio; a âncora - símbolo da salvação; e o
peixe - o símbolo preferido dos artistas cristãos, pois as letras da
palavra "peixe", em grego (ichtys), coincidiam com a letra inicial de
cada uma das palavras da expressão lesous Chrastos, Theou Yios,
Soter, que significa "Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador“.
Essas pinturas cristãs também evoluíram e, mais tarde, começaram a
aparecer cenas do Antigo e do Novo Testamento. Mas o tema predileto
dos artistas cristãos era a figura de Jesus Cristo, o Redentor,
representado como o Bom Pastor.
Impedidos de professar a fé abertamente, os
cristãos serviam-se de símbolos, que
pintavam nas paredes das catacumbas e
gravavam nas placas de mármore que
lacravam as sepulturas. Os seguidores de
Cristo apreciavam muito os simbolismos, pois
representavam de modo visível a sua fé. O
termo "símbolo" indica um sinal concreto ou
uma figura que, na intenção do seu autor, se
refere a uma idéia ou realidade espiritual.
Os principais símbolos são o Bom Pastor,
o "orante", o monograma de Cristo e o
peixe:
• O Bom Pastor com a ovelha nos ombros representa Cristo Salvador e a
alma salva por Ele. Esse símbolo está freqüentemente presente nos
afrescos, nos relevos dos sarcófagos, nas estátuas, e muitas vezes
encontra-se gravado também nas sepulturas.
• O orante, figura representada com os braços abertos, simboliza a alma
• O monograma de Cristo (crísmon) é formado por duas letras do
alfabeto grego - o X e o P - entrelaçados. São as duas primeiras letras
da palavra grega "Christòs", isto é, Cristo. O monograma, colocado numa
sepultura, indicava que o defunto era cristão.
• O peixe, em grego, diz-se IXOYC (ichtus). As letras dessa palavra
dispostas verticalmente formam um acróstico: Iesùs Christòs Theòu Uiòs
Soteèr, ou seja, Jesus Cristo Filho de Deus Salvador. É um símbolo
difuso de Cristo, emblema da fé cristã.
Outros símbolos são a pomba, o Alfa e o Omega, a âncora e a fênix.
• A pomba, com o ramo de oliveira no bico, simboliza a alma na paz
divina.
• O Alfa e o Omega são a primeira e a última letras do alfabeto grego.
Significam que Cristo é o início e o fim de todas as coisas.
• A âncora é o símbolo da salvação, símbolo da alma que felizmente
chegou ao porto da eternidade.
• A fênix, pássaro mítico da Arábia, que segundo a crença dos antigos
ressurge de suas cinzas depois de um determinado número de séculos,
é o símbolo da ressurreição.
A pombinha com o ramo de oliveira no bico, alusão ao
episódio de Noé. O pavão, símbolo da eternidade. A
âncora, salvação pela firmeza da fé e, muitas vezes, a
cruz do Calvário. O lírio, pureza, O cacho de uva, o
sangue de Cristo, como a espiga de trigo, o pão da
Eucaristia. A serpente, entre os pagãos, símbolo das
energias da terra, passa, entre os cristãos, a símbolo do
Mal. Alguns episódios sagrados representam-se com
especial preferência. São sempre os mesmos - Noé na
arca, Abraão preparando-se para sacrificar Isaac, Jonas
vomitado pelo monstro marinho, Daniel na cova dos
leões, os três jovens hebreus na fornalha, Suzana e os
velhos. Os milagres de Cristo são poucos e também
sempre os mesmos - a recuperação do cego, a cura do
paralítico e a ressurreição de Lázaro.
A preferência dos pintores por esses temas, é que na Igreja
de Antióquia, centro prestigioso de Cristianismo, recitava-se à
cabeceira dos moribundos uma oração, depois conhecida e
popularizada em Roma. Nessa oração fazia-se referência
aos episódios que os pintores passariam a representar com
tanta insistência nas catacumbas.
Por outro lado, os pintores apoderaram-se de muitos
símbolos da mitologia, conferindo-lhes significação cristã.
Orfeu, por exemplo, com sua lira aplacando as feras, passou
a simbolizar o próprio Cristo, amainando, com a palavra
divina, as paixões do mal. Ulisses, amarrado ao mastro da
embarcação, resistindo às sereias, era a alma cristã, que
resistia à tentação dos pecados. Eros e Psique são
representados, mas como símbolos da alma que se une a
Deus pelo amor.
Orante - A representação do
crente em oração foi outro problema
para os pintores catacumbários. A
oração é a união da alma com Deus.
Como representar isto de modo
simples e acessível às populações
incultas e incrédulas? Encontraram
a solução numa figura feminina de
pé, braços abertos, mãos para o
alto, olhos no céu, em atitude de
êxtase. São as Orantes, comuns nas
catacumbas dos primeiros séculos.
Apareceu também o Cristo, a
Virgem e o Menino. A
representação de Cristo
sofre. Alternativamente, duas
influências, a grega e a síria.
A grega representa-o
adolescente e imberbe, sob
formas apolíneas, belo e
vigoroso rapaz. Na Síria,
depois universalizada, Cristo
é representado viril e de
barbas, homem feito,
amorenado. É o tipo que
ficará alourado nas regiões
nórdicas européias, para
satisfazer os ideais estéticos
A figura de Cristo foi, aliás, objeto de
muitas discussões nos séculos
iniciais do Cristianismo. Para o
teólogo Tertuliano, respeitado pela
austeridade, Cristo deveria ser feio,
talvez horrível, para que não
caíssemos na tentação da beleza
terrena. Para São João Crisóstomo,
deveria ser de bela presença, a fim
de atrair as almas, tanto pela beleza
como pela sabedoria. Predominou
esta opinião, Cristo é bonito.
Representam-no, mais de uma vez,
na figura do Bom Pastor, que leva
aos ombros a ovelha desgarrada do
rebanho de fiéis, reconduzindo-a ao
seio da Igreja. Esta representação é
uma adaptação do Moscóforo grego,
estátua bastante conhecida, que
conduz do mesmo modo um bezerro
A Fase Cristã Primitiva
A fase posterior ao reconhecimento, quando o Cristianismo
deixou de ser perseguido e substituiu, oficialmente, entre os
romanos, as crenças do paganismo, tem sido determinada
Arte Latina por alguns historiadores. Deve ser chamada,
porém, de modo mais adequado, Arte Cristã Primitiva
propriamente dita.
Essa fase, Arte Primitiva Cristã, desenvolve-se dos anos de
330 ao de 500, quando as artes do Cristianismo começam a
dividir-se em dois grandes ramos - um oriental e outro
ocidental.
A Fase do Reconhecimento
Perseguido por três séculos, o Cristianismo vê-se finalmente
elevado à categoria de religião oficial do Império Romano, graças à
Constantino, que se converteu à nova fé.
Uma vez oficializado, defronta-se imediatamente com as
necessidades do culto público, isto é, a necessidade de locais
adequados à reunião dos fiéis, cada vez mais numerosos, e à
celebração dos atos litúrgicos.
Inaugura-se, desse modo, a segunda fase da Arte Cristã Primitiva,
também denominada "Arte Cristã depois da Paz da Igreja".
Arquitetura - A necessidade mais imediata é a
de locais para reunião dos fiéis e celebração do culto.
O templo cristão será necessariamente diferente do
templo pagão. Vimos que o templo grego era apenas a
morada do deus. Não precisava de grandes dimensões
e maiores espaços interiores, pois os fiéis nele não
penetravam e os sacrifícios se faziam num altar situado
no pátio fronteiro. Sua maior beleza, estava, portanto,
no exterior. Era afinal para ser apenas contemplado e
admirado e não utilizado pelo fiel.
Templo cristão, ao contrário, destina-se a reunir
grandes assembléias de crentes no seu interior. Deve
atender, portanto, a exigências de amplos espaços
internos e dar ao crente a atmosfera mística adequada
ao sentido transcendente da nova religião. Eis porque,
sobretudo nos primeiros tempos, os arquitetos cristãos
não possuirão muito o espírito de fachada ou de beleza
Todos os cuidados voltam-se para o interior, não só para criar
espaço, também para sugestionar, pela estrutura e decoração, o
espírito do crente. A igreja bizantina, por exemplo, externamente
simples e inexpressiva, tem interiores que deslumbram, revestidos
de cintilantes e suntuosos mosaicos, de mármores, de cores
variadas e de calculados efeitos luminosos.
Logo que se converteu, Constantino determinou a construção de
templos em Roma e Jerusalém. Surgem então as primeiras basílicas
cristãs. Em Roma constroem-se a de São João de Latrão e da São
Pedro.
Às basílicas de Constantino foram sucedendo-se outras em
Roma, geralmente simples por fora, mas ricas por dentro,
decoradas de mosaicos, afrescos, mármores, esculturas e
talhas de madeira colorida e dourada. A de Santa Maria Maior é
uma das mais típicas, ostentando mosaicos famosos. Sua
construção data de 352, por iniciativa do Papa Libério. No
século XVIII, recebia a atual fachada barroca. Outra basílica
romana ilustre é a de São Paulo Extra-Muros, obra do
imperador Valentiniano, no local de antiga basílica
constantiniana, construída sobre o túmulo do Apóstolo. Em
1823 o fogo devorou-a quase toda, tendo sido reconstruída
pelo Papa Leão XIII.
A planta típica da primitiva basílica cristã pode ser representada pela de
São Pedro de Roma, construída no século IV por Constantino e substituída
na Renascença pela atual de São Pedro do Vaticano. Depois de uma
escadaria nem sempre existente, atinge-se a um pórtico, que comunica
com vasto pátio, chamado atrium e cercado de galerias de colunas. No
centro do pátio, acha-se a fonte, transformada depois no batistério ou pia
batismal, para purificação dos novos conversos, eu só assim, depois de
purificados, poderiam penetrar no templo.
No fundo do atrium, no eixo vertical da planta,
imponente pórtico ou vestíbulo, o narthex, dando acesso
ao interior do templo, que se divide em três ou cinco
naves, separadas pelas fileiras de colunas, que
sustentam o teto plano de armação de madeira. A nave
maior chama-se central e as demais laterais. Separando
a nave central do transepto, verdadeira nave
perpendicular, acha-se o arco triunfal, em plena cintra,
majestoso e decorado de mosaicos multicores. No eixo
da nave central, ao fundo, um nicho de forma
semicircular, a abside, cuja superfície interior, curvilínea
está igualmente decorada de mosaicos ou afrescos.
Defronte da abside o altar, aos lados, a dependência da
administração e serviço do culto.
Os construtores adotavam as regras e princípios de
proporções da arquitetura clássica grega. Eram muito
cuidadosos nesse particular. O comprimento, a largura e
a altura da nave central, por exemplo, obedeciam à
proporções demoradamente estudadas e estabelecidas.
O interior dessas basílicas comunica ao visitante
sentimentos sutis de ordem e de serenidade, que a
riqueza e o sensualismo das decorações não chega a
perturbar, antes parece acentuar. Pressente-se uma
sabedoria oculta.
Mais tarde, algumas receberiam decorações em outros
estilos, ostentosos e rebuscados, como o barroco e o
rococó. Mas permanece o equilíbrio harmonioso das
estruturas, proporcionadas no mesmo espírito matemático
com que os arquitetos greco-romanos sabiam compor a
morada dos seus deuses.
Escultura - A escultura manifesta-se sobretudo nos
sarcófagos, que se inspiram diretamente nos modelos
alexandrinos e romanos.
Na representação dos temas religiosos, introduzem-se
constantes sugestões pagãs, tanto na composição como na
expressão dos sentimentos. Aquela pureza e ingenuidade iniciais
das catacumbas, o temor da idolatria, a prevenção com as
formas regulares e proporcionadas, a beleza anatômica, tudo
isso pertence naturalmente ao passado. São evidentes as
influências da escultura helenística, realista, dramática, tantas
vezes sensual, e do sentimento bucólico da natureza, bastante
peculiar aos escultores de Alexandria.
A representação de Cristo faz-se
diversamente, em estátua ou baixorelevo. Faz-se ora com o tipo grego,
o rapaz apolíneo e imberbe, rosto
tocado de vida interior ausente nos
clássicos. Faz-se ora com o tipo
sírio, homem feito, barba espessa,
meigo e moreno. Em ambos os
casos, porém, sempre uma serena
dignidade, por assim dizer intocado.
Só mais tarde vamos encontra-lo
humilhado, açoitado ou aureolado
de espinhos. Nas cenas da
coroação de espinhos, observa
ainda Emile Male, a coroa é triunfal,
mantida por um centurião suspensa
sobre a divina cabeça.
Dípticos de marfim
De herança clássica, os dípticos de marfim (duas abas com
relevos no exterior em marfim e superfície de cera no interior)
eram peças pessoais de trabalho decorativo requintado, que
serviam de invólucro para guardar documentos ou manuscritos.
Refletindo gostos pessoais estas peças possuíam, muitas
vezes, a conjugação de elementos clássicos e simbologia cristã,
consoante a fé do autor da encomenda.
Mosaico
O desenvolvimento da arquitetura e a emergente necessidade de
decorar vastas superfícies vão impulsionar a produção artística do
mosaico, uma técnica com origens na arte antiga, difundida na
Mesopotâmia e com profundas tradições no período greco-romano.
O mosaico romano, geralmente utilizado para o revestimento de
pavimentos, é feito à base de pequenos cubos de mármore
(tesserae) que se adaptam bem à reprodução cuidada de pinturas,
mas de pouca intensidade cromática.
A arte paleocristã, podendo agora usufruir de maiores bases
financeiras e relegando para segundo plano a pintura mural
afrêsco, vai procurar aperfeiçoar a técnica e vai brindar o interior da
igreja com intensas e vibrantes imagens policromáticas, possíveis
pela substituição do mármore por pedaços de vidro colorido. Este
novo material não permite, no entanto, uma paleta complexa de
matizes e a modelação das figuras perde o seu contacto com o
mundo real, as personagens apresentam-se como seres
transcendentais, imateriais, habitantes de um reino de luz e ouro.
Pouco sobreviveu destes primeiros mosaicos do
paleocristianismo, mas supõe-se que cobririam as grandes
superfícies da ábside, do arco triunfal e da nave, representando
cenas bíblicas. Crê-se que a sua variedade formal tenha ainda
herdado muito da arte romana adaptando-a aos novos conteúdos
religiosos e isso pode-se ainda observar-se na Basílica de Santa
Maria Maggiore pela forte geometrização e pelo ilusionismo
espacial. É também de referir o novo objetivo de sintetizar as
formas para que estas sejam compreensíveis à distância, ou
seja, para que a mensagem principal possa ser compreendida de
longe. Este facto vai acentuar a importância simbólica do gesto e
do olhar como elementos relevantes na transmissão de
mensagens, sendo também para isso distorcida a sua proporção
em relação à figura.
Iluminura
Em oposição à arte romana pagã, o cristianismo baseia o seu conteúdo
nos textos sagrados da bíblia, cunhando os manuscritos com
ilustrações, as iluminuras, de elevada importância no processo de
manutenção e propagação das escrituras. Acompanhando este
aumento produtivo está também o desenvolvimento da técnica da
produção dos suportes para manuscritos. Até então eram usados rolos
de papiro que não permitiam grande liberdade artística no que diz
respeito à ilustração. O permanente enrolar e desenrolar do papiro
causava a deteriorização da tinta criando–se apenas cabeçalhos com
formas simples e lineares. Com a introdução do pergaminho, na século
II a.C., que se pode dobrar sem partir, surgem os primeiros livros com
encadernações ricas em madeira e decoração em metal e pedras
preciosas, os códices (vellum codex), onde a liberdade formal e
Poucas são as iluminuras do paleocristianismo que sobreviveram até
aos nossos dias, mas o pouco que se conhece a partir do século V,
apresenta uma rica variedade cromática que recebe inicialmente
muita da influência da estrutura espacial e geometrização da pintura
greco–romana. No Génesis de Viena, uma das mais antigas
iluminuras conhecidas do cristianismo, pode–se observar a
suntuosidade das cores e já a quebra com o uso de molduras de
limite espacial. Aqui as imagens e o texto fazem parte de um todo em
comunhão. De modo a otimizar o aproveitamento de espaço no
pergaminho, a descrição dos acontecimentos não se desenrola em
bandas horizontais, mas sim seguindo uma linha curva imaginária
onde os diferentes momentos se vão sucedendo sem interrupção, a
designada narração contínua.
Em 395 d.C., o imperador Teodósio dividiu o Império
Romano entre seus dois filhos: Honório e Arcádio.Honório
ficou com o Império Romano do Ocidente, tendo Roma
como sua capital , e Arcádio ficou com o Império Romano do
Oriente, com a capital Constantinopla (antiga Bizâncio e
atual Istambul).
O império Romano do Ocidente sofreu várias invasões,
principalmente de povos bárbaros, até que, em 476 d.C., foi
completamente dominado (esta data, 476 d.c., marca o fim
da Idade Antiga e o início da Idade Média). Já o Império
Romano do Oriente (onde se desenvolveu a arte bizantina),
apesar das dificuldades financeiras, dos ataques bárbaros e
das pestes, conseguiu se manter até 1453, quando a sua
capital Constantinopla foi totalmente dominada pelos
muçulmanos (esta data, 1453, marca o fim da Idade Média e
o início da Idade Moderna).
É importante notar que essa arte cristã primitiva não
era executada por grandes artistas, mas por
homens do povo, convertidos à nova religião. Daí
sua forma rude, às vezes grosseira, mas, sobretudo
muito simples